Vol 24 N° 3 2022
Editorial
1 -
A multiplicidade que habita nossa singularidade
Joana Corrêa de Magalhães Narvaez
Páginas: 1 - 2
Descritores:
Carta ao Editor
2 -
Hikikomori: isolamento social patológico no Brasil e no mundo
Thiago Henrique Roza
Páginas: 3 - 7
Descritores:
3 -
Considerações sobre a busca por muscularidade entre homens gays
Felipe Alckmin Carvalho, Jônatas Oliveira
Páginas: 9 - 12
Apresenta-se um manuscrito no formato de "carta ao editor", em que é abordada a busca por muscularidade por homens gays e suas possíveis funções, como reparação da autoestima danificada por exposição crônica a experiências de homofobia, necessidade ou desejo de uma aparência mais masculina, sensação de força e capacidade de autoproteção e evitação da constatação da própria fragilidade psíquica. São apresentadas indicações a profissionais de saúde mental que cuidam dessa população. Alguns fragmentos da experiência clínica do primeiro autor são apresentados a título de ilustração.
Descritores: Homossexualidade masculina; Insatisfação corporal; Homofobia; Transtornos da alimentação e da ingestão de alimentos; Transtornos dismórficos corporais
Artigo Original
4 -
Desigualdade social, adultez emergente e saúde mental: uma análise a partir de um caso clínico atendido em um projeto de acolhimento psicológico
Klessyo do Espirito Santo Freire; Beatriz Ribeiro Cortez Cardozo Barata de Almeida Hessel; Maria Virgínia Dazzani; Giuseppina Marsico
Páginas: 13 - 26
Este estudo teve como objetivo compreender as repercussões da desigualdade social sobre a saúde mental de uma jovem adulta atendida em um projeto de acolhimento psicológico. Para isso, buscou utilizar o conceito de adultez emergente (18-30 anos de idade) e a análise microgenética da Psicologia Cultural Semiótica para compreender tais repercussões. A pesquisa utilizou a abordagem qualitativa a partir da análise do caso de uma mulher atendida por um projeto de acolhimento psicológico de uma universidade federal do nordeste brasileiro. Como resultados, foram encontrados que os signos "ansiedade", "vontade de fazer nada" e "isolamento" apareceram como mediadores semióticos das suas experiências cotidianas. Esses mesmos signos também refletem os prejuízos ocasionados pela desigualdade social sobre a saúde mental da participante. Como limitações, este estudo tratou de uma análise de caso único, sendo necessários novos estudos para que seja possível aprofundar os resultados obtidos.
Descritores: Saúde mental; Adulto jovem; Fatores socioeconômicos
5 -
Histórico de maus-tratos infantis e funcionamento da personalidade de mulheres vítimas de violência por parceiro íntimo
Lucyla Késia de Carvalho Silva; Sérgio Eduardo Silva de Oliveira
Páginas: 27 - 45
Estudos indicam que mulheres que sofreram violência na infância e têm um funcionamento patológico da personalidade correm maior risco de sofrer violência por parceiros íntimo (VPI). A presente pesquisa teve por objetivo investigar o quanto as experiências de maus-tratos infantis e de funcionamento patológico da personalidade, separadamente e em conjunto, predizem o nível de VPI em uma amostra de mulheres adultas brasileiras. Participaram do estudo um total de 330 mulheres (idade: M = 31,2, SD = 9,45) que responderam aos seguintes instrumentos: World Health Organization Violence Against Women (WHO VAW), Questionário sobre Comportamentos de Controle (QCC), Childhood Trauma Questionnaire (CTQ) e o Personality Functioning Inventory for DSM-5 (PFID-5). Os resultados mostraram que 24,2% das participantes reportaram sofrer VPI atual e 48,2% reportaram ter sofrido VPI de ex-parceiros. Além disso, não foram observadas associações entre VPI (WHO VAW e QCC) e variáveis sociodemográficas. Em relação às experiências de maus-trados na infância e ao funcionamento patológico da personalidade, os resultados não confirmaram as relações descritas na literatura. Essas variáveis predizeram apenas 7% da variabilidade da VPI. Com base nesses resultados, entende-se que a VPI não está associada a variáveis individuais da mulher, como ser pobre ou rica, ter ou não histórico de maus-tratos infantil ou mesmo ter um funcionamento saudável ou patológico da personalidade. Ainda, as associações entre VPI e variáveis internas das mulheres que tiveram tamanhos de efeito mínimos, sugeriram que a VPI tende a ocorrer independente das características da mulher.
Descritores: Maus-tratos infantis; Transtornos da personalidade; Violência contra a mulher; Violência por parceiro íntimo
6 -
Da vivência no campo analítico até a formulação da interpretação
Stefania Pigatto Teche
Páginas: 47 - 58
INTRODUÇÃO: A interpretação segue sendo uma valiosa ferramenta para o processo de mudança psíquica no tratamento psicanalítico. A clínica atual pretende desenvolver uma nova experiência emocional, ampliar das capacidades do self, além de acompanhar os movimentos culturais vigentes. Entretanto, eleger o conteúdo da interpretação e o modo como ela será transmitida para que o paciente compreenda segue sendo um desafio.
MÉTODO: A revisão da literatura partiu de uma busca nas principais bases de pesquisa de artigos, acrescida das referências de leituras obrigatórias do conteúdo programático da formação psicanalítica na SPPA. Após, foi realizada uma seleção de artigos e capítulos de livros que contivessem o tema de como formular uma interpretação psicanalítica incluindo o referencial a partir das vivências no campo analítico.
RESULTADOS: Destaca-se a atitude analítica como fundamental para desenvolver a experiência emocional e compreender as vivências no campo analítico. A partir delas, é possível formular uma interpretação com o objetivo de ampliar as capacidades do self. O artigo traz parâmetros de como eleger o conteúdo, o modo e o momento de transmitir a interpretação ao paciente.
CONCLUSÃO: A formulação da interpretação ocorre a partir da vivência emocional de algo incompreensível vivido pela dupla no campo analítico. O processo analítico, ancorado na teoria, desenvolve um novo significado da fantasia inconsciente vivenciada pela dupla que deve ser interpretado. Este novo significado, que tecerá progressivamente a nova rede simbólica do paciente, pode ser transmitido por intervenções verbais e não verbais.
Descritores: Interpretação psicanalítica; Psicoterapia psicodinâmica; Revisão
Artigo de Revisao
7 -
Novas perspectivas nas psicoterapias em gays e lésbicas
Allan Maia Andrade de Souza; Marina Maria Gonzaga Moreira; Gianfranco Rizzotto Souza; Neusa Sica da Rocha
Páginas: 59 - 72
INTRODUÇÃO: O estigma que gays e lésbicas sofrem configura uma questão de saúde pública. Frequentemente, a procura de psicoterapia por esses pacientes é motivada por fatores relacionados a dificuldades de relacionamento com o meio. Dessa forma, a psicoterapia é uma ferramenta valiosa para mitigar os efeitos deletérios do estresse de minorias e dos novos impactos psicossociais advindos da pandemia.
MÉTODO: Foi realizada uma revisão narrativa da literatura indexada em bases de dados utilizando palavras-chaves obtidas a partir de vocabulários controlados e sinônimos. A amostragem foi por conveniência.
RESULTADOS: Diferentes modelos de psicoterapias foram adaptados às necessidades das minorias sexuais, como protocolos baseados nas terapias interpessoal, psicodinâmica e cognitivo-comportamental. Os modelos atuais da identidade sexual incorporam conceitos como homonegatividade internalizada e estresse de minorias, com conflitos que podem ser descritos em estágios passíveis de intervenções psicoterápicas específicas. Adicionalmente, a pandemia de COVID-19 pareceu trazer à tona uma série de novos possíveis estressores para indivíduos pertencentes a minorias sexuais, como o isolamento social e o aumento no consumo de álcool.
DISCUSSÃO: Diversos modelos de psicoterapia mostram resultados satisfatórios em gays e lésbicas. Os principais fatores relacionados ao êxito terapêutico são a adoção de uma postura não julgadora e em uma aliança terapêutica sólida.
CONCLUSÃO: A psicoterapia apresenta-se como um tratamento de notável valor ao atenuar o possível sofrimento psíquico de gays e lésbicas, principalmente diante da intensificação do estresse de minorias durante a pandemia de COVID-19.
Descritores: Minorias sexuais e de gênero; Psicoterapia; COVID-19
8 -
Transculturalidade na psicoterapia de orientação analítica: estudo de um caso e revisão de literatura
Fernando Henrique de Lima Sá; Lúcia Helena Machado Freitas
Páginas: 73 - 82
A cultura representa os sistemas de valores e simbolismos presentes em um grupo social, e sua influência no psiquismo humano é mencionada na literatura psicanalítica desde a obra Totem e Tabu, de Sigmund Freud. Diferenças culturais podem determinar maneiras diversas de sentir e de expressar o sofrimento psíquico, e no que diz respeito à psicoterapia de orientação analítica considera-se fundamental que o terapeuta esteja sensível aos componentes culturais que influenciam a dinâmica psicológica do paciente. O modelo da psicoterapia transcultural propõe a adaptação de alguns elementos, a fim de cumprir esta finalidade. Este relato foi desenvolvido a partir do atendimento de um paciente de origem africana, admitido em uma internação psiquiátrica por uma síndrome psicótica. Procuramos relacionar os elementos transculturais presentes no caso, como particularidades no idioma e crenças culturais, à prática da psicoterapia de orientação analítica neste contexto. Elementos do conflito psíquico, da transferência e vinculação com o terapeuta foram analisados, tendo por base autores psicanalíticos clássicos e contemporâneos. A partir desta análise, discutimos a respeito de elementos teóricos e técnicos relacionados à transculturalidade em psicoterapia. Espera-se que este relato possa auxiliar psicoterapeutas a trabalhar neste contexto.
Descritores: Cultura; Psicoterapia psicodinâmica; Psicoterapia
9 -
Intervenções para comportamentos suicidas e autolesivos em adolescentes: revisão integrativa de literatura
Rosiane Magalhães de Oliveira; Amanda Cavalcanti de Miranda; Jocelaine Martins da Silveira
Páginas: 83 - 98
Os comportamentos suicidas e autolesivos representam uma preocupação crescente com a saúde dos adolescentes, dado o crescimento significativo do suicídio nessa faixa etária nas últimas décadas. Diante disso, realizou-se uma revisão integrativa de literatura, com o objetivo de investigar a estrutura de intervenções voltadas para comportamentos suicidas e autolesivos na adolescência. A busca rastreou artigos publicados entre 2015 e 2020, nas bases de dados PsycInfo, Cochrane Library e PubMed. Foram selecionados 30 artigos. Os resultados indicam que as estratégias de intervenção voltadas a comportamentos suicidas e autolesivos em adolescentes demandam o uso de uma diversidade de componentes, com a importância da inclusão de pais e/ ou familiares no tratamento. A Terapia Comportamental Dialética (DBT) e a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) destacam-se como modelos de tratamento com eficácia potencial no tratamento de adolescentes. Identifica-se ampla área de pesquisa a ser desenvolvida, e o campo se beneficiaria do avanço na identificação de mediadores e moderadores de mudança.
Descritores: Comportamentos suicidas; Autolesão; Intervenção terapêutica; Adolescência
10 -
Kohut e Kernberg na era digital: novas perspetivas sobre o narcisismo
João Luis Martins Quarenta; António Manuel Da Mota Almeida; Carla Rio; Orlando von Doellinger
Páginas: 99 - 112
INTRODUÇÃO: O conceito de narcisismo é um dos mais importantes aportes psicanalíticos para a compreensão do Psiquismo humano. Partindo da obra de Freud, este conceito desenvolveu-se em grande medida com os contributos de Kohut e de Kerneberg. Entretanto a sua importância mantém-se atual. Nas últimas décadas, na sociedade ocidental, temse assistido a mudanças sociais significativas, nas quais se promove a competição e o individualismo em detrimento de objetivos e valores de grupo. A este facto acresce a velocidade cada vez maior a que estas mudanças acontecem. O surgimento de novas tecnologias de informação, sobretudo das redes sociais, ajuda a explicar este fenómeno.
MÉTODOS E OBJETIVOS: Nesta revisão não sistemática pretendeu-se explorar a evolução do conceito de narcisismo, partindo dos contributos de Kohut e Kernberg, e perceber de que forma o mundo ocidental atual e a exposição às redes sociais influenciam o desenvolvimento do narcisismo na sociedade.
RESULTADOS/DISCUSSÃO: Na sociedade moderna ocidental tem havido favorecimento de valores individuais, o que parece ter impacto na forma e na expressão de traços narcísicos de personalidade. Estes traços, outrora tidos como mal adaptativos, podem agora ser premiados e até incentivados. Embora não existam dados definitivos, vários estudos relacionam o reforço do narcisismo com a utilização das redes sociais.
CONCLUSÃO: O narcisismo continua a ser objeto de pesquisa e profunda discussão, que obriga à consideração da sua dimensão biopsicossocial. Os fenómenos socioculturais da sociedade moderna ocidental colocam novas questões sobre a distinção entre o narcisismo patológico e o saudável, modeladas em parte pelas redes sociais.
Descritores: Narcisismo. Ciência, tecnologia e sociedade. Redes sociais online. Evolução cultural
11 -
Agravos à saúde mental de mulheres em situação de violência doméstica
Joana Chistina de Souza Brito; Edivan Gonçalves da Silva Júnior; Maria do Carmo Eulálio
Páginas: 113 - 129
Objetivou-se analisar os efeitos percebidos na saúde mental de mulheres que se encontram em situação de violência doméstica. Trata-se de um estudo qualitativo, do qual participaram 19 mulheres em situação de violência doméstica e com agravos na saúde mental, atendidas no Centro de Referência da Mulher em um município do nordeste brasileiro. Os instrumentos utilizados foram: o Self-Reporting Questionnare (SRQ20), um questionário sociodemográfico e entrevista semiestruturada. Houve relatos de exaustão emocional constatada pelo medo, pelo choro excessivo, pela agressividade e pela tristeza constante, além da diminuição da autoestima, que causou insegurança, sentimento de impotência e desvalorização de si mesmas. Algumas participantes associaram esses sintomas a psicopatologias (depressão, ansiedade e loucura). Os serviços de saúde devem disponibilizar atendimento especializado para as mulheres em situação de violência, a fim de que possam ser realizadas intervenções específicas no campo da saúde mental.
Descritores: Saúde mental; Violência contra a mulher; Atenção à saúde
Resenha
12 -
Afetos, tormentos e desabafos: histórias em psicoterapia e psiquiatria
Lucia Helena Machado Freitas
Páginas: 131 - 133
Descritores:
13 -
Os manifestos emancipatórios da pessoa surda em "O som do silêncio"
João Paulo Vasco Avelino
Páginas: 135 - 139
O filme "O som do silêncio" aborda de forma estonteante e provocativa as impressões sensoriais do som e do silêncio. O personagem principal é integrante de uma banda de heavy metal que junto à sua companheira estão em turnê pelos EUA, quando o protagonista é acometido por uma surdez profunda. A proposta desta resenha permite ampliar o debate acerca da compreensão da deficiência como um manifesto da pluralidade humana, analisar a subjetividade produzida nas relações com sujeitos ouvintes ou também surdos, refletir sobre a autonomia e a capacidade de agência da pessoa com deficiência e sugerir uma coalizão entre grupos ouvintes e surdos de modo a tornar processos anticapacitistas, emancipatórios e inclusivos que fortaleçam, visibilizem e respeitem as diferenças que compõem o indivíduo surdo, suas identidades e suas escolhas.
Descritores: Surdez; Inclusão social; Pessoas com deficiência
14 -
A escuta psicanalítica do traumático social - ênfase racismo*
Ane Marlise Port Rodrigues
Páginas: 141 - 150
Neste trabalho a palavra equidade vai ressoar em direção ao funcionamento das instituições, em particular as de psicanálise, e à escuta analítica do traumático social, com ênfase no racismo. As instituições tendem a ser conservadoras em sua natureza, mas são compostas por pessoas que se renovam no decorrer do tempo e podem abrir-se para mudanças. Ao se tornarem permeáveis aos sofrimentos e mal-estar que advém do campo social e comunitário podem adotar posicionamentos que favoreçam seu envolvimento nessas problemáticas. É destacado como a escuta analítica pode encontrar pontos cegos quando os/as analistas/terapeutas se fecham em bolhas de ressonância mútua, não se sensibilizando e nem se colocando na pele do outro diferente de si mesmo ou de seu grupo social. Torna-se fundamental perceber como a cultura racista onde fomos criados impregna nosso inconsciente, através dos Ideais do Eu, com a crença de que o branco seria a medida do que é universal e belo e, ao mesmo tempo, negando nossa realidade racista.
Descritores: Instituição psicanalítica; Traumático social; Racismo; Escuta analítica; Pontos cegos
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