Rev. bras. psicoter. 2022; 24(3):59-72
Souza AMA, Moreira MMG, Souza GR, Rocha NS. Novas perspectivas nas psicoterapias em gays e lésbicas. Rev. bras. psicoter. 2022;24(3):59-72
Artigo de Revisao
Novas perspectivas nas psicoterapias em gays e lésbicas
New perspectives on psychotherapies with gays and lesbians
Nuevas perspectivas de las psicoterapias con gays y lesbianas
Allan Maia Andrade de Souzaa; Marina Maria Gonzaga Moreirab; Gianfranco Rizzotto Souzac; Neusa Sica da Rochaa
Resumo
Abstract
Resumen
INTRODUÇÃO
O preconceito e o estigma sofridos por gays e lésbicas constituem um problema histórico e categorizam-se, também, como uma questão de saúde pública, visto que estão associados a dificuldades em acessar os sistemas de saúde, a um aumento da vulnerabilidade e a desfechos de saúde adversos.1 A teoria do estresse de minorias postula que minorias sociais experienciam estressores específicos adicionais aos estressores comuns, sendo uma das mais aceitas para explicar aumentos na prevalência de transtornos psiquiátricos maiores, principalmente depressão e ansiedade, e de outros desfechos negativos, como elevação no risco de suicídio e prejuízo funcional significativo em algumas populações com aspectos identitários destoantes dos padrões vigentes na maioria, como a população de minorias sexuais2,3.
As intervenções psicoterápicas em gays e lésbicas têm constituído um importante campo de estudo e debate ao longo do último século, sendo amplamente influenciadas por paradigmas socioculturais do momento histórico vigente e representando uma importante possibilidade terapêutica para auxiliar essas populações a lidar com os desafios que lhe são impostos, visto que, frequentemente, a procura de psicoterapia por esses pacientes é motivada por fatores relacionados ao estresse de minorias e à dificuldade de relacionamento com o meio4. Ainda assim, vários profissionais de saúde mental referem ter contato limitado com questões relacionadas à prática de psicoterapia com minorias sexuais5.
Durante a pandemia de COVID-19, destacaram-se sentimentos de solidão, aumento do uso de substâncias e outros possíveis indicativos do impacto psicossocial advindo do isolamento social preconizado para conter a disseminação da doença6,7. Para gays e lésbicas, especificamente, questões como a perda de uma rede de suporte e proteção social e a necessidade de voltar a conviver com famílias com atitudes negativas em relação à sua identidade sexual podem ter sido estressores específicos responsáveis por gerar ainda mais sofrimento psíquico7. A psicoterapia, então, mostra-se como uma ferramenta de grande valor para mitigar os efeitos deletérios provenientes da soma desses fatores e das novas conflitivas que emergem com o cenário pandêmico e seus desdobramentos6,7.
OBJETIVOS
O presente estudo objetiva revisar as principais atualizações e novas perspectivas referentes às psicoterapias com pessoas gays e lésbicas. Como objetivo secundário, propõe-se a sumarizar as principais evidências e recomendações relativas às psicoterapias em minorias sexuais no contexto da pandemia de COVID-19.
MÉTODO
Trata-se de um estudo bibliográfico do tipo revisão narrativa da literatura indexada. A estratégia de busca dos estudos se deu por uma consulta nas seguintes bases de dados: PubMed/Medline, Embase e PsycInfo, utilizando-se as seguintes palavras-chaves obtidas a partir de vocabulários controlados e sinônimos (MeSH terms): "Sexual and Gender Minorities" AND "Psychotherapy" e "Sexual and Gender Minorities" AND "Psychotherapy" AND "COVID-19". Não se empregou um recorte temporal ou linguístico. Foram incluídos estudos que tratavam sobre a psicoterapia em pessoas gays e lésbicas, independente da metodologia empregada, incluindo desde ensaios clínicos até relatos de experiências. Foram excluídos estudos focados em outras minorias sexuais e de gênero, bem como os que não tratavam de intervenções psicoterápicas. A amostragem dos artigos para discussão foi de conveniência.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As pesquisas e discussões relativas às psicoterapias em gays e lésbicas têm crescido ao longo dos últimos anos, tanto em termos de amplitude teórica como também quanto ao volume de estudos encontrados nas bases de dados empregadas em nossa estratégia de busca.
Diferentes modelos teóricos de psicoterapias foram adaptados para as necessidades e demandas das minorias sexuais. A literatura demonstra que intervenções e protocolos baseados nas terapias cognitivocomportamental, interpessoal, psicodinâmica, entre outros, podem ser adaptados e utilizados de forma efetiva para pessoas gays e lésbicas8,9,10,11,12. Neste sentido, emerge a psicoterapia afirmativa enquanto modelo transteórico que auxilia o indivíduo na expressão de sua identidade sexual a despeito da não-conformidade com a expectativa social13,14. As psicoterapias ditas afirmativas parecem estar associadas a uma redução nos eventos negativos relacionados ao estresse de minorias como também à fatores de proteção e melhores desfechos em termos de saúde mental14,15,16. Sendo assim, com base nas evidências atuais fornecidas pela literatura, recomenda-se ao psicoterapeuta que incorpore elementos afirmativos em sua prática clínica com minorias sexuais13.
Além disso, alguns eixos temáticos principais têm movimentado a literatura sobre as psicoterapias em gays e lésbicas, particularmente nos últimos anos:
1. A compreensão do estresse de minorias e sua associação às novas possíveis conflitivas que emergiram no contexto da pandemia de Covid-19 para pessoas gays e lésbicas;
2. A noção de possíveis estágios de afirmação da identidade sexual norteando as intervenções em psicoterapia com pessoas gays e lésbicas.
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