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Revista Brasileira de Psicoteratia

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Vol 23 N° 2  2021

 

Editorial
1 -  Saúde Mental na Pandemia da COVID-19: do despreparo inicial a um potencial legado
Leandro F. Malloy-Diniz; Débora Marques de Miranda; Marco Aurélio Romano-Silva; Antônio Geraldo da Silva
Páginas: 1 - 3

Descritores:

Carta ao Editor
2 -  Possibilidades de focos de intervenção na saúde mental da população oncológica durante a pandemia da Covid-19
Lucas Poitevin Bandinelli
Páginas: 5 - 8

Resumo

A pandemia da Covid-19 trouxe uma série de problemas envolvendo a saúde pública. Dentre essas, a saúde mental de populações específicas ficaram prejudicadas, fazendo com que se tornasse analisar focos de intervenções específicas para as mesmas. Dentre estas, os pacientes oncológicos se mostram mais vulneráveis ao desenvolvimento de problemas em saúde mental durante a pandemia, necessitando que sejam pensadas intervenções efetivas e focais para o seu cuidado. Essa carta tem como objetivo alertar os profissionais de saúde mental a respeito do tema e dar uma breve orientação sobre o foco necessário de cuidado.

Descritores: Infecções por Coronavirus; Saúde Mental; Psicoterapia; Oncologia

Relato de Caso
3 -  "Huddles da Descompressão" como estratégia de apoio emocional durante a pandemia COVID-19 em um Serviço de Emergência
Gabriele Honscha Gomes; Simone Medianeira Scremin; Greice Toscani Chini; Cristiane Rodrigues Lopes
Páginas: 9 - 17

Resumo

A atuação do profissional de saúde da linha de frente em contexto de pandemia, como a COVID-19, desencadeia reações psíquicas intensas e alterações comportamentais. Estratégias precoces de apoio emocional buscam diminuir o agravamento do sofrimento a curto e médio prazo, sendo essencial promover um ambiente de cuidado como estratégia de enfrentamento da pandemia. Este trabalho tem como objetivo descrever a implementação da atividade "Huddle da Descompressão" no Serviço de Emergência de um hospital público, por meio de um relato de experiência. Os encontros ocorreram nos meses iniciais da pandemia e avaliou-se que as demandas trazidas foram condizentes com as identificadas pela literatura em contextos de crise. Observou-se que o papel da psicologia como parte da equipe multiprofissional foi de introduzir um espaço de cuidado e amparo aos profissionais da saúde, oportunizando que os profissionais pudessem refletir sobre estratégias para o alívio do sofrimento emocional imediato, facilitando a elaboração e adaptação às novas vivências, prevenindo o surgimento de doenças mentais.

Descritores: Psicologia; Serviço Hospitalar de Emergência; Infecções por Coronavirus; Pandemias

4 -  A implementação de psicoterapia on-line em um programa de residência médica em psiquiatria durante a pandemia de COVID-19
Igor Londero; Ives Cavalcante Passos; Stefania Pigatto Teche; Neusa Sica Da Rocha
Páginas: 19 - 26

Resumo

O impacto da pandemia de SARS-CoV2 e as recomendações de reduzir a circulação de pessoas produziu uma série de mudanças no nosso cotidiano. Tratamentos tradicionalmente realizados face-a-face de forma presencial as psicoterapias sofreram forte impacto com riscos de abandono e interrupção. O objetivo deste artigo é apresentar um relato de experiência sobre o processo de implementação de psicoterapia on-line no ambulatório de psicoterapias do Serviço de Psiquiatria de um hospital escola durante a pandemia de SARS-CoV2, exibindo as principais adaptações realizadas nos procedimentos de comunicação, protocolos de atendimento e registros das sessões de psicoterapia. Tendo como foco a garantia da manutenção dos atendimentos durante períodos de distanciamento social foram criadas diretrizes para a realização de psicoterapia on-line com a elaboração de um manual norteador (Material suplementar) de procedimentos para continuidade dos atendimentos dentro dos parâmetros éticos e técnicos estabelecidos pelo serviço. O manual foi elaborado a partir da discussão entre supervisores e residentes, de forma que refletisse a realidade e as demandas comumente atendidas. As adaptações realizadas no ambulatório foram norteadas por quatro grandes objetivos: 1) manutenção e continuidade dos atendimentos; 2) diminuição de barreiras de comunicação entre psicoterapeuta-paciente; 3) manutenção de reuniões on-line e web conferência entre todos os membros da equipe e manutenção dos estudos e; 4) normatização de procedimentos durante as sessões de psicoterapia.

Descritores: Psicoterapia; Telemedicina; Infecções por Coronavirus

Comunicaçao breve
5 -  Saúde Mental dos Acadêmicos de Medicina na Quarentena - isolamento e enfrentamentos individuais
Manuela Rodrigues Müller; Gabriela de Albuquerque e Albuquerque; Giovana Rosa Monnerat
Páginas: 27 - 34

Resumo

O isolamento domiciliar e o distanciamento social têm sido sugeridos como estratégias a serem adotadas em estágios mais avançados de pandemias. Até recentemente tais medidas, geralmente, eram aplicadas somente para grupos de risco e/ou para contactantes de pessoas infectadas. A pandemia atual é a primeira experiência de implementação deste tipo de medida em larga escala. É fundamental avaliarmos as diferentes consequências que tanto a pandemia, como suas medidas de enfrentamento (isolamento domiciliar e distanciamento social), podem vir a ocasionar em territórios e estratos sociais distintos. Nesse estudo, buscou-se observar os efeitos da quarentena na saúde mental dos estudantes de medicina de uma faculdade particular, os fatores que influenciam, os recursos utilizados para lidar com essas dificuldades e quais as especificidades de ser estudante de medicina na quarentena. Para tanto, foram aplicados questionários semi-estruturados on-line analisados por meio de análise do conteúdo. Apresenta-se aqui os resultados preliminares e específicos quanto às estratégias utilizadas pelos acadêmicos para lidar com o sofrimento e os contratempos cotidianos. Os estudantes privilegiaram atividades de auto-cuidado e atividades de lazer experimentadas individualmente. Discutimos esses achados, considerando a carga do isolamento e seus efeitos para o processo de socialização dos acadêmicos.

Descritores: Saúde Mental; Estudantes de Medicina; Quarentena; Infecções por Coronavirus

Artigo Original
6 -  Indicadores de distress entre jovens LGBT+ durante o isolamento social pela COVID-19 no Brasil
Elder Cerqueira-Santos; Mozer de Miranda Ramos; Jorge Gato
Páginas: 35 - 46

Resumo

O objetivo foi investigar indicadores de distress (sofrimento psicológico) entre jovens LGBT+ durante o isolamento social e seus fatores associados no Brasil. 816 jovens LGBT+ (lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e pertencentes a outras minorias sexuais e de gênero) brasileiros, entre 18 e 32 anos, foram acessados por meio de formulário eletrônico. Indicadores de distress (depressão, ansiedade, estresse) foram medidos por meio de escalas como DASS21, Identidade LGBT, Suporte Social, Disfuncionalidade Familiar, Neuroticismo e Outness. A regressão linear múltipla apresentou um modelo significativo no qual identidade LGBT negativa, suporte social percebido, disfuncionalidade familiar, neuroticismo, aceitação familiar percebida e gênero desempenharam um papel como preditores do distress.

Descritores: COVID-19; Distress; Minorias sexuais e de gênero; Juventude; Saúde mental

7 -  Mudanças no Trabalho e no Comportamento Ocupacional em uma Amostra de Brasileiros Durante a Pandemia da COVID-19: Um Estudo Longitudinal
Clarice de Medeiros Chaves Ferreira; Vitor Douglas de Andrade; André Luiz de Carvalho Braule Pinto; Alexandre Luiz de Oliveira Serpa; Alexandre Paim Diaz; Leandro Fernandes Malloy- Diniz; Débora Marques Miranda; Antônio Geraldo da Silva
Páginas: 47 - 61

Resumo

A pandemia da COVID-19 resultou em mudanças nos comportamentos ocupacionais, afetando milhões de trabalhadores. Este estudo teve como objetivo avaliar as mudanças em diferentes percepções sobre o trabalho no início da pandemia no Brasil e seis meses depois. 702 indivíduos de ambos os sexos (566 sexo feminino, 80,62%), com idade entre 16 e 75 anos (M = 41,8; DP = 13,5), residentes em 24 diferentes estados do Brasil (maioria da região Sudeste, 59,26%) participaram e responderam a uma pesquisa online sobre sua experiência de trabalho durante a pandemia em dois momentos diferentes. O questionário incluía questões sobre aumento/diminuição da produtividade, medo de contaminação pelo COVID-19 no trabalho, necessidade de sair para trabalhar, realização de trabalho voluntário, espera pelo retorno de suas atividades de trabalho/estudo, experiência anterior/atual de trabalho remoto, utilização de programas de videoconferência, realização de trabalho voluntário de combate ao COVID-19, perda de emprego e incidência de problemas de saúde que o impediram de realizar atividades cotidianas/laborais/de estudo. Os resultados indicaram que os trabalhadores vivenciaram novas formas de realizar suas atividades, mudaram suas percepções sobre sua produtividade, como/onde trabalhavam e como se sentiam em relação ao seu cotidiano, apesar da maioria das variáveis se manterem estáveis entre os dois momentos.

Descritores: Trabalho; Local de trabalho; Home office; Produtividade; COVID-19; Pandemia

8 -  O Home office na pandemia do Covid19 e os impactos na saúde mental
Paula Priscilla Houly Lopes Falcão; Maria de Fátima de Souza Santos
Páginas: 63 - 78

Resumo

A pandemia do Covid19 colocou em estado de pânico empregados e empregadores. De modo imperativo, a modalidade home office passou a ser a rotina de milhões de pessoas. A rapidez com que essas mudanças se instalaram parece ter exigido grande adaptação implicando em ajustes laborais, ambientais, familiares, além de precisar dar conta das responsabilidades exigidas no trabalho. O objetivo deste artigo foi compreender se a vivência do home office adotado de forma emergencial na pandemia trouxe impactos para a saúde mental do trabalhador. Para tanto, utilizou-se a abordagem da Teoria das Representações Sociais, numa análise qualitativa, com uso de questionário online e software Iramuteq. Os resultados demonstraram que o trabalhar na pandemia em home office mostrou a presença de uma dialética na vivência dos trabalhadores, e elementos de impacto na saúde mental deles, seja pelo aumento das percepções de estresse, ansiedade, sobrecarga e possíveis adoecimentos, seja pelo sentimento de alívio, refúgio e bem estar. Ambas as percepções tem exigido adaptação e desperta a necessidade de intervenção sobre cuidados com esse público, tanto pelas vias da Saúde Pública como das próprias instituições corporativas através de ações dos recursos humanos e de seus gestores.

Descritores: Trabalho; Pandemias; Coronavírus; Saúde mental

9 -  Vulnerabilidade na saúde mental de profissionais da saúde ao covid-19
Diana Rosa Hidalgo-Martinola; María Victoria Gonzalez-Jover; Mario Eloy Sarmiento-Nápoles; Karel Felipe Baez-Rodriguez; Tomas Abel Hernandez-Medina; Ana Karina Gutierrez-Alvarez
Páginas: 79 - 88

Resumo

Os frequentes efeitos sobre a saúde mental dos profissionais de saúde envolvidos na resposta à pandemia COVID-19 exigem a utilização de um instrumento capaz de integrar, na sua avaliação, as áreas psicológicas mais vulneráveis de acordo com as ações de Prevenção Primária declaradas no Protocolo da Gestão de Segurança Psicológica. O objetivo é descrever a vulnerabilidade na saúde mental do pessoal de saúde antes de desenvolver um trabalho direto com pacientes afetados pelo COVID-19. Foi desenvolvido um estudo descritivo e transversal com 108 trabalhadores/as da saúde da instituição a partir do uso do instrumento de rastreamento da vulnerabilidade psicológica. No Hospital para atenção a pacientes suspeitos e positivos de COVID-19. O estudo confirma: um predomínio da vulnerabilidade na saúde mental dos profissionais de saúde; enfermeiras, entre 23 e 40 anos, constituíam o grupo mais vulnerável; as áreas mais afetadas foram cognitivas e afetivas, projetadas em intensos sintomas de desconcentração, tristeza e ansiedade. A existência de maior vulnerabilidade na saúde mental do pessoal de saúde antes de começar a trabalhar diretamente com pacientes suspeitos e positivos para COVID-19, expressa a necessidade de manter a etapa de Prevenção Primária como parte do Protocolo de Gestão da Segurança Psicológica.

Descritores: Saúde Mental; Pessoal de Saúde; Segurança Psicológica; COVID-19

10 -  Efeitos da pandemia do Covid-19 na saúde mental do gaúcho
Maristela Piva; Lucas Cervieri; Maria Eduarda Foncharte Ranzzi de Oliveira; Vanessa Fontana Rovani; Anna Luzia Charrinho Pereira; Andressa dos Santos Scorsatto; Júlia Zeni Pires
Páginas: 89 - 103

Resumo

O início da pandemia de COVID-19, ainda em março de 2020, acarretou importantes mudanças, como o isolamento social, o fechamento de escolas e universidades. Além do mais, muitos postos de trabalho se modificaram como medida de prevenção ao contágio. Considerando esta realidade, o presente estudo buscou conhecer o impacto da pandemia de COVID-19 sobre a saúde mental da população gaúcha, procurando compreender os desdobramentos da pandemia e seus efeitos no cotidiano da população. Trata-se de um estudo quantitativo, com design de levantamento. O instrumento para coleta de dados foi um questionário, realizado através de um link no Google Forms. A amostra englobou 1359 pessoas, maiores de dezoito anos, residentes no Rio Grande do Sul, predominantemente com boa escolarização. Os resultados indicam que a pandemia e o isolamento social fizeram os participantes experimentar sentimentos de medo, desesperança, insegurança, ansiedade, entre outros. Entre os participantes, 89,2% respondeu que a pandemia foi o período mais tenso vivido em suas vidas até o momento, e 68,9% afirmou que a pandemia passou a sensação de um filme de terror. No período de coleta de dados, 4,6% da amostra já havia contraído o vírus, e, 27,6% tiveram familiares que desenvolveram a Covid-19. 54,1% da amostra teve piora no sono; e 80,9% afirmou ter usado remédio para dormir. Ainda, 87,7% dos sujeitos teve receio de perder algum ente querido por conta da Covid-19; havendo aumento no consumo de alimentos (66,4%). Enfim, muitos participantes perderam familiares, empregos, adoeceram, modificaram formas de trabalhar, o que acarretou sofrimento psíquico à população. Os dados obtidos evidenciam a necessidade de desenvolver medidas de apoio e cuidado à saúde mental da coletividade, com intervenções de continuidade.

Descritores: Covid-19; Saúde Mental; Brasil

11 -  O desenvolvimento de uma tecnologia leve em saúde mental no contexto da pandemia: acolhimento psicológico online no Norte do Brasil
Breno de Oliveira Ferreira; Gisele Cristina Resende; Sérgio Sócrates Baçal de Oliveira; Consuelena Lopes Leitão; Marck de Souza Torres
Páginas: 105 - 118

Resumo

O objetivo desta pesquisa é analisar a construção de uma tecnologia leve em saúde para intervenção em primeiros cuidados psicológicos durante a pandemia de Covid-19 no estado do Amazonas. O método utilizado foi a pesquisa multissituada, por meio da análise documental, em que foram analisados o planejamento da ação, a formação da equipe, e o impacto da supervisão de equipe. Os resultados demonstraram que o Programa de Acolhimento Psicológico Online ofereceu uma linha direta entre psicólogos e a população em geral, favorecendo espaço de escuta e cuidado em saúde. Com a crise gestada pela pandemia e as fragilidades de operacionalização das políticas de saúde regionais e nacionais, o Programa de Acolhimento Psicológico Online apresentou-se como uma alternativa para fortalecer a rede pública de cuidado em saúde mental.

Descritores: Psicologia; Infecções por Coronavirus; Serviços de saúde mental

Revisão Narrativa
12 -  Intervenções cognitivas comportamentais breves online para sintomas de ansiedade: o que foi aprendido durante e para após o período pandêmico?
Marco Antônio Silva Alvarenga; Mário Cezar Rezende Andrade
Páginas: 119 - 126

Resumo

As terapias cognitivas compreendem um grupo amplamente reconhecido de intervenções psicológicas, com considerável suporte empírico para diferentes condições de saúde mental. Essas intervenções podem ser utilizadas tanto em ambiente clínico tradicional quanto em situações de crise, principalmente aquelas envolvendo autopercepção de risco superestimado, alta vulnerabilidade e baixa capacidade de enfrentamento. O mundo vive atualmente uma situação de crise, especificamente, a pandemia de COVID-19, que pode trazer um impacto substancial na rotina das pessoas e causar sofrimento psicológico significativo. Nesse contexto, as intervenções de cuidado online estão se tornando uma prática padrão e, assim, os terapeutas cognitivos também poderiam apoiar seus pacientes e pessoas da população em geral usando esta ferramenta para as questões emergentes. Este texto fornece uma breve visão geral das principais questões que podem surgir na atual situação de pandemia como possíveis alvos para a prática de terapeutas cognitivos e as principais estratégias baseadas em evidências que podem ser utilizadas por eles neste contexto.

Descritores: Terapia cognitiva; Estratégias baseadas em evidências; COVID-19

13 -  Psicoterapia de base fenomenológica-existencial frente ao medo e à angústia como tonalidades afetivas no contexto Pandêmico da Covid-19
Graco Silva Macedocouto; Pablo Raphael Ribeiro Dias
Páginas: 127 - 139

Resumo

Esse trabalho visa mostrar em que medida a psicoterapia de base fenomenológica-existencial lida com as tonalidades afetivas do medo e da angústia em tempos de pandemia. Para realizar essa tarefa, os objetivos específicos foram: i) explicar a tonalidade afetiva do medo e da angústia a partir da fenomenologia heideggeriana; e ii) apontar como a clínica de base fenomenológico-existencial pode lidar com tais tonalidades afetivas dentro do contexto de pandemia COVID-19. A trajetória metodológica procurou descrever as tonalidades afetivas propostas nesse estudo e o fazer clínico diante do contexto pandêmico. O trabalho fenomenológico aqui tratou de proporcionar reflexões do fazer clínico do psicólogo de base fenomenológico-existencial, a saber, uma escuta aos afetos e não a meros determinantes teóricos.

Descritores: Medo; Angústia psicológica; Psicoterapia; Coronavirus

14 -  Implicações da pandemia de COVID-19 para mães e bebês internados em Unidade Neonatal: um olhar a partir da teoria de Winnicott
Camila Marchiori Pereira; Luziane Zacché Avellar
Páginas: 141 - 153

Resumo

A pandemia instaurada pela doença COVID-19 trouxe modificações organizativas e estruturais no campo da saúde hospitalar materno-infantil. Este artigo objetiva apresentar as modificações ocorridas no cenário atual no contexto de Unidade Neonatal, e a partir da teoria de Winnicott, discute sobre os possíveis reflexos negativos que podem acometer ao par mãe-bebê. Para isso, foi realizada uma revisão narrativa de literatura sobre esta temática. Em resultado à revisão, a discussão se delineia através de cinco categorias: 1) Mudanças organizativas no cuidado hospitalar no período de pandemia; 2) Teoria do Amadurecimento Humano de Winnicott e os possíveis reflexos da pandemia nos primeiros cuidados ao bebê; 3) Implicações na saúde mental materna; 4) Reflexos no apoio social recebido, e por fim, 5) Atuação multiprofissional em tempos de pandemia. As mudanças implementadas trouxeram reflexos emocionais ainda mais intensos sobre as emoções já sentidas por famílias que vivem o parto e nascimento e internações em Unidades Neonatais, mães sentem-se mais vulneráveis sem a presença do apoio social referido e os contatos com o bebê foram diminuídos devido ao receio de realizá-los. Observa-se a importância de que o cuidado humanizado e a valorização da promoção do vínculo entre mãe e bebê não sejam negligenciados mesmo em momentos de crise.

Descritores: Saúde Materno-Infantil; Maternidade; Relações mãe-filho; Infecções por Coronavírus.

15 -  Transtorno de personalidade antisocial e borderline, comportamento violento e Covid-19
Alexandre M. Valença; Lisieux E. de Borba Telles; Antônio Geraldo da Silva; Alcina J. S. Barros
Páginas: 155 - 164

Resumo

A combinação de transtornos de personalidade grave e violência representa um desafio para os serviços de saúde mental, incluindo os serviços forenses e os serviços comunitários de saúde mental. No contexto da pandemia do COVID-19, após observar o número alarmante de casos de coronavírus e mortes no Brasil, objetivamos discutir o potencial aumento do comportamento hostil, da violência e da criminalidade em indivíduos com transtornos de personalidade. Foi realizada uma revisão da literatura sobre os transtornos borderline e antisocial e as possíveis implicações no comportamento violento desses transtornos de personalidade durante a pandemia do Covid-19. Revisamos artigos da base de dados Medline sobre esses temas, entre os anos 2000 e 2020. Durante a pandemia é importante que esses serviços fiquem atentos e estejam preparados para novas demandas e agravamento de indivíduos previamente estabilizados de transtorno borderline de personalidade e transtorno de personalidade antissocial.

Descritores: Personalidade; Violência; Transtorno da personalidade Borderline; Coronavirus; Transtorno da personalidade antissocial

Revisão integrativa
16 -  Dilemas éticos e saúde mental dos profissionais de saúde na COVID-19
Graziele Zwielewski; Roberto Moraes Cruz; Josiane Albanás de Moura; Emanuella Melina da Silva Nicolazzi; Gabriela Oltramari
Páginas: 165 - 181

Resumo

Dilemas éticos são definidos por situações nas quais as pessoas são confrontadas ou forçadas a decidirem entre duas opções, e em que nenhuma delas se sobrepõe a outra, mas que podem colidir com os limites estabelecidos por normas legais ou institucionais. Dilemas éticos enfrentados pelos profissionais de saúde são relativamente habituais, mas se impõem em situações de crises e emergências provocando efeitos importantes sobre a saúde mental. O objetivo deste estudo é discutir os dilemas éticos e suas repercussões na saúde mental dos profissionais de saúde que atuam na linha de frente da pandemia da COVID-19. Foi realizada uma revisão integrativa da literatura com filtro em artigos teóricos, empíricos, comunicações breves e editoriais, publicados em 2020, que reportam dilemas éticos e impactos na saúde mental dos profissionais de saúde. Os resultados apontam um cenário de decisões difíceis, que geram angústia, sintomas de estresse, conflito moral e cognitivo que interferem no exercício profissional e no autogerenciamento de repercussões psicológicas negativas, tais como, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), depressão, ansiedade, inclusive no aumento significativo do uso e abuso de substâncias psicoativas e isolamento social.

Descritores: Dilemas éticos; Saúde mental; Pandemia, Covid-19; Profissionais de saúde

Relato de Caso
17 -  Psicoeducação sobre violência e mindfulness para mulheres com histórico de violência: um estudo de caso
Amanda Soares Dantas; Rafaela Pereira; Júlia Floriano Zafalon; Sabrina Mazo D'Affonseca
Páginas: 183 - 200

Resumo

A violência por parceiros íntimos (VPI) consiste em um problema de saúde pública e de violação dos direitos humanos das mulheres que pode ser prevenida. As intervenções devem ter ações para minimizar o impacto do abuso sofrido e fortalecer a vítima, para que ela consiga interromper o ciclo de violência. Este estudo de caso teve como objetivo analisar a viabilidade de uma intervenção baseada em dois elementos: psicoeducação sobre VPI e mindfulness.Uma mulher (43 anos) vítima de violência física e psicológica do seu ex-parceiro e de seu parceiro atual participou de 12 sessões psicoterapêuticas: 4 sessões de psicoeducação em VPI e 8 sessões de treinamento em mindfulness. Todo o conteúdo das sessões foram transcritos e analisados qualitativamente. Ademais, a participante respondeu as escalas Beck de ansiedade e depressão e a Escala Filadélfia de Mindfulness - EFM para os níveis de atenção à experiência no momento em diferentes momentos da intervenção. Os dados obtidos nos instrumentos indicaram diminuição dos sintomas de ansiedade e depressão, aumento no escore de aceitação das experiências e dimininuição do awareness. Conclui-se que tal intervenção se mostra viável por possibilitar diminuição de sintomas e maior consciência e reflexão a respeito de seus relacionamentos íntimos, e o desenvolvimento de uma atitude de não julgamento, de abertura e compaixão relacionada à experiência presente.

Descritores: Violência entre parceiros intimos; Mulheres; Mindfulness; Psicoeducação

Revisão Narrativa
18 -  Noções de infância na psicologia analítica e possíveis convergências
Maíra Meira Nunes; Carlos Augusto Serbena
Páginas: 201 - 214

Resumo

C. G. Jung não fez contribuições robustas quanto aos fatores psicológicos da infância, sendo que gradativamente observou-se na psicologia analítica a necessidade de uma prática voltada para os primeiros momentos da vida humana, tão importante quando todos os demais. Reconhece-se que a realidade psicológica, ainda que múltipla, e mesmo não sendo definida em estágios bem delimitados, apresenta especificidades no momento de formações e transições que é a infância. Desse modo, os acréscimos às contribuições de Jung para o entendimento das necessidades e peculiaridades subjetivas da criança na abordagem são importantes, dado que ele não acompanhou a criança propriamente dita, e seus escritos sobre o assunto apresentam, portanto, algumas lacunas. No presente artigo, derivado da dissertação de mestrado da autora 1, consideramos as contribuições de Jung, Fordham e Neumann em correlação às pesquisas recentes com crianças, a partir do método de revisão narrativa. Conclui-se que os fatores simbólicos, aliados aos aspectos vinculares e afetivos, constituem fatores de relevância na compreensão do desenvolvimento da criança.

Descritores: Infância; Criança; Desenvolvimento; Psicologia analítica

19 -  O renascimento dos psicodélicos como potenciais agentes psicoterapêuticos: trajetória, avanços recentes e perspectivas
Breno Almeida Soares
Páginas: 215 - 241

Resumo

Utilizados em vários contextos pela humanidade desde tempos imemoriais até os dias atuais, os psicodélicos despertaram a atenção dos pesquisadores na primeira metade do século passado. Desde então, mesmo com o longo período de restrições às pesquisas científicas devido à implementação da Controlled Substance Act em 1970, inúmeras investigações, principalmente nos últimos anos, vêm indicando o renascimento dos psicodélicos como importantes ferramentas em psicoterapia assistida. Esta revisão narrativa pretende divulgar a trajetória de pesquisa de psicodélicos selecionados (LSD, psilocibina, ayahuasca e MDMA), lançando luz sobre estudos clínicos que indicam a eficácia e a segurança médica dessas substâncias no tratamento de distúrbios mentais como depressão, ansiedade, dependência química e transtorno de estresse pós-traumático. Adicionalmente, também são apontados alguns eventos históricos e culturais relevantes que, de alguma forma, dialogam com esta trajetória.

Descritores: Psicodélicos; Psicoterapia assistida; LSD; Psilocibina; Ayahuasca; MDMA