Rev. bras. psicoter. 2021; 23(2):215-241
Soares BA. O renascimento dos psicodélicos como potenciais agentes psicoterapêuticos: trajetória, avanços recentes e perspectivas. Rev. bras. psicoter. 2021;23(2):215-241
Revisão Narrativa
O renascimento dos psicodélicos como potenciais agentes psicoterapêuticos: trajetória, avanços recentes e perspectivas
The renaissance of psychedelics as potential psychotherapeutic agents: trajectory, recent advances and perspectives
El renacimiento de los psicodélicos como potenciales agentes psicoterapéuticos: trayectoria, avances recientes y perspectivas
Breno Almeida Soares
Resumo
Abstract
Resumen
INTRODUÇÃO
Os compostos psicodélicos possuem um longo histórico de utilização pela civilização humana em praticamente todas as partes do mundo para fins de cura, ritualísticos, religiosos e recreacionais1,2. O significado da palavra psicodélico deriva da composição das palavras gregas psique e delein, que significam respectivamente alma e manifestação, e foi introduzida pela primeira vez para adjetivar uma substância química em 1957 por Humphrey Osmond3. Já o termo alucinógeno, que geralmente é empregado para se referir a substâncias psicodélicas, possui uma abrangência maior, incluindo também canabinoides, anfetaminas como ecstasy, agentes dissociativos e anticolinérgicos como ketamina e escopolamina, respectivamente, dentre outros.
Em termos farmacológicos, para ser classificada um psicodélico clássico, a substância deve possuir ação agonista total (ou parcial) em receptores de serotonina do tipo 2A (5-HT2A)4. No que tange aos aspectos químicos, existem duas categorias de compostos psicodélicos clássicos: uma inclui variações na estrutura da triptamina, que dentre alguns exemplos incluem a dietilamida do ácido lisérgico (LSD), a psilocibina e a N,Ndimetiltriptamina (DMT) (Figura 1). Uma segunda categoria de psicodélicos clássicos está associada a variações na estrutura química da fenetilamina (ou feniletilamina), que tem como principal representante de origem natural a mescalina, alcaloide presente em algumas espécies de cactos como peiote (Lophophora williamsii) e wachuma ou San Pedro (Echinopsis pachanoi)5. Exemplos de fenetilaminas sintéticas incluem o 2-CB, um dos 179 análogos sintetizados e testados nos anos 1970 em auto sessões experimentais pelo químico americano Alexander "Sasha" Shulgin6, além do 3,4-metilenodioximetilanfetamina (MDMA), conhecido popularmente como ecstasy (Figura 1).
"Eu fui forçado a interromper meu trabalho no laboratório no meio da tarde e ir para casa, tendo sido afetado por uma marcante inquietação combinada com uma leve tontura. Em casa me deitei e afundei em uma condição não desagradável de um tipo de intoxicação, caracterizada por uma imaginação extremamente estimulada. Num estado como de um sonho, com os olhos fechados, eu achei a luz do dia desagradavelmente brilhante, eu percebia um fluxo ininterrupto de quadros fantásticos, formas extraordinárias com um intenso caleidoscópico jogo de cores. Depois de umas duas horas, essa condição desapareceu." (Tradução livre do autor)
"Existe um mundo além de nós, um mundo distante, próximo e invisível. E é lá onde vive Deus, onde vivem os mortos, os espíritos e os santos, um mundo onde tudo já aconteceu e tudo é conhecido. Esse mundo fala. Fala sua própria língua. E eu reporto. Os cogumelos sagrados me levam pela mão até esse mundo onde tudo é conhecido. E são eles, os cogumelos sagrados, que falam de uma forma que eu entendo. Eu pergunto e eles me respondem. Quando eu retorno da viagem em que eles me levaram, eu digo o que eles me disseram e me mostraram."2 (Tradução livre do autor)
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