Rev. bras. psicoter. 2021; 23(2):5-8
Bandinelli LP. Possibilidades de focos de intervenção na saúde mental da população oncológica durante a pandemia da Covid-19. Rev. bras. psicoter. 2021;23(2):5-8
Carta ao Editor
Possibilidades de focos de intervenção na saúde mental da população oncológica durante a pandemia da Covid-19
Possibilities of intervention focuses on the mental health of the oncology population during the Covid-19 pandemic
Las posibilidades de intervención se centran en la salud mental de la población oncológica durante la pandemia Covid-19
Lucas Poitevin Bandinelli
Resumo
Abstract
Resumen
A pandemia da Covid-19 trouxe para além dos problemas sanitários um problema de saúde mental coletiva, visto que os índices de sintomas de ansiedade e depressão podem se tornar exacerbados durante esse período1. Algumas populações se mostram especificamente mais vulneráveis tanto ao risco de contaminação quanto a predisposição para o agravamento de problemas mentais, como no caso dos pacientes com câncer2.
Com a pandemia da Covid-19, a atenção prioritária foi para os cuidados relacionados à saúde física e os cuidados em saúde mental podem ter sido negligenciados inicialmente1, incluindo aqui o medo decorrente da possibilidade de contaminação em uma população vulnerável. Devido a esse fato, os pacientes podem sentir-se muito receosos, fazendo com que evitem as idas aos hospitais e clínicas de tratamento, o que pode levar a um agravo de suas doenças3. Além disso, devido a toda reorganização dos sistemas de saúde, muitas consultas e procedimentos foram adiados, fazendo com que o medo da progressão da doença se manifestasse com maior intensidade2. Dentro dessa perspectiva, psicoeducar os pacientes de que ter medo do vírus pode ser importante justamente para que eles possam se preservar de atitudes de risco (como por exemplo, saírem nas ruas sem máscaras e/ou receberem muitas visitas) mas que, quando esse medo passa a ser demasiado, isso pode acarretar em comportamentos evitativos relevantes (como não comparecerem às consultas médicas ou até mesmo às sessões de quimioterapia) pode ser um primeiro passo2.
Além do foco psicoeducativo, uma intervenção nesse contexto também precisa trabalhar com a aceitação da falta de controle das variáveis para que se foquem naquilo que podem controlar, integrando então elementos da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) e de mindfulness. O conceito de fusão cognitiva contido nos princípios da ACT pode elucidar os pacientes de como os pensamentos podem ser encarados meramente como um processo cognitivo e que não são necessariamente elementos reais de suas vidas4. Desse modo, quando um paciente pensar sobre algo que o deixa ansioso dentro desse contexto da pandemia (como por exemplo, ser contaminado pelo vírus), poderá avaliar seu pensamento e trata-lo como qual, sem vivencia-lo como realidade absoluta, evitando assim o sofrimento antecipatório. Aliado a isso, a prática do mindfulness pode ajudar o paciente a embarcar ainda mais na ideia de falta de controle sobre alguns eventos e da necessidade de aceitar seus pensamentos como eles são (transitórios, impessoais e em constante mudança), focando justamente no elemento da aceitação4. Além disso, recomeda-se que o terapeuta nesse momento deva se mostrar ainda mais disponível para uma escuta ativa, já que os pacientes podem se sentir sozinhos devido ao isolamento social, necessitando de um reasseguramento de que podem contar com um auxílio caso sintam necessidade, reforçando o vínculo e um apego seguro5. Dessa forma, alertamos para a necessidade de reflexão sobre o tópico e apresentamos na Tabela 1 alguns focos específicos de intervenção e quais as estratégias recomendadas para eles, visando orientação aos profissionais que atendem essa população.
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