Rev. bras. psicoter. 2021; 23(2):141-153
Pereira CM, Avellar LZ. Implicações da pandemia de COVID-19 para mães e bebês internados em Unidade Neonatal: um olhar a partir da teoria de Winnicott. Rev. bras. psicoter. 2021;23(2):141-153
Revisão Narrativa
Implicações da pandemia de COVID-19 para mães e bebês internados em Unidade Neonatal: um olhar a partir da teoria de Winnicott
Implications of the COVID-19 pandemic for mothers and babies hospitalized in the Neonatal Unit: a look from Winnicott's theory
Implicaciones de la pandemia de COVID-19 para madres y bebés hospitalizados en la Unidad Neonatal: una mirada a la teoría de Winnicott
Camila Marchiori Pereira; Luziane Zacché Avellar
Resumo
Abstract
Resumen
INTRODUÇÃO
Em 2020, a doença respiratória COVID-19 deflagrou-se rapidamente por todo o mundo, afetando a dinâmica da vida das pessoas de diversas formas. A COVID-19 impactou sistemas de saúde e trouxe mudanças organizativas e estruturais em relação às práticas de cuidados em saúde materno infantil .
As maternidades, ambulatórios e Unidades Neonatais passaram por medidas restritivas, em algumas instituições de saúde, visitas não foram permitidas e com isso, mães passam por processos decisórios, sem o apoio de seus mais queridos, contando apenas com o apoio presencial dos profissionais de saúde à sua volta . Diante da emergência da epidemia, protocolos de higienizações, condutas e restrições foram impostos por necessidade como forma de prevenção ao contágio por COVID-19, com isso, mães e pais passaram a usar máscaras e manter-se a dois metros de distância dos bebês recém-nascidos .
O distanciamento entre mãe e bebê pode impactar negativamente o processo de construção da maternidade e o desenvolvimento do bebê, uma vez que o contato pele a pele reduz a sensação de dor do bebê, estimula o vínculo mãe e filho, melhora resultados de neurodesenvolvimento, crescimento e a experiência de estabilidade fisiológica, promove o envolvimento dos pais, reduzindo sintomas de ansiedade e depressão, e da mesma maneira, ao participar ativamente dos cuidados, os pais sentem-se mais confiantes e competentes para cuidar do bebê em casa ,.
Estes momentos iniciais da vida de um bebê são importantes para seu desenvolvimento. A Teoria do Amadurecimento Humano desenvolvida por Winnicott enfatiza a importância dos cuidados ambientais no início do desenvolvimento humano; destaca a necessidade de uma presença humana diante do desamparo vivido pelo bebê na sua chegada ao mundo. Fundamental para que isso aconteça são os processos de integração e personalização, conseguidos por meio do holding e handling, conceitos do autor que fazem referência ao suporte físico e psíquico oferecido ao bebê pelo seu cuidador que fornecem segurança para que o bebê de desenvolva, e para isto, o recém-nascido precisa que suas necessidades sejam atendidas.
Frequentemente o ambiente hospitalar é descrito como um ambiente frio e hostil por mulheres que vivenciam esses momentos iniciais da vida materna , . Este artigo tem como objetivo discutir os reflexos e potenciais prejuízos vivenciados no atual cenário de pandemia pelo par mãe-bebê nos cuidados hospitalares em saúde com o auxílio da Teoria do Amadurecimento Humano desenvolvida por Winnicott.
MÉTODO
Revisão narrativa da literatura, objetiva descrever e discutir o desenvolvimento de um determinado assunto sob um ponto de vista teórico ou contextual. Trata-se da análise da literatura publicada em diversos meios de divulgação científica, contemplando a interpretação e análise crítica do autor .
Busca-se evidenciar os reflexos do atual cenário de pandemia no âmbito da assistência e de mudanças normativas na saúde mental materno-infantil. Para tal, utiliza-se o ponto de vista teórico da Teoria do Amadurecimento Humano, proposta por Winnicott , que enfatiza a importância dos fatores ambientais para o desenvolvimento humano.
Os artigos utilizados foram selecionados a partir de buscas realizadas no portal regional da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e na biblioteca eletrônica Scientific Eletronic Library Online (Scielo), a busca foi realizada em janeiro de 2021 considerando os artigos mais atuais em português e inglês sobre a temática. Os termos de busca utilizados foram "Covid-19", "Coronavírus", "Infecções por Coronavírus", "Unidades de Terapia Intensiva Neonatal" e "Relações mãe-filho", todos extraídos dos Descritores em Ciências da Saúde (DECS), com suas variações em inglês, e entre os termos, os operadores boleanos AND e OR.
Mudanças organizativas no cuidado hospitalar no período de pandemia
Em decorrência da pandemia, algumas rotinas hospitalares foram radicalmente modificadas. Juntamente com as recomendações da Organização Mundial de Saúde, Centro de Controle de Doenças e American Academy of Pediatrics (AAP), hospitais norte-americanos tiveram como conduta o uso de máscaras, higiene das mãos, separação de mãe e bebê em um metro e meio de distância, uso de cortinas entre mãe e bebê, suspensão da amamentação em certos casos e restrições de visitas .
No Brasil, o contato pele a pele entre mãe e bebê no pós-parto só poderá ocorrer após o banho, troca de roupa e higienização da parturiente, há restrição de visitas em alojamento conjunto, sendo recomendado que o berço do bebê fique até 2 metros de distância da mãe. O Método Canguru está recomendado apenas para mães assintomáticas, não sendo recomendado a prática pelo pai. Nas Unidades Neonatais, as visitas estão suspensas, e a presença dos pais requer revezamento. Atividades coletivas, como grupos terapêuticos entre mães, estão proibidas e atendimentos psicossociais beira leito também não são permitidos ,.
A transmissão vertical foi confirmada, mas é um evento raro e não está claro se neonatos são infectados no útero, parto ou pós-parto , , . Por isso, ainda não é possível tecer considerações conclusivas em relação às complicações perinatais e neonatais , . Ainda não foram identificados estudos sobre o desenvolvimento de fetos infectados por COVID-19 e possíveis impactos durante o primeiro trimestre da doença .
As taxas de mortalidade, morbidade e infecção neonatal são baixas , , entretanto, por caracterizar-se como um período transacional complexo e ainda haver desconhecimento sobre as consequências a longo prazo do COVID-19 para esta população, as mulheres gestantes e puérperas estão incluídas na estratificação como grupo de risco mais suscetíveis a ter complicações da doença . Na literatura encontram-se mais casos de problemas decorrentes da COVID-19 em mães do que em neonatos .
Teoria do Amadurecimento Humano de Winnicott e os possíveis reflexos da pandemia nos primeiros cuidados ao bebê
O contexto da pandemia trouxe preocupações às mães concernentes ao parto e o nascimento. As cesárias e as complicações pós-parto pressupõem em seus processos internações em ambientes biomédicos, estes ambientes são atualmente considerados como ambientes de risco em relação à infecção por COVID-19. O parto em hospital significa a quebra do isolamento social por parte dos pais e um momento de tensão que envolve a exposição dos mesmos e do recém-nascido ao ambiente.
É a partir do nascimento e das primeiras interações entre mãe e bebê que o vínculo afetivo precisa ser plenamente estabelecido, as próximas horas de interação são importantíssimas para esta ligação . A relação mãe-bebê tem fundamental importância para o desenvolvimento emocional do ser humano. A mãe é o elemento central no universo afetivo do bebê, e através dela, o bebê caminhará em direção ao seu amadurecimento.
Winnicott , pediatra e psicanalista inglês, destaca em sua "Teoria do Amadurecimento Humano" a importância dessa relação e as consequências ao longo de todo percurso de desenvolvimento humano. Para o psicanalista, a capacidade de amadurecimento é inata e herdada e está diretamente associada aos cuidados que serão dispensados ao bebê nos momentos imediatamente após o seu nascimento, não se restringe à figura da mãe biológica, mas a toda pessoa que possa cumprir a função de cuidar.
É no início da vida que as mães se fazem fundamentais para os bebês através da promoção de um ambiente facilitador, que é caracterizado por uma figura materna que ofereça proteção e cuidados adequados às necessidades do bebê. Quando um bebê nasce, encontra-se em um estado de não-integração, um estado sensorial de fragmentação, e para que o processo de integração aconteça, o bebê precisa receber cuidados adequados. O processo de integração refere-se a integrar-se em uma unidade, uma psique, unindo aspectos psicológicos e corporais. Isso se dá quando encontra um ambiente que se adapte à suas necessidades.
A introdução de um bebê no mundo se dá através da relação mãe-bebê, da presença contínua da mãe, que precisa oferecer um cuidado humanizador. Para Winnicott , , a personalização, constitui-se pelos momentos nos quais o bebê passa a diferenciar-se da mãe. Este processo só é possível a partir da experiência tátil e corpórea do encontro com o investimento materno. A corporeidade do bebê é forjada neste encontro mãe-bebê que introduz aos poucos a capacidade de o bebê se relacionar com a realidade externa .
Desta forma, estar em contato com o bebê e compreender suas necessidades é um processo importante que envolve dirigir a fala e o canto ao bebê, tentar inferir sentido a suas reações, reflexos e necessidades, fazer expressões faciais e esperar que o bebê reaja à elas, tocá-lo, segurar no colo, dar banhos, encontrar uma posição segura para ambos, estimulá-lo através dos sentidos da mãe e do bebê, entre outras interações. Uma comunicação silenciosa. Tais processos tão importantes para este percurso passam por impeditivos neste cenário de pandemia, podendo gerar prejuízos de longo prazo para mãe e bebê ,.
Nesse período de pandemia, a utilização de máscara, pode inibir que as mães expressem seus afetos ao bebê, e as restrições de contato impedem que grande parte dessa relação sensorial com o bebê aconteça. Esse aspecto faz recordar um comentário de Winnicott que foi transcrito de uma gravação de uma fita e publicado em um texto em 1967 : "... em termos da ideia de que o primeiro espelho é o rosto da mãe e que uma das funções desta última e dos pais e da família é fornecer um espelho, figurativamente falando, em que a criança possa se ver".
Um estudo brasileiro realizado com 15 mães de bebês internados em Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal (UTIN) no período da pandemia identificou que devido às normas de conduta impostas há grande medo por parte das mães de contaminar o bebê através do contato fazendo com que evitem realizar cuidados como tocar e segurar o bebê no colo, principalmente em caso de prematuros . Tais medidas fazem com que se sintam impotentes e angustiadas diante do cuidado ao bebê, o que pode trazer prejuízos difíceis de serem reparados ao longo do tempo.
As ações de tocar e segurar o bebê no colo estão relacionadas com a função de segurar e sustentar. Aspectos destacados na teoria de Winnicott, como fundamentais no início da vida do bebê. O holding, é uma importante função ambiental que envolve a sustentação e a manipulação corporal do bebê pelo cuidador, e a apresentação do objeto, função materna de oferecer objetos substitutivos de satisfação, de apresentar a externalidade e a realidade.
A mãe é a responsável por apresentar o bebê ao mundo de forma segura e suportável, fazendo isso em "pequenas doses", como diz Winnicott , , . Nesta dinâmica, inicia-se o processo de separação da unidade mãe-bebê, o resultado é um primeiro espaço que se abre, e passa a ser mãe-e-bebê, denominado pelo autor: espaço potencial, "a separação que não é uma separação, mas uma forma de união" . Ele é potencial porque nele podem ser incluídas as experiências do indivíduo, é fundamentado na confiança e fidedignidade experimentados pelo bebê em momentos iniciais de sua existência.
O Método Canguru , implementado nas maternidades e Unidades Neonatais no Brasil, contempla a importância do holding através da prática do método, assinalando a relevância dos momentos nos quais a mãe e o bebê compartilham experiências sensoriais, pele a pele, no intuito de promover aconchego e vínculo entre mãe e bebê. A amamentação, a troca de fraldas, o banho e o toque são fatores de comunicação entre o corpo materno e o corpo do bebê.
Estudo realizado em 277 Unidades Neonatais nos Estados Unidos verificou que as medidas impostas pela pandemia limitaram significativamente a presença dos pais na Unidade. Os efeitos dessa ausência ao lado dos bebês serão posteriormente conhecidos com o passar do tempo no impacto neurocomportamental dos bebês. Só posteriormente saberemos se estas medidas de restrição foram extremas, assim como os riscos do Covid-19 para neonatos ainda é obscuro ,.
A presença materna em contato com bebê é fundamental para seu desenvolvimento. Um bebê hospitalizado é constantemente manipulado pelos procedimentos e aparatos fundamentais para sua sobrevivência, porém, este excesso de reações é percebido pelo mesmo como uma ameaça a sua integridade. Apesar da Tendência Inata ao Desenvolvimento, proposta na teoria de Winnicott, a função materna é importante base para que o desenvolvimento do bebê não seja interrompido por reações à intrusão. A mãe devotada possibilita uma adaptação sensível às necessidades do bebê que o protege quando o ambiente se sobrepõe à sua tendência natural de desenvolvimento6.
Essas mudanças de restrição não reverberarão negativamente apenas na saúde dos bebês e na relação mãe-bebê, mas também na prestação de cuidados, na relação que os pais podem ter com os profissionais de saúde, na diminuição da cooperação de pais junto ao cuidado do filho, diminuição do envolvimento do atendimento clínico, comprometimento com o tratamento e busca pela alta4 . Todos estes fatores fazem parte do que Winnicott6 traz como conceito de ambiente, são fatores que atuam para facilitar ou obstaculizar o processo de amadurecimento do bebê. Também poderá interferir negativamente na forma de maternar, e no próprio desenvolvimento da mulher em sua experiência com a maternidade.
Implicações na saúde mental materna
Se por um lado os impactos em relação aos bebês poderão ser observados com o tempo, os reflexos em relação à saúde mental materna já se encontram evidentes e reverberam de diversas formas. O contexto de incertezas tem produzido estresse e ansiedade nas mulheres grávidas em diferentes partes do mundo, há importante correlação entre os estados emocionais e efeitos como a ocorrência de pré-eclâmpsia, parto prematuro, depressão, baixo peso ao nascer, náuseas e vômitos na gestação e baixo APGAR28 .
O ambiente hospitalar enquanto lugar de parto e nascimento, provoca receios em muitas mulheres, o ambiente da Unidade Neonatal ainda mais, descrito por mães como um lugar frio que se traduz em uma vivência de angústia para elas7,29. Sabe-se sobre os benefícios do parto normal, sendo um dos objetivos de promoção e incentivo através da Política Nacional de Humanização5, porém, com a pandemia, observou-se um grande aumento no número de cesáreas e nascimentos prematuros14,10,30, algumas mulheres desejam o término precoce da gestação com cesárea eletiva, e outras, têm dúvidas sobre o pós-parto, como transmissão do coronavírus durante amamentação e cuidados neonatais28.
Alguns fatores, como por exemplo, ser mulher, jovem, ter diagnóstico prévio de transtorno mental, não ser trabalhador da saúde, ter renda diminuída no período, fazer parte do grupo de risco e estar mais exposto a informações sobre mortos e infectados, podem indicar maior chance de prejuízo na saúde mental neste período de pandemia31.
Neste contexto, mulheres encontram-se mais vulneráveis emocional, físico e economicamente às transições referentes aos processos perinatais. Ao se referir aos processos de desenvolvimento do bebê a caminho da integração, Winnicott32 pontua que a mãe precisa encontrar-se em um estado emocional que permita que a relação entre mãe-bebê aconteça. O autor descreve este processo de adaptação como Preocupação Materna Primária (PMP), que se configura como um estado do pós-parto imediato de uma mulher na qual está imersa em certa sensibilidade e busca compreender e adaptar-se às necessidades de seu filho, visando sincronizar-se ao ritmo de suas necessidades de modo no qual o bebê não tenha que reagir às emergências de um ambiente estranho, mas sinta-se acolhido.
Essa disponibilidade materna encontra impeditivos em meio ao desamparo promovido pela ausência de seus vínculos afetivos e vulnerabilidades maximizadas em meio à uma epidemia que tem gerado medo, tristeza, angústia, abandono e impotência aos processos de maternidade. Tais afetos já eram anteriormente descritos por mães em contexto de internação neonatal, em meio ao atual cenário encontram-se maximizados33,34,35.
Esta forma de condução restritiva das práticas de saúde produz um cuidado centralizado na mãe e em suas vivências puramente biológicas, acaba por desconsiderar as vivências emocionais e sociais em prol da urgência biológica de isolar-se contra o vetor da doença. Práticas de restrição no hospital aumentam os sentimentos de estresse e impotência dos pais4. Sintomas parentais de ansiedade, depressão e estresse podem se estender muito além da internação na Unidade Neonatal e pode causar impactos profundos nos relacionamentos, comunicação e parentalidade36.
Da mesma maneira, as práticas de restrição centralizam o cuidado em um único cuidador, diante das circunstâncias nomeia-se a mãe lactante para esta posição, que se enquadra como responsável não somente do cuidado aos bebês, mas de receber as instruções de cuidados, tratamentos, encaminhamentos e tradução destes para outros familiares. Historicamente é dado à mulher o papel de cuidado, esse momento de crise que posiciona a mulher como principal cuidadora pode acabar por reproduzir práticas opressoras contra a mulher que a confinam em um papel estressante e solitário. E, com isso, também gera a exclusão do pai de um momento tão primordial.
Em Winnicott37, o pai faz parte do ambiente em que o bebê amadurece, ele não se apresenta como outro cuidador materno, mas aparece como elemento inscrito num processo de diferenciação da alteridade. Porém, seu papel na sustentação desse ambiente é primordial, é o pai que ocupa o papel de dar holding à mãe, especialmente no período em que ela cuida do desamparo de seu bebê. A presença ou ausência do pai no ambiente, interferem nas emoções maternas, podendo promover sentimentos de proteção ou desproteção para mãe. Há uma relação direta entre à qualidade do ambiente em que a dupla mãe-bebê habita e o cuidado efetivo paterno38.
Reflexos no apoio social recebido
A restrição da entrada de familiares para visitas, pode impactar de diversas maneiras vida de uma família. Restringir o acesso para pais e mães, em revezamento, dando preferência à mãe pelo fator biológico do aleitamento não estimula a presença e participação do pai ou parceiro(a)s durante a internação.
O apoio social é um importante fator de proteção para mulheres que vivenciam período perinatal, mulheres que não contam com uma boa rede de apoio social encontram-se mais vulneráveis à depressão pós-parto, podem apresentar dificuldades de vinculação com o bebê e na apropriação do papel materno39.
Com esta restrição, houve um maior distanciamento dos familiares que configuram a rede de apoio dessas mães, e as mães reconhecem os reflexos dessa medida diretamente, relatando que os sentimentos de impotência e tristeza estão sendo vividos com maior intensidade diante da sensação de desproteção. Mães que possuem outros filhos, deparam-se com a angústia de evitar o encontro com filhos mais velhos por medo de contaminar, a eles ou ao bebê, no período de internação do neonato em Unidade Neonatal24.
A diminuição da presença dos pais ao lado do leito modifica a comunicação entre equipe e famílias, sendo esse contato mais ausente. Mães pais passam a tomar decisões entre si e a equipe, sem auxílio da família extensa. Novas mães passam pelos primeiros momentos da maternidade, sem suas próprias mães, recém-avós, tão importantes como representação feminina de cuidado para este momento4.
Winnicott19,6 sinaliza que o primeiro ambiente para o bebê é a mãe, que se configura como a base para o caminho da integração, sendo a responsável por promover as experiências que o guiam em seu processo de amadurecimento. Estas experiências podem ser tanto facilitadoras quanto dificultadoras desse processo. Porém, é importante pontuar que as experiências que essa mãe vive, a possibilitam guiar o bebê para o caminho da humanização e da constituição do eu.
Para o autor, um bebê "não existe, ele só existe em presença da mãe, sendo a mãe e o bebê uma unidade"6 . A mãe apresenta o bebê à realidade através de experiências que lhe atribuem sentido, acolhimento e permitem que os processos de integração possam acontecer6,40 . Porém nada disso se faz possível se esta mãe não estiver em condições de cuidar e ser cuidada. Ambos precisam ser acolhidos pelo ambiente e comunidade nos quais pertencem, precisam sentir-se inseridos socialmente em compartilhamento de vivências, representadas no momento de internação por vínculos afetivos íntimos e pela equipe profissional.
Desta maneira, pontua-se a importante função materna no desenvolvimento da criança, porém, ressalta-se que o cuidado não reside apenas na mãe, mas fundamentalmente na função materna, em um ambiente no qual a sociedade acolhe mãe, bebê e família. Este cuidado envolve uma prática em saúde que se baseia no acolhimento humanizado, no apoio social que recebem, nas práticas de solidariedade compartilhadas e em uma cultura de atenção à saúde materno-infantil que não perpetue práticas opressoras à mulher.
Atuação multiprofissional em tempos de pandemia
Apontamos os possíveis prejuízos decorrentes das restrições e normativas necessárias ao enfrentamento da epidemia por COVID-19, pontuaremos a seguir, sugestões que visam reduzir ou minimizar implicações negativas no cuidado à saúde materno infantil.
As tecnologias virtuais têm sido um grande fator de enfrentamento às restrições sociais no ambiente hospitalar, vídeo chamadas em tablets, celulares ou computadores tem sido utilizados como forma de promover o contato com os vínculos pessoais das pessoas internadas. Ainda não está claro se esses serviços são eficazes ou acessíveis para todos neste momento, há uma possibilidade que a prestação de cuidados de saúde de forma virtual aumente a desigualdade social existente, mas tem sido utilizado como um facilitador para contato não só entre paciente e família, mas entre equipes de saúde e famílias extensas4.
Grupos de apoio online, criação de diários para acompanhamento do desenvolvimento do bebê de forma compartilhada com família e equipe, e leituras de histórias para o bebê por videochamada por parte dos familiares, tem sido consideradas ferramentas que podem atenuar os efeitos do distanciamento. Garantir que serviços de terapia e acolhimento humanizado continuem a acontecer é também um importante fator de enfrentamento aos efeitos colaterais deste momento de restrição, fomentar um cuidado humanizado e integral é fundamental. Desta maneira, serviços de saúde como terapia ocupacional, psicologia, fonoaudiologia, fisioterapia, entre outros, são fundamentais para a prevenção e promoção de saúde de mãe e bebê27.
Apesar da restrição para atendimentos beira leito, importante pontuar sobre a atuação do profissional de psicologia no meio hospitalar e sua relevância neste momento de crise. Os serviços como, a escuta qualificada, aconselhamento, acompanhamento psicológico de mães e pais e a intervenção em meio ao luto, são importantes para a prevenção e promoção da saúde mental de mães, pais e bebês. Porém, a restrição dos atendimentos beira leito exigem uma reformulação do trabalho psicológico em meio à pandemia.
Alguns autores pontuam que uma forma de enfrentamento às restrições de contato entre mães e bebês, seria a disponibilidade de quartos individuais para tratamento e acompanhamento de mães com seus bebês26,4, porém esta sugestão não condiz com a realidade brasileira onde a maioria dos hospitais possuem quartos com leitos compartilhados. Uma outra estratégia possível é descentralizar o cuidado do meio hospitalar e fortalecer a base do cuidado territorial em obstetrícia41.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A crise pandêmica da COVID-19 traz implicações ainda maiores sobre os estressores já sentidos por famílias que vivem o parto e nascimento neste momento de internações em Unidades Neonatais. Houveram mudanças organizativas no cuidado materno-infantil que trouxeram prejuízos na relação entre mães e bebês que vão reverberar de muitas formas. Os reflexos da pandemia na relação mãe-bebê estão sendo vivenciados através das normativas de distanciamento e restrições entre mães e filhos, que tem reduzido o toque e a circulação de palavras, fatores importantíssimos para a promoção do vínculo mãe-bebê e para o desenvolvimento da criança.
Os reflexos na saúde mental materna estão sendo diretamente sentidos pelas mães na sobrecarga feminina através da exclusividade no cuidado do recém-nascido em hospital, e as mulheres tem se encontrado mais estressadas, sozinhas e angustiadas frente à pandemia e suas normativas. As implicações observadas em relação ao apoio social recebido têm sido enfrentadas pelas mães com muitas dificuldades, a presença dos entes mais queridos neste momento é um fator importante de promoção à saúde mental materna.
Todos estes reflexos se relacionam, uma vez que, um bebê necessita de uma mãe emocionalmente disponível para investir em seu desenvolvimento e cuidado. Se um bebê não tem quem realize a função materna, o mesmo não se desenvolve integralmente. É preciso reconhecer que as mães sejam cuidadas e acolhidas neste momento de crise para que possam investir nos cuidados maternos. Ressalta-se a importância de se manter as conquistas dos direitos, no âmbito da saúde materno infantil, mesmo em meio à crise.
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Universidade Federal do Espírito Santo, Programa de Pós Graduação em Psicologia, Departamento de Psicologia Social e do Desenvolvimento - Vitória/ES - Brasil
Correspondência
Camila Marchiori Pereira
milamarchiori@gmail.com
Submetido em: 08/02/2021
Aceito em: 09/08/2021
Contribuições: Camila Marchiori Pereira - Coleta de Dados, Conceitualização, Gerenciamento do Projeto, Investigação, Metodologia, Redação - Preparação do original, Redação - Revisão e Edição; Luziane Zacché Avellar - Conceitualização, Gerenciamento de Recursos, Gerenciamento do Projeto, Redação - Revisão e Edição, Supervisão
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