Vol 26 N° 1 2024
Editorial
1 -
Comunidade, propósito e saúde mental em tempos de crise
Anna Viduani
Páginas: 1 - 2
Descritores:
2 -
O que resta de futuro? Como as novas tecnologias situam-se em um contexto de crise climática
Bibiana de Moraes Dias; Felipe Ornell
Páginas: 3 - 7
Descritores:
SEÇÃO ESPECIAL
3 -
Uma carta do Paquistão ao Brasil: ampliando o acesso e o suporte à saúde mental para afegãos afetados pelo conflito
Khalid A Mufti; Ali Ahsan Mufti; Farida Saifi; Afzal Javed
Páginas: 9 - 13
Descritores:
4 -
Uma carta de um Estado Insular em Desenvolvimento do Caribe
Myrna Lashley; Michael H. Campbell
Páginas: 15 - 20
O furacão Beryl, que causou destruição sem precedentes no Caribe, nos obriga a reconsiderar não apenas as implicações crescentes para a saúde pública, economia e geopolítica das mudanças climáticas, mas também os desafios para a saúde mental que tais eventos geram. Os Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS) devem se preparar mental, fisicamente e financeiramente para as crescentes ameaças relacionadas ao clima. Indivíduos e famílias com alta renda e status podem ser mais capazes de enfrentar esses desafios. Os SIDS frequentemente precisam pegar empréstimos de agências internacionais, particularmente o Fundo Monetário Internacional (FMI), o que impõe encargos adicionais sobre economias e sociedades vulneráveis. A Primeira Ministra Mia Mottley de Barbados tem defendido de forma decisiva a reestruturação necessária dos cronogramas de pagamento da dívida, levando em consideração as vulnerabilidades dos SIDS, a fim de proporcionar a esses estados o tempo, as taxas e a flexibilidade necessárias para atender às suas obrigações com seus cidadãos. Esta posição forma a base da Iniciativa de Bridgetown, que pede para as nações mais ricas do mundo estarem cientes do impacto de suas políticas econômicas e das exigências de pagamento da dívida sobre os estados vulneráveis ao clima.
Descritores: Mudanças climáticas; SIDS; Saúde mental; Pagamento de dívida; Iniciativa de Bridgetown; Geopsiquiatria
5 -
As mudanças climáticas e os desafios das ameaças globais à saúde mental
Helena Ferreira Moura; Joana Correa de Magalhães Narvaez; Felipe Rech Ornell; Felix Henrique Paim Kessler; Albert Persaud
Páginas: 21 - 36
O impacto das mudanças climáticas na saúde mental emerge como um tema crucial e desafiador diante do aumento na frequência e gravidade de eventos climáticos extremos, como as enchentes no Sul do Brasil em maio de 2024. Esses fenômenos não apenas destacam a necessidade de ampliar as estratégias de prevenção e manejo de transtornos mentais, como demandam expandir as perspectivas sobre a saúde mental, passando a incluir os determinantes geopolíticos de saúde mental. Até o momento, a compreensão do sofrimento emocional tem se limitado a fatores individuais e biopsicossociais, como história pessoal, genética e habilidades de enfrentamento. No entanto, é essencial integrar fatores externos e globais que ultrapassam o entorno mais próximo do indivíduo. As mudanças climáticas ampliam as desigualdades, afetando de forma desproporcional países de baixa e média renda e populações vulneráveis, que possuem menor capacidade de adaptação e enfrentamento. Emergências humanitárias relacionadas a desastres, como ondas de calor, inundações e incêndios florestais, já estão mais frequentes, intensas e de maior escala, como alertado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Diante desse cenário, este artigo tem como objetivo explorar os conceitos fundamentais sobre mudanças climáticas e seus impactos em desastres ambientais, evidenciando as associações com diferentes desfechos em saúde mental. Ademais, propõe uma análise do conceito de determinantes geopolíticos de saúde mental e como as mudanças climáticas se inserem nesse contexto. Por fim, sugere estratégias preventivas e interventivas para as áreas de assistência, ensino e pesquisa.
Descritores: Saúde mental; Desastres naturais; Determinantes sociais da saúde; Inundações
6 -
Incertezas ambientais e suas consequências psicológicas: estratégias de resiliência para um futuro sustentável
Daniela Tusi Braga; Raul Costa Fabris; Marcos da Silveira Cima; Milene Petry
Páginas: 37 - 39
Descritores:
7 -
Segurança ou proteção na relação terapêutica? Um estudo qualitativo de preferências pela psicoterapia online ou presencial
Francisco Leal Ximenes Souza; Stella Becher-Urbaniak; Lisa Winter; Birgitta Schiller
Páginas: 41 - 56
INTRODUÇÃO: A pandemia de COVID-19 expandiu a realidade da psicoterapia online a um nível nunca imaginado anteriormente. Contudo, um foco em como o corpo é percebido de maneira distinta pelos pacientes entre a psicoterapia online e presencial é um fenômeno pouco aprofundado na literatura científica. O presente estudo almeja gerar teoria sobre este tema.
MÉTODO: Uma entrevista semi-estruturada sobre percepções dos pacientes sobre o corpo na psicoterapia online e presencial foi conduzida com pacientes de um ambulatório para adultos (n = 6). As respostas foram analisadas indutivamente com um método de teoria fundamentada. Após a identificação de conceitos e categorias e exclusão de um participante (n = 5), uma abordagem abdutiva foi conduzida sobre os dados em torno dos temas de segurança e proteção, provenientes da teoria da terapia focada na compaixão.
RESULTADOS: Uma teoria fundamentada foi gerada, na qual motivações de segurança estão conectadas à preferência por psicoterapia online enquanto as de proteção estão ligadas à inclinação pela psicoterapia presencial.
DISCUSSÃO: Como o corpo está mais exposto na psicoterapia presencial, os pacientes têm menos controle sobre ameaças e estão mais vulneráveis na relação terapêutica. Pacientes focados em prevenção de danos (segurança) podem escolher a psicoterapia online pelo controle que ela oferece. Pacientes buscando conexões profundas de ajuda (proteção), que requerem vulnerabilidade, podem preferir psicoterapia presencial. Implicações, limitações e direções para pesquisas futuras são discutidas no artigo.
CONCLUSÃO: Embora a geração de teoria tenha sido alcançada, estudos de validação precisam ser conduzidos pela pesquisa quantitativa.
Descritores: Psicoterapia; Relações profissional-paciente; Telessaúde mental; Comportamento de escolha
8 -
Aliança terapêutica na psicoterapia psicodinâmica online: percepção dos pacientes
Denise Süss; Luan Paris Feijó; Vitoria Maria Tabosa Evaldt; Fernanda Barcellos Serralta
Páginas: 57 - 73
O objetivo deste estudo foi verificar os elementos que os pacientes consideram importantes para o desenvolvimento da aliança na psicoterapia psicodinâmica online. Para tal, foram realizadas entrevistas com seis pacientes que realizaram 24 sessões de psicoterapia psicodinâmica por videoconferência. Os dados foram analisados a partir do método Pesquisa Qualitativa Consensual. Os resultados foram agrupados em três domínios: relacionamento terapêutico, setting e mudanças terapêuticas. A análise destes domínios indica que foi possível desenvolver a aliança, e que esta foi facilitada pela empatia e aspectos da técnica das terapeutas, bem como pela motivação e engajamento das pacientes. O setting flexível da psicoterapia online apresenta uma mobilidade que foi percebida como vantajosa, mas possui vulnerabilidades que podem ameaçar sua integridade. De modo geral, a terapia proporcionou mudanças sintomáticas, intrapsíquicas e relacionais. Os achados contribuem para orientar a prática da psicoterapia online.
Descritores: Psicoterapia psicanalítica; Processo terapêutico; Terapia online
Artigo Original
9 -
Esquemas iniciais desadaptativos, modos esquemáticos e ideação suicida em uma amostra de indivíduos com Transtorno Depressivo Persistente
Giulia De Lellis Fadel; Júlio Antônio da Rosa Fernandes; Julio Cesar de Souza Ribeiro; Margareth da Silva Oliveira
Páginas: 75 - 90
INTRODUÇÃO: A ideação suicida, que está relacionada com sintomas depressivos, tem alta prevalência no Brasil. Sabe-se que sujeitos com Transtorno Depressivo Persistente (TDP) possuem experiências mais frequentes de ideação suicida do que a população geral, sendo o tratamento mais eficaz a psicoterapia combinada com tratamento medicamentoso. A Terapia do Esquema se propõe a atender casos crônicos, tornando-se uma opção válida.
OBJETIVO: Portanto, esse estudo teve como objetivo comparar os esquemas desadaptativos e modos esquemáticos de um grupo com ideação suicida (CI) e outro sem ideação suicida (SI), ambos com TDP.
MÉTODO: Trata-se de um estudo quantitativo com delineamento descritivo, observacional, transversal e comparativo entre grupos. Os instrumentos aplicados foram: ficha de dados sociodemográficos, Inventário de Esquemas de Young- versão breve (YSQ-S3), Inventário de Modos Esquemáticos (SMI) e Inventário de Depressão de Beck (BDI-II). A amostra foi composta por 100 indivíduos com TDP, sendo 30 do grupo SI e 70 do grupo CI.
RESULTADOS: Os resultados mostram que houve diferenças significativas entre os grupos em 9 esquemas e 6 modos, com maior índice para o grupo CI e 2 modos adaptativos, com maior índice para o grupo SI. Ou seja, pacientes com ideação apresentaram maior quantidade e índice de esquemas e modos desadaptativos, em média, quando comparados aos sem ideação.
CONCLUSÃO: Os resultados obtidos são corroborados pela literatura, que associa sintomas depressivos como a ideação com os esquemas e modos encontrados. Esse estudo pode contribuir para o fortalecimento da prática de terapeutas do esquema de forma a facilitar a análise de risco do paciente a partir da identificação dos esquemas e modos, além de contribuir para o conhecimento na área e fortalecimento dos constructos teóricos.
Descritores: Terapia do esquema; Transtorno depressivo; Suicídio
Artigos de Revisao
10 -
Teorias homeostáticas das adições: uma revisão narrativa
Bibiana Bolten Lucion Loreto; Anne Orgler Sordi; Andressa Goldman Ruwel; Cristhian Ferreira Falleiro; Caroline Sousa de Souza; Deborah Daitschman; Felix Henrique Paim Kessler
Páginas: 91 - 104
INTRODUÇÃO: Transtornos aditivos estão associados à mortalidade precoce, a prejuízos psicossociais e a custos econômicos significativos. Apesar do aumento na pesquisa sobre adições, persistem muitas divergências no que tange às teorias propostas para explicar seu desenvolvimento e manutenção, o que implica na heterogeneidade dos tratamentos oferecidos aos pacientes.
Metodologia: Revisão narrativa sobre as teorias homeostáticas das adições. Buscas foram realizadas na literatura nas plataformas MEDLINE, LILACS, SCIELO e BIREME entre os meses de novembro e dezembro de 2022.
RESULTADOS: Foram encontrados 18 artigos sobre teorias homeostáticas, de regulação emocional ou autorregulação das adições. Para complementar a revisão, foi utilizado o relatório do European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction sobre modelos de adição, além de outros materiais referentes a teorias e critérios diagnósticos das adições. As principais teorias incluem a hipótese da automedicação, a teoria do apego, a teoria da regulação do afeto, a desregulação de recompensa e alostase, a teoria do aprendizado de reforço homeostático e o modelo dinâmico dos sistemas de controle do impulso de fumar.
DISCUSSÃO: A elaboração de modelos teóricos impactantes na abordagem dos transtornos por uso de substâncias permanece um desafio. As teorias homeostáticas tendem a integrar diferentes fatores que contribuem para o desenvolvimento da adição, como vulnerabilidades individuais, comorbidades psiquiátricas e fatores ambientais.
CONCLUSÃO: O entendimento da adição como uma desregulação da homeostase e necessidade de autorregulação pode propiciar o desenvolvimento de terapêuticas que tenham como objetivo restabelecer o que seriam as condições de equilíbrio, e pesquisas futuras poderão explorar novas possibilidades farmacológicas e psicoterápicas.
Descritores: Adição; Homeostase; Abuso de drogas; Autorregulação emocional; Diagnóstico psiquiátrico
11 -
Intervenções sobre a vergonha na perspectiva da Terapia Focada na Compaixão: uma revisão sistemática
Matheus Augusto Caixeta Araújo; Renata Ferrarez Fernandes Lopes; Emanuelle Oliveira Andrade
Páginas: 105 - 123
INTRODUÇÃO: O objetivo principal desta revisão foi mapear as características dos estudos e as técnicas de intervenção da Terapia Focada na Compaixão (TFC) no manejo da vergonha e identificar a(s) técnica(s) de intervenção mais comumente utilizada(s) e transversal(ais) à maioria dos estudos.
MÉTODO: Utilizou-se o método PRISMA de revisão sistemática. Buscou-se nas bases de dados (BVS Saúde, MEDLINE, PubMed e Google acadêmico) estudos de TFC que manejaram o sentimento de vergonha. Foram utilizados os seguintes termos e combinações: "shame" AND "compassion focused therapy"; e "vergonha" AND "terapia focada na compaixão".
RESULTADOS: Foram selecionadas 5 publicações: 3 artigos revisados por pares e 1 dissertação e 1 tese, com data de publicação entre 2014 e 2021, escritos em língua inglesa. Artigos em língua portuguesa não foram encontrados.
DISCUSSÃO: A TFC diminuiu a vergonha em diferentes quadros psicológicos, e o Treino de Mente Compassiva (TMC) foi transversal à maioria dos estudos. O número de participantes e a "expertise" dos pesquisadores/terapeutas foram muito diferentes. O instrumento que se repetiu em três dos estudos foi o Self-Compassion Scale (SCS). Apesar da diversidade dos estudos revisados, o TMC mostrou efeitos promissores sobre a diminuição da vergonha.
CONCLUSÃO: A TFC se apresenta como uma alternativa viável, promissora e eficaz para se trabalhar o sentimento de vergonha porque permite o desenvolvimento de uma mentalidade cooperativa e autocompassiva a partir do TMC. No entanto, talvez demande mais tempo de intervenção do que o tempo disponível nos estudos analisados.
Descritores: Terapias cognitivas; Terapia focada na compaixão; Vergonha
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