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Revista Brasileira de Psicoteratia

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Vol 23 N° 3  2021

 

Editorial
1 -  Películas: da inscrição artística à continência psíquica
Joana Corrêa de Magalhães Narvaez; Mário Barcellos; Felipe Ornell
Páginas: 1 - 3

Descritores:

Relato de Caso
3 -  A clínica psicanalítica infantil na modalidade on-line: reflexões winnicottianas
Miriam Tachibana; Giovanna Malavolta Pizzo; Lorena Vieira de Paiva; Miriam Coelho Resende de Oliveira
Páginas: 9 - 20

Resumo

Diante das medidas de isolamento impostas pela pandemia da Covid-19, o enquadre clínico presencial habitual precisou ser substituído pelo on-line. Vê-se uma crescente produção científica sobre as especificidades da clínica on-line, embora sigam sendo escassos os trabalhos sobre essa modalidade de atendimento com crianças. No presente relato de experiência, são apresentados dois estudos de caso com crianças, vinculadas a uma ONG dedicada a famílias em situação de violência intrafamiliar, que foram acompanhadas remotamente por quatro meses, segundo o método psicanalítico. Nas reflexões clínico-teóricas, desenvolvidas em interlocução com a obra do psicanalista Donald Winnicott, são discutidas: 1) a possibilidade de o atendimento psicológico on-line configurar-se como espaço potencial, a partir da presença implicada do analista, superando a artificialização das relações associada ao digital; e 2) a possibilidade de inclusão do grupo familiar no atendimento infantil, ultrapassando a lógica tradicional de atendimento individual da criança. Espera-se, a partir desse estudo, contribuir para que a comunidade psicológica identificada com a Psicanálise tenha maiores subsídios no cuidado ao atendimento infantil em tempos de pandemia.

Descritores: Terapia familiar; Quarentena; Psicanálise

Relato de experiência
4 -  Plantão psicológico on-line: a experiência da Clínica Psicológica da UEL no contexto da Covid-19
Maria Lúcia Mantovanelli Ortolan; Maíra Bonafé Sei
Páginas: 21 - 31

Resumo

O mundo encontra-se em uma crise sanitária causada pela pandemia da Covid-19 que requer cuidados em todos os âmbitos: social, econômico, ambiental, político, educacional e de saúde, inclusive saúde mental. Por meio de um relato de experiência, este artigo objetivou evidenciar os alcances e limites do uso da tecnologia na oferta do serviço de Plantão Psicológico on-line da Clínica Psicológica da Universidade Estadual de Londrina. Os alcances desta prática se mostraram importantes para a escuta e o acolhimento do sofrimento psíquico ocasionado pela pandemia, principalmente aos estudantes da universidade que estão lidando com inseguranças e frustrações, tendo seus projetos de vida atravessados pelo novo cenário mundial. Alguns limites do Plantão Psicológico on-line foram elencados, principalmente em relação às intercorrências tecnológicas. Espera-se que esta experiência narrada inspire outros serviços a ofertarem esse tipo de atendimento, ou aprimorarem sua oferta, em tempos pandêmicos, a fim contribuir com a saúde mental da população.

Descritores: Infecções por coronavirus; Psicologia clínica; Assistência à saúde mental; Plantão psicológico; Intervenção on-line

Artigo Original
5 -  Bem-estar como fator moderador de transtornos mentais na pandemia
Manuela Almeida da Silva Santo; Michael de Quadros Duarte; Jaqueline Portella Giordani; Carolina Palmeiro Lima; Lívia Maria Bedin; Clarissa Marceli Trentini
Páginas: 33 - 46

Resumo

Em março de 2020 a Organização Mundial da Saúde declarou a pandemia do novo coronavírus. Além do adoecimento pelo vírus, sabe-se que epidemias e pandemias podem provocar também adoecimento psíquico das populações, devido às mudanças necessárias no perído. O Brasil tem sido vastamente criticado pela gestão ineficiente da pandemia. Atualmente, figura entre os países com maiores índices de infecções e óbitos. O objetivo deste estudo foi avaliar a presença de riscos à saúde mental da população brasileira durante o período da pandemia do coronavírus e qual possível fator mediador para o desenvolvimento de transtornos mentais. Participaram deste estudo 738 pessoas com idade entre 18 e 80 anos (M = 32,9, DP = 10,9), 71,4% mulheres. Foi um estudo transversal e os instrumentos utilizados foram um questionário sociodemográfico, o Self Report Questionnaire-20 e a Personal Wellbeing Index. Para as análises de moderação foi utilizado o pacote PROCESS para SPSS. Os resultados encontrados indicam que o bem-estar tem papel moderador no adoecimento mental, independentemente da presença ou não de diagnóstico prévio de transtorno mental. O bem-estar reduziu significativamente os sinais e sintomas de transtornos mentais nessa amostra, mostrando-se um importante fator de promoção de saúde mental. As limitações do estudo dizem respeito às diferenças culturais entre as regiões do país e à predominância de respondentes gaúchos na amostra. Discute-se a necessidade de investir em intervenções de promoção do bem-estar durante a pandemia para mitigar os riscos de adoecimento mental da população.

Descritores: Coronavirus; Saúde mental; Fatores de proteção

6 -  Preditores de sofrimento psicológico e prevalência de transtornos mentais autodeclarados em profissionais de saúde e na população em geral durante a pandemia de Covid-19 no Brasil
Danielle de Souza Costa; Jonas Jardim de Paula; Alexandre Luiz de Oliveira Serpa; Alexandre Paim Diaz; Mariana Castro Marques da Rocha; André Luiz de Carvalho Braule Pinto; Rui Mateus Joaquim; Mayra Isabel Correia Pinheiro; Fabiano Franca Loureiro; Leonardo Baldaçara; Wagner Meira Junior; Antônio Geraldo da Silva; Leandro Fernandes Malloy-Diniz; Débora Marques de Miranda
Páginas: 47 - 70

Resumo

O fardo dos transtornos mentais pode aumentar durante a pandemia de Covid-19. Por isso, é estratégico caracterizar a saúde mental da população. Analisamos dados coletados pela Internet de 164.881 profissionais de saúde e 5.635 participantes da população geral. O Índice de Gravidade Global (GSI) do Inventário Breve de Sintomas, diagnóstico autodeclarado de transtornos mentais, características sociodemográficas, estado de saúde física, história de contato com a Covid-19, percepções e preocupações e medidas preventivas adotadas foram comparados entre as amostras. Análises de regressão múltipla foram usadas para investigação de fatores associados ao GSI. O distresse psicológico foi classificado como alto ou muito alto em 13,4% dos profissionais de saúde e em 31,4% dos participantes da população geral. A prevalência de transtornos mentais ao longo da vida foi 36% para profissionais de saúde e 44,7% para a população geral, sendo os mais frequentes transtornos depressivos e ansiedade generalizada. Entre os profissionais de saúde, ser do sexo feminino e mais jovem foi associado à maior distresse psicológico. Para a população geral foram preditores de distresse a classe econômica e um domicílio com mais pessoas. Foram significativamente associados ao GSI sintomas de Covid-19, sentir-se menos produtivo no trabalho, medo de transmitir o vírus para a família, medo de dificuldades financeiras e sentir que os relacionamentos em casa pioraram. A prevalência de transtornos mentais atinge parte relevante da população brasileira. Fatores sociodemográficos, aspectos familiares e instabilidade financeira devem ser considerados no entendimento do distresse psicológico durante a pandemia.

Descritores: Covid-19; Distresse psicológico; Transtornos mentais; Estresse ambiental; Pandemia; Aspectos psicossociais

7 -  Relação entre variáveis sociodemográficas, comportamentos na pandemia Covid-19 e aspectos psicológicos
Alexandre Jaloto; Anna Carolina Zuanazzi; André Pereira Gonçalves; Ana Paula Salvador
Páginas: 71 - 83

Resumo

O presente estudo buscou analisar a relação entre variáveis sociodemográficas (idade, sexo, número de pessoas que moram juntas, tipo de residência, renda e diagnóstico psiquiátrico prévio), comportamentos relacionados à pandemia (tempo diário de aprendizado sobre o Covid-19 e concordância com medidas de distância social) e aspectos psicológicos relacionados à saúde mental geral (bem-estar psicológico, saúde mental, solidão, ansiedade, estresse e depressão). Este estudo transversal quantitativo foi composto por 543 adultos, com idade entre 18 e 76 anos (M = 37,01; DP = 12,85), em sua maioria mulheres. Foram aplicados questionários sobre comportamentos de isolamento durante a pandemia Covid-19, questionário WHO-5, GHQ-12, UCLA, GAD-7, PSS-10 e CES-D. Os dados foram coletados online em todas as regiões brasileiras. Realizamos análise de regressão linear para cada variável dependente (bem-estar, saúde mental, solidão, ansiedade, estresse e depressão). Os resultados indicam que maior renda, morar em casa e não ter diagnóstico psiquiátrico estão associados a maiores escores de bem-estar. Além disso, essas mesmas variáveis sociodemográficas estão negativamente associadas a maiores escores de solidão, estresse, ansiedade e depressão. Concordar com procedimentos de distanciamento social está associado a melhores indicadores de bem-estar e menores escores de ansiedade e estresse. Nós podemos considerar com base nos resultados que fatores sociais, como o tipo de residência e renda, influenciam na qualidade de vida e refletem diretamente na saúde mental. Quanto ao comportamento durante a pandemia, seguir as medidas de distanciamento social pode reduzir a ansiedade e o estresse, melhorando a sensação de bem-estar. Essas descobertas podem ajudar a formular políticas públicas de saúde preventivas.

Descritores: Coronavírus; Pandemias; Sintomas psicológicos; Saúde mental

8 -  Filhos da quarentena: Percepção de mães sobre o seu processo de maternagem e o desenvolvimento de seus filhos durante a pandemia
Andrezza Julie Bonow; Tainá Aquino Henn; Marina Bento Gastaud; Joana Corrêa de Magalhães Narvaez
Páginas: 85 - 104

Resumo

O objetivo deste trabalho é investigar a percepção de mães em relação ao seu processo de maternagem e desenvolvimento de seus bebês nascidos no período de isolamento social devido à pandemia da Covid-19, através de um estudo qualitativo de caráter exploratório. A amostra foi constituída por 8 mulheres que tiveram filhos de janeiro a novembro de 2020. as quais foram acessadas através da técnica bola de neve utilizando cadeias de referência para a sua composição a partir da indicação de sujeitos da rede dos participantes. Para a realização da pesquisa foi feita uma entrevista semi-estruturada individualmente com cada participante. Os dados coletados foram analisados através da análise de conteúdo, considerada a abordagem analítica mais utilizada para pesquisas qualitativas. Os resultados foram subdivididos em seis categorias e vinte subcategorias, baseadas na vivência da maternagem e no desenvolvimento dos filhos, tais como o aumento do tempo das mães com seus filhos; a dificuldade da ausência da rede de apoio e do convívio social; os sentimentos de angústia e dúvida despertados por estar vivenciando uma pandemia; e a modificação das atividades rotineiras devido à pandemia. Como conclusão, destaca-se que a carência de uma rede de apoio e a falta de convívio social foi âmbito que unanimemente acarretou dificuldades para as mães nesse momento. No entanto, as participantes percebem o benefício de disponibilizarem mais tempo aos filhos e menos interferências de opiniões alheias em momentos mais íntimos. Sugere-se a continuidade mais aprofundada desse tema, pois o processo de quarentena ainda é um evento recente para estas mães, portanto, ainda podem decorrer impactos emocionais posteriores.

Descritores: Maternidade; Pandemia; Quarentena; Mãe-bebê; Desenvolvimento infantil

9 -  O impacto da primeira onda da pandemia de Covid-19 na saúde mental de estudantes brasileiros
Giovana Dalpiaz; Juliana Nichterwitz Scherer; Jéferson Ferraz Goularte; Silvia Dubon Serafim; Marco Antonio Caldieraro; Adriane Ribeiro Rosa
Páginas: 105 - 119

Resumo

Com a alta disseminação do novo coronavírus, foi necessário adotar intervenções de saúde pública com foco no distanciamento social para diminuir a transmissão do patógeno causador, o SARS-Cov-2. Contudo, essas medidas podem contribuir para o aumento do sofrimento emocional, gerando níveis mais elevados de ansiedade, depressão e estresse. Desse modo, o objetivo deste estudo foi investigar os efeitos da pandemia de Covid-19 na saúde mental de estudantes brasileiros através de uma pesquisa levantamento de dados on-line. A pesquisa foi realizada durante o período da primeira onda da pandemia no Brasil. Foram avaliadas variáveis sociodemográficas, de saúde mental, incluindo sintomas de depressão e ansiedade, e qualidade de vida em uma amostra final de 810 estudantes. Os sintomas psiquiátricos mais prevalentes foram ansiedade (89,5%), depressão (77,9%) e raiva (72,3%). Tempo de distanciamento social, idade e diagnóstico prévio de doenças psiquiátricas foram significativamente associados à maior gravidade dos sintomas de ansiedade e depressão. O alto grau de sofrimento emocional apresentado por essa amostra indica a necessidade de adotar estratégias que visem promover a saúde mental de estudantes, e proporcionar acompanhamento psicológico de alunos durante e após esse período crítico de isolamento social.

Descritores: Covid-19; Saúde Mental; Estudantes; Mulheres

10 -  Aspectos do luto em familiares de mortos em decorrência da Covid-19
Geisson Oleques; Vanessa Gonçalves Pereira; Silvia Chwartzmann Halpern; Lucas Poitevin Bandinelli; Tamires Martins Bastos; Felipe Ornell
Páginas: 121 - 133

Resumo

A pandemia de Covid-19 tem gerado efeitos nocivos na saúde mental da população. Isso pode ser especialmente preocupante em pessoas que perderam familiares em decorrência da doença. Este estudo teve como objetivo compreender as particularidades do processo de luto diante da crise ocasionada pela Covid-19. Trata-se de uma pesquisa documental qualitativa que analisou reportagens publicadas entre março e abril de 2020 - período posterior a primeira morte registrada no Brasil - em cinco mídias de grande circulação. Os materiais foram selecionados por dois pesquisadores, e a análise de conteúdo foi realizada pelo método de Bardin. Cinco categorias de análise foram identificadas: Desafios de uma experiência nova e urgente, preconceito decorrente do contato com doentes, sentimentos, formas de enfrentamento e rituais funerários. Manifestações de revolta diante da minimização da doença por autoridades foram frequentes, bem como queixas relacionadas a organização do sistema de saúde, inexistência de fluxos e desinformação dos profissionais. Diante da disseminação de Fake News, foram observados relatos de hostilizações em redes sociais e o afastamento de pessoas conhecidas, gerando solidão. O medo de estar contaminado e de transmitir para outras pessoas também foi recorrente. Ainda, notou-se que a impossibilidade de acompanhar o familiar morto durante a internação e as limitações dos rituais foram associados a culpa e tristeza. É possível que a experiência do luto seja intensificada diante das peculiaridades que permeiam o processo de morte decorrente da Covid-19, sobretudo nos primeiros meses da pandemia. Tendo em vista que os efeitos na saúde mental da população podem ser mais duradouros do que a pandemia, é fundamental que investigações sejam realizadas e estratégias de suporte desenvolvidas.

Descritores: Covid-19; Saúde mental; Luto; Família

Original article on theory
11 -  papel do feminino no complexo de Édipo: Resgatando a mãe-mulher na estruturação triangular da mente
Marina Bento Gastaud
Páginas: 135 - 147

Resumo

Muito se escreveu sobre a mulher no contexto da relação mãe-bebê. No entanto, o papel da mulher no complexo de Édipo não recebeu muita atenção. O objetivo do presente artigo é revisar as teorias a respeito do duplo papel feminino - objeto sexual e objeto de identificação - no triângulo edipiano, tornando a mãe protagonista (tanto quanto o pai). Para tanto, o artigo situa o "feminino" na família contemporânea e revê sinteticamente a articulação entre mãe fálica, castração, poder / potência e misoginia, com foco em Freud, Chodorow, Ogden e Fiorini. Os argumentos são ilustrados com o cenário edipiano no caso de Dora e as postulações de Bleichmar e Balsam. Por fim, defende-se a importância de fortalecer os dois pólos identitários (feminino e masculino) para possibilitar melhores relações objetais na vida adulta.

Descritores: Complexo de Édipo; Relações mãe-filho; Mulheres

Revisão Narrativa
12 -  Saúde mental na pandemia da Covid-19: possíveis contribuições da Psicoterapia Analítica Funcional
Fabiana Pinheiro Ramos; Elizeu Batista Borloti; Verônica Bender Haydu
Páginas: 149 - 163

Resumo

Vários estudos demonstram como dificuldades no relacionamento interpessoal podem precipitar ou agravar problemas de saúde mental. A emergência dessas questões merece mais atenção, principalmente no cenário de isolamento e distanciamento social imposto pela pandemia do Covid-19. A Psicoterapia Analítica Funcional (FAP), uma forma de terapia comportamental que enfatiza o papel do relacionamento interpessoal na melhoria dos clientes pode auxiliar na proposição de intervenções destinadas a abordar questões de saúde mental durante o cenário atual. Este estudo objetivou descrever uma perspectiva sobre a utilização da FAP no tratamento de transtornos mentais que têm como foco a sintomatologia ansiosa ou depressiva, relacionando esses achados a intervenções voltadas para a pandemia da Covid-19. Foi realizada uma revisão narrativa da literatura a partir de buscas bibliográficas no Portal de Periódicos da CAPES. Os materiais da revisão foram organizados em: (a) tratamento de problemas de saúde mental usando a FAP, agrupados a partir dos temas ansiedade, depressão e uma combinação desses temas; (b) FAP, saúde mental e a pandemia de Covid-19. Conclui-se que a FAP pode ser utilizada como um referencial teórico-metodológico importante para o planejamento de intervenções durante e após a pandemia de Covid-19, minimizando seus possíveis efeitos negativos.

Descritores: Infecções por coronavírus; Saúde mental; Psicoterapia; Relações interpessoais

13 -  Privacidade e confidencialidade das informações clínicas em saúde mental: velhos desafios em um novo contexto
Ana Cristina Tietzmann; Jane Iandora Heringer; Márcia Santana Fernandes; José Roberto Goldim
Páginas: 165 - 175

Resumo

A alta ocorrência de transtornos mentais nas populações, o acesso e qualificação da assistência em saúde mental são prioridades e um grande desafio em saúde pública há décadas. No contexto da pandemia de Covid-19, houve importante aumento das demandas por cuidados em saúde mental. Ao mesmo tempo, foi necessária a migração para atendimentos remotos e a rápida adaptação de pacientes e terapeutas às novas tecnologias da informação e comunicação (TIC). Este cenário traz à tona a importância dos cuidados e responsabilidades com as informações e dados pessoais obtidos na prática clínica. A complexidade aumenta quando levamos em conta os dados pessoais sensíveis e as vulnerabilidades inerentes ao campo da saúde mental, particularmente das psicoterapias. O presente artigo é uma revisão narrativa breve, tomando por base fontes teóricas utilizadas no campo da bioética e um material educativo sobre o uso responsável do prontuário eletrônico na saúde mental, discutindo aspectos relevantes para o momento atual. Apesar dos novos contextos e tecnologias, os direitos, deveres e valores envolvidos na relação terapêutica precisam continuar sendo observados e adequados à nova realidade. Como parte de uma reflexão bioética, devem levar em consideração as particularidades de cada caso, o respeito às pessoas e à sua vulnerabilidade, o respeito à autonomia dos pacientes para seu melhor benefício e precisa estar presente no cotidiano dos profissionais de saúde mental. A mudança da legislação, com a entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) torna esta reflexão ainda mais necessária.

Descritores: Privacidade; Confidencialidade; Saúde mental; Registros eletrônicos de saúde

14 -  Reflexões teórico-técnicas sobre processo grupal on-line desenvolvido em contexto pandêmico
Tales Vilela Santeiro; Beatriz Tavares-Arantes; Alícia Soares-Siqueira; Carolina Rocha de Carvalho; Larissa Christine Jerônimo-Neiva; Carine Campos-Santos; Vitória Aparecida Ferreira-dos-Santos; Ana Júlia Thomazella-Bertolini
Páginas: 177 - 194

Resumo

A pandemia acentua perdas em todos os cenários e esferas da vida em sociedade e tem impulsionado movimentações profissionais e acadêmicas para compreender seus impactos. Adaptações e transformações nas estratégias de atenção à saúde mental das pessoas e nas formas de conceber as experiências universitárias também têm sido requeridas. O texto problematiza os conceitos pichonianos de tarefa e emergente grupal, em busca de subsídios para compreender fenômenos grupais mediados pela internet, face ao contexto pandêmico e ao imperativo de afastamento de atividades presenciais que ele impõe. Propomos que recursos artísticos, tidos como mediadores dialógicos na situação de atendimento remoto, sejam apoiados no redimensionamento dos conceitos de tarefa e emergente, por meio dos neologismos e-tarefa e e-mergente. O resultado do processo de reflexão teórico-técnica é ilustrado a partir de uma vinheta recortada de sessão grupal on-line, na qual um(a) participante, caloura(o) de Curso de Psicologia de instituição pública federal, escolhe e propõe diálogo a partir do conto "Venha ver o pôr do sol", de autoria de Lygia Fagundes Telles. O enlace do dispositivo grupal on-line com a linguagem literária apresenta potência transformadora das realidades compartilhadas no grupo e permite que suas(seus) integrantes possam traduzir e, por conseguinte, se apropriar de experiências emocionais difíceis, como as resultantes da suspensão da vida no espaço físico universitário e da consequente imposição do processo de ensino-aprendizagem remoto.

Descritores: Psicologia clínica; Internet; Psicoterapia de grupo; Estética; Educação a distância

15 -  Trauma infantil e manifestações histéricas na atualidade: uma revisão da literatura
Cleonice Zatti; Márcia Rejane Semensato; Luis Francisco Ramos-Lima; Vitoria Waikamp; Lucia Helena Machado Freitas
Páginas: 195 - 207

Resumo

As reações corporais e emocionais sentidas pelos pacientes com manifestações histéricas podem atingir tamanha intensidade, a ponto de prejudicar sua vida social, familiar e laboral. O trabalho parte dos seguintes questionamentos: como são as manifestações histéricas na atualidade? Qual a compreensão sobre a histeria na literatura da área ao longo do tempo? O objetivo é descrever aspectos teóricos sobre a histeria e o trauma infantil, articulando-os com a clínica atual. Foi desenvolvida uma revisão da literatura por meio do método narrativo. Os resultados encontrados foram 106 estudos nos últimos 6 anos (Bireme e Dialnet), sendo que, de 2017 em diante, houve um decréscimo nas publicações científicas sobre o tema. Apesar de a categoria psicopatológica da histeria ter desaparecido dos manuais de transtornos mentais, na clínica atual as manifestações histéricas são facilmente confundidas com outros transtornos (depressivos, dissociativos e distúrbio borderline). As manifestações somáticas aparecem no corpo para comunicar eventos traumáticos não contidos pelo aparelho psíquico. Conclui-se que as manifestações histéricas seguem presentes nos dias de hoje, e o corpo tende a ser uma via de expressão somática. No contexto da relação entre sintomas histéricos e traumas vivenciados na infância, a psicoterapia ocupa lugar de destaque, promovendo ressignificações para tais eventos traumáticos.

Descritores: Histeria; Trauma infantil; Psicoterapia

Resenha
16 -  Black Mirror: considerações psicanalíticas sobre o uso destrutivo da tecnologia
Rafael Gomes Karam
Páginas: 209 - 219

Resumo

A série inglesa Black Mirror desnuda o humano a partir da sua complexa relação com a tecnologia de uma forma que impacta e provoca o telespectador. Algo inquietante sobre nós é revelado através do espelho da série, que convida a refletir sobre um uso destrutivo das novas ferramentas e suas possíveis consequências. O autor aceita o convite e examina a partir das principais temáticas da série, o que em nosso funcionamento psíquico pode levar a um uso mortífero da tecnologia. Na busca desse objetivo, este trabalho propõe um diálogo entre as narrativas de Black Mirror e conceitos psicanalíticos de Freud, Meltzer, Bion e Green.

Descritores: Narcisismo; Teoria psicanalítica; Princípio do prazer-desprazer; Libido