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Revista Brasileira de Psicoteratia

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Rev. bras. psicoter. 2021; 23(3):177-194



Revisão Narrativa

Reflexões teórico-técnicas sobre processo grupal on-line desenvolvido em contexto pandêmico

Theoretical-technical reflections on online group process developed in a pandemic context

Reflexiones teórico-técnicas sobre el proceso grupal en línea desarrolladas en un contexto pandémico

Tales Vilela Santeiroa,b; Beatriz Tavares-Arantesa; Alícia Soares-Siqueiraa; Carolina Rocha de Carvalhoa,b,c; Larissa Christine Jerônimo-Neivaa; Carine Campos-Santosa; Vitória Aparecida Ferreira-dos-Santosa; Ana Júlia Thomazella-Bertolinia

Resumo

A pandemia acentua perdas em todos os cenários e esferas da vida em sociedade e tem impulsionado movimentações profissionais e acadêmicas para compreender seus impactos. Adaptações e transformações nas estratégias de atenção à saúde mental das pessoas e nas formas de conceber as experiências universitárias também têm sido requeridas. O texto problematiza os conceitos pichonianos de tarefa e emergente grupal, em busca de subsídios para compreender fenômenos grupais mediados pela internet, face ao contexto pandêmico e ao imperativo de afastamento de atividades presenciais que ele impõe. Propomos que recursos artísticos, tidos como mediadores dialógicos na situação de atendimento remoto, sejam apoiados no redimensionamento dos conceitos de tarefa e emergente, por meio dos neologismos e-tarefa e e-mergente. O resultado do processo de reflexão teórico-técnica é ilustrado a partir de uma vinheta recortada de sessão grupal on-line, na qual um(a) participante, caloura(o) de Curso de Psicologia de instituição pública federal, escolhe e propõe diálogo a partir do conto "Venha ver o pôr do sol", de autoria de Lygia Fagundes Telles. O enlace do dispositivo grupal on-line com a linguagem literária apresenta potência transformadora das realidades compartilhadas no grupo e permite que suas(seus) integrantes possam traduzir e, por conseguinte, se apropriar de experiências emocionais difíceis, como as resultantes da suspensão da vida no espaço físico universitário e da consequente imposição do processo de ensino-aprendizagem remoto.

Descritores: Psicologia clínica; Internet; Psicoterapia de grupo; Estética; Educação a distância

Abstract

The pandemic accentuates losses in all scenarios and spheres of life in society and has driven professional and academic movements to understand its impacts. Adaptations and transformations in peoples mental health care strategies and in ways of conceiving university experiences have also been required. The text problematizes the Pichonian concepts of task and group emergent, searching subsidies to understand group phenomena mediated by the internet, in view of the pandemic context and the compulsory departure from face-to-face activities that it imposes. We propose that artistic resources, considered as dialogical mediators in the situation of remote intervention, should be supported in the redimensioning of the concepts of task and emergent, through the neologisms e-task and e-mergent. The result of the reflection process is illustrated from a cut-out vignette of an online group session, in which a participant, beginning student of Psychology Course of federal public institution, chooses and proposes dialogue based on the literary tale "Come and see the sunset", written by Lygia Fagundes Telles. The link between the online group intervention and the literary language presents a transformative power of the realities shared in the group and allows its members to translate and, consequently, appropriate difficult emotional experiences, such as those resulting from the suspension of life in the university physical space and the consequent imposition of the remote teaching-learning process.

Keywords: Psychology clinical; internet; Psychotherapy group; Esthetics; Education distance

Resumen

La pandemia acentúa las pérdidas en todos los escenarios y esferas de la vida de la sociedad y ha impulsado a movimientos profesionales y académicos a comprender sus impactos. También se han requerido adaptaciones y transformaciones en las estrategias de atención en salud mental de las personas y en las formas de concebir las experiencias universitarias. El texto problematiza los conceptos pichonianos de tarea y los emergentes grupales, en busca de subsidios para comprender los fenómenos grupales mediados por internet, ante el contexto pandémico y el imperativo de alejarse de las actividades presenciales que él demanda. Proponemos que los recursos artísticos, vistos como mediadores dialógicos en situación de teleasistencia, sean apoyados en el redimensionamiento de los conceptos de tarea y emergente, a través de los neologismos e-tarea y e-mergent. El proceso de reflexión teórico-técnico resultante se ilustra mediante una viñeta recortada de una sesión grupal online, momento en el que un participante, estudiante novato del curso de psicología de una institución pública federal, elige y propone un diálogo a partir del cuento "Ven a ver el atardecer", de Lygia Fagundes Telles. El entrelazamiento del dispositivo grupal en línea con el lenguaje literario presenta un poder transformador de las realidades compartidas en el grupo y permite a sus miembros traducir y apropiarse de experiencias emocionales difíciles, como las resultantes de la suspensión de la vida en el ámbito físico universitario y la consiguiente imposición del proceso de enseñanza-aprendizaje a distancia.

Descriptores: Psicología clínica; Internet; Psicoterapia de grupo; Estética; Educación a distancia

 

 

INTRODUÇÃO


Eu ando pelo mundo prestando atenção / Em
cores que eu não sei o nome / (...) / Passeio pelo
escuro / Eu presto muita atenção no que meu
irmão ouve / (...) / Pela janela do quarto / Pela janela do carro / Pela
tela, pela janela / Quem é ela? Quem é
ela? / Eu vejo tudo enquadrado /
Remoto controle
(Trechos da música Esquadros, de Adriana
Calcanhoto)


A pandemia de Covid-19 tem instigado movimentações profissionais e acadêmicas que envolvem estudos sobre seus impactos na saúde mental e nas estratégias de atenção a ela, em velocidade inédita. O senso de dever social, aliado ao espírito crítico, solidário e humanitário têm mobilizado profissionais de saúde e de saúde mental rumo a trocas de experiências e exposição de descobertas1,2,3,4.

As reverberações da pandemia sobre a saúde mental dos profissionais que têm lidado com os impactos diretos e indiretos dela têm sido visíveis, ao mesmo tempo em que têm requerido atenção especial5,6,7. Igualmente, nesse momento histórico as psicoterapias e intervenções psicológicas têm sido problematizadas e investigadas sob uma diversidade de vértices teóricos e em realidades socioculturais distintas8,9,10,11,12; porém, as psicoterapias e intervenções de grupo on-line não têm desfrutado de atenção semelhante. O que pode explicar esse fenômeno?

Se as psicoterapias on-line focadas na dupla psicoterapeuta-paciente precisaram e precisam passar por profundo e abrupto processo de reflexão e reestruturação com a estadia insistente da situação pandêmica, o que dizer das psicoterapias e intervenções grupais, que exigem tempos e espaços conjugados por "muitos", ao mesmo tempo? Em acréscimo, as desigualdades socioeconômicas receberam acento inédito a partir da pandemia e resvalaram na exclusão digital. A esse respeito, no Brasil, estudos conduzidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística indicavam que uma em cada quatro pessoas não tinha acesso à internet, número esse agravado quando se considerava a população rural13. A despeito desses fatores que podem dificultar a oferta e o acesso a intervenções grupais on-line, um ano após os primeiros casos de Covid-19 terem sido relatados, produções que espelham essa nova situação têm sido notadas, ainda que de modo tímido14,15,16, cenário que certamente sofrerá alterações quantitativas daqui em diante, conforme os trâmites editoriais de revistas científicas tragam à luz mais dessas produções.

Como este texto foi gerado em âmbito institucional de atenção à saúde mental de universitárias(os), cabe assinalar que, nos processos educacionais universitários, a formação é demarcada por peculiaridades articuladas a categorias administrativas, a objetivos didático-pedagógicos, a cenários estruturais e a condições socioeconômicas, históricas e culturais bastante diversos17,18,19. No caso das universidades públicas federais, lócus de afiliação das(os) autoras(es), questões como expansão e interiorização universitária são, ainda hoje, fenômenos recém-implementados ou em vias de implementação20, e fenômenos como a evasão e a precarização das condições de ensino e de funcionamento são alvo de estudos e de atenções21,22.

Os cursos de graduação da área da Saúde, por sua vez, englobam ciências e profissões que formam estudantes para lidar com o cuidado e a atenção em saúde, incluindo a saúde mental das pessoas e das comunidades. Nesse sentido, estudantes dessa área vivem uma dupla característica, que as(os) diferencia das(os) demais pares acadêmicos: adentram na universidade buscando formação para lidar com aspectos da saúde das(os) outras(os), ao mesmo tempo em que são, elas(es) mesmas(os), instrumentos que executarão funções de cuidado.

Assim, acreditamos que práticas de autocuidado das(os) estudantes são (ou deveriam ser) fundamentais em seus respectivos processos formativos, perpassando-os, em paralelo aos estudos teóricos e estágios, porque em seus trabalhos lidarão com a saúde das(os) outras(os) e/ou com a falta dela. Também acreditamos nisso porque, nas atividades que desempenham desde a graduação, existem ônus muito específicos sobre sua própria saúde mental, notadamente em cursos de regime didático-pedagógico integral, usualmente objetos de queixas que rondam a exaustão, dada a conjunção da carga horária elevada própria de seus projetos pedagógicos com atravessamentos socioeconômicos e familiares. A oferta de trabalhos de atenção à saúde mental de universitárias(os) é, assim, ferramenta importante para promover a saúde e práticas de autocuidado no ambiente estudantil.

A chegada e a perduração da pandemia forneceu relevo diferenciado a aspectos relativos à saúde emocional de estudantes de todos os níveis de ensino formal. No caso das(os) estudantes universitárias(os) da área da saúde, pensamos que isso seja merecedor de atenção especial, porque atentarmos a isso é também fazermos uma aposta de que essas pessoas, se ouvidas e cuidadas desde o início de sua chegada à universidade, poderão ter as possibilidades de fracasso e evasão minimizadas, tal como constatado por Canal e Figueiredo21 em momento anterior ao pandêmico.

Nos círculos universitários, incluindo os públicos, modos de viver esses espaços e o que eles promovem têm sido questionados durante a pandemia22 e, a despeito de tudo, têm sido remodelados. O que era presencial passou a ser mediado por Tecnologias de Informação e de Comunicação (TIC) baseadas na internet. Por essa via, estudantes viram-se arrancados de suas rotinas presenciais e precisaram e têm precisado passar por um processo forçado de adaptação.

Tais constatações têm requerido atenção das instituições de ensino superior e de formadores de universitárias(os). Com a pandemia e o correspondente acento dos sofrimentos psicossociais23, as exigências daqueles que se formam para trabalhar nas frentes da saúde mental aguçaram-se. Estudantes de cursos de Psicologia se encontram entre esse público. Contudo, diferentemente de seus pares acadêmicos que viveram a universidade antes de março de 202024, desde então as experiências das(os) calouras(os) são circunscritas à mediação de TIC e as realidades presenciais precisaram ser trasladadas para a bidimensionalidade das telas.

Levando o enquadramento proposto em consideração, duas indagações centrais motivaram a escrita deste texto. Se a pandemia alterou extremadamente a forma de estudantes se constituírem universitárias(os) e calouras(os) de Psicologia: (1) quando atendimentos grupais desenvolvidos na modalidade remota são recursos possíveis, elementos teóricos desenvolvidos em atendimentos presenciais25 são apropriados para auxiliar a pensar esses processos? Se sim, em qual medida?; e (2) recursos artísticos poderiam prestar papel auxiliar nos processos grupais on-line, facilitando sua compreensão, tanto quanto se observa em cenários de trabalhos presenciais?26,27 Assim, neste texto tencionamos relatar reflexões teórico-técnicas suscitadas por experiências de atenção à saúde mental de estudantes que ingressam em curso de Psicologia, participantes em processos grupais mediados por arte desenvolvidos na modalidade on-line e em situação pandêmica.


PENSANDO A PRÁTICA CLÍNICA GRUPAL DURANTE A PANDEMIA

As experiências apresentadas foram consolidadas com participantes matriculadas(os) em instituição pública federal, situada no interior de Minas Gerais, em cidade de médio porte. Elas decorrem de um projeto de acolhimento a calouras(os) de Psicologia, desenvolvido como recurso institucionalizado, desde 2016, coordenado por um professor psicólogo (copensor) e com a integração de estudantes veteranas(os) nas equipes executoras (coterapeutas).

A cada semestre letivo, novas(os) estudantes do curso de Psicologia adentram nessa instituição via Sistema de Seleção Unificado3. Por essa razão, elas(es) são, majoritariamente, de outras cidades ou estados. O projeto visa, nesse sentido, a acolher essas(es) calouras(os) nos novos momentos de vida e institucional26,27, por meio de vivências grupais coletivamente construídas25,28. Ao longo dos anos, a adesão de calouras(os) tem sido, em média, de 12 por semestre, 40% das(os) 30 totais matriculadas(os).

As(os) calouras(os) são convidadas(os) a cada início de semestre a integrar o projeto, voluntariamente. E, em sua divulgação, é informado que recursos artísticos serão utilizados como disparadores de conversas26,27. De modo explícito, o diálogo com auxílio das artes é posto como delimitador técnico-estético que pode favorecer práticas de autocuidado à saúde mental26,27,29.

O evento pandêmico fez com que esse projeto fosse realizado, pela primeira vez, na modalidade remota. O debate proposto neste texto surge de trabalhos conduzidos de março de 2020 a fevereiro de 2021, com duas turmas distintas de calouras(os). Dessa forma, ele se assenta nessa migração de enquadre clínico e sobre um evento que parecia ser passageiro e que, paulatinamente, se transformou em algo duradouro, conforme a pandemia recrudescia ao longo da transição de 2020 para 2021.

A partir dessa contextualização geral sobre os trabalhos desenvolvidos, o texto segue organizado em quatro subtópicos. Nos dois primeiros, (a) e (b), resgataremos os conceitos de tarefa e emergente grupal25, porque eles têm sido operadores teóricos utilizados. No subtópico (c), exploraremos o que compreendemos por arte, na medida em que recursos artísticos podem ser utilizados como mediadores dialógicos no trabalho grupal on-line, e articularemos a sua escolha e uso aos conceitos de tarefa e emergente. Por fim, no subtópico (d), uma vinheta clínica ilustrará como recursos artísticos foram inseridos numa experiência de intervenção grupal on-line, ocorrida durante a pandemia, e o que esse procedimento técnico propiciou para entendimento dos conceitos de tarefa e emergente.

O uso do e nos títulos dos subtópicos (a) e (b) é proposto para designar e demarcar uma posição teórico-técnica e política específica, haja vista Pichon-Rivière25 ter desenvolvido um corpo de conhecimentos consolidado em encontros humanos presenciais. O que propomos com o uso do e, é, portanto, compartilhar algo que se encontra em andamento, em processo dialético de aprendizado pela via das TIC baseadas na internet: e-tarefa e e-mergente.

a) Problematizando o conceito de tarefa: e-tarefa?

Ao desenvolvermos nossos trabalhos, temos nos inspirado nos grupos operativos como dispositivos de intervenção clínica25,28. Essa concepção latinoamericana de pensar os processos grupais tem raízes que remontam aos anos 193030 e ecoam nos dias contemporâneos15,26,27,31,32.

Nessa concepção de grupos, os participantes são seres integrais, que compartilham tempos e espaços demarcados por questões socioeconômicas e culturais. Eles se encontram imersos em processos de aprendizagem, que designam a condição humana de construir saberes e vínculos, em movimentos dialéticos e incessantes que envolvem o fazer, o sentir e o pensar.

O grupo operativo também pode designar um dispositivo técnico, com as seguintes características gerais: é composto por oito a dezessete pessoas reunidas, que se aproximam e buscam trabalhar uma tarefa comum, por uma(um) coordenadora(or) (a/o qual se desvia de informações de cunho "racional") e por uma(um) observadora(or) (presença silenciosa que faz registros dos processos e dinamismos grupais); e acontece em horário e periodicidade contratados33,34. O dispositivo grupal que segue esses norteadores teórico-técnicos permite o atendimento a demandas psicossociais apresentadas pelas(os) universitárias(os). A noção de tarefa em Pichon-Rivière se articula e fornece identidade aos trabalhos grupais, caracterizando-os como potencialmente promotores de saúde, na medida em que situações que levam a bloqueios em processos de aprendizagem podem ser trabalhadas e ressignificadas (superação de situações dilemáticas).

Assim, quando um grupo de calouras(os) se constitui e aceita o desafio de procurar pensar-aprender sobre algo, com mediação da internet, as tarefas explícita e implícita precisam ser restauradas. A tarefa explícita se relaciona aos combinados conscientes que o grupo faz, com a devida inclusão da internet: e aí, vamos pensar juntos sobre ser universitária(o) de Psicologia, quando viver a universidade e ser universitária(o) de Psicologia exige (re)invenções? Vamos fazer isso com mediação de uma TIC baseada na internet?

Ainda que um grupo aceite a tarefa que lhe é apresentada, isso não significa que ele, de fato, lidará produtivamente com ela. E não avançar nos trabalhos sobre a tarefa é indicativo de que o coletivo está em momento de pré-tarefa. Se, por outro lado, o grupo aceita e trabalha sobre a tarefa, de modo colaborativo, não obstante as dificuldades inerentes ao processo, ele se direciona à tarefa propriamente dita e, finalmente, à noção de projeto, que é a terceira vertente associada ao debate sobre a tarefa grupal, na proposta pichoniana25,33.

Os combinados grupais podem ser alvo de resistências e de ataques, o que pode dificultar o trabalho sobre determinada tarefa, ou, em última instância, impedi-lo, já que pensar-aprender implica em ameaças a formas de viver e sentir que, mesmo se eventualmente geradoras de sofrimento, encontram-se equilibradas. E se a esse aspecto do pensamento pichoniano agregarmos a pandemia, os agravos que ela simboliza23 e a mediação da internet, debater resistências, ataques aos vínculos e às condições de aprendizagem é um exercício que pleiteia compromissos éticos redobrados.

Se a tarefa explícita enlaça aspectos do funcionamento grupal mais conscientes, a tarefa implícita tem relação com movimentações que um grupo pode fazer e que são mais abrangentes, porque envolvem dinamismos inconscientes. Alcançá-la é lidar com perene processo de (re)elaboração de dificuldades, buscando compreendê-las e superá-las, visando ao crescimento grupal e de cada um de seus integrantes33. No mundo on-line e pandêmico, porém, essas mesmas dificuldades podem receber incrementos, haja vista as ansiedades de perda e de ataque não serem redutíveis ao funcionamento intragrupal, porque atravessam indicadores exteriores ao grupo bastante claros, como as desigualdades socioeconômicas e a perpetuação de violências contra minorias23.

O trabalho sobre a tarefa implícita, que em condições presenciais versa, por conseguinte, sobre conquistas de um grupo que se consolida enquanto operativo, no mundo remoto também exigirá incessante trabalho em equipe, posto que, distintamente do trabalho presencial, pela internet falhas nos sistemas e estímulos paralelos são presenças contínuas (barulhos e movimentações próprias das residências de participantes, chat que integra aplicativos de comunicação audiovisual, como Meet e Zoom, por exemplo).

O enquadre do trabalho grupal sobre determinada tarefa pode, assim, ser delimitado conforme cinco aspectos, que se retroalimentam e compõem o cenário universitário: (1) os calendários acadêmicos (usualmente semestrais); (2) os recursos humanos disponíveis (equipe executora); (3) as características da instituição (universidade); (4) os requisitos legais e normativos da formação em Psicologia (Diretrizes Curriculares Nacionais e Projetos Político-Pedagógicos); e (5) a natureza dos trabalhos demandados pelas(os) calouras(os) (adaptação à nova realidade educacional e de vida). A esse conjunto de aspectos, durante a pandemia há que se acrescentar duas condições, que, se acessíveis à equipe executora e às(os) calouras(os), tornam os trabalhos exequíveis: (6) disponibilidade de espaço físico pessoal (para manutenção de privacidade e sigilo); e (7) disponibilidade de internet e de TIC, tanto em nível pessoal (smartphones ou computadores pessoais) quanto institucional.

Nessa acepção, pensar em processos de grupo on-line conforme a inspiração teórico-técnica pichoniana requer contemplar o quanto eles podem favorecer que o coletivo se implique no próprio processo grupal, galgando níveis da tarefa que ultrapassariam o nível de combinados explícitos. Todavia, essa situação instiga indagações: momentos de pré-tarefa poderiam ser superados e projetos poderiam ser tateados, tarefas explícitas e implícitas poderiam ser alvo dos trabalhos, também quando o grupo acontecesse com a mediação da internet e em situação de afastamento físico compulsório?

Resguardadas as novas condições humanas e de trabalho clínico remoto demarcadas pelo evento pandêmico, se um grupo estiver num movimento indicador de operatividade, ou pelo menos empenhando-se para tanto (trabalho sobre a tarefa explícita e implícita), isso também traz à tona outro aspecto teórico apresentado por Pichon-Rivière25 e que pleiteia respectivas ponderações: a noção de emergente grupal.

b) Problematizando o conceito de emergente grupal: e-mergente?

Emergentes grupais são entendidos como manifestações engendradas no próprio funcionamento do grupo e usualmente são trazidos, pelas figuras das(os) porta-vozes, que denunciam fantasias, ansiedades e necessidades do coletivo35. Por meio desse dinamismo, o coordenador tem a matéria-prima para indicar aspectos não verbalizados pelo grupo, interpretando-os25,33. Ou então que são verbalizados, mas "que estão cindidos no discurso do grupo; o que costuma se articular, em algum momento, com alguma hipótese sobre ansiedades que operam como obstáculo na relação entre o grupo e a sua tarefa"34 (p. 97; tradução livre dos autores).

Recursos interpretativos auxiliam o coletivo a se lançar em movimentos dialéticos, marcados por tensões entre mudanças e permanências. Eles se acoplam ao próprio grupo e geram novas qualidades como efeitos de suas próprias produções33. O que antes não podia receber nomes e ser expressado, passa a ser alvo de construções consolidadas no encontro com a(o) outra(o), como dito, com auxílio do desempenho do papel das(os) porta-vozes. E no ponto de vista em pauta, cabe acrescentar o e ao designarmos esse papel: porta-e-voz?

Temos notado que as condições que incidem sobre o pensar-fazer-sentir com mediação da internet não poderiam ser igualadas ao que se vivia presencialmente, em experiências anteriores às circunscritas pela pandemia. Os encontros presenciais são demarcados pela captura, pelos órgãos dos sentidos, da presença recíproca de outras(os). Isso evoca memórias sensoriais que remetem à ancestralidade (filogênese), tanto quanto às memórias de relações estabelecidas com cuidadores e genitores, desde a concepção intrauterina (ontogênese). Isso exclui, em absoluto, os enquadramentos lisos das telas dos smartphones ou das "janelas" dos microcomputadores36.

Com essas observações, não ignoramos as potências das tecnologias, que, associadas aos ambientes físicos, tornam-se importantes ferramentas de acessibilidade e participação no mundo e nas atividades de atenção à saúde mental, como as psicoterapias. Problematiza-se, isso sim, distinções de alcances psíquicos possibilitados por encontros presenciais daqueles mediados por TIC, ainda mais quando a pandemia engolfa a todas(os), dado que ela afasta violentamente as possibilidades de optar por fazer contatos físicos. Experiências psíquicas primordiais, que dependem de modos de relacionamentos ancestrais para serem articuladas, não podem ser equivalentes ao que as tecnologias permitem, especialmente hodiernamente, portanto.

Dessa forma, embora as tecnologias contemporâneas, que para Han configuram a cultura do digital37 , sejam fatos inegáveis, o humano - e as vozes - que resultarão delas e, sobretudo, das experiências ocasionadas pela pandemia, precisarão estar sob escrutínio, em longo prazo, assim como os clínicos e os pacientes ou usuários de estratégias de atenção à saúde mental. Do contrário, incorreremos em graves riscos de operarmos, enquanto profissionais (e sociedade), trabalhos clínicos impulsionados por mecanismos inconscientes calcados na negação psíquica e em tipos destrutivos de clivagem23, o que em última instância dificultaria ou impediria a trabalho sobre emergentes grupais.

Nessa significação, vozes grupais - e demais resvalos psíquicos dessas formas de experiência coletiva - emergem nos processos de grupo a partir de condições subjetivas e sociais sitiadas, com cada participante em suas respectivas casas e cidades. Elas têm fundamento em apreensões sensoriais que são, portanto, "familiares". Lidar com as tarefas grupais nessas condições lança participantes e coordenadoras(es), em certa medida, em territórios de previsibilidades e de controles, o que também pode ser entendido como formas de controle narcisicamente fundamentadas36.

Castanho, Emílio, Oliveira e Neves15 expõem algo nessa direção ao versarem sobre a facilidade com que cada integrante do processo grupal on-line pode "desligar-se" a qualquer momento, sem que os demais necessariamente consigam compreender o que se passou com ela(e). Esses mesmos autores "testemunham a potência de se usar a tecnologia para criar encontros humanos ali onde eles estão impossibilitados de ocorrer" (p. 132) e frisam algo que consideramos fundamental: "Tal destino não depende somente das plataformas e recursos tecnológicos disponíveis, mas de como eles podem ser apropriados e usados" (p. 132).

Tem havido esforços para pensarmos o uso da mediação da internet durante a pandemia, de modo que não o simplifiquemos. Temos visto com desconfiança transposições "automáticas" de teorias e técnicas, construídas em ambientes sustentados pela presença humana encarnada16, para contextos remotos, sobretudo quando compreendemos o divisor de águas representado pela pandemia da Covid-19. Ao dizer isso, temos em mente que a psicanálise e as psicoterapias psicanalíticas lidam com tecnologias "virtuais" muito anteriormente à popularização da internet, como seria o caso dos telefonemas38.

Sustentar que o trabalho grupal migrado para o on-line seja apenas envolto em perdas e aspectos negativos, quando comparado ao presencial, não parece sustentável, tal como temos tentado dizer. O que a internet, em comunhão com mídias sociais, potencializou em relação a outras tecnologias parece ser, de fato, a integração sincrônica dos sentidos da visão e da audição ao processo: paciente e terapeuta podem se ver e ouvir, mutuamente. Por razões como essas, quando convidamos as(os) calouras(os) a participar de processos grupais on-line, temos incluído no enquadre a regra preferencial de manterem as câmeras ligadas.

O grupo estar atento à condição de ser mediado pelas telas, com pessoas juntas (sincronizadas no tempo), mas separadas espacialmente (cada uma em suas respectivas moradias), pode, no máximo, promover graus de operatividade aproximados aos observados em experiências desenvolvidas presencialmente. Que a pandemia da Covid-19 esteja agregada forçosamente a essa química peculiar requer reunião de forças em intensidade e em qualidade inéditas, para haver construções de raciocínios clínicos devidamente ponderados e eticamente responsáveis.

O desempenho de papéis no grupo, incluindo o de porta-e-vozes, parece desfrutar de possibilidades de maior integração quando o olhar e o ouvir são presenças sincronizadas. Além disso, cabe lembrar que somos uma unidade psicossomática, indissociável. Ainda que a mediação da internet esteja em apreço, "o corpo não está ausente nas relações on-line. Os terapeutas ainda percebem e sentem seus corpos, e os membros do grupo ainda percebem os deles. O que falta é a comunicação corpo a corpo ou a leitura da linguagem corporal"16 (p. 207; tradução livre dos autores). Diríamos, em complemento, que o faltante é a leitura integrada da linguagem corporal, na medida em que as telas, sincronizadas em imagem, permitem visões parciais (bidimensionais) umas(uns) das(os) outras(os). Mas esses apontamentos precisarão, também, estar sob investigação contínua de agora em diante, como sugerem estudos atuais14,15,16.

c) Articulando a escolha de recursos artísticos aos conceitos de e-tarefa e e-mergente

A complexidade dos fenômenos grupais abraça os processos de escolha de recursos artísticos para mediar diálogos coletivos. Recursos artísticos contemplam diversidade de produções imagéticas, textuais e musicais. Dentre as produções imagéticas incluímos aquelas em movimento (filmes cinematográficos ficcionais ou documentais) ou não (reproduções de obras artísticas, fotografias). Dentre as textuais, abarcamos produções de autores reconhecidos ou não no mundo da Literatura (poesias, crônicas, contos), de modo semelhante ao que fazemos com as linguagens musicais. Na atualidade, produções imagéticas que não se enquadrariam na classificação de filmes no sentido cinematográfico também têm sido incorporadas como mediadores em processos de grupo: clipes musicais e produções de influenciadores digitais. Dessa forma, como recursos artísticos tão diversos têm sido utilizados em processos de grupo e como eles podem ser compreendidos?

A arte sobre a qual procuramos dizer é tanto produzida por artistas profissionais, quanto aquela que pode ser a materialização de expressões subjetivas e/ou grupais emanadas de pessoas comuns. No sentido da arte profissional, filmes cinematográficos de diretores reconhecidos e reproduções de obras pertencentes a algum museu são exemplos possíveis. Ela toca na ideia da arte de cunho mais acadêmico, produzida por artistas que não titubearíamos em reconhecer, como Cândido Portinari e Lygia Fagundes Telles. Se, no âmbito de um trabalho desenvolvido por certo grupo on-line, algumas delas são escolhidas, ainda assim o que é previamente um recurso estruturado por outras(os) pode passar por desconstruções, reconstruções e destruições genuinamente grupais. Os significados existentes a priori não são os mais importantes26,27,29.

No segundo sentido de conceber recursos artísticos, os fazeres resultantes de experiências compartilhadas por participantes de grupos são exemplos. Esses fazeres permitem constituir vivências de espontaneidade, unicamente possíveis de existir a partir de encontros humanos, de esforços coletivos direcionados ao estabelecimento de vínculos, processos de subjetivação e busca de autonomia. A palavra falada, o silêncio, o desenhar e o escrever são algumas formas simples de expressão dessa arte do cotidiano. Entretanto, são ferramentas extremamente sofisticadas, porque se associam ao ser e ao brincar espontâneo e coletivo, aspectos do viver nem sempre valorizados na contemporaneidade, de tons acentuadamente neoliberais e, no geral, pouco afeitos às condições que permitem a vivência do belo e o distanciamento em que o individualismo cede lugar à alteridade e à contemplação36,37.

Nessa segunda acepção, estar juntas(os) e escolher a via humana para construção coletiva de diálogos e vínculos subjetivos é uma manifestação de natureza artística não estruturada. Pode-se fruir do que é produzido on-line, como produções subjetivadas e coletivizadas. E também pode-se desconstruir, reconstruir e destruir coisas.4

Isso posto, os recursos artísticos utilizados em âmbitos grupais on-line podem ser mais ou menos estruturados, e permitem evocar diversidade de reações em quem os frui, contemplando imprevisibilidade do ponto de vista emocional29. Todavia, sempre são tomados como potências que favorecem, por meio de encontros e diálogos grupais, a construção conjunta da realidade. Mas como seria possível isso acontecer durante a pandemia, quando a realidade material tem se mostrado ferida dilacerante?

Os recursos artísticos são compreendidos como mediadores, pois se colocam "entre" as realidades individuais e as coletivamente construídas, "entre" a realidade material e a realidade psíquica. São mediadores porque sem eles a vida não bastaria, para parafrasear Ferreira Gullar. Quando são usados em grupos on-line, têm tido características assemelhadas ao que resulta de atendimentos presenciais: argamassas que permitem juntar o que está separado. Eles permitem que as defesas que todos temos possam se abrandar29. Desse modo, o encontro humano pode acontecer de formas novas e ser vivido de modo menos ameaçador. E, quiçá, possa ser fruído como objeto estético, também em ambientes de atenção on-line à saúde de universitárias(os).

Na história dos dias atuais, o papel das artes tem sido acentuado como recurso mitigador da dor e como instrumental para lidar com violências fustigantes. Essas violências não têm sido negligenciadas pela Psicologia, que as tem tratado como expressão de uma necropolítica à brasileira40. Pensar as intervenções grupais on-line em conjunção com a mediação das linguagens artísticas requererá extenso processo de revisão, mesmo após a pandemia ter sido controlada. De tal modo, no enquadre on-line proposto, o tipo e o teor das linguagens artísticas são definidos por meio de diálogos grupais, em junção com ponderações sobre (a) os impactos da pandemia nas subjetividades, nas coletividades, nas instituições universitárias e nos processos clínicos grupais; (b) o andamento dos trabalhos grupais sobre determinada e-tarefa; (c) os e-mergentes grupais; e (d) as potências das artes como dispositivos promotores de saúde mental, de ludicidade e de espontaneidade, mesmo que medidas pelas TIC.

Numa sociedade mecanizada sujeita ao regime da automação e da produção em massa, o brincar significa o espontâneo e desperta a nostalgia da invenção, do ato criativo. O sonho do jogo irrompe, então, em oposição ao mundo do trabalho, e se dirige para outra atividade livre e gratuita: a arte41. (p. 21; tradução livre dos autores)

Nessa acepção, escolher uma linguagem artística é lidar com significações do processo grupal que estavam latentes, desde que se compreenda que isso seja passível de ocorrer, em alguma medida, no universo on-line e em consideração à realidade pandêmica. E isso dialoga com os papéis desempenhados pelas(os) porta-e-vozes e coordenadoras(es). As imagens ou os textos escolhidos, associados aos balizadores teórico-técnicos operativos, polarizam algo que precisava e precisa ter voz, tornando-os potências tradutoras de experiências emocionais e de emergentes grupais constituídos por mediação de TIC.

Nesse sentido, no trabalho com grupos on-line, a equipe executora escolhe os recursos a serem levados, mas apenas nos encontros iniciais. Na medida em que os processos grupais indicam entrada em fluxo operativo, com a constatação da superação (ainda que efêmera) de momentos de pré-tarefa, abandona-se progressivamente o exercício dessa função e, conforme metodologias desenvolvidas e empregadas em situações presenciais26,27, instiga-se as(os) próprias(os) participantes a fazê-lo. Com medidas assim, pretendemos aprender com as experiências grupais (e-xperiências?) e compreender os e-mergentes a partir de outros vértices e formas de comunicação, mediadas e favorecidas pelo simbolismo inerente às linguagens artísticas, tal como permitido pelo enquadramento das telas, das "janelas" e pelo cenário pandêmico.

d) Vinheta clínica: ilustrando aprendizados grupais

No primeiro semestre letivo de 2020, 12 calouras(os) integraram o projeto, dez das(os) quais oriundas(os) de cidades distantes em relação à do campus universitário. Com esse grupo, 16 encontros foram realizados, o primeiro deles na modalidade presencial, em março, e, após a declaração da situação pandêmica, de maio a setembro, na modalidade remota. A cada encontro a escolha do recurso artístico a ser dialogado era livre, desde que articulada à e-tarefa explícita proposta ao grupo, e era negociada coletivamente, como parte dos procedimentos técnicos de condução dos trabalhos. No 10º encontro, ocorrido no fim de julho de 2020, uma(um) caloura(o) escolheu e compartilhou o conto Venha ver o pôr do sol, de autoria de Lygia Fagundes Telles42, que relata a estória de um casal de ex-namorados, Ricardo e Raquel. A convite de Ricardo, fazem um passeio num cemitério. Lá, Ricardo ludibria e encarcera Raquel dentro de um jazigo.

O que interessa aqui é narrar que, no grupo on-line, no encontro em que esse objeto artístico foi escolhido e levado, isso serviu como fio tradutor da história do grupo e do encontro como um todo. A escolha do conto era resultante do trabalho sobre a e-tarefa e, na medida em que "trazido" por uma(um) participante (porta-e-voz), traduzia o momento grupal (e-mergente).

Após a leitura coletiva do conto ter sido feita e as(os) participantes terem conversado sobre suas impressões, as interpretações feitas pelo coordenador33 focalizaram o estarmos presas(os), sem condições para compreender os motivos que nos levaram até a situação do trabalho remoto. Ter conhecimentos racionais sobre a existência da pandemia e sobre os motivos das medidas sanitárias não era vivido sem expressão verbalizada de conflitos, como raiva e inconformidade. Essas expressões, muitas vezes revestidas por sarcasmos e cinismos que levavam ao riso coletivo, acenavam para dificuldades emocionais que o grupo apresentava para lidar com a pandemia e seus efeitos no cotidiano. Assim, Raquel (grupo) foi levada e deixou-se levar ao encontro com a morte. Quando a narrativa de Lygia Fagundes Telles foi apresentada ao grupo, narrada por uma(um) participante (porta-e-voz), a situação mortificante vivida por ela era encarnada no grupo e tornava-se passível de ser dialogada. O bloqueio nas condições do pensar-sentir-agir vividas por Raquel tomava outros rumos no grupo e com o grupo.

O caminho que essas(es) calouras(os) percorreram durante o ano letivo de 2020 foi marcado por três acontecimentos, incomuns até a pandemia chegar, que precisam ser explicitados para melhor descrever o panorama. De março a julho, não houve oferta de atividade acadêmica alguma, haja vista o inusitado trazido pela pandemia ter dificultado a tomada de decisões institucionais que pudessem ser as mais apropriadas a toda a comunidade acadêmica. De julho a outubro houve a implantação experimental de um plano emergencial, para retomada de atividades de ensino. Nesse ínterim, as(os) calouras(os) puderam se matricular em até três disciplinas eletivas, o que correspondia a um número bastante reduzido face ao que estaria acontecendo, não fora a pandemia (cinco disciplinas obrigatórias, duas eletivas, além de atividades de pesquisa e extensão). E, por fim, a retomada das aulas regulares aconteceu em novembro, oito meses, portanto, após a chegada à universidade.

Nesse interjogo, essas(es) calouras(os) constituíam uma parcela muito peculiar de estudantes, que podiam ser caracterizadas(os) como "quase-universitárias(os)". Além desse "quase", também tiveram que lidar com o retorno forçoso às casas das famílias de origem, duas semanas após as aulas terem sido iniciadas (em março), na medida em que dez delas(es) também residiam em outros estados ou cidades. Destarte, elas(es) "quase" se mudaram e "quase" puderam exercitar uma vida mais independente, distantes da proximidade física dos cuidadores e familiares.

Os acontecimentos incomuns escancarados pela pandemia, no mundo exterior à universidade, impediram que esta e suas atrizes/seus atores passassem ilesas(os). Isso fazia com que se nomeassem, amiúde, como estudantes que estavam "no limbo", o que remetia o grupo à figura simbolizada por Raquel. Assim como aconteceu com ela, ao ser trancafiada, as(os) calouras(os) viam-se excluídas(os) da "vida lá fora" (da vida na universidade e no entorno dela).

A possibilidade da morte de Raquel parecia, ainda, metaforizar algo que era um emergente social anunciado pela pandemia: alguns familiares das(os) calouras(os) tinham contraído o vírus, e a morte, mês a mês, se aproximava de todas(os), concretamente. A consequente suspensão repentina de possibilidades de convívio estudantil baseado na presença física também agregava concretude a essas perdas mais simbólicas (perdas do convívio presencial e das rotinas na universidade).

O conto de Lygia Fagundes Telles finaliza com Raquel isolada, gritando sem ser ouvida. Ricardo, um homem violentíssimo contra o qual Raquel não pôde lutar, triunfa em sua necropolítica, o que confere atualidade à sua personagem, facilmente assemelhada a políticos que desdenham da fragilidade das(os) excluídas(os) socioeconômica e digitalmente (minorias). Distintamente, no âmbito grupal on-line relatado, vozes isoladas em quartos ou salas puderam ressoar entre pares e serem objeto de diálogo.

Cabe dizer que o grupo, para além da sessão na qual Raquel e Ricardo estiveram em foco, criou e sustentou condições espaciais e temporais para pensar sobre enclausuramentos, durante 16 encontros, não obstante no nosso entorno o cemitério apresentado no conto fosse colocado sob o risco de ser uma metáfora esvaziada: ela estava ameaçada porque se assemelhava "demais" ao que as(os) brasileiras(os), especialmente as minorias, viviam e têm vivido num país que ostenta o segundo maior número de mortos no mundo (fevereiro de 2021).

A linguagem literária foi posta a favor do funcionamento grupal, associada à e-tarefa e como e-mergente grupal, mas também elucidava emergentes psicossociais exteriores ao próprio grupo, lembrando de um fator caro no pensamento pichoniano: a indissociabilidade dos processos subjetivos e sociais25. O conto facilitou a expressão e a partilha de experiências emocionais difíceis de serem digeridas, porque tocantes às imprevisibilidades da vida, drasticamente acentuadas pela pandemia. As promessas de viver a universidade e as novas conquistas que ela permitiria, erigidas antes de março de 2020, foram desfeitas, pelo menos transitoriamente. Assim como Ricardo fez com Raquel, a pandemia havia traído a confiança das(os) estudantes de um jeito dissimulado e violento.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apresentamos algumas possibilidades reflexivas sobre alcances e limites de aspectos teórico-técnicos emergidos do trabalho grupal on-line, desenvolvido com calouras(os) de Psicologia. Nesse caminhar, demonstramos que arcabouços teórico-técnicos carecem de ponderações específicas ao serem trasladados para o mundo pandêmico. A possibilidade de escolher e usar uma linguagem artística, seja de natureza estruturada, seja não estruturada, é mais um elemento que precisa estar articulado à concepção teórico-técnica que fundamenta as intervenções on-line.

No percurso, pudemos notar que, nesse cenário, a mediação artística literária pôde se colocar como ferramenta de tradução e de ampliação de experiências emocionais das(os) calouras(os), tal como reportado em outras experiências, desenvolvidas em momentos pré-pandêmicos. Durante a pandemia, contudo, os emergentes grupais parecem ter recebido incrementos de tons mais aterrorizadores, em que a morte, até então referida a eventos de natureza predominantemente simbólica, próprios da transição do ensino médio para o ensino superior, passou à concretude.

A obra de Lygia Fagundes Telles foi o exemplar pinçado, dentre outras situações nas quais o trabalho grupal aconteceu, porque por meio dela foi possível traçar conversas sobre as dores e as inconformidades inerentes ao momento de suspensão da vida universitária presencial, circunscrito por um evento sanitário com repercussões socioeconômicas e psicossociais trágicas. Por outro lado, embora o conto tenha sido escolhido como ilustrativo dos trabalhos sobre a e-tarefa e como um emergente grupal, cabe dizer que, ao longo do tempo, a morte, concreta ou simbólica, nem sempre determinou o tom dos encontros.

Ao operarmos o processo grupal relatado, falamos de morte e de vida, de encontros e desencontros, de perdas e ganhos, pares antitéticos que constituem processos grupais, para além da modalidade remota de trabalho desenvolvida sob os imperativos da pandemia. Dialogamos tanto sobre estarmos de algum modo encarcerados (participantes em suas casas e cidades, assemelhados a Raquel no jazigo), mas também sobre sonhar a retomada da liberdade, a qualquer momento, dentro e fora de nós (no conto, ao mesmo tempo que Raquel se desespera ao se ver trancada, crianças brincavam ao longe).

No início do décimo encontro, o grupo indagou-se, por meio de uma(um) porta-e-voz: Vamos ver o pôr do sol? E a resposta veio em direções complementares: ver o crepúsculo pode ser menos aterrorizante e limitante; afinal, o sol poente é o mesmo que retornará algumas horas depois, trazendo outras cores. Ricardo - a pandemia, a morte - parecia triunfante, mas a estória de Raquel - do grupo, das(os) estudantes - podia ser transformada a qualquer momento, por meio de um trabalho de escuta atenta e cuidadosa de seus gritos (e-vozes emergentes do processo grupal).

Retornando à música de Adriana Calcanhoto, temos prestado atenção em cores cujos nomes não sabemos e no que nossas(os) estudantes dizem e ouvem. Temos passeado no escuro e com frequência nos vemos alçados abruptamente a lugares em que não necessariamente gostaríamos de estar, como aconteceu com Raquel. Atendimentos on-line em momento pandêmico têm requerido, nessa medida, ponderações teórico-técnicas sobre fenômenos grupais desenvolvidos sob condições inéditas.

Por essa via, temos dialogado incessante e arduamente sobre os riscos de utilizarmos de conceitos "velhos" para designarmos eventos e fenômenos "novos". O momento pandêmico, aliado à abrupta mudança do enquadre clínico, demarca uma mudança paradigmática, a partir da qual precisaremos (re)pensar globalmente os limites e alcances de teorias e técnicas que até há pouco "davam conta" do que vivíamos em nossos trabalhos. Aspectos teórico-técnicos contemplados no pensamento pichoniano, ponderados a partir de experiências clínicas ocorridas remotamente, articulados à linguagem das artes, indicaram caminhos frutíferos a serem trilhados.

Os efeitos dos trabalhos grupais relatados poderão ser avaliados junto aos participantes, retrospectivamente, em momento futuro. Assim, as observações e discussões aqui registradas poderão ser ampliadas. Esse tipo de empreita não foi almejado neste texto, já que optamos por exteriorizar aspectos teóricos e técnicos, problematizando-os a partir das experiências que a equipe executora tem tecido na rede.


NOTAS


i Uma primeira versão do texto foi apresentada pelo primeiro autor ao Grupo de Trabalho Psicologia, estética e arte, durante o 18º Simpósio Online de Pesquisa e Intercâmbio Científico da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia, realizado no período de 25 de setembro a 23 de outubro de 2020.

ii Agradecemos às(os) calouras(os) por terem aceitado o convite para trabalhar-aprender conosco.

iii Sistema gerenciado pelo Ministério da Educação que oferece vagas em cursos presenciais de ensino superior público e que classifica os candidatos por meio do desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) [cf. https://sisu.mec.gov.br/#/#oquee].

iv Como pode ser constatado, o tipo de arte sem estruturação não é um modo novo de operar na realidade da atenção à saúde mental das pessoas. No Brasil, mediações artísticas usadas para favorecer expressões humanas e coletivas têm nascedouro nas experiências coordenadas por Nise da Silveira39, o que ultrapassa em muito o âmbito das concepções de inspiração psicanalítica, como as debatidas neste momento.



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aUniversidade Federal do Triângulo Mineiro, Departamento de Psicologia - Uberaba/MG - Brasil
bUniversidade Federal do Triângulo Mineiro, Programa de pós-graduação em Psicologia, Departamento de Psicologia - Uberaba/MG - Brasil
cUniversidade de Uberaba, Curso de Psicologia - Uberaba/MG - Brasil

Autor correspondente

Tales Vilela Santeiro
talesanteiro@hotmail.com

Submetido em: 10/02/2021
Aceito em: 15/07/2021

Contribuições: Tales Vilela Santeiro - Conceitualização, Gerenciamento do Projeto, Metodologia, Redação - Preparação do original, Redação - Revisão e Edição, Supervisão; Beatriz Tavares-Arantes - Coleta de Dados, Redação - Preparação do original, Redação - Revisão e Edição; Alícia Soares-Siqueira - Coleta de Dados, Redação - Preparação do original, Redação - Revisão e Edição; Carolina Rocha de Carvalho - Coleta de Dados, Redação - Preparação do original, Redação - Revisão e Edição; Larissa Christine Jerônimo-Neiva - Coleta de Dados, Redação - Preparação do original, Redação - Revisão e Edição; Carine Campos-Santos - Coleta de Dados, Redação - Preparação do original, Redação - Revisão e Edição; Vitória Aparecida Ferreira-dos-Santos - Coleta de Dados, Redação - Preparação do original, Redação - Revisão e Edição; Ana Júlia Thomazella-Bertolini - Coleta de Dados, Redação - Preparação do original, Redação - Revisão e Edição.

 

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