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Revista Brasileira de Psicoteratia

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Vol 18 N° 1  2016

 

Artigos Originais
1 -  Uma breve revisao das revisoes e metanálises sobre aliança terapêutica
Diogo de Bitencourt Machado; Cláudio Laks Eizirik
Páginas: 1 - 12

Resumo

A aliança terapêutica (AT) é a relaçao que se desenvolve entre terapeuta e paciente durante os tratamentos em geral. É um dos aspectos mais estudados na psicoterapia e as pesquisas mostram que a AT alta está relacionada a tratamentos mais eficientes. Este trabalho é uma revisao sobre as revisoes que envolvem a AT, apresentando algumas das contribuiçoes mais relevantes desses estudos. As revisoes narrativas, revisoes sistemáticas e metanálises identificadas avaliaram a relaçao da AT e diferentes aspectos, como tratamentos de adultos, tratamentos de crianças e adolescentes, abandono de tratamento, estilo de apego, diferenças culturais entre terapeuta e paciente, aspectos do terapeuta e da técnica, e-therapy e instrumentos de avaliaçao. De acordo com as revisoes, a AT está comprovadamente associada aos resultados do tratamento nos diferentes modelos teóricos de psicoterapia. Por outro lado, as pesquisas indicam que seus efeitos sao pequenos, ou seja, existem outros elementos que influenciam a maior parte dos resultados. Considerando que os estudos de eficácia mostram a ligaçao entre AT e os resultados, um próximo passo das pesquisas é avaliar de que forma a AT influencia o tratamento com os diferentes tipos de pacientes e situaçoes clínicas.

Descritores: Processos psicoterapêuticos; Psiquiatria; Psicoterapia.

2 -  Andando na corda bamba: desafios técnicos do atendimento de pacientes borderline
Milena da Rosa Silva; Denise Steibel; Paula von Mengden Campezatto; Lívia Fraçao Sanchez; Eduarda Duarte de Barcellos; Paula de Paula Fernandes; Regina Pereira Klarmann
Páginas: 13 - 22

Resumo

Este trabalho busca refletir sobre a frequência e o estabelecimento do contrato em psicoterapia psicanalítica com pacientes borderline. Para tanto, parte-se de um atendimento em psicoterapia de uma paciente de 20 anos com essa hipótese diagnóstica. Devido à dificuldade na simbolizaçao e à instabilidade emocional e vincular desses pacientes, alteraçoes na técnica psicanalítica envolvendo o manejo do contrato e da frequência sao necessárias. Entretanto, muitas vezes segue-se estabelecendo um contrato 'nos moldes da neurose'. Acreditamos que o terapeuta precisa sustentar o contrato em sua mente até que o paciente possa tolerá-lo, assim como a mae sustenta o tempo real dentro dela até que o bebê possa lidar com ele.

Descritores: Contratos; Psicoterapia; Psicanálise; Transferência (Psicologia).

3 -  Psicoterapeutas e processos psicoterapêuticos no cinema: diálogos psicanalíticos sobre formaçao profissional
Tales Vilela Santeiro; Lucas Rossato; Glaucia Mitsuko Ataka da Rocha
Páginas: 23 - 39

Resumo

Produçoes cinematográficas têm estabelecido aproximaçoes com a prática da psicoterapia, apresentando características mais ou menos verossímeis dessa atividade profissional e do psicoterapeuta. O objetivo deste trabalho consistiu em pesquisar filmes comerciais/ficcionais que retratavam psicoterapeutas e processos de psicoterapia, lançados a partir de 2001, aproximando-os de debates orientados psicanaliticamente. A análise de dados foi quantiqualitativa. Foram encontradas 27 produçoes, em sua maioria estrangeiras (96%), apresentando psicoterapeutas com diferentes formaçoes profissionais (psicólogos, 19%; psiquiatras, 15%; terapeutas, 22%; entre outros), trabalhando em consultórios privados (59%) e instituiçoes (18%), que preservam fronteiras profissionais. As análises e discussoes permitiram observar que, embora existam algumas aproximaçoes significativas, nem sempre as películas representam características apropriadas acerca dos processos psicoterapêuticos. Os resultados encontrados demonstram que produçoes fílmicas, quando contextualizadas teoricamente, podem ser ferramentas didáticas que contribuem aos processos de formaçao de novos profissionais, porque favorecem construçoes e desconstruçoes de aspectos que constituem o ofício do psicoterapeuta.

Descritores: Psicoterapia; Cinema como assunto; Psicologia clínica.

4 -  Psicoterapia psicanalítica de casais e famílias: caracterizaçao da clientela
Tamires Pires; Daniela Berger; Guilherme Pacheco Fiorini; Marina Bento Gastaud
Páginas: 40 - 54

Resumo

Este estudo objetivou investigar o perfil de casais e famílias que procuram atendimento em psicoterapia psicanalítica, através de pesquisa quantitativa retrospectiva com prontuários de pacientes ambulatoriais de Porto Alegre/RS. Na terapia de casais, a maior parte dos pacientes buscou tratamento por iniciativa própria, alegando dificuldades de comunicaçao. Na psicoterapia familiar, houve predomínio de famílias monoparentais, constituídas por mae + filho(s); a maioria buscou psicoterapia recomendada por psicólogo, sendo o motivo de consulta predominante a busca de orientaçao quanto ao manejo com os filhos. A estrutura familiar inconsciente neurótica foi o diagnóstico mais prevalente e a renda familiar predominante oscilou de 2 a 6 salários mínimos, tanto para casais quanto para famílias. A maior parte dos casais e famílias nao aderiu à psicoterapia. Espera-se que estes dados auxiliem na capacitaçao dos profissionais, no desenvolvimento de novos ambulatórios e na divulgaçao dessa modalidade de atendimento, atraindo a populaçao que ainda se encontra desassistida.

Descritores: Terapia psicanalítica; Terapia familiar; Terapia conjugal; Pacientes ambulatoriais. Relaçoes familiares.

5 -  Compreensao psicodinâmica do ciclo vital de Daenerys Targaryen, personagem da série Game of Thrones
Murilo Martini; Rodrigo Chiavaro da Fonseca; Henrique Iahnke Garbin; Ana Margareth Siqueira Bassols
Páginas: 55 - 67

Resumo

Este artigo analisa os aspectos psicológicos da personagem Daenerys Targaryen, da série Game of thrones, buscando essencialmente avaliar sua evoluçao cognitiva, social e comportamental, bem como os conflitos vivenciados em seu ciclo vital e os respectivos mecanismos de enfrentamento das adversidades. Por meio da interpretaçao subjetiva das simbologias metafóricas citadas na narrativa, extrapola-se a leitura literal da obra, com vistas a compreender também as representaçoes da esfera inconsciente da personagem. Daenerys tem infância conturbada pela morte dos pais, pela fuga da cidade natal, pelo exílio e pelos maus-tratos cometidos pelo irmao. Ademais, sao-lhe impostos casamento e erotizaçao precoces, eventos que desrespeitam seu tempo de amadurecimento psíquico, desencadeando encurtamento das fases do seu ciclo vital e desestabilizaçao do processo de latência e desenvolvimento puberal. Contudo, as experiências que vivencia no período, tais quais a gestaçao e a emancipaçao por que passa, associadas a variantes inatas da sua personalidade - a exemplo do temperamento dócil, inteligência e autoconfiança na capacidade de resoluçao de vicissitudes -, permitem a expressao de uma figura icônica de resiliência, com ativaçao de defesas maduras frente a crises vitais ou acidentais. O estudo permitiu discutir aspectos da realidade contemporânea do desenvolvimento humano e proceder à observaçao de diversos mecanismos de funcionamento psíquico, além da interaçao entre variantes intrínsecas e extrínsecas moduladoras da expressao de resiliência frente às dificuldades. Este artigo visa a contribuir para o estudo da teoria psicodinâmica e deve interessar a profissionais da medicina e da psicologia.

Descritores: Ciclo vital; Daenerys; Game of thrones; Período de latência (psicologia); Projeçao; Resiliência psicológica.

Artigos de Revisao
6 -  O bebê imaginário: uma breve exploraçao do conceito
Renata Corbetta Tavares
Páginas: 68 - 81

Resumo

No processo de tornar-se mae figuram fatores de grande importância para o futuro relacionamento a ser estabelecido entre a mulher e seu bebê. Entre eles encontra-se a representaçao de um bebê imaginário, que durante o período da gravidez constituirá a forma primordial de contato da mae com seu bebê ainda desconhecido e, posteriormente, determinará a maneira através da qual essa mae se relacionará com seu bebê. O presente artigo realiza uma breve revisao do conceito de bebê imaginário, proposto por autores psicanalíticos abordando como tópicos organizadores a gestaçao e a reorganizaçao da identidade, o conceito de bebê imaginário, sua relaçao com os exames pré-natais e o confronto entre o bebê imaginário e o bebê da realidade.

Descritores: Bebê imaginário; Psicanálise; Gestaçao; Maternidade.

7 -  Reflexoes acerca do brincar e seu lugar no infantil
Denise Bernardi
Páginas: 82 - 92

Resumo

O presente trabalho tem por objetivo promover uma reflexao a respeito da criança e do brincar na contemporaneidade. Atualmente, observa-se que o brincar é marcado pela "era" das tecnologias. Hoje, as crianças preferem permanecer mais tempo em frente à televisao e jogando videogame a se envolver em brincadeiras tradicionais. Para o desenvolvimento deste estudo realizou-se uma revisao de literatura utilizandose como base textos de autores de referência na temática do brincar. Ainda foram analisados textos de autores contemporâneos que pesquisam sobre esse tema. Apesar de a literatura indicar que o brincar é um importante instrumento para o desenvolvimento infantil, atualmente ele parece nao ser reconhecido pelos profissionais como tal, já que seu uso está cada vez mais reduzido. Acredita-se, desse modo, que essa temática ainda necessita ser discutida e ampliada entre os profissionais que atuam no contexto infantil.

Descritores: Jogos e brinquedos; Criança. Psicanálise; Desenvolvimento infantil.

8 -  Reflexoes sobre o silêncio em psicoterapia de orientaçao analítica
Nathália Janovik da Silva; Sidnei Samuel Schestatsky
Páginas: 93 - 106

Resumo

Desde a origem da psicoterapia/psicanálise, trabalha-se a "cura pela fala" - a "talking cure". A fala é, por assim dizer, um dos principais recursos utilizados em psicoterapia, sendo considerado pressuposto importante para promover o acesso ao inconsciente e levar às mudanças psíquicas almejadas no processo terapêutico. Ampliando esse conceito, acredita-se que tao importante quanto a verbalizaçao é o silêncio em psicoterapia, que, embora seja bastante frequente na prática psicoterápica, sua abordagem como alvo de estudos na literatura atual ainda é relativamente escassa. O objetivo deste trabalho é apresentar uma concisa revisao bibliográfica focada nos diferentes significados que o silêncio pode adquirir durante o processo psicoterápico - tanto do paciente quanto do terapeuta -, desde as contribuiçoes de Freud até reflexoes mais atuais sobre o silêncio em psicoterapia, fazendo uma ligeira inserçao sobre o tema na cultura contemporânea. Conclui-se, pois, que o silêncio em psicoterapia de orientaçao analítica pode adquirir diferentes significados e que acolhê-lo nas suas distintas esferas significa, acima de tudo, oferecer uma escuta verdadeiramente psicoterápica para os nossos pacientes, conseguindo ouvir o nao dito.

Descritores: Psicoterapia; Psicanálise; Teoria psicanalítica.

9 -  Ecos do silêncio
Fábio Bisol Brum
Páginas: 107 - 120

Resumo

A complexidade do silêncio para a teoria psicanalítica e as dúvidas sobre como diferenciar suas múltiplas formas de manifestaçao em psicoterapia me motivaram a escrever este trabalho. Além do já conhecido papel do silêncio como manifestaçao de resistência no tratamento psicoterápico, o estudo do silêncio como via comunicativa possibilita a compreensao de aspectos primitivos ou precariamente representados na mente dos pacientes. Esse tema vem gerando debates de grande relevância na atualidade da clínica psicoterápica. Iniciando pelos meus questionamentos, procurei compreender as diferentes formas do silêncio e a importância dessa diversidade para a técnica. Construo uma linha de pensamento na qual a ausência de palavras também revela a organizaçao das estruturas psíquicas. Chego à conclusao de que o silêncio é uma comunicaçao fundamental, assim como a fala, que possibilita uma abertura ao mundo interno do paciente e expressa, pelos ecos que flutuam pela relaçao transferência-contratransferência, aquilo que nao foi possível pensar e/ou dizer.

Descritores: Psicoterapia; Psicanálise; Comunicaçao; Comunicaçao nao verbal.

Comunicaçao breve
10 -  Iludir e desiludir: implicaçoes da supervisao no trabalho de um acompanhante terapêutico
Fábio Brodacz
Páginas: 121 - 129

Resumo

O autor busca demonstrar as implicaçoes da supervisao na evoluçao do trabalho de um acompanhante terapêutico. Para tal, resgatou sua própria experiência para demonstrar, a partir do conceito de Winnicott do processo de ilusao e desilusao no desenvolvimento emocional primitivo, como a supervisao nos atendimentos auxiliou na compreensao das necessidades de três pacientes. As diferenças foram 1) a existência ou nao de um trabalho de supervisao em cada um dos casos e 2) a formalidade desse trabalho como determinante na evoluçao dos atendimentos. No primeiro caso, nao supervisionado, houve a impossibilidade em perceber-se a necessidade de transitar em direçao à desilusao, ocasionando a ruptura do trabalho. No segundo, supervisionado com o próprio terapeuta, mostrou-se uma consonância entre as necessidades do paciente e o trabalho do acompanhante. No terceiro caso, em que havia uma obstinaçao do paciente por realizar uma atividade sabidamente além de suas possibilidades, evidenciou-se a importância da supervisao formal, periódica, realizada em grupo. Nesse processo, pôde ser direcionado o trabalho aproximando acompanhante e paciente daquilo que foi chamado por Winnicott de "momento de ilusao". Esse desprendimento da oferta maciça de realidade em direçao à fantasia mostrou-se fundamental para a aproximaçao à realidade e suas limitaçoes, incluindo aí tanto suas frustraçoes quanto, nas palavras de Winnicott, "o alívio e a satisfaçao que ela proporciona".

Descritores: Serviço de acompanhamento de pacientes; Teoria psicanalítica; Comportamento do adolescente.

Resenha
11 -  Cuidados paliativos: um comentário sobre o livro A morte de Ivan Ilitch
Carolina Caruccio Montanari
Páginas: 131 - 135

Resumo

Trata-se de um comentário sobre o livro A morte de Ivan Ilitch, de Liev Tolstói. Traz discussoes e passagens da narrativa a respeito de questoes que envolvem terminalidade e cuidados paliativos. Profissionais da saúde devem estabelecer como princípios o respeito, a autonomia e a ética no cuidado a pacientes em terminalidade.

Descritores: Morte; Cuidados paliativos; Doente terminal.