Vol 26 N° 2 2024
Editorial
1 -
Os fenômenos "sozinhos juntos" e a "cultura do hock-up" entre homens gays em apps de encontros: o que isso têm a ver com solidão, desapego e desconexão?
Alessandra Diehl; Felipe Ornell
Páginas: 1 - 5
Descritores: Homens que fazem sexo com homens; Relações afetivas; Comportamento sexual; Saúde mental; Solidão
Artigo Original
2 -
Associação das dimensões da personalidade com sintomas depressivos em pacientes em psicoterapia
Joana Rodrigues Marczyk; Reebeca Menegol; Leonardo Gonçalves; Cleonice Zatti; Neusa Sica Da Rocha
Páginas: 7 - 21
OBJETIVO: evidências indicam a associação entre domínios específicos da personalidade e sintomas depressivos. No entanto, poucos estudos anteriores utilizaram o modelo alternativo de personalidade proposto pelo DMS-5 para avaliar tal associação, e ainda não há pesquisas na América Latina abordando esse tema. Portanto, o objetivo desse estudo consistiu em avaliar a associação entre os domínios da personalidade e a presença de sintomas depressivos, bem como verificar a interferência de variáveis potencialmente confundidoras no resultado, em uma amostra clínica psiquiátrica brasileira.
MÉTODOS: foram incluídos 83 pacientes que estavam em atendimento no ambulatório de psicoterapias do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Os domínios da personalidade foram avaliados através do Inventário de Personalidade do DSM-5 (PID-5, versão de 50 itens) e os sintomas depressivos foram avaliados através do Inventário de Depressão de Beck (BDI). As análises univariáveis de correlação com variáveis contínuas foram feitas através da correlação de Spearman. Para a associação entre a BDI e a PID-5, controlada para variáveis confundidoras (uso de estabilizadores do humor e tentativa recente de suicídio), foi construído um modelo de regressão linear múltipla.
RESULTADOS: tanto Afetividade Negativa quanto Distanciamento mantiveram a associação com a presença de sintomas depressivos. Dentre as variáveis confundidoras, o uso de estabilizadores de humor mostrou uma correlação significativa com a presença de sintomas depressivos.
CONCLUSÕES: Este estudo mostrou a associação entre Afetividade Negativa e Distanciamento e a presença de sintomas depressivos. Os achados têm implicações clínicas significativas, uma vez que o maior entendimento da associação entre domínios da personalidade e sintomas depressivos aumenta a atenção clínica para a refratariedade dos sintomas e para o pior prognóstico, além de repercutir em abordagens tanto psicoterapêuticas quanto farmacológicas.
Descritores: Personalidade; Depressão; Inventário de personalidade
3 -
Protocolo de Terapia Cognitivo-Comportamental para Insônia online de sessão única: adaptação e validação de juízes
Laura Cesar Figueiredo; Clarissa Tochetto de Oliveira
Páginas: 23 - 34
A Terapia Cognitivo-Comportamental para Insônia (TCC-I) é o tratamento padrão-ouro para o Transtorno de Insônia. No entanto, diversas barreiras, como a falta de conhecimento profisisonal do transtorno e tratamento, restrições geográficas, dificuldades financeiras e questões de agendamento dificultam o acesso dos pacientes a essa intervenção. Este estudo tem como objetivo desenvolver e validar um protocolo de TCC-I online, de sessão única, para aumentar o acesso ao tratamento. A validação foi realizada por 7 juízes, que analisaram e validaram o material. Ajustes subsequentes foram feitos para otimizar o protocolo como diretriz clínica para o tratamento do Transtorno de Insônia, propondo um modelo adaptado, novo, que pode ser adequado ao sistema de saúde. Os resultados sugerem que o manual e o protocolo desenvolvidos são podem auxiliar a superar as barreiras de acesso ao tratamento e reduzir os custos associados ao Transtorno de Insônia. O modelo proposto oferece um tratamento conciso, abrangente e baseado em evidências, com potencial para ampliar o acesso a tratamentos de qualidade, baseados em evidências, para os pacientes.
Descritores: Terapia Cognitivo-Comportamental; Protocolos clínicos; Intervenção baseada na Internet
4 -
Validade do Questionário de Confiança Epistêmica, Desconfiança e Credulidade e sua correlação com traços de personalidade e sofrimento psicológico em uma amostra de imigrantes brasileiros que vivem na Alemanha
Pricilla Braga Laskoski; Fernanda D. Queiroz; Pedro Vidor; Caroline Souza; Santiago M. Diefenthaeler; Augusto C. Marcon; Davi Rauffus; Rogério B. Borges; Simone Hauck
Páginas: 35 - 47
A confiança epistêmica, um conceito recentemente enfatizado na teoria da mentalização, é vital para o processamento e a assimilação eficientes do conhecimento compartilhado, o que é particularmente importante para os imigrantes que se esforçam para se adaptar. O Epistemic Trust, Mistrust, and Credulity Questionnaire (ETMCQ) é um instrumento de autorrelato destinado a avaliar esse construto. Este estudo valida a versão em português brasileiro do ETMCQ e explora sua correlação com traços de personalidade e sofrimento psicológico entre 487 imigrantes brasileiros na Alemanha. O ETMCQ demonstrou boa confiabilidade e ajuste na análise fatorial confirmatória. As correlações positivas mais robustas (r>0,20) foram identificadas entre confiança, agradabilidade e extroversão, bem como entre desconfiança/credulidade e neuroticismo/estresse. Por outro lado, foram evidenciadas correlações negativas entre desconfiança, agradabilidade e extroversão, e entre credulidade e conscienciosidade. Além de validar o ETMCQ, esses resultados ressaltam a importância da confiança epistêmica na formação da adaptação dos indivíduos a novos ambientes, destacando sua interação com traços de personalidade e bem-estar mental entre os imigrantes brasileiros na Alemanha.
Descritores: Psicologia cultural; Emigração/imigração; Relações interpessoais; Personalidade; Emigrantes e imigrantes; Mentalização; Confiança epistêmica; Medição/estatística
5 -
Adversidades na infância e o risco de suicídio em pacientes com Transtorno de Personalidade Borderline: um estudo transversal
Darlana Nalrad Teles Leite; Leonardo Pereira Toni; Ygor Daniel Pereira Medeiros; Maria Eduarda Medeiros Lombardi; João Vítor Nóbrega e Mélo Pereira
Páginas: 49 - 60
INTRODUÇÃO: Adversidades na infância associam-se ao desenvolvimento do Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) e possivelmente ao risco aumentado de suicídio. Este estudo tem o objetivo de analisar se a presença de traumas na infância associa-se à ideação e ao comportamento suicida em indivíduos com TPB.
MÉTODO: É um estudo transversal, observacional e descritivo. Foram realizadas entrevistas com pacientes, utilizando o questionário Questionário de Trauma na Infância- Versão Reduzida (CTQ-SF), a subseção de TPB da Entrevista Clínica Estruturada para Transtornos de Personalidade do DSM-5 (SCID-5-PD) e a Escala de Avaliação do Risco de Suicídio de Columbia (C-SSRS). A coleta de dados ocorreu em ambulatórios de psiquiatria nas cidades de João Pessoa e Cabedelo, entre agosto e novembro de 2023.
RESULTADOS: Houve associação entre o escore total CTQ-SF e o comportamento suicida (p=0,04; OR:1,054; IC [1,001-1,110]). Entre as subescalas do CTQ-SF, o abuso emocional sugeriu associação mais significativa com o comportamento suicida (p= 0,01; OR: 1,596; IC [1,113-2,290]).
CONCLUSÃO: Exposição a experiências traumáticas na infância associou-se ao desenvolvimento do comportamento suicida em pacientes com TPB, principalmente o abuso emocional.
Descritores: Transtorno da Personalidade Borderline; Tentativa de suicídio; Experiências adversas da infância
6 -
Validação da Versão Brasileira do Addiction Severity Index 6 Light (ASI-6 Light)
Lidia Reis Fernandes; Fernando Colugnati; Felix Henrique Paim Kessler; Camilla Gonçalves Brito Santos; Juliana Leão Zawacki; Felipe Ornell; Laisa Marcorela Andreoli Sartes
Páginas: 61 - 77
INTRODUÇÃO: Avaliar usuários de substâncias psicoativas é complexo, pois exige a análise de diversos aspectos da vida do usuário afetados pelo consumo, além de avaliar o uso específico de drogas. O Índice de Gravidade de Dependência 6 (ASI-6) é um dos instrumentos de avaliação global mais utilizados, mas apresenta limitações em relação aos resultados de pesquisas.
OBJETIVO: Validar a versão brasileira do Addiction Severity Index 6 Light (ASI-6 Light).
MÉTODOS: Este estudo transversal, quantitativo, envolveu 200 indivíduos que participaram em dois momentos diferentes. Os participantes completaram uma entrevista diagnóstica do DSM-5, o ASI-6 Light e a versão completa do ASI (ASI-6). O estudo avaliou a validade concorrente dos domínios "álcool" e "drogas" do ASI-6 Light, sua confiabilidade e reprodutibilidade, além das correlações entre os escores do ASI-6 Light e do ASI-6.
RESULTADOS: O estudo encontrou boas evidências de validade concorrente para os domínios "álcool" e "drogas" do ASI-6 Light (r = 0,77 para ambos). Os coeficientes de correlação intraclasse (ICC) variaram de 0,73 a 0,98. Correlações moderadas e significativas foram observadas entre os escores do ASI-6 Light e do ASI-6 nos domínios drogas, médico, álcool e legal (r = 0,68, r = 0,64, r = 0,40 e r = 0,40, respectivamente).
CONCLUSÃO: Os resultados indicam que o ASI-6 Light possui boas propriedades psicométricas e pode reduzir vieses no uso do ASI.
Descritores: Estudos de validação; Índice de gravidade de dependência; Confiabilidade; Escalas; Transtorno por uso de substâncias
Artigos de Revisao
7 -
Relação entre Languishing e a pandemia da COVID-19: uma revisão intregativa da literatura
Danilo de Freitas Araújo; Elenkadja Lopes Costa
Páginas: 79 - 95
Languishing costuma ser associado à sensação de apatia, estagnação e vazio. Com a chegada da COVID-19 houve um aumento de queixas na deterioração do bem-estar mental. O objetivo desta revisão integrativa foi caracterizar o languishing e identificar a relação deste fenômeno com a pandemia da COVID-19. Buscaram-se estudos teóricos e empíricos nas bases PUBMED, LILACS, Web of Science, SCOPUS, Embase e PsycInfo produzidos de janeiro de 2020 a agosto de 2022. 16 estudos foram selecionados e incluídos. Os resultados apontam que indivíduos em languishing estão mais suscetíveis a desenvolver transtornos mentais. Repercussões econômicas da pandemia emergiram como fator de risco para o languishing. Em conclusão, entende-se que os níveis de languishing se amplificam em momentos de crises por diversos motivos. A autopercepção de enfrentamento das pessoas as situações vivenciadas definem os níveis de bem-estar mental. Estudos futuros deverão analisar como estas variáveis se relacionam entre si em outros grupos sociais.
Descritores: Languishing; Saúde mental; Bem-estar; COVID-19
8 -
Intervenções psicológicas em crianças com problemas de comportamento externalizante: uma revisão integrativa de literatura
Ana Lúcia de Lima; Maria Alissandra Lopes de Macedo; Normanda Araújo de Morais
Páginas: 97 - 114
Problemas de comportamento na infância são comuns e podem trazer problemas na funcionalidade da criança, adaptação ao meio, assim como em seus relacionamentos familiares e interpessoais. Podem ser classificados em internalizantes (voltados ao próprio sujeito) e externalizantes (quando direcionado para o ambiente e a outras pessoas). Sobre estes últimos, a literatura evidencia menos resultados eficazes de intervenções, principalmente a longo prazo, sendo necessário intervenções precoces com vistas a atenuar tais questões e não se tornar problemas maiores no futuro, como o transtorno de conduta na adolescência e/ou até mesmo o transtorno de personalidade antissocial na vida adulta. Este artigo teve como objetivo realizar uma revisão integrativa de literatura acerca de quais intervenções psicológicas estão sendo utilizadas em crianças com problemas de comportamento externalizante, assim como seus resultados. Foram investigadas as bases de dados PubMed, PePSIC, LILACS, PsycINFO e SciELO, com recorte temporal dos últimos 5 anos (2015 a 2020). De forma geral, verificou-se que as intervenções mais utilizadas nos estudos foi o Programa Coping Power (CPP), O Incredible Years Parent (IYP) e Family Check-Up (FCU), todas com foco na criança e nas relações parentais. A revisão também apontou para resultados mais eficazes a curto prazo e menos a longo prazo, assim como a importância da escola na inclusão dessas intervenções. De forma geral, entende-se que há muitas intervenções voltadas a essa demanda, mas que necessitam de resultados mais promissores a longo prazo, assim como maior auxílio nas relações de parentalidade.
Descritores: Comportamento problema; Criança; Família
9 -
Intervenções grupais com familiares cuidadores enlutados e câncer: revisão integrativa da literatura
Gabriela Borges Carvalho; Tales Vilela Santeiro; Cintia Bragheto Ferreira; Maira Julyê Mota Fernandes
Páginas: 115 - 131
INTRODUÇÃO: O câncer impacta profundamente a saúde física e psicológica dos pacientes e seus familiares, gerando processos de luto e perda. As intervenções grupais têm sido utilizadas como estratégias para apoiar cuidadores familiares nesse contexto. Objetivo: Este estudo teve como objetivo identificar e analisar as intervenções grupais realizadas com cuidadores em situação de luto em decorrência do diagnóstico, tratamento ou morte por câncer.
MÉTODO: Realizou-se uma revisão integrativa da literatura, com base na metodologia PRISMA, utilizando a Plataforma Periódicos CAPES para identificar estudos publicados entre 2010 e 2024. Nove estudos foram incluídos na análise.
RESULTADOS: As pesquisas utilizaram abordagens qualitativas e quantitativas, relataram grupos de apoio, psicoterapêuticos, de psicoeducação e o uso de entrevistas semiestruturadas, revelando que as intervenções grupais são eficientes para reduzir o impacto emocional e físico do luto. Os resultados apontaram melhora significativa na qualidade de vida, redução de sintomas de depressão e ansiedade, além de fortalecimento das estratégias de enfrentamento.
CONCLUSÃO: As intervenções grupais relatadas nos estudos se mostraram viáveis e eficientes na promoção da saúde e na elaboração do luto. Nesse sentido, a implementação de grupos de apoio se converte em estratégia valiosa para complementar os cuidados de saúde, desde o diagnóstico até o luto. Outros estudos de revisão bibliográfica permitiriam ampliar a representação do que se faz e pesquisa nas realidades latino-americanas e brasileira.
Descritores: Neoplasias; Psicoterapia de grupo; Luto; Relações familiares
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