Rev. bras. psicoter. 2014; 16(1):85-103
Pureza JR, Ribeiro AO, Pureza JR, Lisboa CSM. Fundamentos e aplicaçoes da Terapia Cognitivo-Comportamental com crianças e adolescentes. Rev. bras. psicoter. 2014;16(1):85-103
Artigo de Revisao
Fundamentos e aplicaçoes da Terapia Cognitivo-Comportamental com crianças e adolescentes
Fundamentals and Applications of Cognitive-Behavioral Therapy with children and adolescents
Juliana da Rosa Purezaa; Agliani Osório Ribeirob; Janice da Rosa Purezac; Carolina Saraiva de Macedo Lisboad
Resumo
Abstract
INTRODUÇAO
A psicoterapia com crianças é uma área que vem sendo foco de interesse nos últimos anos, especialmente no âmbito de promoçao e prevençao1. De fato, recentemente o tratamento psicológico de crianças e adolescentes tem sido considerado nao apenas como uma medida terapêutica, mas principalmente como uma forma de prevençao de doenças mentais e de promoçao de saúde2. Soma-se também a esses fatos o movimento em defesa e de valorizaçao de diagnósticos precoces na infância visando a tratamentos mais eficazes e prevençao de psicopatologias na vida adulta1.
Uma das abordagens teóricas atuais que tem apresentado propostas terapêuticas no que se refere ao atendimento de crianças e adolescentes é a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). No contexto das psicoterapias, a TCC é uma abordagem teórica que pode ser considerada recente, desenvolvida nos anos 60 por Aaron Beck a partir do pressuposto de que o modo como o paciente processa e interpreta as situaçoes é o que gera o sofrimento3. O objetivo da Terapia Cognitivo-Comportamental é atingir a flexibilidade e ressignificaçao dos modos patológicos de processamento da informaçao, uma vez que se postula que os indivíduos nao sofrem pelos fatos e situaçoes em si, mas pelas interpretaçoes distorcidas e rígidas que fazem dos mesmos4. Já é possível encontrar na literatura evidências científicas de que essa modalidade de tratamento é eficaz para um grande número de patologias psiquiátricas e demandas psicológicas5,6.
Essa abordagem teórica orientada para a clínica foi primordialmente direcionada para o atendimento de adultos, uma vez que algumas das técnicas inicialmente utilizadas requerem certo grau de maturaçao cognitiva4,7. Entretanto, observa-se que, a partir da década de 1980, os trabalhos relacionados à Psicoterapia Cognitivo-Comportamental com crianças e adolescentes começam a crescer e apresentar maior consistência8, o que pode estar relacionado aos modelos construtivistas dentro da abordagem cognitivocomportamental9,10,11, que enfatizam o papel proativo e dinâmico dos indivíduos em suas experiências. Essas abordagens retomam a importância das intervençoes focadas nas emoçoes e do caráter interpessoal de construçao do conhecimento. A chamada terceira onda em Terapia Cognitivo-Comportamental12, que propoe intervençoes que enfocam o papel adaptativo das emoçoes, possibilitou uma ampliaçao de visao e aprimoramento dos tratamentos em TCC com crianças e adolescentes.
Nessa mesma linha de raciocínio, observam-se, no senso comum, algumas crenças equivocadas que sustentam que a abordagem cognitivo-comportamental nao possa embasar a psicoterapia com crianças e adolescentes. Essa dificuldade em vislumbrar a aplicabilidade da TCC na infância acabou gerando diversos "mitos" acerca de sua realizaçao, o que muitas vezes dificulta a divulgaçao e o acesso à psicoterapia infantil e adolescente nessa abordagem teórica e também pode estar relacionado a esta ser uma área que ainda necessita de desenvolvimento e investimento. Os principais mitos sobre a TCC na infância e adolescência podem ser identificados no Quadro 1.
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