Rev. bras. psicoter. 2014; 16(1):68-84
Isolan L. Bullying escolar na infância e adolescência. Rev. bras. psicoter. 2014;16(1):68-84
Artigo de Revisao
Bullying escolar na infância e adolescência
School Bullying in childhood and adolescence
Luciano Isolan
Resumo
Abstract
INTRODUÇAO
A violência é um problema de saúde pública com consequências graves tanto a curto quanto alongo prazo, especialmente em crianças e adolescentes. De particular importância é a ocorrência da violência dentro do contexto escolar. Esse é um problema social preocupante e complexo, sendo, provavelmente, o tipo mais frequente de violência na infância e adolescência1.
Uma das formas de violência dentro do contexto escolar é o bullying. O bullying é uma palavra que tem origem no termo inglês bully, que quer dizer "valentao", "tirano", "brigao", e ainda nao tem uma traduçao adequada para o português. Na literatura científica opta-se por nao traduzir a palavra bullying para o português devido à inexistência de um termo correspondente direto. A adoçao universal do termo bullying foi decorrente da dificuldade de traduzi-lo para diversos idiomas. No Brasil e em muitos países, diversas palavras e expressoes têm sido utilizadas com sentido equivalente ao bullying, tais como zoar, intimidar, humilhar, ameaçar, difamar, provocar, gozar e tantas outras2. Essa forma de violência pode se manifestar também por atos repetitivos de opressao, discriminaçao, intimidaçao, xingamentos, chacotas, tirania, agressao a pessoas ou grupos2.
O bullying é um fenômeno universal tao antigo quanto a própria escola, porém, apesar de sua universalidade e gravidade, apenas recentemente começou a ser estudado de uma forma mais sistemática. O termo bullying foi utilizado pela primeira vez por um dos pioneiros do estudo desse campo, Dan Olweus, da Universidade de Bergen, na Noruega, ao estudar sobre casos de suicídio entre jovens, no início da década de 1980. Esse autor concluiu que a maior parte desses adolescentes havia sofrido algum tipo de ameaça ou exclusao no contexto escolar3 e desenvolveu um extenso estudo sobre bullying na Noruega. O estudo foi seguido pelo desenvolvimento de uma campanha anti-bullying que abrangeu todo o país e que teve uma repercussao muito grande3. Esse pesquisador, após analisar dados de 84 mil estudantes, evidenciou que um em cada sete estudantes estava envolvido em casos de bullying. Esse fato gerou uma campanha nacional, com o apoio do governo norueguês, que reduziu em torno de 50% o bullying nas escolas. Tais medidas tiveram muita repercussao e foram consideradas como tendo muito sucesso, desencadeando outros estudos e campanhas semelhantes em outros países. Inicialmente, em especial no início da década de 1990, países europeus como Finlândia, Inglaterra, Irlanda e, posteriormente, diversos outros países do mundo também passaram a estudar e a desenvolver medidas e diretrizes de prevençao ao bullying4. Ao mesmo tempo, uma linha de pesquisa paralela também estava sendo desenvolvida no Japao. A palavra ijime, em japonês, seria equivalente à palavra inglesa bullying. Durante a década de 1980, várias pesquisas no Japao foram realizadas em relaçao ao ijime, e os pesquisadores japoneses acreditavam tratar-se de um fenômeno unicamente local4. Após um período em que houve uma diminuiçao das pesquisas, devido a relatos de professores que evidenciavam diminuiçao dos casos de ijime, uma onda de suicídios associados ao bullying no período de 1993 a 1995 fez com que as pesquisas ressurgissem e continuassem até os dias de hoje4.
Nos Estados Unidos, há diversas situaçoes de extrema violência praticadas por estudantes nos quais há fortes indícios de envolvimento com bullying. O caso mais tradicionalmente relatado ocorreu em 1999, quando dois adolescentes foram responsáveis por um grande massacre no Instituto Columbine, no Estado do Colorado. Eles assassinaram a tiros 13 pessoas, deixando cerca de 20 feridos, e logo em seguida cometeram suicídio. Há relatos de que ambos os adolescentes vinham constantemente sendo vítimas de bullying há muito tempo na escola. Outro episódio, nos Estados Unidos, que causou bastante alarde e comoçao, ocorreu em 2007 no Instituto Politécnico da Virgínia, quando um jovem promoveu um novo massacre assassinando 32 pessoas e deixando 23 feridos e, em seguida, cometendo suicídio. O autor do massacre, um estudante sul-coreano, relatou em detalhes em um manifesto enviado a uma rede televisiva as práticas de bullying a que vinha sendo submetido. No Brasil, para citar apenas alguns exemplos, em 2003, em Taiúva, no Estado de Sao Paulo, um ex-estudante de 18 anos invadiu a escola onde estudou portando uma arma. Esse jovem feriu oito pessoas e cometeu suicídio. Foi apurado que essa situaçao teria ocorrido em funçao dos repetidos maus-tratos que sofrera de colegas quando estudava naquela escola. Outra situaçao similar ocorreu em Remanso, em 2004, na Bahia, quando um aluno de 17 anos matou um colega e a professora de quem nao gostava em funçao do bullying frequente que vinha sofrendo.
Apesar de haver uma grande quantidade de estudos sobre bullying ao redor do mundo e da gravidade da situaçao, no Brasil os estudos com bullying sao recentes e começaram a surgir principalmente a partir do ano 20001,5.
A Associaçao Brasileira Multiprofissional de Proteçao à Infância e Adolescência (ABRAPIA) desenvolveu, entre 2002 e 2003, o "Programa de Reduçao de Comportamento Agressivo entre Estudantes"6. O objetivo desse programa foi avaliar a prevalência e as características associadas ao bullying escolar em 11 escolas públicas e particulares no Rio de Janeiro e ensinar e debater com os professores, pais e alunos formas de prevençao ao bullying6.
Outra iniciativa brasileira que cabe ressaltar é o "Programa Educar para a Paz", que tem como objetivos o diagnóstico do bullying e a aplicaçao de estratégias e técnicas psicopedagógicas de intervençao preventiva. Esse programa está baseado em referenciais teóricos tais como os valores humanos de cooperaçao, solidariedade, tolerância e respeito às diferenças5.
Mais recentemente, uma organizaçao nao governamental de origem inglesa presente em vários países do mundo, a PLAN Brasil, em conjunto com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), desenvolveu a pesquisa "Bullying no Ambiente Escolar". Esse estudo de abrangência nacional permitiu conhecer as situaçoes de violência entre pares e de bullying em escolas brasileiras nas cinco regioes do país7. Faz parte desse projeto o "Programa Educar para a Paz", em oito escolas municipais no Estado do Maranhao, como uma das açoes da campanha global "Aprender sem Medo", que visa erradicar a violência nas escolas e assegurar condiçoes para que as crianças possam estudar com segurança e ter uma aprendizagem de qualidade, sem medo e sem serem ameaçadas com a violência escolar. Essa campanha pretende promover açoes nacionais e locais para estimular a mudança de comportamento da sociedade em relaçao à violência nas escolas, especialmente o bullying.
DEFINIÇAO
Apesar das várias definiçoes, o bullying escolar pode ser definido como uma forma de violência na qual um estudante é sistematicamente exposto a um conjunto de atos agressivos, que ocorrem sem motivaçao aparente, mas de forma intencional, protagonizado por um ou mais estudantes, causando dor e sofrimento, e dentro de uma relaçao desigual de poder8,9,10. Essa relaçao desigual de poder pode ser em funçao da diferença de idade, tamanho, popularidade, desenvolvimento físico ou emocional ou do maior apoio dos demais estudantes1.
O bullying pode ser classificado como direto, quando as vítimas sao atacadas diretamente, ou indireto, quando as vítimas estao ausentes. Sao considerados bullying direto os apelidos, agressoes físicas, ameaças, roubos, ofensas verbais ou expressoes e gestos que possam gerar mal-estar entre as vítimas1,11. Exemplos de bullying indireto compreendem atitudes de indiferença, difamaçao, exclusao e isolamento. De uma forma geral, meninos estao mais envolvidos em bullying direto e meninas mais envolvidas em bullying indireto12,13,14. O bullying indireto é de mais difícil identificaçao do que o bullying direto. Essa forma de violência no âmbito escolar costuma ocorrer mais frequentemente em locais nos quais nao há a supervisao de um adulto, como nos pátios durante o recreio e nos corredores da escola15.
O cyberbullying é uma nova forma de manifestaçao do bullying e vem se tornando cada vez mais frequente devido ao aumento no uso de celulares e da internet por crianças e adolescentes. O cyberbullying envolve o uso da informaçao e da comunicaçao tecnológica para exercer comportamentos deliberados, repetidos e hostis por um indivíduo ou grupo, com a intençao de prejudicar os outros13,16,17. Essa forma de agressao virtual pode ocorrer via internet, através de e-mails, chats e redes sociais, ou via telefones celulares, através de torpedos, ligaçoes, vídeos e fotos digitais16,17. É um meio de violência que rapidamente se dissemina através dos meios eletrônicos/digitais, alçando um número muito grande de pessoas. Além disso, o anonimato que a internet possibilita encoraja os agressores, já que eles se sentem protegidos das consequências de seus atos.
Pelo menos três categorias de indivíduos que estao diretamente envolvidos no bullying podem ser identificadas: os agressores, as vítimas e os agressores-vítimas18,19,20. Essas três categorias apresentam diferentes perfis psicossociais21.
Os agressores sao os indivíduos que agem de forma agressiva contra um colega que é supostamente mais fraco, com a intençao de machucar, intimidar ou causar sofrimento sem ter havido provocaçao por parte da vítima. Os agressores tendem a ver seu comportamento como uma qualidade, tem opinioes positivas sobre si mesmo e geralmente sao bem aceitos pelos colegas. Sao agressivos, inclusive com adultos, e costumam apresentar problemas de conduta. Sentem prazer e satisfaçao em dominar, controlar e causar dano aos outros e, geralmente, sao mais fortes que suas vítimas1. Os agressores em geral sao populares, temidos e respeitados e, por vezes, até admirados pelos colegas. Muitas vezes possuem um grupo de seguidores que atuam como auxiliares em suas agressoes ou que sao estimulados a agredir a vítima. Dessa forma, o agressor divide a sua responsabilidade com todos ou a transfere para seus seguidores, os quais raramente tomam a iniciativa da agressao. Esse grupo é constituído por indivíduos que sao inseguros e se subordinam à liderança do agressor para se protegerem ou pelo prazer de pertencer ao grupo do agressor1.
As vítimas sao os indivíduos que sofrem o bullying de forma repetida e durante algum tempo. Em geral, nao dispoem de recursos, popularidade ou habilidades sociais para reagir ou cessar as agressoes. Apresentam baixa autoestima, a qual é agravada pelas críticas dos adultos sobre sua vida ou comportamento, dificultando a possibilidade de ajuda. Esses indivíduos costumam ter poucos amigos, ser retraídos e muitas vezes ainda podem acreditar que sao merecedores das agressoes sofridas1,22. Algumas características físicas, comportamentais ou emocionais podem tornar o indivíduo mais vulnerável à vitimizaçao e dificultar o seu relacionamento com o grupo de colegas21. Porém, é provável que os agressores escolham e utilizem possíveis diferenças como motivaçao para as agressoes, sem que elas sejam, efetivamente, as causadoras da agressao1, 23, 24.
Os agressores-vítimas sao aqueles que ora sofrem e ora praticam o bullying, mudando de papel de acordo com o momento e o contexto em que estao inseridos. Esse grupo de indivíduos partilha ambas as características dos agressores e das vítimas e se constitui no grupo com os maiores prejuízos12. Podem ser depressivos, inseguros e inoportunos, procurando humilhar os colegas para encobrir possíveis limitaçoes1. Dentre os indivíduos envolvidos no bullying, os agressores-vítimas costumam apresentar os mais altos níveis de impulsividade, hiperatividade e desregulaçao emocional25. Além disso, diferenciam-se das vítimas típicas por serem os mais impopulares e terem os mais altos índices de rejeiçao entre colegas25.
Os envolvidos no cyberbullying costumam apresentar algumas peculiaridades em determinadas características. Os agressores virtuais nao sao necessariamente mais fortes do que suas vítimas. Eles sao normalmente anônimos e nao podem perceber o sofrimento e a humilhaçao que causam26. A maioria dos agressores virtuais conhece as suas vítimas, porém menos de um terço das vítimas virtuais conhece os seus agressores. As vítimas virtuais normalmente nao relatam aos seus pais a ocorrência dessa forma de agressao por temerem perder o acesso aos seus próprios meios eletrônicos/digitais26.
Cabe salientar que a maior parte dos alunos nao se envolve diretamente no bullying. Geralmente, a grande maioria dos alunos se cala por medo de ser a próxima vítima, por nao saber como agir ou por nao acreditar nas atitudes da escola em relaçao ao bullying. Os agressores podem interpretar esse clima de passividade como afirmaçao do seu poder, o que ajuda a acobertar e estimular a prevalência desses atos, transmitindo uma aparente tranquilidade para os adultos e para a escola1,27.
ASPECTOS EPIDEMIOLOGICOS
Vários estudos em diversos países têm investigado as prevalências de bullying, as quais apresentam uma grande variabilidade dependendo da definiçao utilizada para bullying, do critério de frequência utilizado para caracterizar o bullying, das fontes de informaçao, do sexo e da faixa etária da amostra e do país ou cultura onde o estudo foi realizado13,28.
Um estudo nos Estados Unidos que analisou dados de uma amostra representativa da populaçao com 15.686 estudantes da 6ª à 10ª série verificou que 29,9% dessa populaçao apresentava envolvimento moderado a frequente com bullying. Desses, 13% eram agressores, 10,6% eram vítimas e 6,3% eram agressores-vítimas9.
Craig et al.29 realizaram um estudo com 40 países, incluindo vários países europeus, Estados Unidos, Canadá e Israel, que avaliou a prevalência de bullying e vitimizaçao em 202.056 meninos e meninas entre 11 e 15 anos. Esse estudo demonstrou que a prevalência do envolvimento em bullying como agressor, vítima ou agressor-vítima variou de 8,6% na Suécia a 45,2% na Lituânia. Da amostra total, 10,7% eram agressores, 12,6% eram vítimas e 3,6% eram agressores-vítimas.
Na Coreia do Sul, um estudo com 1.756 estudantes verificou que 40% da amostra apresentava envolvimento com bullying como vítima (14%), agressor (17%) ou agressor-vítima (9%)30. Os subtipos mais comuns de vitimizaçao foram: exclusao (24%), abuso verbal (22%), coerçao (20%) e abuso físico (16%). Nesse estudo, meninos foram mais envolvidos em bullying do que meninas e as prevalências de bullying foram maiores em estudantes com baixa ou alta renda e provenientes de famílias com pais separados.
Analitis et al.31 avaliaram a prevalência de vitimizaçao em 16.210 crianças e adolescentes em 11 países europeus. Esse estudo encontrou uma prevalência média de 20,6% para vitimizaçao que variou de 10,5% na Hungria até 29,6% no Reino Unido. A idade mais precoce, o baixo nível de educaçao dos pais, a obesidade ou sobrepeso, os problemas psiquiátricos e o pobre suporte social foram todos fatores associados a taxas mais altas de vitimizaçao. Os autores do estudo concluíram que, apesar da grande variabilidade nas prevalências, observou-se uma considerável similaridade nos fatores associados à vitimizaçao entre os países envolvidos no estudo.
Um estudo que analisou a prevalência de vitimizaçao em 104.614 estudantes em 19 países com baixa ou média renda verificou que 34,2% haviam sofrido bullying pelo menos 1 dia no último mês28. Destes, 5,5% tinham sofrido bullying entre 10-19 dias; 2,9%, entre 20 e 29 dias; e 7,9%, todos os dias no último mês. A prevalência de vitimizaçao variou de 7,8% no Tajiquistao a 60% na Zâmbia.
Geralmente, as prevalências de bullying diminuem com a idade, observando-se tipicamente crianças mais novas sendo mais frequentemente vitimizadas por crianças mais velhas10. Estudos também sugerem que há um aumento nas prevalências de bullying na transiçao entre o ensino fundamental e o ensino médio, o que poderia ser compreendido, entre outros fatores, como devido a mudanças na hierarquia social escolar32. Quanto às diferenças em relaçao ao gênero, meninos costumam estar mais envolvidos com bullying de uma forma geral e meninas tendem a utilizar mais métodos indiretos de bullying,como isolamento, exclusao e falsos boatos33,34.
No Brasil, como um dos trabalhos pioneiros, podemos citar a pesquisa desenvolvida com cerca de 2.000 alunos em Sao José do Rio Preto, Sao Paulo, que evidenciou que 49% dos estudantes estavam envolvidos com a prática de bullying, sendo 22% como vítimas, 15% como agressores e 12% como agressores-vítimas5.
A ABRAPIA realizou uma pesquisa no período de 2002/2003 com 5.482 alunos da 5ª à 8ª série do ensino fundamental em 11 escolas da cidade do Rio de Janeiro e verificou que 40,5% dos alunos admitiram envolvimento em atos de bullying, sendo 16,9% como alvos, 12,7% como autores e 11,9% como alvos e autores6.
A PLAN Brasil desenvolveu uma pesquisa com 5.168 estudantes de escolas públicas e privadas, da 5ª à 8ª série, na qual foram selecionadas cincos escolas de cada uma das cinco regioes geográficas do país. Esse estudo demonstrou que o bullying, caracterizado como prática de maus-tratos entre colegas de escola, repetidos com frequência superior a três vezes durante o ano letivo, foi praticado e sofrido por cerca de 10% do total de alunos, sendo mais comum nas regioes Sudeste e Centro-Oeste do país. Essa pesquisa também demonstrou que, em relaçao ao cyberbullying, 16,8% sao vítimas, 17,7% sao agressores e apenas 3,5% sao agressores-vítimas. O envio de e-mails maldosos foi o tipo de agressao virtual mais comum tanto em meninos quanto em meninas7.
Um estudo transversal realizado entre estudantes da 9ª série do ensino fundamental, em escolas públicas e privadas, avaliou a prevalência de ser vítima de bullying em 69.973 escolares de 1.453 escolas públicas e privadas em 26 capitais dos Estados brasileiros e do Distrito Federal2. Esse estudo verificou que 5,4% dos estudantes relataram ter sofrido bullying sempre ou quase sempre nos últimos 30 dias. A capital com maior frequência de bullying foi Belo Horizonte (6,9%), e a com menor frequência foi Palmas (3,5%). Porto Alegre apresentou uma prevalência de 4,7%. De uma forma geral, meninos sofreram mais bullying em relaçao às meninas e nao houve diferenças significativas entre as escolas públicas e privadas, nem em relaçao à cor/raça ou escolaridade materna.
Um estudo transversal aninhado a uma coorte em Pelotas, no Rio Grande do Sul, com 1.075 estudantes da 1ª à 8ª série, verificou que 17,6% dos alunos sofreram pelo menos dois episódios de bullying no último mês35. A maioria das agressoes ocorreu no pátio da escola (55,1%), sendo que 75,1% foram verbais, 62,4% físicas, 23,8% emocionais, 6,3% racistas e 1,1% sexuais. Entre as vítimas, 47,1% revelaram já ter provocado bullying na escola. Após ajuste para possíveis fatores de confusao, ter sofrido bullying se manteve associado com o sexo masculino, com hiperatividade e com problemas de relacionamento.
Um recente estudo que avaliou 2.352 estudantes, entre 9 e 18 anos, em seis escolas de Porto Alegre, verificou que 22,9% das crianças e adolescentes apresentavam envolvimento frequente, isto é, mais de uma vez por semana, com bullying, seja no papel de agressor (7,6%), vítima (5,7%) ou agressor-vítima (9,6%)36. Nesse estudo, os meninos apresentavam maior envolvimento com bullying como agressor ou agressor-vítima do que as meninas e nao houve diferenças significativas quanto ao sexo no que diz respeito à vitimizaçao. Em relaçao à faixa etária, o grupo das crianças apresentava maior envolvimento com bullying como vítimas e como agressores-vítimas em comparaçao com o grupo de adolescentes, o qual apresentava maior envolvimento com bullying no papel de agressores.
Cabe salientar que a grande variabilidade dos dados epidemiológicos, tanto no Brasil como em outros países, acaba limitando a comparaçao entre os resultados dos diferentes estudos. De qualquer forma, a grande maioria dos estudos relata que o envolvimento com bullying escolar é um fenômeno bastante comum na infância e adolescência. O bullying está presente tanto em escolas públicas quanto privadas e resulta em uma série de prejuízos tanto para os estudantes e seus familiares quanto para as escolas e seus profissionais e para a sociedade como um todo.
BULLYING E ASSOCIAÇAO COM PSICOPATOLOGIA
Por muito tempo o bullying foi considerado uma ocorrência normal e esperada na interaçao entre os estudantes, nao estando associado a prejuízos nos indivíduos envolvidos nessa prática. Porém, pesquisas têm demonstrado o contrário e evidenciam uma ampla gama de prejuízos e uma alta prevalência de problemas psiquiátricos associados ao bullying9,12.
Dentre os envolvidos com o bullying, os grupos das vítimas, dos agressores e dos agressores-vítimas estao todos associados à psicopatologia37,38. Porém, de uma forma geral, tais grupos apresentam diferentes perfis de sintomas e transtornos psiquiátricos entre si39.
O grupo das vítimas está principalmente associado a problemas internalizantes, tais como: sintomas psicossomáticos40,41, ansiedade e depressao38,42,43,44, comportamento suicida42,45,46,47, baixa autoestima e solidao9,38 e isolamento social48. Porém, uma incidência mais alta de comportamentos relacionados à violência também tem sido associada à vitimizaçao49,50. Além disso, vítimas de bullying apresentam um risco maior para o desenvolvimento de sintomas psicóticos do que indivíduos nao envolvidos com bullying51,52,53.
O grupo dos agressores está mais associado a apresentar alteraçoes de conduta relacionadas à agressividade54,55,56e ao comportamento antissocial57, sintomas de desatençao e hiperatividade58,59,60, falta de autocontrole e empatia61,62 e dependência/abuso de substâncias63,64,65,66. Além dos problemas externalizantes, esse grupo também pode apresentar um risco aumentado para problemas internalizantes, tais como ansiedade, depressao e comportamento suicida45.
Dentre os grupos envolvidos no bullying, o grupo dos agressores-vítimas parece apresentar o maior risco para problemas psiquiátricos. Esse grupo apresenta a maior intensidade de problemas de ajustamento entre todos os envolvidos com o bullying, apresentando tanto problemas internalizantes quanto externalizantes12,43,63,67. Além do mais, agressores-vítimas apresentam uma probabilidade mais alta de serem encaminhados para consultas psiquiátricas60 e de terem utilizado serviços de saúde mental alguma vez ao longo da vida68.
De particular importância é a relaçao entre bullying e ansiedade, já que os transtornos de ansiedade estao entre os diagnósticos mais frequentes na infância e adolescência e estao associados com o desenvolvimento de psicopatologia na vida adulta69,70. Estudos prévios têm demonstrado a associaçao entre ansiedade e transtornos de ansiedade com bullying, principalmente no grupo das vítimas e no grupo dos agressores-vítimas, os quais costumam apresentar taxas mais elevadas de sintomas e transtornos psiquiátricos em comparaçao aos nao envolvidos com bullying50,71,72,73,74,75. Achados em relaçao ao grupo dos agressores e ansiedade sao menos consistentes. Embora alguns estudos nao demonstrem uma associaçao entre envolvimento no bullying como agressor com sintomas e transtornos de ansiedade50,67,73, outros estudos têm demonstrado que agressores, e nao apenas vítimas, apresentam taxas mais elevadas de ansiedade64,76. Algumas pesquisas evidenciam que o grupo dos agressores-vítimas, entre os grupos envolvidos no bullying, está associado ao maior risco de apresentar ansiedade50,64. Um estudo brasileiro, que avaliou a relaçao entre ansiedade e bullying, verificou que vítimas e agressores-vítimas apresentavam taxas mais elevadas de sintomas de ansiedade em relaçao ao grupo de agressores e ao grupo de nao envolvidos com bullying, os quais nao apresentavam diferenças entre si36.
PREVENÇAO E MANEJO DO BULLYING
Os programas anti-bullying devem ser planejados e estruturados para compreenderem as escolas como sistemas dinâmicos e complexos levando em conta as características sociais, econômicas e culturais de cada escola. A escola deve ser encorajada a traçar um panorama do bullying no seu ambiente para determinar a prevalência e a gravidade do problema. O envolvimento de professores, funcionários, pais e alunos é fundamental para a implementaçao de projetos anti-bullying. A participaçao de todos os envolvidos é crucial para o estabelecimento de regras, diretrizes e açoes uniformes e coerentes. Tais medidas devem priorizar a conscientizaçao geral dessa forma de violência, bem como o apoio às vítimas de bullying, fazendo com que se sintam compreendidas e protegidas. Além disso, a conscientizaçao e a utilizaçao de medidas educativas dos agressores sobre a natureza de suas açoes e a garantia de um ambiente seguro também devem ser prioridades1.
Um dos programas mais bem conceituados é o "Programa de Prevençao ao Bullying", que foi desenvolvido por Dan Olweus77. Nessa abordagem, o foco é baseado na escola inteira, e nao apenas nos envolvidos diretamente no bullying, como os agressores ou as vítimas. Parte-se da premissa de que o bullying é um problema sistêmico, que ocorre em contextos variados, abrangendo alunos, professores, pais, a escola e a comunidade como um todo. Essa intervençao contém múltiplas estratégias que envolvem uma participaçao ativa do diretor da escola durante todo o processo de intervençao e uma abordagem multifacetada e compreensiva do bullying. Essa abordagem deve instituir medidas tais como: (1) uma política abrangente e clara para a escola combater o bullying nas suas mais diversas formas; (2) fornecimento de treinamento básico para os professores, funcionários e alunos sobre as atitudes específicas a serem tomadas quando da ocorrência de episódios de bullying; (3) educaçao e envolvimento dos pais para que possam compreender o problema, reconhecer os sinais e intervir adequadamente; (4) adaptaçao de estratégias específicas para lidar com os agressores e com as vítimas, envolvendo a inclusao dos pais; (5) encorajamento dos alunos para denunciarem colegas agressores para apoiarem colegas vítimas de bullying; (6) utilizaçao de medidas que aumentem a supervisao pelos adultos, que podem incluir a presença física mais constante por parte de um adulto ou através de monitorizaçao por equipamentos eletrônicos; (7) realizaçao de estudos pré e pós-intervençao visando confirmar o impacto que as estratégias anti-bullying tiveram na escola.
Avaliaçoes iniciais demonstraram que o "Programa de Prevençao ao Bullying" de Olweus esteve associado com reduçoes significativas do bullying escolar4. A vitimizaçao diminuiu de 10% para 3,6% e a ocorrência de praticar bullying diminuiu de 7,6% para 3,6%77. Um seguimento de 5 anos dessa intervençao na Noruega demonstrou que essas taxas de melhora se mantiveram estáveis ao longo desse período. A utilizaçao desse programa anti-bullying em outros países apresentou resultados eficazes, porém inferiores ao estudo original, o que pode ser decorrente de modificaçoes do protocolo original.
Uma recente metanálise que avaliou 44 diferentes programas anti-bullying demonstrou que geralmente esses programas sao eficazes, com diminuiçao nas taxas de bullying ao redor de 20-25% e nas taxas de vitimizaçao ao redor de 17-20%78. Esses autores identificaram elementos específicos dentre os estudos que seriam associados à diminuiçao do bullying escolar. Programas baseados no "Programa de Prevençao ao Bullying" de Olweus, mais intensos e com duraçao mais longa, e encontros com os pais estiveram associados a uma maior eficácia. Dentre os componentes específicos de cada programa associados a uma maior eficácia destacaram-se treinamento e reunioes com pais e professores, métodos disciplinares rígidos, uso de materiais audiovisuais, maior supervisao nos recreios, regras escolares claras e palestras e conferências sobre violência escolar.
As políticas de tolerância zero utilizadas isoladamente sao ineficazes na reduçao do bullying. Essas políticas resultam em taxas mais elevadas de suspensao e expulsao escolar, mas nao estao associadas com um aumento consistente da disciplina escolar. A suspensao está associada a uma maior probabilidade de novas suspensoes e expulsao e em um aumento de comportamentos desviantes. Os estudantes costumam ver as suspensoes e as expulsoes como ineficazes, e estudos avaliando políticas de tolerância zero mostraram-se inconclusivos. Nao há evidências de que essa forma de estratégia, como atualmente empregada, melhore as taxas de violência escolar15.
Uma abordagem que vem demonstrando resultados promissores no tratamento do bullying é uma forma de psicoterapia psicanalítica chamada de terapia da mentalizaçao79. Essa abordagem psicoterápica tem como foco o desenvolvimento da capacidade de mentalizaçao, a qual é uma atividade mental predominantemente pré-consciente que capacita o indivíduo a compreender e interpretar a si mesmo e ao outro em termos de estados subjetivos e de processos mentais. Essa capacidade estaria vinculada a experiências precoces de ter sido adequadamente compreendido dentro de um contexto de uma relaçao de apego primitiva. Essa terapia tem o potencial de recriar uma matriz de apego na qual a mentalizaçao poderá ocorrer.
Conforme assinala Bassols80, segundo essa teoria, as crianças e os adolescentes violentos foram criados em famílias na quais houve uma falha na capacidade dos pais ou dos cuidadores de reconhecer o filho como um indivíduo, pois, para desenvolver-se adequadamente, o bebê necessitaria experimentar a existência da mente da mae pensando/imaginando sobre a mente do bebê separado. Em vez disso, a criança tornou-se mais uma peça no conflito familiar, nao sendo capaz, portanto, de reconhecer o outro ou a si mesma como alguém pensante, merecedor de atençao, com um funcionamento psíquico adequado. A incapacidade de mentalizar pode prejudicar o desenvolvimento da identidade e o sentimento de responsabilidade por suas próprias açoes, interferindo na percepçao das consequências de suas açoes.
Baseado nessa premissas, criou-se um programa anti-bullyingno qual um dos objetivos é aprimorar a capacidade de mentalizaçao de todos os membros da comunidade escolar81. Um estudo piloto realizado em uma escola, ao longo de 4 anos, avaliou a eficácia desse programa e comparou com uma escola controle que nao recebeu a intervençao. Os pressupostos dessa abordagem incluem que os agressores, as vítimas e as testemunhas sejam abordados simultaneamente sem a atribuiçao de patologia a nenhum indivíduo. Ao final do estudo, observou-se uma melhora no desempenho acadêmico e uma reduçao das suspensoes e de outras infraçoes disciplinares graves. Os professores relataram que muitas crianças previamente consideradas passivas e vítimas frequentes de agressoes tornaram-se mais verbais e expressivas ao longo do programa. Também foi relatada uma maior capacidade de reflexao por parte dos alunos, que tornaramse menos reativos e desenvolveram uma gama maior de respostas que nao incluía bullying, coerçao ou retraimento ansioso-depressivo81.
CONSIDERAÇOES FINAIS
O bullying é uma condiçao altamente prevalente e está associado com importantes prejuízos a curto e alongo prazo na saúde física e mental em crianças e adolescentes. A associaçao do bullying com psicopatologia está presente em todos os envolvidos com essa prática, seja como vítimas, agressores ou como agressores-vítimas. Essa associaçao assume uma via bidirecional na qual tanto a psicopatologia de base pode levar o indivíduo a se envolver com o bullying quanto o contrário, ou seja, o envolvimento com bullying, por exemplo, o fato de ser vítima de bullying, desencadear o desenvolvimento de transtornos/sintomas psiquiátricos.
A escola tem um papel fundamental no desenvolvimento das crianças e adolescentes. Quando o bullying é detectado, tanto os profissionais da educaçao quanto os profissionais da saúde mental devem estar cientes de que o envolvimento com bullying é um forte indicador de psicopatologia e que açoes adequadas deveriam ser implementadas no intuito de prevenir e identificar o bullying nas escolas e de se ter um plano de açao voltado para os envolvidos e seus familiares. Pais e profissionais de saúde deveriam incentivar o desenvolvimento de intervençoes anti-bullying e de prevençao de violência nas escolas, que deveriam iniciar nos primeiros anos da educaçao fundamental e persistir ao longo do currículo escolar. O envolvimento dos professores, funcionários, alunos e pais é fundamental para a realizaçao de projetos de reduçao de bullying.
A reduçao da prevalência de bullying nas escolas pode ser uma medida de saúde pública altamente efetiva para o século XXI e trazer um impacto positivo na reduçao dos problemas relacionados à saúde mental em crianças e adolescentes. A sua prevalência e gravidade devem servir de estímulo para os pesquisadores continuarem a investigar os riscos e os fatores de proteçao associados com a iniciaçao, manutençao e interrupçao desse tipo de comportamento agressivo. Os conhecimentos adquiridos com os estudos devem ser utilizados como fundamentaçao para orientar e direcionar a formulaçao de políticas públicas e para delinear as técnicas multidisciplinares de intervençao que possam reduzir esse problema de forma eficaz. Cabe lembrar, também, que é imprescindível a prática da tolerância, do respeito e da solidariedade nas relaçoes entre os adultos para que as crianças e os adolescentes possam introjetar valores morais e éticos capazes de formar uma geraçao de indivíduos mais comprometidos consigo mesmos, com os outros e com a sociedade em geral.
REFERENCIAS
1. Lopes Neto AA. Bullying - comportamento agressivo entre estudantes. J Pediatr (Rio J). 2005;81 Suppl 5:S164-72.
2. Malta DC, Silva MA, Mello FC, Monteiro RA, Sardinha LM, Crespo C, et al. Bullying in Brazilian schools: results from the National School-based Health Survey (PeNSE), 2009. CienSaude Colet. 2010;15:3065-76.
3. Olweus D. Bullying in school: what we know and what we can do. Oxford: Blackwell; 1993.
4. Smith PK, Brain P. Bullying in schools: lessons from two decades of research. AgressBehav. 2000;26;1-9.
5. Fante C. Fenômeno bullying: como prevenir a violência escolar e educar para a paz. Sao Paulo: Verus; 2005.
6. Lopes Neto AA, Saavedra LH. Diga nao para o bullying: programa de reduçao do comportamento agressivo entre estudantes. Rio De Janeiro: ABRAPIA; 2003.
7. Plan Brasil. Pesquisa: Bullying no ambiente escolar. Brasil. 2009. Disponível em:http://www.aprendersemmedo.org.br/. Acessado: jan. 2014.
8. Liu J, Graves N. Childhood bullying: a review of constructs, concepts, and nursing implications. Public Health Nurs. 2011;28:556-68.
9. Nansel TR, Overpeck M, Pilla RS, Ruan WJ, Simons-Morton B, Scheidt P. Bullying behaviors among US youth: prevalence and association with psychosocial adjustment. JAMA. 2001;285:2094-00.
10. Olweus D. Bullying at school: basic facts and effects of school based intervention program. J Child Psychol Psychiatry. 1994;35:1171-90.
11. Lamb J, Pepler DJ, Craig W. Approach to bullying and victimization. Can Fam Physician. 2009;55:356-60.
12. Arseneault L, Bowes L, Shakoor S. Bullying victimization in youths and mental health problems: 'much ado about nothing'? Psychol Med. 2010;40:717-29.
13. Griffin RS, Gross AM. Childhood bullying: current empirical findings and future directions for research. Agress Violent Behav. 2004;9:379-400.
14. Scheithauer H, Hayer T, Petermann F, Jugert G. Physical, verbal, and relational forms of bullying among German students: age trends, gender differences, and correlates. Aggress Behav. 2006;32:261-75.
15. Shetgiri R. Bullying and victimization among children. Advances in Pediatrics. 2013;60:33-51.
16. Lisboa C, Braga LL, Ebert G. O fenômeno bullying ou vitimizaçao entre pares na atualidade: definiçoes, formas de manifestaçao e possibilidades de intervençao. ContextosClínic. 2009;2:59-71.
17. Willians SG, Godfrey AJ. What is cyberbullying & how can psychiatric-mental health nurses recognize it? J PsychosocNursMent Health Serv. 2011;49:36-41.
18. Austin S, Joseph S. Assessment of bully/victims problems in 8 to 11 years-old's. Br J Educ Psychol. 1996;66:447-56.
19. Bowers L, Smith PK, Binney V. Perceived family relationships of bullies, victims and bully/victims in middle childhood. J SocPersRelat. 1994;11:215-32.
20. Wolke D, Woods S, Bloomfield L, Karstadt L. The association between direct and relational bullying and behavior problems among primary school children. J Child Psychol Psychiatry. 2000;41:989-1002.
21. Georgiou SN, Stavrinides P. Bullies, victims and bully-victims: psychosocial profiles and attribution styles. SchPsychol Int. 2008;29:574-89.
22. Smith PK, Talamelli L, Cowie H, Naylor P, Chauhan P. Profiles of non-victims, escaped victims, continuing victims and new victims of school bullying. Br J Educ Psychol. 2004;74:565-81.
23. Eslea M, Rees J. At what age are children most likely to be bullied at school? Aggress Behav. 2001;27:419-29.
24. Salmivalli C, Karhunen J, Lagerspetz KMJ. How do the victims respond to bullying? AgressBehav. 1998;22:99-109.
25. Tlobin RL, Schwartz D, Gorman AH, Abou-ezzeddine T. Social-cognitive and behavioral attributes of aggressive victims of bullying. Appl Dev Psychol. 2005;26:329-46.
26. Kiriakidis SP, Kavoura A. Cyberbullying: a review of the literature on harassment through the internet and others electronic means. Fam Community Health. 2010;339(2):82-93.
27. Berger KS. Update on bullying at school. Science forgotten? Dev Rev. 2007;27-90-126.
28. Fleming LC, Jacobsen KH. Bullying among middle-school students in low and middle income countries. Health Promot Int. 2010;25:73-84.
29. Craig W, Harel-Fisch Y, Fogel-Grinvald H, Dostaler S, Hetland J, Simons-Morton B, et al. A cross-national profile of bullying and victimization among adolescents in 40 countries. Int J Public Health. 2009;54:216-24.
30. Kim YS, Koh YJ, Leventhal BL. Prevalence of school bullying in Korean middle school students. Arch PediatrAdolesc Med. 2004;158:737-41.
31. Analitis F, Velderman MK, Ravens-Sieber U, Detmar S, Erhart M, Herdman M, et al. Being bullied: associated factors in children and adolescents 8 to 18 years in 11 European countries. Pediatrics. 2009;123:569-77.
32. Pellegrini AD, Long J. A longitudinal study of bullying, dominance, and victimization during the transition from primary to secondary school. Br J Dev Psychol. 2002;20:259-80.
33. Bjorkqvist K, Lagerspetz KMJ, Kaukiainen A. Do girls manipulate and boys fight? Developmental trends in regard to direct and indirect aggression. AgressBehav. 1992;117-27.
34. Lagerspetz KMJ, Bjorkqvist KL, Peltonen T. Is indirect aggression typical of females? Gender differences in aggressiveness in 11- to 12-years old children. AgressBehav. 1988;14:403-14.
35. Moura DR, Cruz AC, Quevedo LA. Prevalência e características de escolares vítimas de bullying. J Pediatr (Rio J). 2011;87:19-23.
36. Isolan L, Salum GA, Osowski AT, Zottis GH, Manfro GG. Victims and bully-victims but not bulllies are groups associated with anxiety symptomatology among Brazilian children and adolescents. Eur Child Adolesc Psychiatry. 2013;22(10):641-48.
37. Dao TK, Kerbs JJ, Rollin SA, Potts I, Gutierrez R, Choi K, et al. The association between peer aggression dynamics and psychological distress. J Adolesc Health. 2006;39:277-82.
38. Hawker DS, Boulton MJ. Twenty years's research on peer victimization and psychosocial maladjustement: a meta-analytic review of cross-sectional studies. J Child Psychol Psychiatry. 2000;41:441-55.
39. Ybrant H, Armelius K. Peer agression and mental health problems: self-esteem as a mediator. SchPsychol Int. 2010;31:146-63.
40. Gini G, Pozzoli T. Association between bullying and psychosomatic problems: a meta-analysis. Pediatrics. 2009;123:1059-65.
41. Nordhagen R, Nielsen A, Stigum H, Kohler L. Parental reported peer agression among nordic children: a population-based study. J Health Psychol. 2005;31:693-701.
42. Kaltiala-Heino R, Rimpela M, Marttunen M, Rimpela A, Rantanen P. Bullying, depression, and suicidal ideation in Finnish adolescents: school survey. Br Med J. 1999;319:348-51.
43. Menesini, E, Modena, M, Tani F. Bullying and victimization in adolescence: concurrent and stable roles and psychological health symptoms. J Genet Psychol 2009;170:115-33.
44. Salmon G, James A, Smith DM. Bullying in schools: self reported anxiety, depression, and self esteem in secondary school children. Br Med J. 1998;317:924-5.
45. BrunsteinKlomek A, Marrocco F, Kleinman M, Schonfeld IS, Gould MS. Bullying behavior, depression, and suicidality in adolescents. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry. 2007;46:40-9.
46. Kim YS, Leventhal B. Bullying and suicide. A review. Int J Adolesc Med Health. 2008;20:133-54.
47. Winsper C, Lereya T, Zanarini M, Wolke D. Involvement in bullying and suicide-related behavior at 11 years: a prospective birth cohort study. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry. 2012;51:271-82.
48. Bierman KL, Wargo JB. Predicting the longitudinal course associated with agressive-rejected, agressive (nonrejected), and rejected (nonaggressive) status. Dev Psychopatol. 1995;7:669-82.
49. Nansel TR, Overpeck M, Haynie DL, Ruan WJ, Scheidt PC. Relationships between peer aggression and violence among US youth. ArchPediatrAdolesc Med. 2004;157:348-53.
50. Sourander A, Jensen P, Ronning JA, Elonheimo H, Niemela S, Helenius H, et al. Childhood bullies and victims and their risk of criminality in late adolescence: the finnishfrom a boy to a man study. Arch PediatrAdolesc Med. 2007;161:546-52.
51. Campbell ML, Morrison AP. The relationship between bullying, psychotic-like experiences and appraisals in 14-16 years olds. Behav Res Ther. 2007;45:1579-91.
52. Lataster T, van Os J, Drukker M, Henquet C, Feron F, Gunther N, et al. Childhood victimization and developmental expression of non-clinical delusional ideation and hallucinatory experiences: victimization and non-clinical psychotic experiences. Soc Psychiatry PsychiatrEpidemiol. 2006;41:423-8.
53. Schereier A, Wolke D, Thomas K, Horwood J, Hollis C, Gunnel D, et al. Prospective study of peer victimization in childhood and psychotic symptoms in a nonclinical population at age 12 years. Arch Gen Psychiatry. 2009;66:527-36
54. Kokkinos CM, Panayiotou G. Predicting bullying and victimization among early adolescents: associations with disruptive behavior disorders. AgressBehav. 2004:30:520-33.
55. Rusby JC, Forrester KK, Biglan A, Metzler CW. Relationships between peer harassment and adolescent problem behaviors. J Earl Adolesc. 2005;25:453-77.
56. Viding E, Simmonds E, Petrides KV, Frederickson N. The contribution of callous-unemotional traits and conduct problems to bullying in early adolescence. J Child Psychol Psychiatry. 2009;50:471-81.
57. Coolidge FL, Den Bôer JW, Segal DL. Personality and neuropsychological correlates of peer aggression behaviour. PersInd Diff. 2004;36:1559-69.
58. Bacchini D, Affuso G, Trotta T. Temperament, ADHD and peer relations among schoolchildren: the mediating role of school bullying. AgressBehav. 2008;34:447-59.
59. Gini G. Associations between bullying behaviour, psychosomatic complaints, emotional and behavioural problems. J Paediatr Child Health. 2008;44:492-7.
60. Kumpulainen K, Räsänen E, Henttonen I, Almqvist F,Kresanov K, Linna SL, et al. Bullying and psychiatric symptoms among elementary school-age children. Child Abuse Negl. 1998;22:705-17.
61. Baldry AC, Farrington DP. Bullies and delinquents: personal characteristics and parental styles. J Community ApplSoc Psychol. 2000;10:17-31.
62. Unnever JD, Cornell DG. Peer agression, self-control, and ADHD. J Int Violence. 2003;18:129-47.
63. Forero R, McLellan L, Rissel C, Bauman A. Bullying behavior and psychosocial health among school students in New South Wales, Australia: cross sectional survey. BrMed J. 1999;319:344-8
64. Kaltiala-Heino R, Rimpela M, Rantanen P, Rimpela A. Bullying at school - an indicator of adolescents at risk for mental disorders. J Adolesc. 2000;23:661-74.
65. Smith BJ, Phongsavan P, Bauman AE, Havea D, Chey T. Comparison of tobacco, alcohol and illegal drug usage among school students in three Pacific Island Societies. Drug Alcohol Depend. 2007;88:9-18.
66. Topper LR, Castellanos-Ryan N, Mackie C, Conrod PJ. Adolescent bullying victimization and alcohol-related problem behaviour mediated by coping drinking motives over a 12 month period. AddicBehav. 2011;36:6-13.
67. Juvonen J, Graham S, Schuster MA. Bullying among young adolescents: the strong, the weak, and the troubled. Pediatrics. 2003;112:1231-37.
68. Kumpulainen K, Rasanen E, Puura K: Psychiatric disorders and the use of mental health services among children involved in bullying. Aggress Behav. 2001;27:102-10.
69. Costello EJ, Egger HL, Angold A. The developmental epidemiology of anxiety disorders: phenomenology, prevalence, and comorbidity. Child AdolescPsychiatrClin N Am. 2005;14:631-48.
70. Isolan LR, Blaya C, Kipper L, Maltz S, Heldt E, Manfro GG. Ansiedade na infância: implicaçoes para psicopatologia no adulto. Rev Psiquiatr Rio GdSul. 1999;21:221-7.
71. Bond L, Carlin JB, Thomas L, Rubin K, Patton G. Does bullying cause emotional problems? A prospective study of young teenagers. Br Med J. 2001;323:480-4.
72. Fekkes M, Pijpers FI, Fredriks AM, Vogels T, Verloove-Vanhorick SP. Do bullied children get ill, or do ill children get bullied? A prospective cohort study on the relationship between bullying and health-related symptoms. Pediatrics. 2006;117:1568-74.
73. Fekkes M, Pijpers FI, Verloove-Vanhorick SP. Bullying behavior and associations with psychosomatic complaints and depression in victims. J Pediatr. 2004;144:17-22.
74. Grills AE, Ollendick TH. Peer victimization, global self-worth, and anxiety in middle school children. J Clin Child Adolesc Psychol. 2002;31:59-68.
75. WienkeTotura CM, Green AE, Karver MS, Gesten EL. Multiple informants in the assessment of psychological, behavioral, and academic correlates of bullying and victimization in middle school. J Adolesc. 2009;32:193-211.
76. Duncan RD. Peer and sibling aggression: an investigation of intra-and extra-familial bullying. J Interpersonal Viol. 1999;14:871-86.
77. Olweus D, Limber SP. Bullying in school: evaluation and dissemination of the Olweus bullying prevention program. Am J Ortopsychiatry. 2010;80(1):124-34.
78. Ttofi MM, Farrington DP. Effectivess of school-based programs to reduce bullying: a systematic and meta-analytic review. J ExpCriminol. 2011;7:27-56.
79. Fonagy P, Target M. Attachment and reflexive function: their role in self organization. DevPsychopatol 1997;9(4):679-700.
80. Bassols AMS. O fenômeno bullying na adolescência. Revista de Psicanálise da SPPA. 2011;18(3):565-79.
81. Twemlow SW, Fonagy P, Sacco FC, Gies ML, Evans R, Ewbank R. Creating a peaceful school learning environment: a controlled study of an elementary school intervention to reduce violence. Am J Psychiatry. 2001;158(5):808-10.
Médico psiquiatra/UFRGS. Psiquiatra da Infância e Adolescência/UFRGS. Mestre e Doutor em Psiquiatria/UFRGS. Membro aspirante da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA)
Correspondência
Luciano Isolan
Av. Taquara, 386/805
Porto Alegre - RS
isolan@cpovo.net
Submetido em: 19/01/2014
Solicitaçao de reformulaçoes em: 14/04/2014
Retorno do autor em: 04/05/2014
Aceito em: 28/05/2014
artigo anterior | voltar ao topo | próximo artigo |
Rua Ramiro Barcelos, 2350 - Sala 2218 - Porto Alegre / RS | Telefones (51) 3330.5655 | (51) 3359.8416 | (51) 3388.8165-fone/fax