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Revista Brasileira de Psicoteratia

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Rev. bras. psicoter. 2014; 16(1):1-2



Editorial

Dever científico de estudar, pesquisar e publicar sobre a infância

The scientific duty of studying, researching and publishing about childhood

Maria Lucia Tiellet Nunes

 

 

Nunca é tarde para ter uma infância feliz!

(Grafite em muro em Berlim)

Freud considerou que alguém seria normal se fosse capaz de amar e trabalhar. Certamente a discussao acerca de definiçoes de normalidade, saúde psíquica ou desenvolvimento humano bem-sucedido é complexa e de longe se encerra com essa breve e já histórica frase freudiana. Mesmo assim, é possível perguntar: em se tratando de uma criança, o que significa ser saudável do ponto de vista psíquico?

Uma criança, seguindo a frase de Freud, para se desenvolver de forma saudável do ponto de vista psíquico, deve ser capaz de amar e trabalhar. Na infância isso significa, entao, a criança ter condiçoes de estabelecer boas relaçoes com sua família e com o grupo de iguais e na escola sentir-se bem, criativa, capaz de cooperar com os demais.

Amar e trabalhar nao se colocam como polaridades em oposiçao, mas, em ambos os casos, trata-se de capacidades sociais básicas, no sentido de que crianças em conjunto com adultos e com outras crianças possam evitar o isolamento social e exercitar competência social em nível emocional e em nível cognitivo; isto é, desenvolvimento de capacidades amorosas e capacidades cognitivas.

Tais tarefas certamente nao sao fáceis, pois muitas intercorrências, ao longo da infância, prejudicam o desenvolvimento das capacidades amorosas e cognitivas. Por isso, talvez o grafite com a frase Nunca é tarde para ter uma infância feliz possa ser compreendido como a recuperaçao de elementos positivos da história pregressa do indivíduo na terapia de adultos... No caso de crianças, cujo desenvolvimento está escapando daquilo que seu grupo social, seu grupo cultural tem como saudável, a intervençao terapêutica alivia o sofrimento da criança e de sua família e pode auxiliar na retomada do ritmo esperado.

De fato, as fases do desenvolvimento de uma criança sao acompanhadas por diferentes tipos de conflitos, que podem se resolver ou persistir e, nesse caso, prejudicar as próximas etapas, travando o desenvolvimento, quando entao a intervençao especializada se torna necessária.

Qualquer pesquisador que coloque a palavra infância ou criança como descritores nas bases de dados da literatura científica nacional e internacional vai encontrar gigantesca produçao na forma de artigos, capítulos de livros e livros. Entretanto, cada pesquisador ainda tem o dever científico e ético de estudar, pesquisar e publicar sobre a infância, uma vez que o mundo contemporâneo se tornou por demais complexo, globalizado, informatizado, com variaçoes antes pouco usuais nas configuraçoes e relaçoes familiares, com demandas à criança nunca antes formuladas.

Nesse contexto, o novo número da Revista Brasileira de Psicoterapia é muito bem-vindo, com temas que se referem a questoes diagnósticas, terapêuticas, e temas contemporâneos, como bullying e adiçao. Material preciso para qualquer profissional ou leigo que está envolvido com crianças ou simplesmente tem interesse pela infância.

Boa leitura a todos e que muitos se inspirem a estudar, pesquisar e publicar sobre a infância.










Doutora em Psicologia, ênfase em Tratamento e Prevençao. Professora titular da PUCRS

Endereço para correspondência:
Maria Lucia Tiellet Nunes
Rua Vicente da Fontoura, 2539/209
90640-003 Porto Alegre/RS
marialuciatiellet@gmail.com

Submetido e aceito em: 09/06/2014

 

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