Rev. bras. psicoter. 2013; 15(3):81-82
Filippon APM, Piltcher R. A história do paciente em psicoterapia de orientaçao analítica. Rev. bras. psicoter. 2013;15(3):81-82
Editorial Seçao Temática
A história do paciente em psicoterapia de orientaçao analítica
The patient's case history in analytically oriented psychotherapy
Ana Paula Mezacaza Filippona; Renato Piltcherb
O tradicional Simpósio Interno, que costuma reunir os sócios do CELG a cada dois anos, teve como tema A relevância da história do paciente em psicoterapia em sua XIX ediçao. O evento ocorreu no dia 9 de novembro de 2013 na sede da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA) e deixou a marca histórica de ser o primeiro a unir o CELG e a SPPA em uma atividade conjunta. Apesar da longa história de colaboraçao mútua e de terem um grande número de sócios em comum, essas duas instituiçoes ainda nao haviam realizado um encontro como esse.
A acertada escolha do tema partiu de um questionamento do atual presidente do CELG: em decorrência das extensas discussoes sobre o papel das intervençoes psicoterápicas realizadas no "aqui e agora" da dupla paciente e terapeuta, Paulo Fernando B. Soares perguntou se ainda havia espaço para o uso da história do paciente como ferramenta terapêutica.
Com o objetivo de propagar as ideias debatidas no encontro e ampliar o acesso do público aos temas discutidos, a Revista Brasileira de Psicoterapia dedica este número à publicaçao de alguns dos trabalhos apresentados.
Da primeira mesa-redonda, intitulada "A história na avaliaçao", participaram Zelig Libermann, quem, trazendo uma contribuiçao teórica, discorreu sobre história, memória e ressignificaçao; Lizete Pessini Pezzi, quem, com sua ilustraçao clínica, abordou a obtençao da história na avaliaçao; e Sidnei Schestatsky, quem realizou um apanhado teórico e clínico sobre o tema na atualidade. A segunda mesa-redonda, intitulada "Como eu uso a história", contou com uma revisao teórica apresentada por Ruggero Levy e com os ricos exemplos clínicos trazidos por Letícia Kipper, que também enfocou a história da dupla, e por Eneida Iankilevich, que teceu consideraçoes acerca da história fática do paciente.
Para a discussao clínica, os participantes foram divididos em quatro grupos, que debateram o material de um paciente que chega ao tratamento dizendo nao ter história para contar. Nesse momento, os colegas tiveram a oportunidade de ouvir uns aos outros, especialmente sobre a forma como trabalham e pensam a história do paciente em psicoterapia de orientaçao analítica.
Na atividade final do evento, que reuniu todos os participantes, a síntese e comentários de José Carlos Calich deram início à discussao da atividade clínica. Os grupos se posicionaram de forma bastante semelhante quanto à compreensao dinâmica do funcionamento psíquico do paciente. As maiores diferenças apareceram no referido à maneira de tratar a história. Alguns grupos deram mais ênfase aos elementos factuais, tentando entendê-los e detalhá-los, enquanto outros se preocuparam mais em entender o significado do material dentro do contexto associativo. Foi discutida também a forma de se coletar a história do paciente (mais ativamente ou mais espontaneamente). Em relaçao à valorizaçao ou nao da história factual, a tendência média entre os grupos foi a de considerar a história como algo que terá de ganhar significado. Foi colocado que nao há como nao levar em consideraçao a história do paciente, pois falar sobre aspectos da história é uma forma de se conhecer outra pessoa. A diferença reside no tipo de escuta que é oferecido, no que é valorizado na história e na forma como é usado o que se escuta. Dentro da própria linha psicanalítica já há diversas formas de escuta. Um mesmo fato pode receber diversos significados, e esses significados podem emergir em diferentes momentos de acordo com o processo psicoterápico. Entre os grupos e ainda dentro de um mesmo grupo houve variaçoes na forma de entender o significado de dados factuais. Calich finalizou a sessao final do evento reforçando que a história é uma coisa em si e que cada escuta irá fazer uma transformaçao dessa história. Cada escuta tem suas dimensoes e suas utilidades, e considerar uma das escutas como a verdade única vai contra a proposta de um tratamento psicanaliticamente orientado.
Nosso Simpósio segue com a tradiçao de ser um momento de encontro mais íntimo entre nossos sócios e de férteis discussoes. Ficamos contentes por termos reunido dentro de um mesmo evento um público tao heterogêneo, com alunos do Curso de Especializaçao, sócios e professores do CELG, alunos e professores da SPPA e, ainda assim, termos conseguido gerar um debate produtivo em um clima de descontraçao.
A todos uma boa leitura!
a. Médica psiquiatra. Mestre em Psiquiatria pela UFRGS. Membro aspirante da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA). Organizadora do XIX Simpósio Interno de Psicoterapia de Orientaçao Analítica
b. Médico e psiquiatra pela UFRGS. Psiquiatra do Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre. Membro aspirante da SPPA. Organizador do XIX Simpósio Interno de Psicoterapia de Orientaçao Analítica
Correspondência
Ana Paula Mezacaza Filippon
Rua Dom Pedro II, 1240/506. Bairro Sao Joao
90550-141 - Porto Alegre/RS
anafilippon@yahoo.com.br
Submetido em 21/12/2013
Aceito em 15/01/2014
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