Rev. bras. psicoter. 2012; 14(3):7-8
Hauck S. Qual é o lugar da psicoterapia?. Rev. bras. psicoter. 2012;14(3):7-8
Nota do editor
Qual é o lugar da psicoterapia?
What is the Place of Psychotherapy?
Simone Hauck
As psicoterapias tradicionalmente pertencem aos consultórios, às publicaçoes específicas de cada modalidade terapêutica, aos terapeutas e a seus pacientes. Tem uma história pautada por conquistas individuais. Os apaixonados pela psicodinâmica envolvem-se em atividades relacionadas à psicanálise e às psicoterapias psicanalíticas, os cognitivistas sao ferrenhos defensores da efetividade de sua técnica, os humanistas, "defensores da pessoa" e assim por diante. E essa é a trajetória comum dos diferentes métodos psicoterápicos: uma trajetória que percorre o caminho específico de cada teoria. Mas, entao, o que de fato as diferentes psicoterapias teriam em comum?
A Revista Brasileira de Psicoterapia se propoe a criar um espaço único que se destina a publicaçoes das diferentes correntes de psicoterapia. Nossa equipe trabalhou arduamente nos últimos dois anos para, respeitando as especificidades inerentes aos trabalhos em psicoterapia, adequar as normas e os padroes da revista aos dos mais respeitados periódicos científicos.
Foi criado um sistema de submissao de fácil acesso, inteiramente on-line, e os artigos, resenhas, editoriais e cartas ao editor passaram a ser disponibilizados na íntegra, em inglês e português, no site da revista (http://www.rbp.celg.org.br). O objetivo é viabilizar um espaço aberto, de linguagem "comum", em que as diferentes abordagens e localidades possam trocar, conhecer-se, aprender uma com a outra.
Mas existe lugar para essa proposta? É possível aprender com outra corrente teórica? Queremos isso? Essas sao perguntas que cada um de nós deve fazer a si mesmo, e das respostas depende a sobrevivência dessa ideia e da revista, atualmente com sua periodicidade em dia e em condiçoes de obter indexaçoes mais amplas para aumentar o alcance dos trabalhos aqui publicados.
Queremos esse espaço comum a todas as psicoterapias? Acreditamos que elas "lutam" por algo em comum? Acreditamos em sua importância, como um conjunto, para a sociedade e as instituiçoes? Em um momento cultural "veloz", "liquefeito", pautado pela velocidade de acesso à informaçao, acusado de ser superficial e ligado demais ao externo, à imagem; um momento individualista, em que a profundidade das relaçoes tenderia a se dissolver em meio à internet e à mudança dos meios de comunicaçao e das formas de relaçao entre as pessoas, sugadas para dentro das redes sociais?
Mas nao creio que essa conjuntura seja inteiramente verdadeira; creio que estamos mudando e depressa, mas nao necessariamente a caminho de algo "pior". E, nisso, o conjunto das psicoterapias pode ter um papel fundamental. Se a tela do facebook aceita quase que qualquer verdade, destituída ou nao de credibilidade ou realidade, as psicoterapias podem ser o alicerce que mantem esse ritmo alucinante em um eixo que faça sentido. Seja pelo entendimento do conflito, das emoçoes, das relaçoes primitivas da psicodinâmica; seja pela investigaçao dos padroes de crenças que levam o indivíduo a suas açoes, sentimentos e pensamentos da cognitiva; seja na busca intensa do eu e de sua aceitaçao das técnicas humanistas; do entendimento do sistema de relaçoes pelos sistêmicos; da possibilidade de ouvir a voz de todos das terapias de família, de casal ou da atuaçao e conscientizaçao dos sentimentos da terapia da dramatizaçao, e assim por diante. TODAS as psicoterapias buscam, a seu modo, o conhecimento da verdade, a revelaçao e libertaçao real do indivíduo, do EU (nao o eu individualista, mas o EU verdadeiro e liberto para se relacionar). Creio que "isso" é o que temos em comum e "isso" usa uma linguagem que nao necessariamente se opoe, mas sim pode sustentar as pessoas, as relaçoes e as instituiçoes neste momento, possibilitando uma vida veloz, mas cheia de significados, e nao vazia e exclusivamente presa à tela do computador.
Esse é o valor de unirmos nossas vozes, e, para isso, convido a todos a enviar material: artigos, editoriais, resenhas e cartas ao editor sobre temas da atualidade. Estamos realmente abertos para criar e cultivar esse espaço, e que ele sirva a cada um de nós a seu modo.
Simone Hauck
Editora da Revista Brasileira de Psicoterapia
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