Rev. bras. psicoter. 2012; 14(2):12-13
Eizirik CL. Desafios da formaçao do psicoterapeuta. Rev. bras. psicoter. 2012;14(2):12-13
Editorial
Desafios da formaçao do psicoterapeuta
Challenges of psychotherapy training
Cláudio Laks Eizirik*
Este número da Revista Brasileira de Psicoterapia contém trabalhos de alguns dos mais importantes e reconhecidos centros de formaçao de psicoterapeutas do Brasil, abordando suas experiências, sua história, sua fundamentaçao teórica e seus procedimentos de ensino. O conjunto de trabalhos, que é bastante representativo, mas naturalmente nao esgota o assunto, nos mostra o elevado nível de formaçao teórica e clínica que foi atingido em cada um desses centros e nos estimula a imaginar um cenário em que haja uma multiplicaçao dos mesmos pelo nosso vasto território.
Como se sabe, uma adequada formaçao em psicoterapia, em suas diferentes apresentaçoes, nao pode ser feita de maneira apressada nem em procedimentos tipo cursinhos que dao apenas um verniz ilusório e terminam por enganar os alunos e principalmente os pacientes, muitas vezes vulneráveis ao canto de sereia de procedimentos enganosos com falsas promessas de algo rápido, eficiente e indolor. Como os trabalhos aqui publicados mostram, o processo de formaçao de um psicoterapeuta é necessariamente lento, requer grande imersao pessoal, tanto cognitiva quanto emocional, muita supervisao, muitas horas de estudo e discussao dos principais autores de cada área e principalmente a exposiçao a múltiplos casos com diferentes diagnósticos e apresentaçoes do sofrimento psíquico. A expansao no país da área de pesquisa em psicoterapia, que pode ser um elemento valioso neste processo formativo.
Em algum momento ao longo do tempo, o aluno de um curso adquirirá uma identidade de psicoterapeuta, seja no final, seja depois, à medida que se aprofunda nesse campo. Essa assertiva, que se encontra em muitas latitudes, me parece questionável, contudo. Discordo da ideia de que se estabeleça uma identidade, como algo pronto, fixo, definido. Assim como Betty Joseph sugeriu que oscilamos entre momentos de compreensao e de nao compreensao, o que observo é que nossa identidade sofre oscilaçoes, e é algo vivo, dinâmico, que evolui dentro de nossas maiores possibilidades de usar nossa mente e nossas emoçoes para trabalhar com o paciente. Cada uma das formaçoes aqui descritas me parece oferecer as bases e os fundamentos de uma formaçao sólida e ao mesmo tempo um estímulo a seguir trabalhando com essa identidade oscilante da qual cada aluno, espera-se, algum dia se apropriará.
Por todas essas razoes, a Revista Brasileira de Psicoterapia, em seu novo formato, e com sua nova equipe de editores, dá mais um passo no caminho de ampliar nosso conhecimento mútuo, descrever experiências de ensino consolidadas e inovadoras e estimular nosso propósito comum de desenvolver uma das áreas mais importantes e mesmo imprescindíveis da saúde mental, que é a psicoterapia.
* Médico Psiquiatra. Doutor em Psiquiatria pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Professor Associado do Departamento de Psiquiatria de Medicina Legal da UFRGS e Analista Didata da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre, RS, Brasil.
Dr. Cláudio Laks Eizirik
Serviço de Psiquiatria - Hospital de Clínicas de Porto Alegre
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