Rev. bras. psicoter. 2012; 14(1):92-102
Dourado MCN, Sousa MFB, Santos RL. Ensinando psicoterapia com idosos: desafios e impasses. Rev. bras. psicoter. 2012;14(1):92-102
Artigos Originais
Ensinando psicoterapia com idosos: desafios e impasses
Teaching psychotherapy with the elderly: challenges and impasses
Marcia Cristina Nascimento Dourado*; Maria Fernanda Barroso de Sousa**; Raquel Luiza Santos**
Resumo
Abstract
INTRODUÇAO
Até recentemente, as abordagens psicológicas voltadas a idosos eram consideradas somente um suporte para aumentar a adesao à medicaçao1. Atualmente, observa-se que o uso de psicoterapia no tratamento desta populaçao tem objetivos mais amplos, como o aumento da adesao ao tratamento, a reduçao dos sintomas, a identificaçao de pródromos sindrômicos com a consequente prevençao de recaídas/recorrências, a elaboraçao de trabalho de luto relacionado às perdas decorrentes das modificaçoes nos papéis sociais e familiares e, principalmente, a melhora na qualidade de vida dos pacientes e de seus familiares2. As intervençoes psicológicas também podem aumentar o funcionamento social e ocupacional e a capacidade de manejo de situaçoes estressantes3.
O SERVIÇO DE PSICOTERAPIA DO CENTRO PARA DOENÇA DE ALZHEIMER E OUTROS TRANSTORNOS MENTAIS NA VELHICE DO INSTITUTO DE PSIQUIATRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (CDA/IPUB-UFRJ)
O CDA, localizado na zona sul do Rio de Janeiro, foi criado em 1995 no IPUB/UFRJ, sob o nome inicial de Ambulatório de Neuropsiquiatria Geriátrica, com o objetivo de desenvolver atendimento multidisciplinar para as desordens comportamentais associadas ao envelhecimento, formaçao de profissionais e pesquisas na área. O CDA possui um ambulatório multidisciplinar para o tratamento de transtornos mentais como depressao, ansiedade e demência e um hospital-dia para pessoas com síndrome demencial. A entrada na instituiçao se dá por meio de um grupo de acolhimento multidisciplinar, cujo objetivo é avaliar a queixa principal e o início do quadro. Os pacientes que preenchem os critérios de indicaçao para a instituiçao sao, entao, encaminhados a uma consulta médica, avaliaçao de enfermagem e entrevista com o serviço social. Após essa etapa, os pacientes sao encaminhados por demanda para outros setores do CDA, como o Serviço de Psicoterapia.
O Serviço de Psicoterapia do CDA-IPUB/UFRJ é constituído por dois psicólogos da equipe, uma aluna de Mestrado em Saúde Mental e alunos do Curso de Especializaçao em Psicogeriatria. Este tem como objetivo qualificar profissionais da saúde para o atendimento a idosos. Trata-se de um curso de 20 horas semanais, com duraçao de dois anos, durante os quais os alunos participam dos atendimentos ambulatoriais e das atividades nas oficinas do hospital-dia.
Os pacientes atendidos neste serviço chegam para avaliaçao psicológica inicial por demanda espontânea ou encaminhamento de outros profissionais da instituiçao. Em sua maioria, sao idosos com idade acima de 60 anos e diagnóstico psiquiátrico de depressao, ansiedade e síndrome demencial. A avaliaçao psicológica inicial é feita pelos psicólogos do Curso de Especializaçao em Psicogeriatria e visa a avaliar a indicaçao para o tratamento psicoterápico e a demanda do paciente pelo tratamento, porque grande parte da populaçao de idosos brasileiros nao faz parte da chamada "cultura psicológica", desconhecendo assim os objetivos e a utilidade de um tratamento psicoterápico. Nesta avaliaçao inicial, o idoso pode ser encaminhado para psicoterapia individual ou de grupo. A intervençao individual tem sido indicada principalmente para pacientes com síndrome demencial, depressao maior, transtornos psicóticos, agressividade e aqueles que se recusam a participar dos grupos psicoterápicos. Atualmente, os grupos têm sido indicados para os idosos com síndrome depressiva e demência inicial.
O grande diferencial do Serviço de Psicoterapia do CDA-IPUB/UFRJ é o atendimento psicoterápico oferecido aos idosos acometidos por síndrome demencial, como a Doença de Alzheimer, por exemplo.Um provável diagnóstico de demência tem um efeito devastador sobre o paciente e sua família. Com muita frequência, uma vez feito o diagnóstico, a sintomatologia psicológica ou comportamental manifesta é atribuída ao déficit orgânico, sem atençao aos fatores psicodinâmicos e sociais que podem estar relacionados aos comportamentos alterados4. Vale ressaltar que até muito recentemente o diagnóstico era feito apenas quando a doença já se encontrava em estado adiantado, o que tornava presumível que os pacientes nao experienciavam seu déficit ou nao conseguiam articular reaçoes a ele. Além disso, até mesmo os comportamentos "normais" tendem a ser interpretados em relaçao aos estágios da doença, o que resulta em um excesso de expectativa do declínio de forma que poucas oportunidades sao oferecidas.
Nos últimos dez anos, a psicoterapia vem lentamente tornando-se parte do tratamento das demências. A partir de entao, estes pacientes passaram a ser reconhecidos como portadores de necessidades psicológicas, emocionais e físicas, uma vez que se encontram sujeitos a um duplo ataque: por um lado, a perda da própria imagem e do desvanecimento do Eu, consequências psicológicas da degeneraçao cerebral; por outro, e a alienaçao social a que sao relegados4. A psicoterapia visa a trabalhar o sentimento de desamparo relacionado à perda da própria imagem e da consciência de si, aumentar a capacidade de reaçao, estimular a autoestima e a expressao dos afetos4. Muitos pacientes, principalmente aqueles em estágio inicial, nao sabem denominar os afetos sentidos. Poder nomear o medo de estar enlouquecendo, falar da frustraçao que é tentar lembrar e nao conseguir, contar o desamparo existente em acordar e nao saber onde se está ou quem é, restaura a sensaçao de ser. Portanto, os pacientes que exprimem afeto em excesso podem canalizar a energia; os outros que o exprimem de modo insuficiente precisam ter o afeto estimulado.
Stokes e Goudie5 afirmam que todos os pacientes com síndrome demencial podem se beneficiar muito do processo psicoterápico, principalmente na busca por um sentido para a experiência pela qual se está passando. Por outro lado, Teri e Gallagher-Thompson6 sugerem que o trabalho psicoterápico deve atender apenas àqueles que realmente apresentam questoes relacionadas à doença e seus efeitos. A ênfase do primeiro grupo5 de autores está direcionada a um trabalho de apoio, conduzido como parte integrante de um plano de trabalho mais amplo. O segundo grupo6 busca um trabalho alicerçado em bases individuais, enfatizando as limitaçoes impostas pela doença, pois o reconhecimento dos déficits, a preocupaçao com a evoluçao da doença, a percepçao do aumento das perdas e o consequente impacto sobre os papéis sociais sao causas de ansiedade e depressao4. A clínica com estes pacientes tem nos mostrado que a indicaçao de um processo psicoterápico na demência segue os moldes tradicionais das psicoterapias, ou seja, o oferecimento deve ser mantido em bases individuais para aqueles que necessitem de auxílio para lidar com as limitaçoes individuais, familiares e sociais4.
O ENSINO DE PSICOTERAPIA NO CDA-IPUB/UFRJ
No Serviço de Psicoterapia, o ensino é feito através de supervisao clínica em grupo, no qual participam os psicólogos da equipe do CDA e todos os psicólogos, alunos do curso de especializaçao envolvidos nos atendimentos psicoterápicos ambulatoriais. Este encontro acontece uma vez por semana com duraçao de três horas. A supervisora, responsável pelo Serviço de Psicoterapia, é psicanalista, contando com quinze anos de experiência na prática clínica com idosos e no desenvolvimento de intervençoes psicoterápicas para a demência. O material clínico apresentado em cada encontro é descrito por memória pelos terapeutas. Os alunos sao incentivados a redigir as sessoes psicoterápicas de forma que possam ser avaliados tanto o discurso dos pacientes quanto as intervençoes dos psicoterapeutas. A discussao clínica é calcada nos diferentes referenciais teóricos aos quais os terapeutas se associam. Neste espaço, convivem psicanálise, psicoterapia psicodinâmica, terapia sistêmica, gestalt-terapia e terapia cognitivo-comportamental. Trata-se de um espaço de diferenças, no qual todos os participantes buscam construir uma interlocuçao em comum. Assim, cada caso clínico é apresentado dentro do tripé teoria/técnica/envelhecimento. Podemos considerar que esse espaço "multiteórico" possibilita tanto a tarefa profissional do atendimento clínico a idosos quanto a realizaçao de um árduo e denso trabalho de elaboraçao e síntese teórico-técnica, oferecendo os contornos de uma identidade para o profissional que está se capacitando no atendimento a esta populaçao. Assim sendo, consideramos que a supervisao, como é constituída, possui fundamentalmente uma finalidade de desenvolvimento criativo que mobiliza o terapeuta para questoes que transcendem as situaçoes imediatas do processo de envelhecimento. Expectativas sobre a competência profissional, fantasias e desejos acerca de suas condutas impotentes ou onipotentes, a necessidade de estabelecer uma relaçao multidisciplinar com outros profissionais da instituiçao, ansiedades frente a um tipo de atendimento específico sao bons exemplos dos matizes das vivências e dos impasses que se apresentam.
Consideramos fundamental que o trabalho da supervisao clínica leve em consideraçao nao apenas os aspectos teóricos e técnicos e o seu interjogo, mas também o preparo pessoal do terapeuta em sua experiência clínica. O trabalho de supervisao é uma tarefa que toma parte deste processo de construçao e que, segundo Mannoni7, procura evitar os "riscos do controle" e o exercício da "funçao de vigilância" e acompanhar o terapeuta a tomar ciência das "referências com as quais funciona, a colocá-las em confronto com outras referências, ajudando-o a encontrar um estilo próprio que nao seja pura imitaçao da habilidade de um outro"7. Considerando-se este ponto de vista, o foco da supervisao é atender às demandas das integraçoes teórico-técnicas da prática clínica envolvidas no atendimento, às demandas da prática clínica específica da psicoterapia com idosos e, ainda, auxiliar o terapeuta em seu processo de construçao e consolidaçao profissional, colaborando na aquisiçao de uma identidade profissional. Assim sendo, além da discussao dos casos clínicos, uma vez por mês sao realizados seminários teóricos, nos quais sao discutidos textos clássicos e artigos recentes sobre o processo psicológico de envelhecimento, a fundamentaçao teórica das diferentes abordagens psicológicas utilizadas pelos terapeutas e a literatura na qual a velhice é apresentada de forma peculiar, como em "Diário da Guerra do Porco" de Bioy Casares8, por exemplo. O material teórico utilizado é sugerido tanto pelo supervisor como pelos alunos.
Os alunos sao submetidos a uma avaliaçao clínica. Cada um, ao final do ano, é solicitado a fazer uma autoavaliaçao, levando em consideraçao seu percurso no atendimento aos idosos desde o início da sua inserçao na instituiçao. Essa avaliaçao tem como objetivo ajudar os alunos a destacarem seus impasses e dificuldades, bem como seu processo de construçao como terapeutas de idosos. Por outro lado, cabe aos alunos avaliar a supervisao, destacando os problemas e oferecendo sugestoes para este espaço de interlocuçao das diferenças.
ASPECTOS TEORICOS DA PSICOTERAPIA COM IDOSOS
O entendimento do papel do narcisismo é central na psicologia do idoso9. O narcisismo deve ser compreendido como uma energia que ora investe o Eu, ora investe o objeto. Considerando essa mobilidade variável da libido, podemos imaginar o caso extremo em que toda a libido do Eu se encontra deslocada para o objeto, o que se encontra em completa oposiçao às pulsoes de autoconservaçao encarregadas de controlar o esvaziamento do fluxo libidinal do Eu, isto é, o esvaziamento narcísico10. Trata-se da paixao amorosa, que Freud11 evoca tantas vezes para ilustrar a possível hemorragia da libido do Eu em proveito da libido de objeto. O resultado desse processo de esvaziamento narcísico é a fragilidade do Eu para lidar com as perdas e limitaçoes impostas pela vida10. O objeto amado, assim superinvestido, torna-se todo poderoso em face de um sujeito doravante humilde e submisso, entregue ao que acredita ser a encarnaçao de seu ideal12. Esse desequilíbrio libidinal acarreta um prejuízo grave à economia narcísica, tornando-se uma condiçao para a organizaçao de quadros depressivos e/ou melancólicos13.
O luto,um estado de dor muito peculiar,é a reaçao real do sujeito frente à perda do objeto, perda de alguma abstraçao que ocupou o lugar de um ente querido12. Uma das principais características do luto é a inexistência de explicaçao. Assim, o luto é passível de ser estendido nao apenas à morte, mas também a fatos da vida que se caracterizam por um estado de tristeza, desânimo, ausência de libido, sofrimento e desinteresse pelo mundo13,14.Trata-se de uma reaçao normal e esperada como resposta ao rompimento de um vínculo que tem como funçao proporcionar a reconstruçao de recursos e viabilizar um processo de adaptaçao às mudanças ocorridas em consequência das perdas10. O processo de luto é determinado por fatores internos, como a estrutura psíquica do enlutado, tipo de vínculo com a pessoa falecida ou do objeto valorizado perdido, histórico de perdas anteriores e fatores externos como as circunstâncias, crenças culturais e religiosas10. Em seu percurso, toda a dinâmica mental do sujeito está completamente dedicada ao luto, à elaboraçao do pesar e, deste modo, impedem-se as possibilidades de investimento da libido em qualquer outro elemento que desperte interesse. Trata-se, no fundo, de uma dinâmica mental adaptativa de elaboraçao processual da perda10. Apesar da aparente passividade, é um processo ativo que consiste na retirada dos investimentos libidinais do objeto realisticamente percebido como perdido. As recordaçoes, tao caras aos idosos, podem ser consideradas formas de ligaçoes possíveis com o objeto que finalmente será aceito como já nao mais existente. Ao longo da psicoterapia, essas recordaçoes podem ser associadas ao trabalho de luto como uma tentativa de elaborar o passado e a possibilidade de busca de um novo objeto que preencha eficazmente a perda que está se efetuando no trabalho inconsciente do Eu9,10.
Na velhice, com o acúmulo de perdas significativas, o trabalho de luto tende a ser mais penoso. Os objetos passíveis de investimento já nao se oferecem com tanta prontidao e a possibilidade de novas vinculaçoes é mais difícil, pois muitos de sua geraçao já nao existem e os mais novos nao compartilham sua linguagem, universo e lembranças10,15.Podemos considerar a clínica psicológica com idosos uma clínica do luto, na medida em que o luto na velhice se apresenta em toda a sua radicalidade. Neste momento devido às perdas acumuladas, o desencadeamento da depressao pode constituir uma reaçao à perda da juventude no que ela traz de beleza, produtividade, saúde e,principalmente, expectativa de vida16.
ASPECTOS TÉCNICOS DA PSICOTERAPIA COM IDOSOS
Observa-se na clínica psicoterápica com idosos a presença de temas como tensoes, carregados por intensa ansiedade ou se manifestando apenas como "meras" preocupaçoes. Esses temas refletem as vivências deflagradas pelos processos de envelhecimento e adoecimento: conflitos familiares, perda ou temor de perda do cônjuge, das capacidades físicas e mentais, da própria identidade, questoes relacionadas à aposentadoria ou mudanças no nível econômico, diminuiçao da autoestima e aumento da dependência dos outros4. Todos temas que envolvem o trabalho de luto e a elaboraçao de feridas narcísicas.
Uma das peculiaridades desse tipo de trabalho reside no fato de que as lembranças podem ser usadas como um balanço de vida, uma revisao cujo objetivo é preencher um vazio. O lembrado também tem outra funçao mais específica, já que pode ser ressignificado e atualizado de forma a abrir a possibilidade de traçar planos para o futuro. Quando há desistência do próprio passado, o idoso defronta-se com um vazio que o impossibilita de encontrar recursos próprios para a elaboraçao de seus lutos e perdas4,14.
Outro aspecto que merece atençao diz respeito à transferência e contratransferência. Observa-se o padrao clássico da transferência na qual o terapeuta é identificado com os objetos amorosos primários. Muitas vezes esse padrao é reforçado pela dependência, em que o paciente se fragiliza e espera passivamente soluçoes para seu mal-estar. O vínculo terapêutico também pode estar calcado na transferência reversa, na qual os idosos tendem a ver o terapeuta como um de seus filhos. Nesta situaçao, as reaçoes podem variar desde a cordialidade ou indulgência a queixas, acusaçoes e recriminaçoes3,15.
Pode-se pensar na exigência de um manejo mais delicado da técnica de forma a acolher um tipo de transferência mais maciça endereçada ao terapeuta na suposiçao de que este é a "última tábua de salvaçao"4. Cabe ao terapeuta acolher, sem ceder às tentaçoes da infantilizaçao e da maternagem. Vale ressaltar que a interpretaçao a ser feita nao deve seguir uma tendência reducionista e "infantomórfica"3, de modo que o conteúdo trazido pelo paciente esteja sempre relacionado a lembranças já enterradas das fases primárias. Ao contrário, a psicoterapia com idosos deve possibilitar a recriaçao de um passado, interpretando-o em relaçao ao presente, para assim abrir espaço à mudança15. O trabalho de elaboraçao, isto é, a integraçao de experiências passadas, deve ser feito respeitando a maneira como foram vividas e nao dentro da perspectiva de como deveriam ter sido. Para a obtençao de um insight sobre seus conflitos atuais, o paciente estará mais propenso a aceitar o exame de seus conflitos, caso possa sentir que através do tratamento poderá contar com recursos emocionais novos15.
Do ponto de vista da contratransferência, é comum o surgimento de um distanciamento na relaçao terapêutica causado por dificuldades e ansiedades do profissional4. Frequentemente, o atendimento aos idosos desperta nos psicoterapeutas ansiedades relacionadas ao seu próprio envelhecimento, sua mortalidade, seu próprio medo do declínio neurológico e seus sentimentos de pena, perda e desesperança em relaçao a suas próprias aspiraçoes futuras4. Em geral, provoca o sentimento de que estará sujeito às mesmas perdas no futuro e que suas aspiraçoes venham a falhar ao longo da vida4,15.
A sexualidade do idoso também pode reativar os conflitos do terapeuta, tornando-se um ponto cego que o leva a atuar como se o paciente nao possuísse tais aspectos15. Além disso, trabalhar com esses pacientes desencadeia profundas reaçoes por parte dos terapeutas, de forma que há o perigo da infantilizaçao - tornar os pacientes mais dependentes ou colocá-los no lugar de seus próprios pais, o que acarreta sentimentos ambivalentes a eles direcionados4,15. Algumas indicaçoes do reflexo desses sentimentos sao encontradas no desânimo e sentimento de incapacidade após as sessoes, descuido na marcaçao dos horários, cansaço durante as sessoes e em afirmaçoes do tipo "nao há mais nada a fazer".
PERSPECTIVAS PARA O FUTURO
Atualmente, devemos levar em consideraçao a importância do desenvolvimento da pesquisa para o incremento do ensino e da formaçao de novos psicoterapeutas. A avaliaçao do processo psicoterápico e o consequente efeito das intervençoes psicológicas, o desenvolvimento de abordagens psicoterápicas direcionadas para transtornos mentais característicos do processo de envelhecimento, como a síndrome demencial, tem sido um desafio para pesquisadores e clínicos. A articulaçao de conhecimentos teóricos, técnicos, metodológicos e éticos é fundamental para avaliar o processo terapêutico e verificar seu efeito. Embora exista consenso na literatura quanto aos benefícios gerados pela psicoterapia,17,18,19,20,21, ainda se faz necessário conhecer em profundidade quais aspectos desta prática favorecem resultados positivos. Este conhecimento articula-se ao ensino da psicoterapia, pois pode funcionar como facilitador e motivador para a construçao da identidade profissional dos novos terapeutas especializados em psicoterapia com idosos.
No contexto brasileiro, as pesquisas sobre psicoterapia com idosos ainda sao incipientes20. Existem poucos estudos sistemáticos sobre o processo psicoterápico e as medidas disponíveis aos pesquisadores desta área sao escassas20. A avaliaçao do processo psicoterápico e o consequente efeito das intervençoes psicológicas permanecem sendo um importante desafio para pesquisadores e clínicos.
Finalmente, os processos de formaçao de psicoterapeutas em nosso país refletem a realidade de um campo fragmentado tanto no conhecimento quanto na atuaçao. A existência de diferentes referenciais teóricos e proposiçoes técnicas caracteriza a necessidade de incentivo, ainda na graduaçao, às pesquisas na área de psicoterapia, principalmente em abordagens com populaçoes específicas como os idosos.
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*Professora Colaboradora do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB/UFRJ), Coordenadora do Serviço de Psicoterapia do Centro para Doença de Alzheimer (CDA-IPUB/UFRJ), Bolsista pós-doutorado Parceria Coordenaçao de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior e Fundaçao Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (CAPES-FAPERJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
**Mestranda em Saúde Mental do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB/UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Instituiçao: Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
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