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Revista Brasileira de Psicoteratia

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Rev. bras. psicoter. 2011; 13(2):115-132



Artigo de Revisao

O Conceito de Resiliência: Diferentes Olhares

Resilience Concept: different perspectives

Anne Orgler Sordi*; Gisele Gus Manfro**; Simone Hauck***

Resumo

O conceito de resiliência transita entre aspectos físicos, biológicos e psíquicos. Podemos identifica-lo desde o primórdio da teoria psicanalítica, evoluindo para além da psicanálise nas mais diversas áreas da ciência. Seu estudo é muito útil na busca do entendimento dos fenômenos humanos, a partir da inter-relaçao entre as experiências primitivas, o ambiente, a neurobiologia e a genética. Este trabalho se propoe discutir o conceito de resiliência através de uma revisao histórica, partindo das teorias clássicas da psicanálise e da psicologia do desenvolvimento e de sua evoluçao nos diferentes campos da ciência até os achados mais recentes da psicobiologia.

Descritores: resiliência; trauma; psicobiologia; neurociência.

Abstract

The concept of resilience moves through physical, biological and psychological fields. It can be identified since the beginnings of psychoanalytic theory, evolving beyond psychoanalysis in several scientific areas. Its investigation is very useful in the study of human phenomena, considering the interrelationship between early experiences, the environment, neurobiology and genetics. This paper aims to discuss the concept of resilience through a historical review, starting from the classical theories of psychoanalysis and developmental psychology and evolving to its development in different fields of science to the most recent findings of psychobiology.

Keywords: resilience; trauma; psychobiology; neuroscience.

 

 

INTRODUÇAO

O conceito de resiliência pode ser identificado desde o início das teorias clássicas da Psicanálise e da Psicologia do Desenvolvimento. É um conceito presente nos mais diversos campos da ciência e seu estudo evoluiu, ao longo do tempo, a partir da integraçao de ideias provenientes dos diferentes campos da psiquiatria e de outras ciências como a física e a biologia, o que contribui para a complexidade deste constructo.

Este artigo inicia com a apresentaçao do conceito de resiliência relacionado às ciências humanas, com especial ênfase no campo da psiquiatria. A seguir, sao desenvolvidas algumas ideias das teorias clássicas da psicanálise e da psicologia do desenvolvimento que podem ser consideradas fundamentos para a construçao atual do conceito de resiliência. Complementando esses aspectos, serao expostas algumas informaçoes de como este constructo tem sido descrito, estudado e pesquisado no campo da psiquiatria atual, enfatizando sua importância teórica e utilidade clínica. Cabe salientar que nao é objetivo deste trabalho reduzir o conceito de resiliência a uma ou outra característica que este fenômeno contemple; muito pelo contrário, o objetivo é estimular a curiosidade e uma reflexao crítica sobre este complexo constructo.


O CONCEITO DE RESILIENCIA

O termo resiliência1 engloba um conceito que transita entre aspectos físicos, biológicos e psíquicos. Do latim resiliens, significa voltar para trás, recolher-se. Do inglês resilience, significa elasticidade, capacidade de recuperaçao1. Tem suas origens na física, significando a propriedade de um corpo de recuperar sua forma original após sofrer choque ou deformaçao. Pode também ser relacionado ao conceito de robustness, remetendo à ideia de que uma organizaçao estável, frente a uma perturbaçao, teria a capacidade de se manter intacta ou de organizar-se ao redor de outro fator a fim de manter a estabilidade, podendo este conceito ser aplicado a todo tipo de matéria2.

Na biologia, a evoluçao do conceito incorporou a noçao de adaptabilidade. Dessa maneira, pode ser aplicado tanto aos seres vivos, considerando-se todas as interaçoes orgânicas que ocorrem, mesmo em nível intracelular, a fim de que uma organizaçao viva e funcional possa ser gerada e mantida; quanto ao ecossistema, que muitas vezes necessita sofrer reorganizaçoes frente a adversidades para se manter preservado2.

Quando aplicado à psicologia, o conceito de resiliência refere-se à capacidade do indivíduo de enfrentar as adversidades, manter uma habilidade adaptativa, ser transformado por elas, recuperar-se ou conseguir superá-las1,3.


TEORIAS PSICANALITICAS E DA PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO

Apesar de resiliênciaa ser um conceito aparentemente recente dentro do campo da psicologia, podemos identificar sua origem nos primórdios da psicanálise e da psicologia do desenvolvimento. Desta forma, para entender a resiliência através dos diferentes paradigmas atuais, torna-se importante uma breve revisao de como a resiliência - como ideia e nao como conceito - transitou por alguns dos principais autores da primeira metade do século passado.

Em 1895, Freud reformulou sua ideia sobre as origens do trauma que, até entao, atribuía a fatores externos reais. Assim, passou a dar maior ênfase aos processos intrapsíquicos, inferindo que o traumático nao é o acontecimento real, mas a "lembrança recalcada" (fantasia), salientando também que algo se torna traumático no momento em que fica dissociado e fora da percepçao consciente4,5. Em Luto e melancolia (1915), descreve o luto como um processo reativo a uma perda, onde ocorreriam inibiçao e diminuiçao de interesse, explicados pela absorçao do ego devido ao trabalho de luto. A resoluçao do processo dar-se-ia a partir da possibilidade de renunciar ao que foi perdido, deixando a libido livre para se ligar a novos objetos ou ideais. De outro lado, Freud descreve a melancolia, processo que ocorreria de maneira diferente, resultando em uma diminuiçao intensa da autoestima e em um empobrecimento importante do ego. Enquanto no luto o mundo se torna pobre e vazio, na melancolia é o próprio ego que se esvazia. A melancolia estaria relacionada nao somente à perda real em si, mas a todas as representaçoes objetais inconscientes relacionadas a ela: a libido nao fica livre para ser deslocada para outro objeto; ao contrário, é fixada na identificaçao do ego com o objeto abandonado, "e a sombra do objeto recai sobre o ego"6.

Assim, pode-se dizer que o processo psíquico que se estabelece ao se vivenciar uma perda está ancorado nao somente no significado real do objeto perdido, mas no que a perda simboliza e na capacidade de entrar em contato com esses significados. Aqui podemos pensar que a resiliência se constitui na capacidade de elaborar a perda, sendo o luto um "marcador" de resiliência, ao contrário da melancolia. O indivíduo seguir um ou outro desses caminhos ao ser confrontado com uma perda depende, já na época, pensando na equaçao etiológica de Freud, de fatores inatos, ambientais e da interaçao entre eles. Podemos pensar no "resultado" da equaçao etiológica de Freud como a resiliência ou a ausência dela.

Em 1930, ao falar sobre o trauma, Freud diz: "Acho que, considerando a extraordinária atividade de síntese do Eu, nao se pode falar de trauma sem tratar ao mesmo tempo da cicatrizaçao reativa" (Freud, 1930). O traumático seria, entao, a incapacidade de integrar o evento intrassubjetivamente, considerando que a reaçao ao trauma se relaciona com um excesso de excitaçao nao tratável 5,7,8.

Melanie Klein (1963), em Sobre o sentimento de solidao, dá continuidade à teoria de Freud, ampliando-a, ao afirmar que o ego existe e opera desde o nascimento, tendo a funçao de defender-se das ansiedades estimuladas pelo conflito interno e pelas "influências de fora". Assim, estabelecem-se desde o nascimento os processos de projeçao e introjeçao, articulando a estruturaçao de um mundo interno que é, em parte, a reflexao do mundo externo. Esse processo continua e se modifica no curso da maturaçao do indivíduo. Porém, mesmo no adulto, o julgamento da realidade jamais está inteiramente isento da influência do mundo interno que se estruturou a partir dessas experiências primitivas. Sendo assim, qualquer evento estressor e seu impacto e significado estarao sob o crivo do jogo das projeçoes e introjeçoes que ocorreram ao longo da vida, determinando a capacidade de adaptaçao/resiliência frente aos fatores ambientais ou internos (p.ex., doenças orgânicas).

Klein explora o conceito de relaçoes objetais no processo de integraçao entre as ansiedades paranoides e depressivas, o que tornaria o ego mais seguro nao só em relaçao à sua sobrevivência, como em relaçao à preservaçao dos objetos bons introjetados. Ela afirma, porém, que essa integraçao ocorre de maneira gradual, e a segurança que ela alcança pode ser perturbada por pressoes tanto internas quanto externas. Existe uma agressividade inata na criança, que poderá se intensificar como defesa contra as circunstâncias externas desfavoráveis, assim como será modulada pela compreensao e amor que a criança receber. Todos esses fatores continuam operantes durante todo o desenvolvimento. Dessa forma, Klein já fornecia suporte para o conceito de resiliência ao discutir a capacidade de manter o ego integrado frente às adversidades, ou de reintegrá-lo quando desestruturado por um estressor mais intenso, buscando a predominância de objetos bons frente às ansiedades paranoides9.

Melanie Klein também discorre sobre a necessidade de um processo educativo que inclua a vivência de frustraçoes. Se a ausência de frustraçao e o excesso de indulgência podem gerar culpa na criança, o excesso de frustraçao pode reforçar a tendência da criança à repressao. A criança que reage intensamente contra toda frustraçao tende a se ressentir de maneira importante ante a quaisquer falhas do ambiente em que vive e a subestimar a bondade alheia. Dessa maneira, faz uso maciço da projeçao para livrar-se das sensaçoes que provocam desprazer. Pessoas que mantêm esse padrao adaptativo ao longo da vida tornam-se menos tolerantes a situaçoes frustrantes e podem fazer uso maciço desses mecanismos de defesa mais primitivos, o que acaba por gerar prejuízo nas relaçoes interpessoais9.

Hanna Segal (1954) utiliza os conceitos kleinianos em sua teoria sobre a formaçao de símbolos. A autora sugere que a capacidade de simbolizaçao é uma relaçao entre o ego, o objeto e o símbolo. Trata-se de uma maneira de o ego lidar com ansiedades mobilizadas pela relaçao com o objeto, principalmente em relaçao ao medo do objeto mau e a perda do objeto bom. Para Segal, a formaçao de símbolos se inicia muito cedo, tanto quanto a formaçao das relaçoes de objeto. Os primeiros símbolos sao formados a partir de projeçoes do indivíduo para dentro do objeto, que se identifica com aspectos das partes projetadas. Da mesma maneira, objetos internos sao projetados para o mundo externo, e esses símbolos externos passam a representar as partes do self projetado. A autora diferencia esses primeiros símbolos chamando-os de "equaçao simbólica", pois sao sentidos como próprios do objeto original. Esse fenômeno é mais verificado em indivíduos com funcionamento mais concretos, sendo considerado uma perturbaçao na relaçao entre o ego e o objeto, como ela exemplifica ao citar os pacientes esquizofrênicos10.

Quando o desenvolvimento se dá de maneira saudável, o indivíduo vivencia a fase depressiva, que consiste na integraçao do objeto bom e do objeto mau. Essa experiência possibilita uma diminuiçao na intensidade das projeçoes e maior diferenciaçao entre self e objeto, aumentando o sentido de realidade interna e externa. Assim, o objetivo do ego passa a ser a proteçao do objeto contra as pulsoes possessivas e agressivas tao fortemente presentes na fase anterior. A inibiçao dessas pulsoes torna-se um estímulo para a criaçao de símbolos, no momento em que estes funcionam como uma maneira de desviar essas pulsoes do objeto original, e nao como uma equivalência do mesmo. Nesse sentido, a capacidade de simbolizar uma situaçao traumática permite ao indivíduo atribuir algum significado ao ocorrido em vez de senti-lo como uma "equaçao simbólica", o que geraria ansiedades muito intensas e a retomada de defesas mais primitivas. Sabe-se hoje que, nas patologias do trauma, a perda da capacidade de simbolizaçao é um dos fatores centrais e também um dos focos dos tratamentos psicodinâmicos dessas condiçoes. Manter a capacidade de simbolizaçao frente a situaçoes traumáticas, do ponto de vista psicodinâmico, é um dos marcadores mais consistentes de resiliência 10.

Segal baseou parte de sua teoria nas ideias propostas por Bion (1959) sobre a relaçao entre continente e contido. Dessa maneira, nao seria apenas a identificaçao projetiva que levaria à formaçao do símbolo, sendo importante levar em conta a relaçao entre a parte projetada e o objeto no qual foi projetado. A possibilidade de a mae conter as angústias do bebê, acolhendo suas confusoes e emoçoes, seria o primeiro passo na aquisiçao de uma autocontinência psíquica a partir da relaçao primária com um seio pensante. Dessa forma, a introjeçao de um objeto compreensivo permite ao indivíduo expor-se ao desconhecido advindo tanto do mundo externo quanto interno, formulando suas próprias representaçoes. Quando isso nao ocorre, o bebê vivencia uma série de angústias que nao podem ser compreendidas, o que Bion chamou de "terror sem nome". Assim, há uma tendência à desconfiança frente ao mundo externo e seus objetos, favorecendo o fechamento narcísico com vivências de solidao, vazio e ameaça, além da incapacidade de elaboraçao de eventos traumáticos10. Atualmente, a epigenética nos ensina que a resposta do cuidador nao apenas modula características já existentes como também modifica a expressao gênica e o sistema de resposta ao estresse, elucidando um dos mecanismos que propiciam a influência do meio (aqui especialmente cuidador-mae) no desenvolvimento psicobiológico do indivíduo, já descrita pelos autores iniciais da psicanálise e psicobiolgia do desenvolvimento11.

Também para Winnicot (1960), para ocorrer um desenvolvimento adequado do self da criança, é essencial considerar-se a relaçao do bebê com a mae. Neste aspecto, o autor introduz a ideia de verdadeiro e falso self. Descreve uma "mae suficientemente boa" como aquela que, através de uma adaptaçao relativamente bem sucedida às necessidades do lactente, pode reforçar seu ego ainda em processo de integraçao, contribuindo para a formaçao de seu self verdadeiro. Isso é possibilitado por uma resposta repetida da mae em relaçao ao gesto, ou alucinaçao sensorial do bebê, desenvolvendo nele a capacidade de usar símbolos. No outro extremo, quando a mae é inábil para sentir as necessidades do lactente, ela falha repetidamente em satisfazer os gestos de seu bebê, substituindo-os pelo seu próprio gesto, que deve ser validado pela submissao do lactente, dando início à formaçao do falso self. A este modelo, Winnicot chamou de uma "mae nao suficientemente boa", tendo como efeito o isolamento e a submissao do lactente, porque a catexia dos objetos externos nao é iniciada. O autor ainda propoe que, através de uma capacidade de conciliaçao, o falso self tem uma funçao protetora de encobrir em determinado grau o verdadeiro self, permitindo que ele se expresse em situaçoes que seriam socialmente adaptáveis. Quando isso nao é possível, o falso self esconde o verdadeiro, construindo um conjunto de relacionamentos fracos, diminuindo a capacidade para o uso de símbolos e gerando uma necessidade de criar ilusoes da realidade externa (?).

A importância das interaçoes que se estabelecem entre a mae e o bebê e que participam da qualidade do desenvolvimento do indivíduo também foi explorada pela teoria do apego, desenvolvida por John Bowlby a partir da década de 1950. Bowlby foi um dos principais autores a estudar a importância da formaçao de vínculos primitivos no desenvolvimento da personalidade e vulnerabilidade à psicopatologia. O autor se inspirou na etologia para explicar os trabalhos sobre apego, defendendo a ideia de que a realidade pode moldar o mundo íntimo das crianças12. Contrapondo-se à teoria de Freud, baseada nas pulsoes de vida e morte, Bowlby acreditava que a criança tinha uma tendência instintiva a buscar proximidade, cuja funçao seria a preservaçao biológica do indivíduo e da espécie. Na ausência materna, a criança passaria a desenvolver sintomas de medo e ansiedade. Bowlby (1960) compara esse sentimento com o sentimento de luto, que considera ocorrer tanto na vida primitiva, quanto na vida adulta. O sistema de apego que é desenvolvido entre a mae e o bebê é utilizado posteriormente para modular o apego ou afastamento de outros indivíduos em qualquer idade, com flexibilidade conforme a mudança de condiçoes que a pessoa está vivenciando13,14,15.

No desenvolvimento de suas ideias, Bowlby diz que as experiências primitivas de apego sao gradualmente internalizadas e organizadas para posteriormente regular as relaçoes e os comportamentos adultos, com uma flexibilidade que possa permitir uma adaptaçao mesmo em situaçoes de mudanças extremas. Quando isso nao acontece, a capacidade de adaptaçao do indivíduo pode ficar prejudicada. Ele exemplifica com o caso de um menino que é designado a uma sucessao de diferentes cuidadores e por isso pode se tornar muito autocentrado e pouco capaz de desenvolver relacionamentos próximos no futuro13. Além disso, ele explora os sentimentos de ansiedade e de medo quando esses laços de apego sao desfeitos. A separaçao das figuras de apego provoca uma sensaçao de perigo e ameaça, de forma que a ausência de cuidadores pode levar a criança a se tornar menos exploradora e mais propensa a desenvolver sentimentos de medo e ansiedade. Além disso, a permanência da falta de um apego seguro propicia que a criança perca o interesse pelo cuidador, como uma defesa a essa ausência afetiva12. Esse fenômeno, que pode permanecer internalizado durante a vida adulta, predisporia a um desenvolvimento desadaptativo, oposto aos mecanismos que tornariam uma pessoa mais resiliente.

Muitas de suas ideias foram contestadas na época por aqueles que consideravam que o trauma nao existia na realidade externa e que as crianças ficavam traumatizadas pela emergência de uma representaçao inaceitável16. Dessa forma, Bowlby procurou unir estes dois conceitos ao escrever: "... o caminho que cada indivíduo segue no seu desenvolvimento e seu grau de resiliência ante os acontecimentos estressantes da vida sao fortemente determinados pelo esquema de apego que desenvolveu nos seus primeiros anos de vida" 17.


PESQUISAS ATUAIS EM RESILIENCIA

A introduçao do conceito de resiliência no campo das ciências da saúde teve início na década de 1970 com estudos sobre pessoas que, apesar de terem vivenciado situaçoes traumáticas agudas ou prolongadas, nao adoeciam como seria o esperado18. O conceito foi proposto inicialmente por Gamerzy, em 1984, nos Estados Unidos, como uma manifestaçao da competência desenvolvida pela criança apesar da exposiçao a eventos estressantes. Em 1985, Rutter definiu resiliência como o enfrentamento de um evento adverso, de maneira a favorecer o aumento das competências sociais em relaçao à responsabilidade acessível às circunstâncias19.

Um dos primeiros e mais importantes estudos nesta área foi realizado com órfaos originários da Romênia precocemente separados de suas maes que passaram por intensa privaçao emocional e física durante o período da ditadura. Após o governo de Nicolae Ceaucescu, no início da década de 1990, essas crianças foram encaminhadas para famílias cuidadoras em diferentes países. Rutter (1985) avaliou esses órfaos anos depois de eles terem sido encaminhados para os novos lares e verificou que, apesar da disparidade no desenvolvimento inicial que essas crianças apresentavam em relaçao às crianças de mesma idade, muitas delas acabaram tendo um desenvolvimento satisfatório e se tornaram resilientes apesar das experiências traumáticas e de privaçao vivenciadas no início da vida20. Assim, Rutter postula que a resiliência nao pode ser considerada como um traço de personalidade, mas como um processo dinâmico que pode variar em diferentes contextos. Outros autores também concordam em que a resiliência é uma habilidade que pode ser aprendida em qualquer idade21. Dessa forma, passamos a pensar em resiliência como um constructo móvel, modificável ao longo da vida conforme as circunstâncias passadas e presentes. Essa visao valoriza as intervençoes mais tardias, como a psicoterapia, como potenciais ferramentas para ampliar a capacidade dos indivíduos de enfrentar as adversidades e conflitos inerentes à sua existência.

Na época, Rutter identificou resiliência como o oposto da vulnerabilidade1. Por vulnerabilidade, entende-se a predisposiçao do indivíduo a desenvolver alguma forma de psicopatologia ou sintoma, ou a resultados negativos em algum processo de desenvolvimento22. Anthony, na década de 1970, já introduzira o conceito de vulnerabilidade, classificando as pessoas vulneráveis em quatro categorias: 1) as hipervulneráveis, que sucumbem a situaçoes de estresse comuns na vida; 2) as pseudoinvulneráveis, que viveram em um ambiente demasiadamente protetor e sucumbem com pequenas adversidades; 3) as invulneráveis, que vivenciam diversas situaçoes de estresse e se recompoem com facilidade; e 4) as nao vulneráveis, que sao robustas desde o nascimento e nao se alteram frente a adversidades23. Porém, esse constructo de vulnerabilidade como o lado oposto de um continuum foi contestado por muitos autores, entendendo a resiliência como capacidade do indivíduo de, mesmo após a desintegraçao ou modificaçao frente a um fator estressor, devido à sua vulnerabilidade, conseguir adaptar-se novamente; esta capacidade estaria estruturada em vivências primitivas e fatores de risco e de proteçao que poderiam ser modificados ao longo da vida 22,23.

Os achados iniciais possibilitaram discutir quanto à intensidade de fatores de risco (privaçoes, eventos traumáticos) poderia influenciar a capacidade do indivíduo de lidar com situaçoes adversas, visto que todo ser humano possuiria um limite para lidar com estresse. Alguns autores passaram a considerar que o número de eventos adversos vivenciados poderia ter implicaçao na capacidade de resiliência do indivíduo (24). Gamerzy (1991) sugere serem as situaçoes agudas muito mais desastrosas para o indivíduo do que situaçoes crônicas, às quais já estaria habituado. Mais tarde, porém, vem a considerar a implicaçao do acúmulo e da cronicidade de eventos estressores na capacidade do indivíduo de resistir a situaçoes traumáticas. Além disso, é importante lembrar que é a visao subjetiva do indivíduo a determinado evento estressor e o sentido atribuído ao mesmo que terá implicaçao no dano proporcionado3.

Dessa maneira, tornou-se contraditório pensarmos na existência de fatores de risco definitivos para a capacidade de resiliência. A vivência de situaçoes adversas somada a uma incapacidade de se readaptar após o evento, ocorrido repetidamente, proporcionaria uma desestruturaçao cada vez maior no indivíduo, uma sensaçao de insegurança e desorganizaçao, tornando-o mais vulnerável. Por outro lado, a capacidade de vivenciar o evento traumático, modificar-se com ele de maneira saudável, readaptar-se e aprender com ele, proporcionaria o desenvolvimento da autoestima, da sensaçao de segurança e capacidade de superaçao.

É importante salientar, no entanto, que a trajetória de cada indivíduo com seu sistema biológico particular, sua história de vida e seus "encontros interpessoais" é um quadro complexo e dinâmico. Mesmo que identificados muitos dos fatores que em geral promovem resiliência ou vulnerabilidade para cada paciente que temos frente a nós, importará a arte de entender o que cada um desses fatores representa para aquele indivíduo naquele momento e como podemos intervir promovendo o aumento de sua capacidade de enfrentar adversidades e, por que nao, de ser mais feliz dentro de suas particulares circunstâncias.

Assim, uma discussao se abre para pensarmos se existem fatores de risco para a capacidade de resiliência, visto que todos os indivíduos vivenciarao situaçoes traumáticas ao longo da vida. Por outro lado, há consenso de que existem fatores de proteçao que terao influência na subjetividade frente ao evento estressor e na habilidade para lidar com ele1,22, 25. Eventos traumáticos que ocorrem na infância, por exemplo, como o abuso emocional, físico ou sexual, antes que o indivíduo tenha desenvolvido minimamente seu sistema de resposta ao estresse e sua personalidade, sao quase universalmente potencialmente traumáticos. Mas sempre, tudo deve ser considerado do ponto de vista do indivíduo quando nossa funçao é tratar aquele indivíduo em particular. Para a ciência, no entanto, cabem as generalizaçoes. Cabe ao psicoterapeuta, médico ou agente de saúde a sabedoria de colocar o conhecimento em perspectiva, e isso nao precisa ser um impasse; afinal, nao existem respostas universais para as perguntas de cada ser vivo em suas circunstâncias particulares.

No entanto, a busca de fatores comuns é fundamental para o enriquecimento do conhecimento. Sua aplicaçao, considerando o ponto de vista dos psicoterapeutas, é que depende da visao cuidadosa desse conhecimento em cada contexto particular. Diferentes estudos foram conduzidos para avaliar quais seriam os fatores de proteçao que proporcionariam ao indivíduo uma maior predisposiçao à capacidade de resiliência. Fator de proteçao é considerado tudo aquilo que possa produzir no indivíduo uma reduçao do efeito negativo frente a uma adversidade. Muitos desses estudos sao realizados com crianças e identificam como fatores de proteçao características pessoais do indivíduo, estrutura familiar e ambiente. Características individuais que mostraram sua associaçao com maior capacidade de resiliência sao inteligência, estabilidade emocional, estratégias de coping, autonomia, controle, atençao e predisposiçao genética22, 26.

Um conceito importante que pode favorecer a capacidade de resiliência, mas nao pode ser confundido com ela, é conceito de coping. Este se refere aos esforços cognitivos e comportamentais utilizados pelo indivíduo para lidar com situaçoes estressoras. Eles podem ocorrer de uma forma adaptada, tornando-se um fator protetor para o processo de resiliência, ou desadaptada, como em indivíduos com perfil excessivamente evitativo ou obsessivo (Pesce et al., 2004).

Muitos autores concordam que um dos principais fatores para o desenvolvimento saudável da criança é a presença de figuras parentais afetivas e cuidadoras, que possam proporcionar uma sensaçao de segurança e autocontrole. Um estilo parental caloroso é associado a uma maior capacidade de ajustamento dos filhos em domínios sociais, emocionais ou acadêmicos25. Ferguson e Horwood (2003) desenvolveram um estudo no qual seguiram 1.265 recém-nascidos até os 21 anos de idade para avaliar quais fatores poderiam estar associados à resiliência. Eles observaram que fatores de proteçao, como inteligência, vínculo parental saudável e elevada autoestima, tinham o mesmo impacto na capacidade de resiliência de crianças expostas, ou nao, a muitas adversidades27. Conrad (1998) desenvolveu um estudo com crianças de rua, filhas de mulheres com sintomas depressivos e verificou que 60% delas nao apresentaram problemas de comportamento em idades mais avançadas, atribuindo esse resultado a figuras externas que ofereceram suporte e segurança ao indivíduo29. Pesce (2004) avaliou 997 alunos e verificou que eventos traumáticos ao longo da vida nao estavam relacionados a características de um indivíduo resiliente. Esses achados estao de acordo com a teoria, que nao encontra relaçao direta entre risco e resiliência, considerando o processamento da experiência como o fator mais determinante. Os fatores de proteçao, por outro lado, mostraram essa associaçao, reforçando a hipótese de que eles irao influenciar na habilidade para lidar com situaçoes adversas ao longo da vida22.

Considerando-se que fatores de proteçao sao modificáveis ao longo da vida e que a resiliência é um constructo dinâmico, alguns autores passaram a pensar na resiliência como um conceito sistêmico. O sistema envolveria tanto a capacidade do indivíduo de adaptar-se ao ambiente externo, quanto do ambiente a modificar-se com o indivíduo. Nesse aspecto, remetemo-nos novamente ao conceito físico de resiliência, à ideia de um corpo que se modifica frente a uma pressao e retorna a um estado de equilíbrio. Um equilíbrio dinàmico é determinado pela intensidade da perturbaçao inicial e pelas leis que contribuem para a preservaçao do sistema. Após uma perturbaçao, o sistema pode se readaptar de maneira igual, mais estável ou instável2. Nesse sentido, pensamos em resiliência como a capacidade de se reorganizar frente ao fator estressor, levando em consideraçao a organizaçao estrutural psíquica do indivíduo de maneira a adaptar-se à sua realidade externa.

Para Cyrulnik (2001), a resiliência é um processo íntimo que se integra a um processo social. Ele associa o conceito de resiliência a uma "mola", pela capacidade de se modificar frente a um impacto e retornar à estabilidade, e a um "tecido", que se configura no espaço entre a pessoa e seu entorno social, como um mosaico de pano que vai sendo tecido29. Canelas (2004) afirma que a resiliência pode ser aprendida dentro de uma perspectiva de ecossistema que envolve o indivíduo, a família, a sociedade e a comunidade. Pesce (2004) sintetiza essa compreensao ao afirmar que "a resiliência representa um conjunto de processos sociais e intrapsíquicos que possibilitam o desenvolvimento de uma vida sadia, mesmo vivendo em um ambiente nao sadio". A autora caracteriza esse constructo como um processo interativo entre a pessoa e seu meio, que se estabelece como resultado de variaçoes individuais em resposta ao risco30. Os mesmos fatores causadores de estresse podem ser experienciados de formas diferentes por pessoas diferentes. Dessa forma, ela conceitua o termo resiliência como a possibilidade de superaçao, o que nao representa uma eliminaçao do problema, mas sua ressignificaçao22. Nesse sentido, nao basta a pessoa readaptar-se de maneira a manter o sistema aparentemente em funcionamento, se isto se dá em funçao de uma reestruturaçao psíquica patológica. A adaptaçao deve ser saudável para o indivíduo e para suas relaçoes com o meio em que vive.

Francisco Varela (1980), neurobiólogo chileno que trabalhou ao lado de Humberto Maturana, contribuiu para o conceito de resiliência como sistema ao introduzir a teoria da autopoiese. Segundo o autor, é necessário entendermos um organismo como contendo uma série de identidades, e nao uma identidade única. A interaçao entre todas essas identidades (identidade imunológica, identidade cognitiva, identidade celular, etc.) é que forma um sistema funcional. Esse fenômeno é aplicado desde o entendimento de uma célula (um sistema organizado envolto por uma membrana) até um ser humano, ou uma sociedade. Um sistema resiliente seria aquele que manteria as interaçoes internas e externas de forma adaptada frente a um estressor. Sua teoria sobre a imunologia defende a ideia de que o ser vivo possui um sistema imunológico independente dos fatores externos que possam agredir o organismo. Ele exemplifica esse fenômeno ao transpor sua ideia para a dependência química, que funcionaria como um fator agressor à sociedade. Nao adiantaria eliminar o fator agressor - as drogas - se nao reinserirmos os usuários em empregos, ou dermos a eles condiçoes de saúde, de maneira que eles possam fazer parte dos mecanismos que preservam o sistema. Quando isso nao ocorre, o sistema pode se desorganizar de maneira a ruir, autodestruindo-se31.

Outro campo em que o estudo da resiliência tem avançado bastante é o das neurociências. Uma série de estudos tem sido desenvolvida para se entender quais mecanismos neuroquímicos proporcionam uma melhor ou pior capacidade de enfrentar situaçoes adversas. A maioria dos achados apoia-se no fato de que experiências primitivas de qualidade de apego modulariam determinados circuitos cerebrais de maneira a desenvolver uma maior resiliência. Dessa forma, postula-se que um indivíduo é biologicamente predisposto a manter o apego, especialmente em situaçoes de perigo32. Quando as experiências primitivas sao inadequadas, como, por exemplo, na falta ou excesso de estímulo e contato emocional, estruturas cerebrais envolvidas nesse sistema nao se desenvolvem adequadamente, provocando uma sensaçao mais acentuada de insegurança e aumento da ansiedade em momentos de crise, afastando o indivíduo da capacidade de resiliência e aproximando-o de um desenvolvimento emocional disfuncional32,33,34.


PSICOBIOLOGIA

Estudos têm identificado que a capacidade de solucionar problemas e de enfrentamento de medo dependem do funcionamento de estruturas neuroquímicas que se relacionam ao eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, que por sua vez tem seu funcionamento modulado pela herança genética, bem como por vivências experimentadas principalmente nos primeiros anos de vida11. Diversas estruturas cerebrais têm participaçao do processo de reconhecimento do perigo e da habilidade de enfrentamento da situaçao. O locus ceruleus tem projeçoes para áreas cerebrais responsáveis pela memória, atençao e emoçao; a ponte reticular caudal é responsável pela ativaçao da resposta de "sobressalto" (startle response); o sistema simpático e o parassimpático serao estimulados respectivamente pela medula ventral rostral e pelo trato solitário; por fim, a stria terminalis desencadeia o funcionamento do eixo hipólamo-hipófise-adrenal35.

Muitos sao os mediadores dessa cadeia de reaçoes químicas. Entre eles, têm chamado atençao as evidências em relaçao à associaçao do neuropeptídeo Y (NPY) com o desenvolvimento da resiliência11,36. Esse neurotransmissor tem implicaçao em diversos processos psicológicos, como a memória de aprendizagem, sono, fome, regulaçao do humor e ansiedade, e acredita-se que essa interaçao do NPY com o sistema hipotálamo-hipófise-adrenal e com a produçao de serotonina possa ter uma implicaçao mais direta na capacidade de resiliência36,37. Em relaçao ao brain-derived neurotrophic factor (BDNF), um mediador que parece ter relaçao com a neurogênese e plasticidade cerebral, as pesquisas têm evidenciado achados paradoxais 38. Apesar das evidências da diminuiçao do BDNF no hipocampo nos casos de TEPT, seus níveis séricos pareceram estar aumentados nas fases iniciais da patologia pós-traumática. Acredita-se que o BDNF sofra reduçao após tratamento efetivo, sugerindo que esse aumento inicial poderia estar relacionado ao aprendizado disfuncional e alteraçoes de memória típicos do TEPT 39,40.

Evidências têm apontado também que maus tratos na infância podem provocar alteraçoes no desenvolvimento da estrutura e funcionamento cerebral. Anormalidades estruturais foram identificadas no desenvolvimento do corpo caloso, neocórtex esquerdo, hipocampo e amígdala. As alteraçoes funcionais sao relativas ao funcionamento do sistema límbico, disfunçoes do lobo frontal e reduçao da atividade funcional do vermis cerebelar41.

Uma visao semelhante é discutida por Silva (2005) quando fala sobre a ideia de regulaçao emocional como uma estratégia dirigida a manter, aumentar ou suprimir um estado afetivo em curso. Ele infere que a habilidade de regular afetos estaria relacionada à habilidade de diferenciar emoçoes e que a incapacidade de manter uma regulaçao emocional frente a um evento estressor seria um indicativo de predisposiçao à psicopatologia. Ele postula que o adequado funcionamento da interaçao entre córtex pré-frontal e amígdala permite que emoçoes negativas possam ser modificadas42.

Pesquisas ainda mais recentes têm introduzido a ideia do "gene resiliente". Essas pesquisas mostram que a exposiçao a eventos traumáticos pode provocar alteraçoes no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, aumentando a vulnerabilidade ao transtorno de estresse pós-traumático e transtornos de humor e que esses efeitos podem ser mediados pela interaçao gene versus ambiente atuando na expressao de polimorfismos genéticos, como o polimorfismo dos genes CRHR1 e FKBP5. Indivíduos que possuem esses polimorfismos genéticos parecem ser mais protegidos contra os efeitos dos eventos traumáticos nas alteraçoes do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal21.


CONCLUSAO

Este é um trabalho que nao se propoe encerrar uma discussao sobre o que é resiliência. Muito pelo contrário, seu objetivo é o desenvolvimento da curiosidade sobre um tema tao discutido nos dias de hoje. Apesar de baseado em teorias clássicas da psiquiatria, a resiliência é um conceito relativamente recente no estudo da mente humana e vem sendo apresentado de diferentes maneiras pelos autores que se interessam pelo assunto. Nesse sentido, é um conceito que reflete a importância de se entender como muitos fenômenos se formam a partir de uma inter-relaçao entre vivências primitivas, ambiente, neurobiologia e genética. Ainda estamos longe de compreender perfeitamente como se estabelece a capacidade de resiliência em um indivíduo, mas é a partir desses diferentes olhares sobre o tema que vai se formando a compreensao de como o ser humano desenvolve a capacidade de enfrentar situaçoes adversas. Acima de tudo, quando pensamos no papel do psicoterapeuta, é preciso olhar e buscar entender esse conhecimento e sua constante evoluçao dentro da história individual e características de cada paciente e de como a compreensao da mente e da biologia pode ajudar a aumentar a capacidade de resiliência de um indivíduo em particular.

Integrando o conhecimento apresentado, podemos perceber que o conceito de resiliência é ancorado em ideias propostas pelas teorias clássicas da psicanálise e da psicologia do desenvolvimento, mas que transita entre diferentes enfoques da psiquiatria. Assim, é um conceito que se presta à integraçao entre esses variados paradigmas, mas que vem ao encontro do que Freud já postulara em sua equaçao etiológica: a formaçao do indivíduo está baseada em suas heranças constitucionais, experiências infantis e experiências vivenciadas na vida adulta43. Interessante ainda é pensar que, para se entender a resiliência, nao basta apenas olhar para o passado. Viktor Emil Frankl (1946), sobrevivente de quatro campos de concentraçao, trouxe uma contribuiçao importante ao introduzir a ideia de "sentido da vida". Ele reforça que a percepçao de que a existência possui um significado, e que este deve ser buscado, seria a principal força motivadora da pessoa para continuar vivendo. Isso facilitaria a capacidade para suportar momentos de sofrimento intenso e de dar um significado ao ocorrido, como um desafio compreensível e manejável, utilizando-se da criatividade, aprendizado, superaçao e crescimento44.


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* Médica Psiquiatra do Serviço de Psiquiatria do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Doutoranda em Psiquiatria/UFRGS.
** Professora do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da UFRGS e do Programa de Pós-Graduaçao em Psiquiatria da UFRGS.
*** Médica Psiquiatra. Doutora em psiquiatria/UFRGS. Professora do Curso de Especializaçao em Psicoterapia de Orientaçao Analítica do Centro de Estudos Luis Guedes.

Endereço para correspondência:
Anne Orgler Sordi
Hospital de Clinicas de Porto Alegre
Ramiro Barcelos 2350, sala 2201A
CEP 90035-903 - Porto Alegre - RS
annesordi@yahoo.com.br

Recebido em: 14/03/2011 Aceito em: 18/12/2011

a Resiliência: re.si.li.ên.cia. sf (ingl resilience) 1 Ato de retorno de mola; elasticidade. 2 Ato de recuar (arma de fogo); coice. 3 Poder de recuperaçao. 4 Trabalho necessário para deformar um corpo até seu limite elástico. Dicionário Michaellis, Ed Melhoramentos 2009.

 

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