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Revista Brasileira de Psicoteratia

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Rev. bras. psicoter. 2011; 13(2):92-114



Artigos Originais

Transmissao do psiquismo entre as geraçoes

The Psychic Transmission Between Generations

Ingrid Borba Hartmann*; Sidnei Schestatsky**

Resumo

O debate sobre a transmissao do psiquismo entre geraçoes, embora presente desde o início na obra de Freud, teve nos últimos anos um novo impulso na psicanálise, com vários trabalhos dedicados à articulaçao da realidade psíquica do sujeito singular com a realidade psíquica do grupo. O estudo desses fenômenos pode enriquecer a compreensao do sofrimento psíquico, e o objetivo deste trabalho é realizar uma revisao teórica sobre o tema da transmissao do psiquismo entre as geraçoes, nas modalidades intergeracional e transgeracional, exemplificando-se com um caso clínico.

Descritores: relaçao entre geraçoes; psicologia identificaçao (psicologia).

Abstract

The debate about psychic transmission between generations has been present, in the work of Freud, since the beginning of psychoanalysis. But there has been a renewal of interest about this subject in the last years, and many articles have been dedicated to the understanding of the relationship between the psychic reality of the singular person and that of his group. The study of this phenomenon can enrich our comprehension of psychic suffering. So, the objective of this work is to proceed a revision of the literature about this topic, on its two modalities, intergenerational and transgenerational transmission. A clinical report is included as an illustration.

Keywords: intergenerational relations; psychology; identification (psychology).

 

 

"Aquilo que herdaste de teus pais, conquista-o para fazê-lo teu".
Goethe, Fausto.


INTRODUÇAO

O debate sobre a transmissao psíquica é contemporâneo ao nascimento da psicanálise1, embora este tema esteja presente desde a Antiguidade2. Na literatura, é possível observar a repetiçao de tramas em que tragédias familiares imobilizam o sujeito da açao3. A questao da herança transgeracional e intergeracional é um dos aspectos das tragédias clássicas, sempre em trilogias, desenvolvidas a partir do mesmo núcleo - o crime terrível no interior da família, que exige vingança através de outro crime sangrento, desencadeando nova vingança e assim por diante, sem a possibilidade de se interromper a sucessao dolorosa das mortes4. A problemática do Édipo, no plano da tragédia, é transmitida através das geraçoes desde seu avô, pai de Laio. Assim, o discurso de Édipo é também um discurso do outro, que remete ao outro, em uma articulaçao interminável que se dirige, por sua vez, a uma comunidade de homens, deuses e semideuses, cujas origens se confundem com o próprio mito da criaçao do mundo4.

A inscriçao do sujeito em uma cadeia da qual é um elo e à qual se submete - seu desenvolvimento psíquico em relaçao àquilo do qual é herdeiro e que lhe é inconscientemente transmitido e seu forte per-tencimento psíquico a um grupo - todas essas interrogaçoes abordam a questao da transmissao intergeracional e da imposiçao, para o sujeito, de ser herdeiro forçado, beneficiário, mas também pensador e criador daquilo que lhe foi transmitido.

Para compreender a transmissao do psiquismo entre sujeitos, e entre geraçoes, é fundamental compreender a relevância do papel do outro na formaçao do psiquismo do sujeito. As consideraçoes pertinentes à transmissao psíquica entre geraçoes sao encontradas já em Freud, em Totem e tabu (1913), ao se referir à continuidade psíquica na série das geraçoes - e também em Introduçao ao narcisismo (1914), ao destacar que o indivíduo é, em si mesmo, seu próprio fim, mas se encontra vinculado a uma corrente geracional como elo da transmissao, sendo herdeiro da mesma5.

Essas ideias foram ampliadas por Klein, Bion e Winnicott, e se deve a eles a introduçao dos conceitos de relaçao de objeto, funçao alfa e capacidade de rêverie. Outro conceito, o de sujeito do grupo, indica que o sujeito do inconsciente está sempre ligado a um conjunto intersubjetivo de sujeitos do inconsciente, um elo na cadeia genealógica que herda os desejos que precedem sua existência e que organizam seu próprio desejo. É assim que as formaçoes do inconsciente se transmitem pela cadeia das geraçoes1:

Neste conjunto que recebe a criança e que a nomeia, que terá sonhado com ela, que nela investe e lhe fala, o sujeito do grupo se torna sujeito falante e sujeito falado, nao somente pelo efeito da língua, senao pelo efeito do desejo dos que - como... a mae - se fazem também porta-vozes do desejo, da proibiçao, das representaçoes do conjunto, ou seja, ocorrem inúmeras açoes psíquicas que fazem com que o sujeito, em seu inconsciente, perceba uma necessidade dupla: de 'ser para si mesmo seu próprio fim' e também de ser 'o elo de uma cadeia à qual está submetido, sem a participaçao de sua vontade'1.


O contrato narcísico de Aulagnier (1997) indica a existência de um pré-investimento dos pais em relaçao ao bebê. A criança demanda ao grupo reconhecimento de que pertence a ele, enquanto o grupo demanda dela a preservaçao de valores e leis previamente estabelecidos. A criança, assim, só pode constituir objetos de pensamento sob a condiçao de terem sido transformados pela "funçao alfa" da psique materna. Da mesma forma, Winnicott ressalta a funçao transformadora e metabolizadora da mae. Esse espaço de intermediaçao marca uma fundamental escolha de caminhos sobre a forma pela qual a transmissao psíquica vai acontecer apud5


A TRANSMISSAO GERACIONAL

Parece haver uma urgência em transmitir, relativa à continuidade evolutiva de uma geraçao a outra, que permite a cada um nao partir novamente do zero, e a cada um chegar à vida, tomando seu lugar com uma herança, depois de muitos outros. Uma geraçao nao pode existir sem a que a precede e deve criar outra para perpetuar a vida para além de seu desaparecimento. E "sabemos que o que nao pode ser contido em um sujeito, ou em um grupo, é 'confiado' a outro ou a outros, ou seja, transmitido"2.

A transmissao imposta a cada um, desde o nascimento, faz da criança o elo de uma cadeia geracional e a destina a um lugar oferecido pelo grupo que a acolhe. Herdeira daquilo que se teceu e daquilo que se calou nos laços de aliança dos pais, a criança, que se beneficia do investimento narcísico destes, assegura a continuidade do conjunto e adquire a possibilidade de sua própria subjetividade. É a este preço que poderá existir, constituir-se psiquicamente como sujeito do inconsciente e sujeito do grupo. O que é oferecido à criança é um lugar a ocupar e uma carga a assumir. Aquilo de que deve se encarregar é a continuidade do ser-conjunto da família, herdeira dessa parte lacrada no pacto de aliança, o "pacto denegativo", que tem por funçao conter e manter fora de alcance certas questoes negativas da transmissao psíquica no momento da aliança2.

A transmissao nunca é passiva. O que é transmitido por uma geraçao será recebido pelos filhos na malha das identificaçoes e no tecido complexo dos laços familiares, que vao modificar o que foi transmitido. Certos elementos podem ser impostos aos descendentes, mas estes sempre terao de adquiri-los em funçao de vários fatores em relaçao ao seu desenvolvimento e seu lugar2.


O QUE SE TRANSMITE?

O que se transmite sao essencialmente configuraçoes de objetos psíquicos e seus vínculos com aqueles que precedem cada sujeito. Aquilo que se transmite e constitui a pré-história do sujeito é mais do que os pilares positivos, que sustentam as continuidades narcísicas e objetais, manutençao dos vínculos intersubjetivos, formas e processos de conservaçao e a complexidade da vida, como ideais, mecanismos de defesa, identificaçoes, pensamentos e certezas. Essas configuraçoes de transmissao sao também fortemente marcadas pelo negativo, o que nao pôde ser contido, retido, lembrado, que nao encontrou inscriçao na psique dos pais e que vem depositar-se na mente da criança: a falta, a doença, o crime, os objetos desaparecidos sem traço nem memória e para os quais nenhum trabalho de luto pôde ser realizado1.

Granjon refere que

Nada pode escapar a ser transmitido de uma forma ou de outra. Nenhuma falta, nenhuma transgressao, nenhuma morte, nenhum delito e sua carga de culpa e vergonha podem ser abolidos; obrigados a serem transmitidos... com os impedimentos, interditos, mecanismos de defesa que suscitam, e colocados para evitar que seja conhecido, sabido ou dito o que deveria nao ter sido, o que foi traumático... acontecimentos que irromperam em um momento da história... (e em que) fracassaram as formaçoes e os processos capazes de metabolizá-los, de torná-los pensáveis, de integrá-las em uma psique e em uma história.


O transmitido, entao, será o traço daquilo que se passou e nao pôde ser pensado, com seu cortejo de terror, vergonha e interdiçoes2.


VIAS DE TRANSMISSAO

Para Correa, que interroga "como um sujeito pode ser atingido pela história que pertence ao outro? Desde uma perspectiva clínica, como este fantasma se transforma em uma espécie de organizador do psiquismo do paciente?", sao os diversos mecanismos de identificaçao que estao na base do processo7.

O mecanismo de identificaçao, nas suas mais variadas formas e desdobramentos, alcança o estatuto de alicerce ou fundaçao das transmissoes psíquicas8. Há, porém, diferenças entre os conceitos clássicos de identificaçao e o significado que adquirem na transgeracionalidade. Freud partia do princípio de que nosso aparelho psíquico se es-trutura dentro de um contexto intersubjetivo, em que o herdado tem um papel de destaque. Em vários momentos de sua obra, estabeleceu elos entre a psicologia individual e a grupal, onde é possível entrelaçar os conceitos de identificaçao, transmissao, estruturaçao psíquica e psicopatologia8.

Em Sobre o narcisismo: uma introduçao (1914), Freud articula o conceito de identificaçao sem nomeá-lo. Destaca o papel do psiquismo dos pais, transferindo ao bebê seu narcisismo infantil, e reivindicando que realize, em nome deles, desejos a que renunciaram8. A identificaçao narcísica se torna, em Luto e melancolia (1917), o epicentro das estruturaçoes narcisistas. A melancolia é resultante de um luto pela perda do objeto escolhido em base narcísica e ambivalentemente amado. Assim, a libido, que estivera investida nos objetos, é agora retirada para o próprio ego, dando origem às autoacusaçoes e sentimentos de desvalia.

Em Psicologia das massas e análise do ego (1921), Freud amplia o conceito de identificaçao. Refere-se a uma mente "grupal" como um fenômeno decorrente de algo que haja em comum entre indivíduos, um interesse, uma inclinaçao emocional semelhante, certo grau de influência recíproca. O grupo é capaz de induzir emoçoes até um grau difícil de ser atingido individualmente. O fenômeno do contágio, antes utilizado para explicar os efeitos da transgressao dos tabus entre povos primitivos, é agora descrito como fenômeno em que as emoçoes vao contagiando os membros do grupo, agindo como uma compulsao a fazer o mesmo que os outros e permanecer em harmonia com o grupo. Esse contágio emocional, que conduz à imitaçao, é provocado pela influência sugestiva do grupo. Os laços de amor e as identificaçoes com o líder e com os membros do grupo serao a base que sustentará a influência do grupo.

O vínculo emocional e o desamparo da criança frente aos genitores parecem constituir, para Freud, os fundamentos primitivos dos processos de identificaçao, de onde emanam as transmissoes inconscientes de um indi-víduo para outro e de geraçao para geraçao, formando a base para o funcionamento intrapsíquico8.

Ferenczi aborda a introjeçao como caminho para a identificaçao, operando em um vaivém entre o narcísico e o objetal, envolvendo uma expansao do ego e o resgate do fator traumático na patogênese das neuroses. Ao abordar o conceito de identificaçao sob a égide da agressao do adulto, argumenta que a criança, por medo, é obrigada a submeter-se à vontade do agressor, a adivinhar seus desejos, a obedecer-lhe esquecendo-se de si mesma até se identificar totalmente com ele. Por identificaçao, digamos, por introjeçao do agressor, ele desaparece como realidade exterior e torna-se intrapsíquico; mas o que é intrapsíquico vai ser submetido, num estado próximo do sonho - como é o transe traumático - ao processo primário, ou seja, o que é intrapsíquico pode, segundo o princípio do prazer, ser modelado e transformado de maneira alucinatória, positiva ou negativa. A agressao deixa de existir como realidade exterior e, no decorrer do transe traumático, a criança consegue manter a crença em uma situaçao de ternura anterior. A personalidade ainda fracamente desenvolvida reage ao brusco desprazer, nao pela defesa, mas pela identificaçao e introjeçao daquele que a ameaça e agride8.

O conceito de identificaçao projetiva de Melanie Klein assinala o processo psíquico em que há uma tentativa de borrar os limites, em que o sujeito, ao projetar suas partes "más" no objeto, estabelece "relaçoes objetais narcisistas"8. Segundo Etchegoyen,

A identificaçao projetiva supoe sempre uma confusao, onde algo pertencente ao sujeito passa ao objeto, com o que aquele perde sua individualidade, e este fica investido pelo que, em propriedade, nao lhe pertence. Com isto se outorga ao sujeito uma identidade que lhe é alheia e excêntrica, que borra seus limites, que o sobrepoe com o outro (apud Trachtenberg, p. 47).


Nos trabalhos de Abraham e Torok, o conceito de identificaçao tem um papel secundário, enquanto que a introjeçao ocupa um lugar destacado. Os autores consideram que o "resultado da introjeçao é uma relaçao com o objeto interno, enquanto que o da identificaçao é a designaçao de um lugar eleito, momentaneamente, como domicílio pelo sujeito". E acrescentam: "é um processo pelo qual o sujeito pode se deslocar e ocupar diferentes posiçoes", diferentemente da introjeçao, que indica a via dos conflitos entre sujeito e objeto, a problemática do dentro e do fora, do estrangeiro e do próprio8.

A introjeçao é considerada como "da ordem do crescimento", pois expande o ego e o enriquece, introduzindo nele a libido inconsciente, anônima ou recalcada. O que é introjetado nao é o objeto em si, mas o conjunto das pulsoes e suas vicissitudes, mediadas pelo ego. A incorporaçao teria outro destino: é a consequência da perda do objeto "antes que os desejos que lhe dizem respeito sejam liberados", substituindo a introjeçao que nao ocorreu. É um processo mágico, que obedece ao princípio do prazer e em um estágio próximo ao da realizaçao alucinatória. As perdas narcísicas que têm a incorporaçao como destino sao aquelas que nao puderam ser confessadas como perdas. Nesses casos, nao aconteceu a introjeçao do objeto perdido, surgindo a incorporaçao como uma denegaçao radical, pois se finge que nada foi perdido8. O conceito de incorporaçao relaciona-se ao de cripta e fantasma, discutidos adiante.

Faimberg propoe a existência de uma "identificaçao narcisista inconsciente alienante", submetida ao regime de regulaçao narcísica, que tem como objetivo evitar a ferida infligida pelo Édipo (ao manter a ideia de um tempo circular, em que nao existem diferenças geracionais). Nesse processo, é característica a funçao de apropriaçao-intrusao, e por solidariedade aos pais, o sujeito nao tem permissao para existir psiquicamente em nenhum outro registro, sendo portador de uma história que, em parte, nao é sua. Nesses pacientes, os "pais internos" estao inscritos em seu psiquismo como pais que consideram o filho parte deles mesmos, e nessa regulaçao narcísica, tendem a despojá-lo do que lhes proporciona prazer e odeiam-no quando o filho se diferencia. Assim, ao permanecer ligada à história familiar, a identidade do sujeito é determinada pelo que é rejeitado na história dos pais, organizandose sob o sinal da negaçao - uma identidade negativa9.


TRANSMISSAO INTERGERACIONAL

Podemos definir duas modalidades da transmissao psíquica: a intergeracional e a transgeracional.

Transmitir é fazer passar um objeto, pensamento, história ou afetos de uma pessoa para outra, de um grupo para outro, de uma geraçao para outra. Isso implica que o que é transmitido abandone um pelo outro, que haja uma distância e um laço entre o "transmissor" e o "receptor", acolhimento e apropriaçao pelo adquirente-herdeiro e, eventualmente, uma modificaçao daquilo que é transmitido. O sujeito é beneficiário, herdeiro, servidor forçado, mas também um adquirente singular do que é transmitido2.

Esse é um trabalho psíquico que diz respeito ao sujeito e ao grupo. Os processos de transmissao implicam ligaçoes com, e entre, diferentes níveis intrapsíquicos e intersubjetivos, intermediadas pelo grupo, pelos agenciamentos e pelas formaçoes psíquicas mobilizadas, favorecendo transformaçoes e conduzindo a uma diferenciaçao, uma evoluçao entre o que é transmitido e o que é herdado e depois adquirido. Isso permite a cada geraçao situar-se em relaçao às outras, inscreve cada sujeito em uma cadeia e em um grupo, funda sua própria subjetividade, constitui sua história e o torna proprietário de sua herança. A transmissao psíquica intergeracional é um trabalho de ligaçoes e de transformaçoes2.

Ela é também estruturante, nucleada na existência de um espaço de transcriçao transformadora, no qual se veicula a herança intergeracional, constituída pelas fantasias, imagos, identificaçoes, etc., que organizam uma história familiar e relato mítico, do qual cada sujeito pode adotar elementos necessários para construir sua novela individual neurótica. Exemplos dessas transmissoes sao as tradiçoes, culturas, o núcleo de pertinência, uma filiaçao ou um sobrenome que tenham força de coesao5.

Essa seria a trilha das transmissoes psíquicas entre geraçoes bem-sucedidas e exitosas, nas quais o escudo protetor materno cumpriu sua meta a contento, a mae pôde investir adequadamente no seu bebê, além de funcionar como transformadora para ele e para si própria, sem invadir o campo da intersubjetividade com ansiedades ou lutos mal elaborados de sua história ou pré-história5.


TRANSMISSAO TRANSGERACIONAL

Todo o trabalho (de ligaçoes e de transformaçoes) pode falhar, e a transmissao psíquica pode, entao, ser alienante e nao estruturante. O que é transmitido sem distâncias e sem laços, sem transformaçao, atravessa as geraçoes e se impoe em estado bruto aos descendentes2. Temos entao a transmissao transgeracional.

Os acontecimentos mais dolorosos nao sao necessariamente os mais alienantes, pois qualquer acontecimento poderá ser traumático e alienante para os descendentes se nao puder ser elaborado, se for transmitido sem que os afetos que suscita possam ser tolerados, sem que um pensamento sobre este acontecimento venha contê-lo e representá-lo2. Várias situaçoes podem destruir a capacidade e a funçao parentais: lutos nao elaborados, segredos, histórias lacunares, histórias de violência, vazios, migraçoes, traumas que nao puderam ser transformados, simbolizados, historicizados. Essas situaçoes comprometem dramaticamente a capacidade metabolizadora parental de ansiedades primitivas do bebê. Assim, o trauma inaugura, na história de muitos sujeitos, as condiçoes para transmissoes transgeracionais, carentes do espaço prévio de transcriçao transformadora5.

Quando um acontecimento com potencialidade traumática vem perturbar ou impedir o processo de integraçao harmônica, ele cria lacunas, inclusoes, criptas na psique. Estes "passados sob silêncio" ou "mantidos em segredo", estes "restos insensatos" de um acontecimento inaceitável estao fora do alcance do trabalho psíquico e obstruem a psique do sujeito e do grupo, permanecendo em estado bruto, consagrados à repetiçao e oferecidos às identificaçoes da criança com a secreta esperança de que esta, herdeira e suplente narcísica, possa realizar o trabalho fracassado. Pode-se dizer que transmitir é mais importante que o que é transmitido, e o que será encontrado na descendência é o indizível, o impensável, o processo do segredo mais do que seu conteúdo2.

As contribuiçoes de Abraham e Torok sobre o luto, a cripta e o fantasma foram decisivas para as investigaçoes das transmissoes transgeracionais, destacando-se a ideia de que no inconsciente de um sujeito se enquista uma parte do inconsciente do outro, que o vem habitar como um fantasma, assim como o mandato imperativo que o ancestral faz pesar sobre a sua descendência. Surgindo da cripta e do mandato, do segredo inconfessável e da naosimbolizaçao, o acento passará a ser colocado na falha do simbólico, no negativo, no "branco", no vazio, nos elementos brutos (nao transformados), na telescopagem, nas identificaçoes alienantes5.

Essa história, ou nao-história, repleta de nao-ditos, que precisa ser dissociada ou clivada pelo sujeito, habitando uma cripta firmemente lacrada, necessitará encontrar um depósito fora dele próprio. O indivíduo expulsa de dentro de si seu próprio fardo, as partes alienadas de si mesmo, e as coloca em alguém narcisicamente selecionado da geraçao seguinte. Essa identificaçao projetiva (identificaçao alienante para Faimberg; identificaçao mórbida para Pereira da Silva) "liberta" o representante da geraçao atual, enquanto "escraviza" o representante da geraçao seguinte. Este, vivendo uma história que em parte nao é sua, tendo uma parte de seu psiquismo alienado, estrangeiro a si mesmo, é um dos protagonistas daquilo que Faimberg denominou telescopagem de geraçoes5. Ao ser introduzida na constelaçao traumática dos pais, a criança cumprirá várias funçoes para os mesmos. Poderá tomar o lugar dos mortos, identificando-se com eles, para satisfazer a mae, servindo assim de continente para as angústias excessivas do adulto, invertendo as posiçoes na linha geracional, transformando-se, por exemplo, em pai de seus pais5.


OUTRAS CONTRIBUIÇOES SOBRE TRANSMISSAO

A "transmissao" na obra de Freud


Para Freud, a noçao de transmissao é polissêmica. Além do sentido específico de transferência, que adquiriu no campo psicanalítico, Übertragung é também empregado para os processos de transmissao de pensamento, telepatia, induçao, fenômenos de contágio e imitaçao em funcionamento nas multidoes e nas modalidades de prescriçao dos tabus. Übertragung é também empregado no debate sobre a hereditariedade e etiologia da neurose, vinculando-as à questao de aquisiçao (Erwerbung) e da transmissao, por via psíquica, da doença. Sao questoes que inauguram a reflexao sobre a histeria e a análise de Dora, introduzindo a dimensao intergeracional e intragrupal dessa transmissao" (Kaës, 1985, apud Pereira da Silva, 2003, p. 19).

A transmissao psíquica, para Freud, envolve a questao do sujeito com sua herança psíquica, social, religiosa e cultural, mas também a descoberta do complexo de Édipo e tudo que daí deriva. Em A interpretaçao dos sonhos (1900), Freud inaugura um novo caminho, ainda ligado à questao da histeria: o da transmissao inconsciente por identificaçao com o objeto ou com a fantasia do desejo do outro. A discussao refere-se à imitaçao e ao contágio psíquico entre os sujeitos, mas também às modalidades intrapsí-quicas da transmissao dos pensamentos (do sonho). Há transmissao intersubjetiva no movimento pelo qual o sujeito se identifica com o desejo ou com o sintoma do outro. O que se transmite, de um a outro, é um traço inconsciente comum3.

Em Totem e tabu (1913), Freud aponta para as investigaçoes sobre a transmissao transgeracional de patologias:

... podemos presumir, com segurança, que nenhuma geraçao pode ocultar à geraçao que a sucede nada de seus processos mentais mais importantes, pois a Psicanálise mostrou que todos possuem, na atividade mental inconsciente, um "apparatus" que os capacita a interpretar as reaçoes de outras pessoas, isto é, a desfazer as deformaçoes que os outros impuseram à expressao de seus próprios sentimentos (Freud, 1913, apud Pereira da Silva, 2003, p. 20).


Freud inaugura outro percurso, o que se transmite de geraçao em geraçao: a transmissao do tabu, do crime e da culpa. Retoma o debate sobre o que é inato e o que é adquirido - a noçao de patrimônio e de herança arcaica, considerando os fatores da história pessoal e da etiologia específica. Discrimina a transmissao por identificaçao aos modelos parentais (história do indivíduo) da transmissao genética, constituída por traços mnemônicos das relaçoes com as geraçoes anteriores (pré-história do indivíduo). Na pré-história inclui-se a transmissao dos objetos perdidos, enlutados, fatos congelados e enigmáticos, sobre os quais nao houve elaboraçao nem simbolizaçao3.

No mesmo artigo, introduz a ideia de uma formaçao do inconsciente na própria transmissao do recalcamento, e nao apenas dos conteúdos recalcados. O que se transmite é um traço, mas nao só um traço. Nada pode ser completamente abolido; nao há nada que seja abolido e que nao apareça algumas geraçoes depois como enigma, como impensado ou como signo do que nao pôde ser transmitido na ordem simbólica3.

Em 1914, em Introduçao ao narcisismo, explicita os fundamentos narcísicos da transmissao entre as geraçoes e através delas; desvenda o agenciamento do apoio mútuo entre o narcisismo da criança e o narcisismo parental; introduz a noçao de um sujeito do inconsciente dividido entre a exigência de seu narcisismo e de se constituir como sujeito do grupo. Ao opor a condiçao narcísica do sujeito à do sujeito da intersubjetividade, articula o apoio do narcisismo sobre o da geraçao precedente, sobre a transmissao à criança dos sonhos de desejos insatisfeitos dos pais. Chama a atençao sobre os investimentos que sao depositados sobre a criança e que poderao dar lugar e sentido aos projetos nao realizados dos pais, marcando as condiçoes do nascimento psíquico desse filho3.

Em Psicologia de grupo e análise do ego (1921), Freud afirma que tudo que se transmite dentro do grupo o é pelas identificaçoes. Essas proposiçoes asseguram, na sua origem, a importância do conceito de transmissao, isto é, o processo de tomar conhecimento da realidade psíquica que se transporta, se desloca ou se transfere de um indivíduo a outro, entre eles ou através deles, ou nos vínculos do grupo, ainda que o que foi transmitido psiquicamente se transforme ou permaneça igual3.

Na obra acima citada (1921) e em O Ego e o Id (1923), o autor austríaco reelabora a questao da hereditariedade e da herança dos traços psíquicos, depois de ter acompanhado o destino do objeto perdido na elaboraçao das instâncias do aparelho psíquico (3). A questao da hereditariedade vai acompanhar Freud desde os Estudos sobre a histeria (1895) até Análise terminável e interminável (1937) e Moisés e o monoteísmo (1939). O que está em debate é a etiologia das neuroses e sua transmissibilidade por via psíquica. Em Moisés e o monoteísmo (1939), Freud sublinha que a herança arcaica do homem nao engloba somente disposiçoes, mas conteúdos e traços mnêmicos do que foi vivenciado por geraçoes anteriores. Dessa maneira, a extensao e a importância da herança arcaica sao significativamente ampliadas3. A transmissao intrapsíquica tem como referência o texto A Interpretaçao dos sonhos. Sonho, processo associativo, representaçao - essas formaçoes sao os objetos e os vetores da transmissao interna da realidade psíquica. Já a transmissao transgeracional ou intergeracional se dá por meio de mediaçoes verbais e nao verbais, qualquer que seja o nível tópico de onde parte a mensagem: inconsciente, pré-consciente e consciente3.


O NEGATIVO

O negativo está presente na obra de Freud em manifestaçoes como a alucinaçao negativa, transferência negativa, reaçao terapêutica negativa, negaçao, a recusa ou desmentida (Verleugnun). Em Além do princípio do prazer (1920), ele propoe que a pulsao de vida tem a funçao de ligaçao e que a pulsao de morte busca o desligamento, a nao-ligaçao10. A transmissao psíquica de elementos traumáticos, nao elaborados, em que predominaram a pulsao de morte e a açao do negativo, ocorre por um desbordamento narcisista maligno da mente dos pais sobre a mente do bebê. Nao se trata do narcisismo de vida, necessário à constituiçao psíquica do bebê, mas de um narcisismo de morte, corno diz Green10.

Para Aulagnier:

(...) a açao desse narcisismo de morte se dá através de um radical desinvestimento afetivo e representacional. O desinvestimento ameaça qualquer encontro, qualquer objeto, qualquer experiência que, para ter uma existência psíquica, implique a possibilidade de uma atividade de ligaçao. Qualquer trabalho de desinvestimento bem-sucedido nao deixa traço algum que possa indicar que algo existiu, que algo ocorreu. Esse algo é substituído pelo vazio. Nenhuma saudade, nenhum traço de um objeto perdido. Nada de representaçoes recalcadas (apud Trachtenberg, 2005, p. 61).



O SUJEITO DO GRUPO, PACTO DENEGATIVO, TRANSMISSAO INTERSUBJETIVA E TRANSPSIQUICA

Em relaçao ao conceito do "sujeito do grupo", Kaës descreve que

O inelutável é que somos postos no mundo por mais de um outro, por mais de um sexo, e que nossa pré-história nos faz, muito antes do nascimento, o sujeito de um conjunto intersubjetivo cujos sujeitos nos têm e nos sustentam como os servidores e herdeiros de seus 'sonhos de desejos irrealizados', de suas repressoes e de suas renúncias na rede de seus discursos, de suas fantasias e de suas histórias. De nossa pré-história tramada antes de nascermos, o inconsciente nos terá feito contemporâneos, porém só chegaremos a ser seus pensadores por ressignificaçao. Essa pré-história, de onde se constitui o originário, está arraigada à intersubjetividade (Kaës, 2001, apud Trachtenberg, 2005, p. 25).


Sobre a transmissao, Kaës distingue dois tipos, a intersubjetiva e a transpsíquica. A primeira é uma transmissao que envolve relaçoes imaginárias, reais e simbólicas entre os sujeitos. O grupo familiar é o espaço originário da intersubjetividade; ele precede o sujeito singular, está estruturado por uma lei constitutiva e seus elementos estao em relaçao de diferença e de complementaridade. Aí se enunciam as proibiçoes fundamentais, relaçoes de desejo que estruturarao os vínculos, identificaçoes e o complexo edípico. Já na transmissao transpsíquica, há uma aboliçao dos limites e espaços subjetivos, nao existe a experiência de separaçao entre sujeitos, que ficam à mercê das exigências do narcisismo. Esses conceitos relacionam-se, respectivamente, aos conceitos de transmissao intergeracional e transgeracional já descritos8.

O pacto denegativo refere-se às diversas operaçoes (recalque, denegaçao, recusa, desmentida, rejeiçao ou enquistamento) que se requerem ao sujeito para que o vínculo intersubjetivo se constitua e se mantenha1. Esse acordo inconsciente é imposto para que 1) o laço se organize e se mantenha em sua complementaridade de interesse; e 2) seja assegurada a continuidade dos investimentos e dos benefícios ligados à subsistência dos ideais, do contrato ou do pacto narcísico. O pacto denegativo comporta duas polaridades: uma é organizadora do laço e do conjunto intersubjetivo, a outra é defensiva. Cada conjunto se organiza positivamente sobre investimentos mútuos, identificaçoes comuns, comunidade de ideais e de crenças, contrato narcísico, modalidades toleráveis de realizaçoes de desejos. Mas também se organiza negativamente, sobre uma comunidade de renúncias e de sacrifícios, apagamentos, rejeiçoes e recalcamentos, sobre um "deixado de lado" e sobre "restos". O pacto contribui para essa dupla organizaçao, cria, no conjunto do nao-significável e do nao-transformável, zonas de silêncio, bolsoes de intoxicaçao, espaços-lixeiras ou linhas de fuga que mantêm o sujeito estrangeiro à sua própria história. Nos casais, nas famílias, nos grupos e nas instituiçoes, as alianças, contratos e pactos inconscientes sustentam, principalmente, o destino do recalcamento e da repetiçao11. O pacto é um tipo de aliança inconsciente e fala de tudo aquilo que se impoe nos laços intersubjetivos, relacionado ao negativo, em suas várias formas; é a expressao do negativo no âmbito da intersubjetividade9.


CRIPTA E FANTASMA

Nicolas Abraham e Maria Torok sao considerados precursores dos estudos sobre a transgeracionalidade. O conceito de cripta, cunhado por eles, define um lugar psíquico destinado a manter as perdas (narcísicas) nao elaboradas, que nao puderam ser confessadas como perdas; sua formaçao ocorre quando a incorporaçao se dá com a impossibilidade da introjeçao, impedindo que a dor da perda seja transformada em linguagem, proibindo-a de adquirir significaçao. Instala-se entao uma negaçao radical9,12:

Todas as palavras que nao puderam ser ditas, todas as cenas que nao puderam ser rememoradas, todas as lágrimas que nao puderam ser vertidas, serao engolidas, assim como, ao mesmo tempo, o traumatismo, causa da perda. Engolidos e postos em conserva. O luto indizível instala no interior do sujeito uma sepultura secreta (Abraham e Torok, 1995, p. 248).


Na cripta está viva, reconstruída a partir de lembranças, palavras, imagens e afetos, a imagem da pessoa, com tópica própria, bem como os momentos traumáticos - efetivos ou imaginados - que tornaram a introjeçao impraticável. Cria-se um mundo fantástico, inconsciente, que leva uma vida separada e oculta9,12. A incorporaçao, como consequência de um luto vergonhoso, ocorre em um estado em que o ego já estaria acuado, após uma experiência objetal de decepçao. A cripta, por sua estrutura, mantém essa montagem, e é resultante de um segredo partilhado, segredo vergonhoso de um objeto que desempenhava o papel de ideal de ego9, 12.

O fantasma nao é resultado de um luto falho, como no caso da melancolia, mas das lacunas que os segredos dos outros deixam. Esses segredos retornarao nos descendentes como uma espécie de túmulo escondido. O fantasma é uma formaçao do inconsciente com a particularidade de nunca ter sido consciente, produto da passagem de conteúdos do inconsciente dos pais ao inconsciente do filho. A apariçao do fantasma indicaria, pois, os efeitos sobre seu descendente, daquilo que tivera, para o pai ou para a mae, valor de uma ferida ou catástrofe narcísica. O fantasma tem manifestamente uma funçao diferente da do recalcado dinâmico. Seus retornos periódicos, compulsivos, vao além da formaçao dos sintomas sob a perspectiva do retorno do recalcado; funciona como um ventríloquo, como um estranho com relaçao à tópica própria do sujeito9.

Haydée Faimberg: telescopagem de geraçoes

A telescopagem das geraçoes é um tipo especial de identificaçao inconsciente alienante, que condensa três geraçoes e que se faz revelar na transferência. O termo "telescopagem", embora nao exista em português, se refere, em francês e em inglês, aos objetos que se encaixam entre si, uns dentro dos outros, como as bonecas russas9.

Cisao do ego e a desmentida: "Eu sei, mas mesmo assim..."

A desmentida é o mecanismo de defesa predominante nas perversoes, mas também presente, de maneiras e em graus diferentes, em outras patologias9. Diversamente da negaçao, que age a serviço da repressao sobre os representantes verbais, a desmentida atua sobre os significantes nao verbais e se dirige a representaçoes que guiam os comportamentos e que, por se colocarem em contradiçao, coexistem graças a uma clivagem do ego9.

No artigo Fetichismo (1927), Freud fala da recusa do sujeito em reconhecer a percepçao da realidade da ausência de pênis na mulher, fonte de angústia de castraçao que pode ser insuportável. Junto com o mecanismo defensivo de clivagem, o sujeito desmente essa percepçao, mantendo no psiquismo duas posiçoes inconciliáveis: recusa a falta do pênis na mulher, mas sabe que essa falta existe, o que deu origem à conhecida fórmula: "Eu sei, mas mesmo assim...". Segundo Freud (1940[l938]-b), essas duas forças "persistem ao longo da vida, lado a lado, sem se influenciarem reciprocamente. É o que podemos chamar de uma divisao do ego"9.

Por razoes adversas, em momento precoce do desenvolvimento, se abriria uma fenda no ego para fazer frente às demandas pulsionais. A demanda teria a ver com a satisfaçao de uma exigência pulsional, ao mesmo tempo em que a experiência externa lhe ensina que tal satisfaçao representa um perigo real. Estabelece-se um conflito entre pulsao e realidade, e através da cisao do ego, a criança imagina que possa satisfazer ambas condiçoes, fórmula que lhe parece válida e eficaz. Por um lado, rejeita a ameaça que vem de fora, nao acatando sua proibiçao; por outro, reconhece que essa ameaça existe, mas assume o risco através de um sintoma, negando seu medo e originando um inconsciente cindido (mas nao reprimido) e instalando dentro do ego a desmentida e a estrutura narcisista13.

Que situaçoes adversas induzem à cisao? Para Baranes, o mecanismo da desmentida se instala a partir de um exagero do negativo5. As situaçoes negativas que induzem essa cisao estao relacionadas com desejos parentais naoelaborados, que atingem o psiquismo do filho de forma violenta e intrusiva.

Para Freud, a compulsao à repetiçao caracterizará as neuroses de destino e repetirá nao só o Édipo, mas as primeiras marcas mnêmicas, a fusao narcisista, a identificaçao primária, que imprimiram no sujeito um desejo alheio a suas pulsoes e que se repete automaticamente. Repete-se nao só o prazeroso, mas também aquilo que nunca o foi. Repetem-se desejos e histórias alheias às pulsoes do sujeito13.

O objeto externo, representado na maioria das vezes pelos pais, toma uma importância decisiva na constituiçao do ego do sujeito, principalmente quando se encontra envolvido em situaçoes traumáticas anteriores ao nascimento do filho, importância no sentido de invadir o seu psiquismo, influindo na cisao do ego incipiente e criando a desmentida como mecanismo de sobrevivência13.

Enriquez acredita que o resultado dessas invasoes torna-se mais deletério quando acontece de forma insidiosa e continuada, no vínculo afetivo diário entre pais e filhos, em que se tecem identificaçoes, se organizam tramas fantasmáticas e se instaura "uma confusao de línguas", através das quais as palavras ditas transmitem, de forma latente, mensagens delirantes5. É possível que uma situaçao aguda, um surto psicótico de um dos pais, em um momento circunscrito, nao ocasione um efeito tao desastroso quanto este na mente do filho13.

Laplanche utiliza o termo "significantes enigmáticos" para essas mensagens que assaltam os filhos, de todas as formas e por todos os lados. Enigmáticos porque a criança nao possui o código para decifrá-los, mas, sobretudo, porque o mundo mental dos pais está impregnado de significaçoes inconscientes cujo código eles próprios desconhecem5. Estabelece-se uma relaçao narcisista alienante, fusionada, sem fronteiras, em que pensamentos se confundem. Há uma necessidade de nao distinguir ego de nao-ego13.

Esses conceitos, fundamentais para a compreensao da transmissao do psiquismo entre geraçoes, parecem relevantes para a compreensao do caso clínico descrito a seguir.


CASO CLINICO

Vera tem 61 anos, viúva e ex-professora. Tem os cabelos embranquecidos e sem pintura, aparentando mais idade. Há 25 anos trabalha em uma fazenda terapêutica para dependentes químicos, fundada por ela e vinculada a uma instituiçao religiosa, da qual é membro. Mora na fazenda e é responsável por sua administraçao, embora sua principal fonte de renda seja a pensao do marido, falecido há seis anos.

Relata ter tido uma infância difícil, com um pai alcoolista e agressivo, que nao a aceitava em casa por achar que nao era sua filha e sim fruto de uma suposta traiçao da mae. Suicidou-se quando ela tinha 10 anos. Vera é a 3ª de quatro filhos. A mae é dita como pouco confiável e mentirosa. Aos 5 anos de idade, vivia com a irma mais velha em um orfanato; um dia, receberam a visita da mae, que, sem explicaçoes, sem aviso e sem se despedir, levou consigo a irma e a deixou sozinha na instituiçao. Depois, Vera morou em diversas casas, com diferentes famílias, convivendo com a família biológica por curtos períodos. A mae a "dava para os outros com facilidade". Se alguém comentasse que era uma criança "bonitinha", a mae já a oferecia: "quer ficar com ela?" Aos 7 anos, foi afinal adotada por um casal de médicos, que já tinha uma filha biológica. Aos 10 anos, a mae a procurou para comunicar que o pai se suicidara.

P - Quando soube do suicídio dele, achei que ia voltar pra casa, porque a mae dizia que, se voltasse enquanto ele estivesse vivo, o pai me mataria; mas aí, quando morreu, em vez de me levar pra casa, ela me deu de papel passado pra minha família adotiva. Foi aí que comecei a odiá-la e a achar que era ela (e nao o pai) que nao me queria em casa...

Quanto aos os pais adotivos, médicos (ele ginecologista, ela anestesista), descreve-os como rígidos e distantes (mas reconhece que foi tratada como a irma, filha biológica deles, tendo as mesmas oportunidades de estudo). Viveu com eles até os 17 anos, quando fugiu para se casar, pois os pais adotivos "nao aprovavam seu namorado". Dos 17 aos 18 anos, morou com a mae e os irmaos biológicos, relatando "mentiras e enganos" por parte da mae (que esconderia comida dela para deixar para as outras filhas) e conflitos com os irmaos. Sem maior explicaçao, nao voltou a ter contato com a família que legalmente a adotara.

Atualmente tem quatro filhos biológicos e dois adotivos. Mas Pedro, um dos "filhos adotivos", nao foi de fato adotado: tem 21 anos, é ex-dependente químico e vive desde os 17 anos na fazenda. No momento, é "monitor", com a funçao de orientar outros internos e auxiliar em atividades administrativas simples. Pedro sempre foi "muito apegado" à paciente, mas há algum tempo Vera percebeu que o amor de Pedro "nao era mais o amor de um filho pela mae". Falou que estava "apaixonado" por ela, que correspondeu a esses sentimentos. Mas se sente angustiada em assumir o relacionamento, pois teme a reaçao dos filhos. Ela e Pedro estao "aguardando um sinal de Deus" para se casarem. Por enquanto, embora durmam juntos, só se permitem toques nas maos e beijos no rosto, pois sua religiao nao permite sexo antes do casamento. Pedro ainda chama Vera de mae, o que a deixa "um pouco desconfortável".

Um dos seus temas recorrentes é a questao das consequências de assumir publicamente esse relacionamento. Diz que Pedro é a única pessoa que se interessa por ela e lhe dá atençao.a As vezes demonstra interesse e até ciúmes de Vera, outras vezes se envergonha do relacionamento por ela estar "ficando muito velha" (a diferença entre eles é de 39 anos).

No passado, Vera conta que o marido (estiveram casados por 37 anos) traiu-a continuadamente com suas duas irmas. Quando o marido lhe contou, em 1979, Vera teve uma "crise" com internaçao psiquiátrica, "mas nao se lembra direito do que ocorreu". Converteu-se durante a internaçao e "nunca soube ao certo o que se passou entre o esposo e as irmas", nunca perguntou e nem quis saber.

Outro evento da época foi uma relaçao incestuosa entre seu filho e a filha, que tinham 15 e 12 anos na ocasiao. Só ficou sabendo anos mais tarde, quando a filha, durante um retiro religioso, contou para um pastor da igreja, pedindo-lhe ajuda para falar aos pais. A reaçao da paciente foi enviar os filhos para dois retiros para jovens diferentes (ela e a filha recolheram-se juntas em um deles). Nao sabe explicar a decisao de entao isolar os filhos, por quase um ano, já que o incesto ocorrera muitos anos antes. Diz que talvez "suspeitasse" que a filha ainda pudesse ter algum interesse sexual pelo irmao.

Durante o tempo em que ela e a filha permaneceram no retiro, quase nao falaram sobre o incesto. Em uma das conversas em que o assunto foi abordado, a filha se queixou de ter tentado lhe contar (reclamara, na época, de que o irmao estava "caindo em sua cama"), mas nao ter recebido atençao. Vera ficou "revoltada", nao se recordava de a filha ter dito nada, e como poderia esperar que ela compreendesse algo dito desta maneira: "o irmao está caindo na minha cama"? "Que mae poderia imaginar algo assim?" Disse à filha que "quando um nao quer, dois nao brigam". Romperam entre si e pouco se falam até hoje. Vera pouco sabe do que se passou, explicando que "nao quis saber mais nada", pois "nao saberia como lidar com a situaçao".

Após a volta do retiro, o assunto do incesto foi proibido. Vera suspeita que os filhos mais novos tenham também sabido, pois "estavam em casa na época", mas nao sabe, pois nunca mais se falou sobre isso. Aos 22 anos, o filho saiu de casa. Mais adiante, a filha saiu para se casar, dizendo que jamais voltaria àquela casa. A paciente mantém hoje um relacionamento mais próximo somente com a filha mais nova, que também mora em e administra outra fazenda terapêutica, ao lado da de Vera. Essa filha (Elisa), ao saber do relacionamento da mae com Pedro, também se afastou da mae.

No segundo ano de psicoterapia, Vera menciona estar observando modificaçoes de comportamento em uma das netas, de 5 anos. Diz estar preocupada, mas "nao sabe bem por quê". A neta vem apresentando comportamentos hipersexualizadosb, dançando, rebolando e utilizando linguajar que nao é comum na família, estando "muito apegada" a outro dos internos da fazenda. As netas (5 e 4 anos), que moram na fazenda da filha, convivem com os dependentes químicos internados. Reconhece que, por mais que Elisa procure cuidar, as crianças se afastam com frequência da sede da fazenda. Nao há nenhum adulto nao dependente químico supervisionando as crianças e só há internos homens. Elisa, seu marido (também ex-dependente, que a conheceu quando era interno da fazenda de Vera) e sua irma adotiva sao os únicos responsáveis pelo local. Em face da repetida negaçao de Vera e de Elisa, a terapeuta interveio, sugerindo que as crianças nao convivessem com os internos sem a supervisao constante de alguém da família. Os riscos a que as netas estavam sendo expostas pareceram ser uma ideia surpreendente para a paciente. Elisa, a mae das crianças, tampouco se dava conta daquilo a que expunha as filhas (talvez por ela mesma ter se exposto a risco semelhante quando jovem).

Vera nao sabe explicar por que se afastou da família adotiva, com a qual morou por 10 anos. Somente uma vez os procurou: estava com um forte prurido vulvar e achou que o pai, ginecologista, poderia tratá-la. Conta, ressentida, que a mae se recusou a atendê-la como paciente, "mas que já esperava ser rejeitada pela mae". Quanto ao inusitado da situaçao (de, como filha, procurar o pai para um exame ginecológico), Vera considerou a situaçao "natural": o pai já teria feito o pré-natal e o parto da outra filha (irma adotiva de Vera) - mas, Vera ressalta, "sem fazer o exame de toque".


DISCUSSAO

Como compreender negaçoes tao extensas e graves dos limites entre as geraçoes que se observam nessas famílias e repetiçoes significativas de situaçoes incestuosas ou quase incestuosas entre indivíduos de geraçoes diferentes e entre membros de uma mesma geraçao? Ou a negaçao dos fatos envolvendo a sexualidade e a erotizaçao dos laços intrafamiliares e das consequências dos mesmos, e, o que se impoe com maior urgência, a negaçao dos riscos a que estao agora expostos os membros mais jovens da família (as netas)?

Apesar das poucas informaçoes disponíveis sobre as geraçoes anteriores da paciente e seu marido, o que impossibilita identificar o início desta cadeia de traumas e repetiçoes, chama a atençao como relacionamentos incestuosos, negaçoes e segredos se repetem, seja de forma consciente (como a paciente nunca querer saber o que ocorreu entre o marido e as irmas), seja inconscientemente (nao se dar conta do incesto dos filhos, achar natural casar com um filho adotivo ou ser genitalmente examinada pelo pai e, agora, nao perceber o risco de abuso das netas).

Sao vários os exemplos do inusitado de situaçoes perversas e suas repetiçoes:

1. O pai adotivo de Vera que decide acompanhar o pré-natal e parto da filha biológica, sem que houvesse nenhuma situaçao de emergência que o justificasse: foi uma escolha do pai e da filha, autorizada pela mae, que também serviu de anestesista...

2. A negaçao, por parte de Vera, da longa relaçao entre o marido e suas duas irmas, dentro da própria casa, sem que percebesse "nada" até que o marido lhe contasse. A parte uma crise inicial (histérica?), a paciente também nao quis saber de mais nada sobre o assunto e manteve o casamento inalterado.

3. A negaçao do aspecto incestuoso do relacionamento com Pedro, seu "filho adotivo", que a chama de mae enquanto estao deitados juntos, e a persistência, sem crítica, de planos de casamento com o mesmo.

4. A negaçao da relaçao incestuosa entre os filhos, na adolescência, só revelada anos mais tarde pela filha, com o auxílio de uma pessoa de fora da família para poder ser ouvida.


As situaçoes promíscuas, nao faladas, por parte da geraçao dos pais e tias (o "ménage" entre o marido, a esposa e as duas cunhadas), se mantiveram "secretas" por anos, com o beneplácito (por negaçao) da paciente - seria só coincidência que os filhos, na mesma época, também passassem a atuar, entre si, a erotizaçao incestuosa de todo o grupo familiar? O filho tinha 13 anos na ocasiao da descoberta da relaçao do pai com as tias e a paciente acredita que todos os filhos presenciaram as brigas que se seguiram à "revelaçao".

A reaçao da paciente à outra revelaçao, a do incesto dos filhos, foi separá-los da família (e ela junto, identificada com a filha), anos depois do incesto. A paciente a explica dizendo que "nao soube o que fazer, nao lhe ocorreu outra atitude, nao teve sabedoria", exemplificando, dinamicamente, como processos mentais traumáticos, nao simbolizados e nao pensáveis, só podem ter o destino de serem evacuados, sob a forma de atos e açoes impulsivas - o que nao impede sua repetiçao no futuro.

A separaçao dos membros da família foi uma tentativa de soluçao fóbica para a consumaçao da relaçao edípica, com o objetivo de evitar que a "catástrofe" fosse reconhecida e elaborada dentro do possível. Como uma desmentida perversa, soube-se do que aconteceu, mas, ao mesmo tempo, se fez de conta que nao aconteceu nada! Impediu-se, portanto, que esses eventos pudessem ser "metabolizados" pela família, pelos filhos (e agora pelas netas), mantendo-se como um segredo e um assunto familiar proibido, cujo destino talvez seja o de uma reproduçao interminável.

Pod-ese pensar que a origem do rancor da paciente com a filha nao seja esta nao ter lhe contado explicitamente sobre o incesto com o irmao na época da sua ocorrência. O "pecado" da filha foi ter finalmente feito a denúncia a alguém externo e assim violado o pacto denegativo dos segredos familiares. Sua suspeita de que a filha ainda hoje nutra desejos incestuosos pelo irmao possivelmente expressa uma projeçao dos próprios desejos edípicos pelo pai da infància, que a rejeitou quando criança, "telescopado" no projeto atual de casamento com o filho adotivo (que às vezes a paciente, quando se distrai, chama de neto). Embora a denúncia da filha nao possa ter sido ignorada, pôde, por outro lado, ser "enterrada" em uma "cripta" do grupo familiar, nao falada, e levando, finalmente, à deterioraçao dos vínculos familiares que se estendeu até hoje e que atualmente ameaça a implosao final do que restou da família se a paciente vier efetivamente a se casar com seu filho adotivo - ou se for permitido que as netas sejam abusadas pelos demais dependentes químicos com quem convivem na fazenda. Afinal, eles sao também "filhos adotivos" da paciente, que ficam excitando suas "irmazinhas" (como ocorreu entre seus filhos biológicos) e a família, novamente, escotomizando a provável repetiçao de uma perversa e iminente situaçao de incesto transgeneracional.


CONSIDERAÇOES FINAIS

Cadmo, trisavô de Édipo, funda Tebas e dá início à sua descendência. Nas geraçoes anteriores a Édipo, desde a fundaçao de Tebas, a sucessao se dá sempre por assassinatos e parricídios. Segundo Faimberg, o nó da tragédia de Édipo reside na mentira, já que Édipo nao consegue evitar a consecuçao do parricídio e do incesto por ser seu destino regido por ela. E se Édipo, ao final de sua vida, pôde elaborar seus conflitos e, como diz o mito, reconciliarse com os "deuses", o mesmo nao foi possível a seus filhos. Para eles nao houve qualquer possibilidade de elaboraçao, e todos, com exceçao de Ismene, buscaram, ainda jovens, uma morte violenta. Repete-se, portanto, através das geraçoes, o infortúnio da transmissao transgeracional, proveniente de uma estrutura familiar narcísica14.

Benghozi, que disserta sobre a problemática do trauma a partir de catástrofes comunitárias, afirma que o risco constante quando há um traumatismo psíquico nao metabolizado é a repetiçao da cena da violência, mesmo depois de várias geraçoes. A vítima se torna carrasco. O fenômeno pode ser encontrado nas terapias tanto de famílias com relaçoes incestuosas como daquelas com violência intrafamiliar. O trabalho de elaboraçao é, portanto, um trabalho preventivo da saúde psíquica também das crianças ainda nao nascidas. Esta é uma das funçoes, nao negligenciáveis, da ajuda que pode ser trazida a vítimas e vetores dessas experiências traumáticas15. O autor alerta que, quando nos confrontamos com situaçoes extremamente traumáticas, nossas próprias capacidades mentais de conter a "insustentável crueldade do ser" podem nos levar a um autêntico revisionismo psíquico, induzindonos a duvidar da realidade das "atrocidades extremas".


REFERENCIAS

1. KAES R. Os espaços psíquicos comuns e partilhados: transmissao e negatividade. Sao Paulo: Casa do Psicólogo, 2005.

2. GRANJON E. A elaboraçao do tempo genealógico no espaço do tratamento da terapia familiar psicanalítica. In: CORREA OBR. (org.). Os avatares da transmissao psíquica geracional. Sao Paulo: Escuta, 2000.

3. PEREIRA DA SILVA MC. A herança psíquica na clínica psicanalítica. Sao Paulo: Casa do Psicólogo; FAPESP, 2003.

4. FRAYZE-PEREIRA JA. Prefácio. In: PEREIRA DA SILVA MC. A herança psíquica na clínica psicanalítica. Sao Paulo: Casa do Psicólogo; FAPESP, 2003.

5. TRACHTENBERG ARC. Trauma, transgeracionalidade e intergeracionalidade: uma transformaçao possível. In: TRACHTENBERG ARC. et al. Transgeracionalidade: de escravo a herdeiro: um destino entre geraçoes. Sao Paulo: Casa do Psicólogo, 2005.

6. TRACHTENBERG ARC. et al. Homenagem a René Kaës. In: TRACHTENBERG ARC. et al. Transgeracionalidade: de escravo a herdeiro: um destino entre geraçoes. Sao Paulo: Casa do Psicólogo, 2005.

7. Correa OBR. Eclosao dos vínculos genealógicos e transmissao psíquica. In: CORREA OBR. (org). Os avatares da transmissao psíquica geracional. Sao Paulo: Escuta, 2000.

8. TRACHTENBERG ARC. et al. Vicissitudes do conceito de identificaçao e transmissao entre geraçoes. In: TRACHTENBERG ARC. et al. Transgeracionalidade: de escravo a herdeiro: um destino entre geraçoes. Sao Paulo: Casa do Psicólogo, 2005.

9. TRACHTENBERG ARC. et al. Verbetes. In: TRACHTENBERG ARC. et al. Transgeracionalidade: de escravo a herdeiro: um destino entre geraçoes. Sao Paulo: Casa do Psicólogo, 2005.

10. TRACHTENBERG ARC. et al. O negativo e as transmissoes transgeracionais. In: TRACHTENBERG ARC. et al. Transgeracionalidade: de escravo a herdeiro: um destino entre geraçoes. Sao Paulo: Casa do Psicólogo, 2005.

11. KAES R. Um pacto de resistência intergeracional ao luto. Transmissao psíquica dos efeitos da morte de uma criança sobre os irmaos e irmas e sobre sua descendência. In: CORREA OBR. (org). Os avatares da transmissao psíquica geracional. Sao Paulo: Escuta, 2000.

12. ABRAHAM E TOROK. A casca e o núcleo. Sao Paulo: Escuta, 1995.

13. CHEM VDM. Transgeracionalidade, cisao do ego e o mecanismo da desmentida. In: TRACHTENBERG ARC. et al. Transgeracionalidade: de escravo a herdeiro: um destino entre geraçoes. Sao Paulo: Casa do Psicólogo, 2005.

14. TRACHTENBERG ARC. et al. Revisitando Sófocles: a trilogia tebana sob a lente transgeracional. In: TRACHTENBERG ARC. et al. Transgeracionalidade: de escravo a herdeiro: um destino entre geraçoes. Sao Paulo: Casa do Psicólogo, 2005.

15. BENGHOZI P. Traumatismos precoces da criança e transmissao genealógica em situaçao de crises e catástrofes humanitárias. Desemalhar e reemalhar continentes genealógicos familiares e comunitários. In: CORREA OBR. (org). Os avatares da transmissao psíquica geracional. Sao Paulo: Escuta, 2000.










* Médica Especialista em Psiquiatria pelo HCPA.
** Professor Associado do Departamento de Psiquiatria da UFRGS, Preceptor da Residência de Psiquiatria do HCPA.

Endereço para correspondência:
Ingrid Borba Hartmann
E-mail: hingridb@via-rs.net

Recebido em: 10/05/2011
Aceito em: 27/09/2011

a Pedro se trata no Hospital Psiquiátrico Sao Pedro, com carbamazepina e haloperidol, mas Vera desconhece seu diagnóstico, dizendo somente que às vezes ele tem momentos de impulsividade e de agressividade.
b A hipersexualizaçao foi uma percepçao da terapeuta, pois a paciente só achava os comportamentos da neta um tanto "estranhos".

 

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