Rev. bras. psicoter. 2011; 13(1):60-63
Pinheiro RMC, Alves PR, Sperb APVFB. A Utilizaçao da Eletroconvulsoterapia na Prática Psiquiátrica. Rev. bras. psicoter. 2011;13(1):60-63
Carta ao Editor
A Utilizaçao da Eletroconvulsoterapia na Prática Psiquiátrica*
Use of Electroconvulsive Therapy in Psychiatric Practice
Rose Mary Carvalho Pinheiro; Paulo Ricardo Alves; Ana Paula Vieira Fernandes Benites Sperb
Caro editor,
A eletroconvulsoterapia (ECT), induçao terapêutica de convulsoes generalizadas, é um tratamento seguro e eficaz para pacientes com variados transtornos psiquiátricos1,2. O objetivo deste trabalho foi realizar uma contextualizaçao do uso da eletroconvulsoterapia em pacientes ambulatoriais de uma Clínica de Psiquiatria de Porto Alegre/RS. Realizou-se uma busca consecutiva e análise retrospectiva nos registros de pacientes psiquiátricos adultos submetidos ao primotratamento regular com duraçao mínima de um ano, de 1995 a 2010. A pesquisa cumpriu todos os preceitos bioéticos da resoluçao 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Em nossa amostra, foram incluídos 76 pacientes, 36 (47%) tiveram indicaçao de internaçao psiquiátrica, sendo considerados casos graves e com recidivas de difícil manejo; contudo, apenas 3 (3,9%) apresentaram indicaçao para uso de ECT em determinado momento do tratamento, devido à agudizaçao do quadro psiquiátrico sem resoluçao com tratamento conservador. As indicaçoes foram variadas: episódio depressivo, má adesao aos fármacos e risco de suicídio, episódio psicótico e episódios maníaco-psicóticos. As patologias psiquiátricas envolvidas foram transtorno bipolar misto e transtornos de personalidade borderline, nos dois últimos casos em comorbidade com transtorno devido ao uso de substâncias psicoativas. Entre esses pacientes, uma submeteu-se à ECT de forma ambulatorial (Tabela 1). As indicaçoes atuais para realizaçao de ECT sao: transtorno depressivo maior (episódio único ou recorrente), transtorno afetivo bipolar (episódio depressivo, maníaco ou misto), esquizofrenia nao crônica, transtorno esquizoafetivo e transtorno esquizofreniforme. Cada vez mais a ECT tem sido indicada como adjuvante em condiçoes clínicas crônicas com repercussoes neuropsiquiátricas, como a doença de Parkinson3,6. A ECT é tao ou mais efetiva que qualquer medicaçao antidepressiva. A taxa de remissao obtida, em média, nos casos tratados para depressao maior, é de 50 a 80% e tem efeito positivo na melhora da qualidade de vida4. A indicaçao mais comum de ECT ainda é depressao maior, embora haja cada vez mais dados relativos ao uso em mania, uma prática ainda nao estabelecida. Um estudo de metanálise sobre o uso da ECT em quadros maníacos demonstrou associaçao com remissao ou melhora marcante em 80% dos pacientes que já haviam falhado em outros tratamentos conservadores submetidos a este tipo de tratamento, sendo a remissao obtida com ECT um efeito terapêutico primário5,6. O Transtorno Bipolar é uma patologia extremamente multifacetada e complexa, e os tratamentos disponíveis apresentam peculiaridades. Cada vez mais tem sido reportado o uso de associaçoes de fármacos e medidas terapêuticas alternativas para os casos de difícil manejo e fraca resposta ao tratamento padrao com uso de lítio, como Estimulaçao Magnética Cerebral e ECT8. A ECT encontra espaço na prática psiquiátrica, principalmente para o tratamento dos casos mais complexos e de difícil manejo, geralmente pacientes fracamente responsivos à manutençao com psicotrópicos. Por isso, esperamos adicionar um ponto a mais na discussao sobre o papel da ECT como um seguro e eficaz tratamento psiquiátrico nos dias de hoje, desde que corretamente indicada e avaliada. Certamente estamos cientes da limitaçao do poder de generalizaçao da amostra, porém os resultados obtidos estao de acordo com os achados da literatura disponível.
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