Rev. bras. psicoter. 2011; 13(1):27-38
Moreira JO. A neurose obsessiva e os enigmas da masculinidade. Rev. bras. psicoter. 2011;13(1):27-38
Artigos Originais
A neurose obsessiva e os enigmas da masculinidade
Obsessional neurosis and the enigmas of masculinity
Jacqueline de Oliveira Moreira1
Resumo
Abstract
A NEUROSE OBSESSIVA E OS ENIGMAS DA MASCULINIDADE
Uma dúvida se inscreve nas sessoes: "Nao sei se sou homem." Vários pacientes cuja hipótese diagnóstica é de neurose obsessiva levantam essa dúvida. Esses pacientes se perdem em diversas indagaçoes: "Sou homem ou criança?", "Sou homem ou mulher?", "Sou homossexual?", "Nao sou humano?". Esse questionamento sobre a masculinidade coloca-a como um enigma. Nao seria só a feminilidade um enigma, pois, no continente masculino, também, habita um campo obscuro.
Outro ponto em comum entre esses pacientes é a idealizaçao do pai. Melman1 nos revela que na relaçao com o outro, o obsessivo se encontra preso no eixo imaginário do ideal, sendo que a virilidade situa-se ao lado da imagem ideal. Assim, afirma Melman, o obsessivo aceita "certa feminilizaçao para assegurar a virilidade do pai"1. Acreditamos que a dúvida dos pacientes descrita na pergunta "sou homem?" revela uma certa feminilizaçao de si e pode ser reflexo da idealizaçao da virilidade paterna. Podemos pensar em uma identificaçao com a mae e um desejo idealizado pelo pai, mas devemos enfatizar que essa soluçao pode representar uma defesa contra o desejo pela mae. Desta forma, pensamos que o destino da ideia do desejo pela mae é o recalque e a culpa resultantes que promovem a idealizaçao da virilidade do pai, pois só este pode ter essa mulher. No entanto, essa idealizaçao impossibilita o encontro com a própria virilidade. Assim, cabe a pergunta: Sou Homem?
Pensamos que este seria um mecanismo similar àquele descrito por Freud2 em os criminosos por sentimento de culpa. Nas palavras de Freud:
O resultado invariável do trabalho analítico era demonstrar que esse obscuro sentimento de culpa provinha do complexo de Édipo e constituía uma reaçao às duas grandes intençoes criminosas de matar o pai e de ter relaçoes sexuais com a mae2.
O senhor se relaciona com estes dois momentos: com uma coisa como tal, o objeto do desejo, e com a consciência para a qual a coisidade é o essencial. [.] O senhor também se relaciona mediatamente por meio do escravo com a coisa [.]7.
"Se tenho esse desejo de ver uma mulher despida meu pai deverá fatalmente morrer"3
"Ela lhe seria afável se alguma desgraça viesse a lhe acontecer; e, como exemplo dessa desgraça a morte de seu pai."3
". na primeira vez que experimentou as prazerosas sensaçoes da cópula, irrompeu em sua mente uma ideia: 'Que maravilha! Por uma coisa assim alguém é até capaz de matar o pai!'"3
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