Rev. bras. psicoter. 2025; 26(3):89-122
Santana FAL, Bolsoni-Silva AT, Oliveira JMC. Programas de treinamento de habilidades sociais no Brasil: Rapid review. Rev. bras. psicoter. 2025;26(3):89-122
Artigos de Revisao
Programas de treinamento de habilidades sociais no Brasil: Rapid review
Social skills training programs for university students in Brazil: Rapid review
Programas de entrenamiento de habilidades sociales en Brasil: Rapid review
Franciele Ariene Lopes Santanaa; Alessandra Turini Bolsoni-Silvab; Juliana Maria Cardoso de Oliveirab
Resumo
Abstract
Resumen
Introdução
No contexto universitário, observa-se o aumento de transtornos psíquicos como ansiedade, depressão e estresse, especialmente no cenário pós-pandêmico, é possível observar nos estudos, registros de incremento de acometimentos à saúde mental1,2, com incidência de queixas e/ou transtornos relacionados à saúde mental3. As pesquisas da área identificaram correlação positiva entre fragilidade na saúde mental, desempenho insuficiente em avaliações escolares e evasão4. Há, no entanto, fatores que podem atuar como protetivos à saúde mental, sendo as HS, um deles3. Déficits em HS estão associados a condições clínicas de depressão5, ansiedade 6 , fobia social7 e estresse8,9 em universitários. A presença de um repertório competente de HS favorece a manutenção da saúde, atuando, portanto, protetivamente. Ademais, um repertório comportamental socialmente competente, favorece o desempenho acadêmico10,11. As HS emergem como fator de proteção, justificando a criação de programas específicos para seu desenvolvimento. As intervenções, nomeadas frequentemente de programas de treinamento de habilidades sociais (THS), vêm ganhando espaço nas ações de atenção aos estudantes universitários. Na perspectiva de utilização de programas de intervenção psicológica orientados por evidência, o emprego de práticas amparadas cientificamente viabiliza uma tomada de decisão bem informada, ou seja, escolhas conscientes frente ao maior conhecimento possível de estratégias disponíveis, colaborando com melhor uso de recursos12-14, que normalmente são restritos nos serviços públicos. Além disso, a busca por suporte em dados que atestam determinadas práticas contribui no manejo de dificuldades frente à implementação de opções para o enfrentamento da problemática que se pretende resolver ou prevenir 12-14.
Nos últimos cinco anos, algumas publicações revisaram estudos sobre THS no contexto acadêmico, cobrindo um período de inclusão de estudos até 2019; destacam-se três delas, a partir das quais o presente estudo se baseou. Santos et al.15realizaram uma revisão integrativa sobre a temática com oito estudos abrangendo os anos de 2009 a 2019 (publicações até outubro do referido ano), analisando aspectos metodológicos de programas THS para universitários. Gouveia e Polydoro16analisaram 16 publicações encontradas datando de 1999 até 2019, buscando compreender aspectos conceituais referentes ao termo HS, e características dos programas, como os tipos de habilidades desenvolvidas, o modo de avaliação do programa, os instrumentos utilizados e a metodologia dos estudos. Enquanto Bortolatto et al.17, numa revisão sistemática com sete publicações dos anos de 2009 a 2018, objetivaram descrever programas de THS em universitários, efeitos, potencialidades e limitações das intervenções.
Quanto aos resultados, todas as revisões encontraram nos estudos registros indicando ganhos nas HS dos participantes dos treinos, havendo ainda diminuição de sintomas de ansiedade, estresse e fobia social. Entretanto, há também um estudo em que queixas foram superadas somente parcialmente15, não havendo generalização para outros contextos, além de em um estudo não ter havido mudança significativa para níveis de estresse, comparando pré e pós-intervenção17. Como principal limitação, as revisões citam falta de grupo controle, advertindo que a forma de verificação sobre melhoria de indicadores dos estudos analisados foi diferente, a depender dos objetivos e metodologias, merecendo um olhar crítico para generalização dos dados16.
Houve a indicação17 de personalização das intervenções por meio de levantamento de necessidades para o treinamento que considere a percepção do próprio estudante sobre seu repertório e as habilidades que pretende desenvolver, destacando também a importância da utilização de instrumentos que identifiquem excessos/déficits e recursos em HS.
Sobre as temáticas mais abordadas em intervenções, somente em uma revisão16 ocorreu esse levantamento, identificando que as habilidades mais ensinadas foram assertividade, comunicação, falar em público e empatia e, que para atingir os objetivos de ensino destas habilidades, as estratégias mais utilizadas foram exposição (apresentação didática de conceitos), role-playing (simulação de interações), vivências (atividade estruturada com potencial de evocar sentimentos, pensamentos e desempenhos) e, tarefas de casa (atividades realizadas fora da sessão).
Com base nos estudos analisados nas revisões, pode-se levantar lacunas para um novo estudo de revisão, como a ampliação da amostra de estudos incluídos e período de busca15,16, análise de estudos de intervenção17, e ampliação do conhecimento acerca de programas desenvolvidos no contexto brasileiro, identificando materiais publicados que auxiliem na elaboração e implementação de programas de THS para universitários. Frente a isso, apresenta-se este estudo cujo objetivo principal foi o de rastrear e analisar publicações que descrevessem intervenções em HS para universitários no contexto brasileiro, conforme protocolo apresentado na seção de método.
Método
Realizou-se uma rapid review18,19que tem como base a utilização de formas reduzidas ou aceleradas de metodologia de revisão sistemática, sendo de especial vantagem porque possibilita a produção de síntese de pesquisas sobre temáticas específicas de interesse público e governamental que responda problemas e, que, portanto, pode apoiar na formulação de políticas, fornecendo evidências úteis19. Considerando o interesse de ampliar o conhecimento sobre programas de THS que podem ser desenvolvidos no contexto brasileiro, buscou-se levantar a literatura mais atual para verificar quais tipos de intervenção vêm sendo utilizadas com esta população no Brasil, aplicados em contextos educacionais, para auxiliar na construção de linhas orientadoras sobre programas de THS. Utilizaram-se as recomendações da declaração Preferred Reporting Items for Systematic Review and Meta-analyses: The PRISMA Statement20, no protocolo a seguir.
1. Questões de Pesquisa: a) Quais as características dos programas de THS que têm sido aplicados recentemente no Brasil e seus resultados? b) Há relato de manualização da intervenção que descreva: estrutura de sessões, organização de encontros, avaliações iniciais e posteriores à intervenção, detalhamento de estratégias/técnicas adotadas, número de participantes, número de sessões, instrumentos e resultados? Se sim, quais? c) É possível delinear preliminarmente pontos relevantes para o estabelecimento desses programas com base nas informações e evidências encontradas nas publicações revisadas? Se sim, quais?
2. Fontes de dados e estratégias de buscas: foram selecionados descritores da Biblioteca Virtual em Saúde - Psicologia, em língua portuguesa "Habilidades Sociais; Treinamento de Habilidades Sociais; Estudantes Universitários; Estudantes; Desenvolvimento de Programa; Saúde Mental" e inglesa "Social Skills; Social Skills Programas de treinamento de habilidades sociais no brasil: raPid review Training; College Students; Students; Program Development; Mental Health". Também foi utilizada a palavra "Undergraduate" como sinônimo de universitários. Na revisão de Bortolatto et al.17, as autoras mencionam o não uso desta palavra como limitação. Foram utilizados os operadores booleanos "AND", "OR". As buscas ocorreram entre outubro e novembro de 2022, com uma atualização em março de 2024. Os descritores foram cruzados no Portal de Periódicos da Capes; Scopus e Cochrane Reviews.
3. Critérios de elegibilidade: Empregou-se o acrônimo PICOS 20 :
Como critérios de inclusão, aceitaram-se textos dentro do período dos últimos 5 anos. Este recorte de tempo foi estabelecido em observância a dados posteriores aos já publicados nas revisões citadas 15,16,17 , deste modo, posteriores a 2019 (até março de 2024). Ainda como critérios de inclusão, considerou-se o acesso gratuito, com a temática de THS aplicados em grupo no Brasil. Como critérios de exclusão, empregou-se a remoção de materiais com duplicação nas bases, o acesso não gratuito ou publicações sobre programas internacionais.
4. Análise dos Dados:
Utilizou-se planilha para extração de dados, conforme descrição no Quadro 1. Foi avaliado o risco de viés nos artigos de intervenção com o instrumento Research Triangle Institute Item Bank - RTI-Item Bank 21 , selecionando-se oito questões: 2 - "Os critérios de inclusão/exclusão estão claramente estabelecidos - não requer que o leitor faça inferências"?; 5 - "A estratégia para o recrutamento de participantes no estudo foi a mesma entre grupos?"; 7 - "Qual foi o nível de detalhamento na descrição da intervenção?"; 13 - "Os avaliadores dos resultados foram cegos ao status dos participantes (intervenção)"?; 15 - "Os resultados foram avaliados utilizando medidas válidas e confiáveis, implementadas consistentemente entre todos os participantes do estudo?"; 24 - "Alguma variável primária importante está faltando dos resultados?"; 28 - "Os resultados são possíveis de se acreditar levando as limitações do estudo em consideração?".
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