Rev. bras. psicoter. 2023; 25(3):87-102
Ledur B, Schmitt M, Rossa I, Andretta I. Facilitando a saúde mental dos universitários brasileiros: desenvolvimento de um programa online. Rev. bras. psicoter. 2023;25(3):87-102
Artigo Original
Facilitando a saúde mental dos universitários brasileiros: desenvolvimento de um programa online
Facilitating the mental health of Brazilian university students: development of an online program
Facilitar la salud mental de los universitarios brasileños: desarrollo de un programa en línea
Bianca Ledur, Marina Schmitt , Isadora Rossa, Ilana Andretta
Resumo
Abstract
Resumen
Introdução
A população universitária, por estar inserida em contexto estressor, é vista como vulnerável ao adoecimento mental se comparada à população adulta geral¹, com alta prevalência de transtornos mentais e sintomas emocionais, compreendidos aqui por depressão, ansiedade e estresse2,3. A trajetória na universidade é permeada por desafios do âmbito acadêmico e interpessoal. No primeiro, cita-se as práticas de estágio; a exigência de manejo do tempo; e a conciliação entre estudos e trabalho. Quanto às situações interpessoais destaca-se a diversidade de interação com pessoas; a necessidade de suporte social; e o engajamento em novas relações interpessoais que exigem diferentes habilidades por parte do universitário4. No Brasil, especialmente, a população universitária seria compreendida como de risco a pior saúde mental5.
Com o advento da pandemia relativa ao coronavírus (COVID-19) houve mudanças abruptas para tal população, como o ensino remoto e o distanciamento social, exigindo adaptações por parte dos acadêmicos6. Insatisfação com o ensino à distância, frustrações de expectativas e medo de adoecer foram algumas das situações desafiadoras para os universitários7, com o aparente aumento de sintomas emocionais em acadêmicos em diversos países, como França8, Portugal9 e Brasil10.
Internacionalmente, intervenções baseadas em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) com universitários demonstram eficácia na diminuição de sintomas emocionais e promoção de saúde mental11,12. Com acadêmicos brasileiros, também se percebe benefícios com tal tipo de programa13,14. A prática da TCC busca, através de diversas técnicas, a reestruturação cognitiva, bem como o aumento de repertório comportamental para facilitar respostas adaptativas a situações estressoras15. A TCC pode ser também associada à psicologia positiva (PP), mindfulness e treinamento de assertividade11,12. A primeira busca aprimorar o bem-estar psicológico do sujeito16; mindfulness envolve perceber-se, prestando atenção ao momento presente sem julgamento17. Por fim, o treino de assertividade proporciona um ensaio comportamental para potencializar relações sociais mais saudáveis18.
Intervenções baseadas em TCC não se resumem ao contexto presencial. Com a necessidade de isolamento social proveniente da situação de pandemia19, aumentou-se a demanda por intervenções online graças à sua flexibilidade de acesso20,21. Entretanto, adaptações são necessárias ao contexto online11. Este exige cuidados com o contrato de sigilo, setting terapêutico, homogeneidade grupal e possível presença de diagnósticos complexos21. Ainda assim, há semelhança entre as práticas de programas presenciais e as de online síncronos, devido à interação ser simultânea. Seus respectivos efeitos e taxas de adesão seriam similares, mesmo que haja necessidade de mais estudos para consolidar tais resultados22,11.
A partir de uma pesquisa de revisão sistemática da literatura11, identificou-se que as intervenções online de TCC e outras abordagens associadas, como Mindfulness, PP e treinamento de assertividade, apresentam efetividade na redução de sintomas emocionais em universitários europeus e norte-americanos. Aponta-se que, porém, não foram encontrados estudos semelhantes realizados na América Latina. Ainda, a maioria das pesquisas averiguadas não descrevem detalhadamente o seu programa de intervenção ou desenvolvimento deste, prejudicando a replicação e adaptação das intervenções. Assim, torna-se necessário desenvolver e detalhar um protocolo que adapte estratégias de TCC para o âmbito da internet com o intuito de promover saúde mental em universitários brasileiros.
Considerando tais achados, o objetivo do presente estudo é apresentar detalhadamente o programa "Facilitando a saúde mental do universitário". Busca-se com isso, que estudos futuros possam replicá-lo e/ou adaptá-lo para outras populações. Para facilitar a adaptação do material teórico-prático para o meio online22 e auxiliar na adesão dos participantes11, o presente programa apresenta caráter síncrono.
Método Delineamento
O presente artigo foi elaborado através do modelo TIDieR - Template for intervention description and replication - Modelo para Descrição e Replicação da Intervenção23. Para embasar o desenvolvimento deste programa realizou-se uma revisão sistemática da literatura11 acerca de modelos e efeitos de intervenções online baseadas em TCC para universitários. Tal revisão indicou a eficácia e características dos protocolos estudados, incluindo materiais e atividades realizadas. Este artigo não busca apresentar resultados de eficácia da intervenção. Entretanto, para facilitar a contextualização e compreensão do leitor, apresentar-se-á algumas características dos participantes e instrumentos utilizados para averiguar, em outro estudo, os efeitos da intervenção.
Participantes
O programa foi elaborado para estudantes matriculados em nível de graduação em instituições brasileiras, com idade mínima de 18 anos e manifestando funções cognitivas preservadas. Considerou-se como critérios de exclusão: apresentar sintomas psicóticos, fazer uso abusivo de drogas e apresentar pensamentos e/ou comportamentos de risco e/ou suicídio. Realizou-se um total de nove grupos entre o segundo semestre de 2022 e o primeiro semestre de 2023. Participaram 22 universitários. Suas características constam na Tabela 1.
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