Rev. bras. psicoter. 2022; 24(2):3-17
Oliveira SES, Faiad C, Castro LP, Esteves GGL, Barbosa LLP, Alves MM. Big Five Inventory-2-Short: Evidências de Validade e Confiabilidade na Segurança Pública. Rev. bras. psicoter. 2022;24(2):3-17
Artigo Original
Big Five Inventory-2-Short: Evidências de Validade e Confiabilidade na Segurança Pública
Big Five Inventory-2-Short: Evidence of Validity and Reliability in Public Safety
Big Five Inventory-2-Short: Evidencia de Validez y Confiabilidad en Seguridad Pública
Sérgio Eduardo Silva de Oliveira, Cristiane Faiad, Luscélia Pereira Castro, Germano Gabriel Lima Esteves, Lara Letícia Pinto Barbosa, Marcela Mansur Alves
Resumo
Abstract
Resumen
INTRODUÇÃO
Entende-se a personalidade como um sistema, composto por traços e outros componentes, sendo marcado por padrões relativamente estáveis e duradouros, que tornam cada pessoa única. Esses componentes variam entre os indivíduos em intensidade e frequência, permitindo comparações1-3. No campo da Psicologia da Personalidade, o modelo dos Cinco Grandes Fatores (CGF)4 é atualmente o mais influente e utilizado em pesquisas5. Esse modelo passou a ser adotado mais amplamente em meados dos anos de 19906,7, com o intuito de estruturar e classificar os traços de personalidade. Assim, os estudos somaram evidências de que a personalidade se estrutura em cinco domínios, sendo eles: abertura à experiência (openness); conscienciosidade (conscientiousness); extroversão (extroversion); amabilidade (agreeableness); e neuroticismo (neuroticism), comumente identificados pela sigla OCEAN. De forma breve, a abertura à experiência pode ser definida pela tendência das pessoas em buscar por novas experiências, ambientes e ideias; a conscienciosidade diz sobre as características de organização, foco nos objetivos e metas, e responsabilidade; a extroversão expressa a tendência à sociabilidade, a facilidade na interação em público e a constituição de novas relações; a amabilidade caracteriza pela tendência em priorizar a qualidade das relações interpessoais, com cuidado e empatia no trato social e; por fim, o neuroticismo se refere à propensão de experiências emocionais negativas, sendo o fator mais associado a estados de ansiedade e depressão8.
Essa estruturação foi utilizada em diferentes pesquisas que avaliaram a personalidade e sua associação com diferentes variáveis, como comportamentos agressivos9, vícios10, adoecimento11, entre outros e em diferentes contextos, como a psicologia organizacional como associações com o comprometimento organizacional12, desempenho no trabalho13, comportamento organizacional14 e satisfação no trabalho15. No contexto das organizações, diversos estudos demonstram como variáveis pessoais podem impactar consideravelmente o desempenho no trabalho16,17 e, consequentemente, na saúde mental e no bem-estar dos trabalhadores18,19. Nesse contexto, a experiência de bem-estar está intimamente relacionada a traços da personalidade20, uma vez que a garantia de que uma pessoa possa expressar seus traços de personalidade em congruência com o ambiente que ela circula tende a ser um fator promotor de saúde mental. Assim, a compreensão de tais traços e a possibilidade de avaliá-los de forma adequada para cada contexto de trabalho, torna-se um importante investimento para a promoção do bem-estar e saúde mental das pessoas.
Visto que alguns contextos laborais têm apresentado dados agravados no processo de adoecimento no trabalho, os policiais têm ocupado papel de destaque nesse fenômeno. Como apontado por Silva21, faz-se cada vez mais necessários maiores investimentos em pesquisas que compreendam os fenômenos inerentes aos serviços prestados pelo profissional de segurança pública. Principalmente no contexto brasileiro, que dado os altos índices de violência e criminalidade, levam a um cenário preocupante dessa atuação profissional no desgaste próprio da função, na precariedade de investimentos e na baixa remuneração em algumas cidades, o que compromete a saúde mental do policial22,23. Neste sentido, compreender o desempenho de suas funções24, as características de personalidade adequadas ao desempenho de suas tarefas25 são importantes investimentos para a área de avaliação psicológica.
A avaliação da personalidade no modelo dos CGF pode ser feita por meio de diferentes instrumentos, como é o exemplo do NEO Personality Inventory Revised (NEO-PI-R)26 e da Bateria Fatorial de Personalidade (BFP)27. Contudo, a utilização dessas medidas demanda muito tempo de aplicação, uma vez que apresentam uma grande quantidade de itens, as tornando cansativas para os respondentes, colocando em risco a adequada conclusão das respostas28. Dentre as alternativas breves, encontra-se o Big Five Inventory (BFI)29, cujo objetivo é avaliar de forma eficiente e breve os cinco fatores da personalidade30. O BFI é constituído por 44 itens, que são respondidos em uma escala Likert, variando de 1 (discordo totalmente) a 5 (concordo totalmente). Soto e John31 fizeram uma segunda versão do BFI (BFI-2) com 60 itens e, posteriormente, com o intuito de tornar as avaliações mais rápidas, Soto e John32 desenvolveram e investigaram evidências de validade para duas versões reduzidas do BFI-2, sendo uma versão com 30 itens (Big Five Inventory - 2 - Short - BFI-2-S) e a outra com 15 itens (Big Five Inventory - 2 - Extra Short - BFI-2-XS). Os autores descrevem que o tempo de resposta do BFI-2 é de aproximadamente cinco a dez minutos, do BFI-2-S de três a cinco minutos, e o BFI-2-XS de dois a três minutos.
O objetivo do presente estudo foi investigar as evidências de validade baseadas na estrutura interna e de fidedignidade baseada na consistência interna do BFI-2-S entre servidores da segurança pública. Destacase a importância de investigar as propriedades psicométricas de uma medida em diferentes contextos com o objetivo de garantir que as interpretações dos escores se aplicam ao contexto, uma vez que as evidências de validade são contextuais e não universais33. Assim, o presente estudo é essencial para fundamentar o adequado uso do BFI-2-S no contexto da segurança pública brasileira.
MÉTODO
Participantes
Participaram desta pesquisa 10.171 agentes da segurança pública, de todas as unidades federativas do Brasil, entre policiais militares, policiais civis, policiais penais, policiais técnicos-científicos, integrantes do corpo de bombeiros militares, policiais rodoviários federais e agentes do Departamento Penitenciário Nacional. O método de amostragem foi não probabilístico por conveniência. Foram excluídos das análises os participantes que apresentaram elevado padrão de aquiescência, resultando em uma amostra final de 9.742 participantes (n = 429, 4,22%). A amostra foi composta por profissionais que tinham uma média de idade de 41,5 (DP = 8,02) anos, a maioria era do sexo masculino (80,1%), casado (73,5%), com renda familiar entre três e cinco salários mínimos (31%) e com média de tempo de trabalho na força de segurança pública de 14,5 (DP = 8,46) anos. A amostra foi subdividida aleatoriamente em duas subamostras, com o objetivo de se obter evidências de validade cruzada. A Tabela 1 detalha as características sociodemográficas da amostra.
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