Rev. bras. psicoter. 2021; 23(1):167-190
Secchi Á, Dullius WR, Garcez L, Scortegagna SA. Intervenções on-line em saúde mental em tempos de COVID-19: Revisão sistemática. Rev. bras. psicoter. 2021;23(1):167-190
Revisão sistemática
Intervenções on-line em saúde mental em tempos de COVID-19: Revisão sistemática
Online mental health interventions in COVID-19 times: Systematic review
Intervenciones de salud mental en línea en tiempos de COVID-19: Revisión sistemática
Álisson Secchi; Willian Roger Dullius; Livia Garcez; Silvana Alba Scortegagna
Resumo
Abstract
Resumen
INTRODUÇÃO
A emergência global causada pela pandemia de COVID-19 impacta negativamente a saúde da população e demanda mudanças na sociedade. O cenário adverso atinge principalmente os grupos vulneráveis, como profissionais da saúde que trabalham na linha de frente contra o COVID-19 e enfrentam altos níveis de carga de trabalho, em situações psicologicamente difíceis, diante da falta de recursos materiais para atender a população em geral1 e de pessoas idosas com comorbidades, o que pode acarretar e intensificar problemas em saúde mental como ansiedade, depressão, transtorno de estresse pós-traumático2,3.
Diante deste cenário e das restrições sanitárias, para garantir a assistência e o cuidado à saúde mental, os atendimentos on-line tornaram-se uma importante opção. A prestação de cuidados de saúde mental por meio de tecnologia já é utilizada com sucesso há vários anos4, e dispositivos de telemedicina e Tecnologia Digital (TD), como smartphones, e dispositivos tecnológicos, como videoconferência ou aplicativos de smartphones, tem sido positivo tanto no acompanhamento quanto no suporte a pacientes e cuidadores5.
Cada vez mais os dispositivos de suporte m-Health e/ou e-Health ganham destaque. Meios eletrônicos móveis como smartphones e tablets que disponibilizam aplicativos, assim como meios eletrônicos de acesso a plataformas para atendimento on-line, como computadores e plataformas específicas6 começam a ser amplamente utilizados, especialmente para videoconferências, e oferecem oportunidade para o uso de soluções inovadoras que podem aumentar o número de pessoas assistidas7. Porém, para que as intervenções em saúde mental nesta modalidade possam ter efeitos positivos, o profissional atuante necessita dominar o uso das tecnologias. Caso não haja treinamento e experiência, a intervenção on-line pode não ser positiva9.
O maior sistema integrado dos Estados Unidos, Veterans Health Administration (VHA), demonstrou perspectivas promissoras, pois além de garantir a continuidade dos serviços, expandiu rapidamente a telessaúde mental após o surto do vírus. A VHA forneceu quase 1,2 milhão de atendimentos por meio telefônico e videochamada, em abril de 2020, o que reduziu as visitas presenciais em aproximadamente 80% em comparação com o período de outubro de 2019 a fevereiro de 2020. Em junho de 2020, houve aumento de 11 vezes nos atendimentos por meio de videochamada, e incremento de cinco vezes nos contatos telefônicos em relação ao período anterior à pandemia8.
Diante desta realidade, estudos para verificar a eficácia dos dispositivos tecnológicos ofertados devem ser incentivados10 para que possam determinar até que ponto essas intervenções podem produzir os benefícios esperados1. Embora alguns pesquisadores enfatizem que intervenções em pacientes ambulatoriais por meio de videoconferência podem ser tão eficazes quanto ao tratamento presencial, que os pacientes mostram satisfação quanto a modalidade de suporte proporcionado, além de adesão ao tratamento e uso de medicamentos7, os estudos ainda são incipientes.
Neste contexto e considerando a importância das intervenções em saúde mental na pandemia de COVID-19, questiona-se: Quais as modalidades de intervenções on-line realizadas em saúde mental em tempos de pandemia? Quais os benefícios e limitações dessas intervenções? Para responder a estas questões, este estudo teve como objetivo reunir as evidências empíricas sobre as intervenções on-line em saúde mental em tempos de COVID-19.
MÉTODO
Esta revisão sistemática foi realizada de acordo com as recomendações propostas pelo guia Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses PRISMA11. Efetuou-se uma pesquisa bibliométrica para analisar a produção científica de artigos sobre a temática proposta por este estudo; artigos empíricos, com delineamentos qualitativos e quantitativos ou mistos sobre intervenções on-line em saúde mental na pandemia de COVID-19, publicados entre janeiro e dezembro de 2020, em periódicos indexados, disponíveis na íntegra, classificados como "open access" e acesso restrito, no idioma português ou inglês. Excluíram-se publicações duplicadas, livros, revisões literárias, teses e estudos que não versavam sobre o tema proposto.
Os descritores empregados foram consultados no DeCS - serviço de vocabulário estruturado (MeSH) e por meio da estratégia do PICO (população, interesse, contexto). Foi utilizado a respectiva estratégia de busca: (saúde mental AND telessaúde mental OR telemedicina AND COVID-19), em português e os respectivos termos em inglês. As bases de dados utilizadas foram: PepSIC, Scielo (nacionais), Scopus, PsycInfo, Pubmed e ScienceDirect (internacionais). A escolha dessas bases deu-se a partir da relevância das suas publicações no assunto estudado.
O processo de seleção dos estudos ocorreu simultaneamente e independente pelos pesquisadores nas seguintes etapas: etapa 1- Identificação dos estudos nas bases de dados por meio dos descritores no DeCs; etapa 2 - Procura dos artigos: título das publicações e resumos foram analisados primeiramente para determinar se o estudo abordava o tema de interesse; etapa 3 - Elegibilidade: os estudos foram avaliados pela leitura na íntegra para determinar sua adequação ao tema e se contemplava os critérios de elegibilidade, culminando na inclusão dos estudos. Avaliações com resultados similares foram mantidos, mas quando houve avaliações com resultados divergentes, uma terceira pessoa foi consultada para avaliação dos estudos.
RESULTADOS
A busca identificou 1444 publicações, em Pepsic (n=zero), Scielo (n=zero), Scopus (n=159), PsycInfo (n=163), Pubmed (n=936), ScienceDirect (n=186). Foram aplicados os critérios de inclusão, a partir da leitura dos títulos e resumos dos artigos selecionados, uma vez que 1351 publicações não atenderam aos critérios de inclusão e, portanto, foram excluídas. Nesse sentido, 28 artigos foram eleitos para compor a análise qualitativa, que teve como objetivo identificar as publicações existentes sobre intervenções on-line em saúde mental no contexto da pandemia de COVID-19.
A Figura 1 apresenta o fluxograma da estratégia de busca de artigos utilizada nesta revisão sistemática e os resultados alcançados.
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