Rev. bras. psicoter. 2021; 23(1):143-155
Waclawovsky AJ, Santos EB, Schuch FB. Atividade física e saúde mental durante a pandemia da COVID-19: uma revisão rápida de estudos epidemiológicos brasileiros. Rev. bras. psicoter. 2021;23(1):143-155
Artigo de Revisao
Atividade física e saúde mental durante a pandemia da COVID-19: uma revisão rápida de estudos epidemiológicos brasileiros
Physical activity and mental health during the covid-19 pandemic: a rapid review of Brazilian epidemiological studies
Actividad física y salud mental durante la pandemia del covid-19: una revisión rápida de los estudios epidemiológicos brasileños
Aline Josiane Waclawovsky; Eduarda Bitencourt dos Santos; Felipe Barreto Schuch
Resumo
Abstract
Resumen
INTRODUÇÃO
No final de 2019, em Wuhan, na China, foi relatado pela primeira vez um surto provocado por um novo vírus, o coronavírus da síndrome respiratória aguda 2 (SARS-COV-2), causador da doença por coronavírus-2019 (COVID-19). No dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS), declarou oficialmente o surto do novo Coronavírus (COVID-19) como uma pandemia, provocando uma situação de emergência na saúde global e levando diversos países a se valerem de medidas preventivas para frear o contágio e a transmissão da doença1.
Dentre as medidas preventivas, uma das principais recomendações feita pela OMS foi o distanciamento físico, que consiste na limitação da circulação de indivíduos na sociedade, reduzindo seu contato com outras pessoas1. Essa medida visa conter a propagação da doença e o consequente impacto grave da pandemia1.
No Brasil, houve a orientação sobre a adotar medidas de etiqueta respiratória, higiene de mãos e principalmente de distanciamento social, para reduzir a velocidade de transmissão do vírus2. O distanciamento social é uma forma eficaz para diminuir a transmissão do coronavírus, porém ela provoca grandes mudança no estilo de vida e no comportamento humano, alterando o nível de atividade física e o tempo gasto em comportamento sedentário, em níveis populacionais3,4. O impacto da pandemia e do isolamento social nos níveis de atividade física pode, no entanto, diferir entre os países. No Reino Unido, alguns estudos sugerem um aumento no tempo gasto em atividade física4, enquanto no Brasil os estudos são mais consistentes em mostrar uma redução5,6,7.
Durante a pandemia, devido tanto as medidas restritivas, quanto ao medo pandêmico8 é esperado um incremento nos sintomas depressivos e de ansiedade em nível populacional9,10. Um estudo transversal, realizado com 45.161 participantes brasileiros, identificou que 40,4% (IC 95% 39,0 - 41,8) deles sentiram-se tristes ou deprimidos durante o distanciamento social e que 52,6% (IC 95% 51,2 - 54,1) relataram sentirem-se ansiosos sempre ou quase sempre durante o isolamento11. Em um estudo longitudinal, que acompanhou 2.314 brasileiros, 51,3% dos participantes relataram piora nos sintomas de ansiedade e um a cada três participantes apresentaram sintomas depressivos agravados durante o período de distanciamento social12 .
A atividade física, em períodos pré-pandêmicos, é um fator protetor contra a incidência de depressão e ansiedade13,14. Uma meta-análise de estudos longitudinais, incluindo dados de mais de 260 mil sujeitos, identificou que atividade física está associada a redução no risco de desenvolver depressão e que pessoas que têm níveis mais altos de atividade física apresentam 17% menos chances de apresentar depressão quando comparadas com pessoas fisicamente menos ativas13. Evidências meta-analíticas de estudos longitudinais, incluindo informações de mais de 70 mil sujeitos, demonstraram que pessoas com maiores níveis de atividade física têm 26% menos chances de desenvolverem ansiedade14.
No contexto pandêmico, no qual parece haver piora da saúde mental e uma redução do nível de atividade física da população brasileira, ainda não está claro o quanto o efeito protetor da atividade física sobre a saúde mental se mantém ou é modificado. O objetivo do presente estudo foi realizar uma revisão rápida de estudos epidemiológicos brasileiros que avaliaram a associação entre atividade física e saúde mental durante a pandemia de COVID-19.
METODOLOGIA
Foi realizada uma busca nas bases Scielo, Scielo Preprints e PubMed até o dia 27 de janeiro de 2021, por estudos realizados no Brasil, que avaliaram a associação entre atividade física, sintomas de depressão e ansiedade durante a pandemia de COVID-19. Para isso, utilizamos a seguinte estratégia de busca: ((physical activity OR exercise) AND (mental health OR depression OR anxiety) AND (covid-19 OR coronavirus) AND (Brazil OR brazilians)), sendo adaptada de acordo com a base. Buscas manuais também foram realizadas no ResearchGate e no Google Scholar, assim como nas referências dos estudos incluídos.
Foram incluídos estudos que: 1) avaliaram e/ou relataram níveis de atividade física dos participantes; 2) relataram sintomas de depressão e ansiedade através de instrumentos que tiveram as suas características psicométricas testadas e validadas; 3) testaram a associação entre atividade física e depressão ou ansiedade utilizando modelos de regressão ajustados ou não ajustados por covariáveis ou que compararam a diferença entre as médias de sintomas entre os mais ativos e os menos ativos; 4) foram realizados com a população brasileira (maiores de 18 anos) durante a pandemia de COVID-19; 5) foram escritos em português ou inglês. Excluímos estudos de revisão, editoriais e artigos de opinião.
Os dados extraídos dos estudos foram: primeiro autor, ano de publicação, região do país, tamanho da amostra, características da amostra como média de idade, sexo, nível de atividade física dos participantes e informações sobre sintomas de depressão e ansiedade. Ademais, foram analisados os instrumentos utilizados para avaliação da atividade física e dos sintomas de depressão e ansiedade, e também a relação dos sintomas de depressão e ansiedade com a atividade física.
Após a coleta de dados, foi realizada uma síntese qualitativa dos estudos em virtude da heterogeneidade na apresentação dos dados e impossibilidade de se realizar uma meta-análise.
RESULTADOS
A busca nas bases de dados retornou 79 artigos e após a remoção dos duplicados, 71 títulos e/ou resumos foram lidos, restando para leitura completa 9 estudos potencialmente elegíveis. As buscas manuais identificaram mais 14 estudos potencialmente elegíveis. Dos 23 estudos potencialmente elegíveis, 6 foram incluídos nesta revisão. O fluxograma da seleção dos estudos pode ser visto na figura 1.
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