Rev. bras. psicoter. 2020; 22(1):71-81
Pires ALMR, Moreira JO. Freud, a construção da neurose obsessiva nos primeiros escritos e as diferenças em relação ao TOC. Rev. bras. psicoter. 2020;22(1):71-81
Artigo de Revisao
Freud, a construção da neurose obsessiva nos primeiros escritos e as diferenças em relação ao TOC
Freud, the construction of obsessional neurosis in the first writings and the differences in OCD
Freud, la construcción de la neurosis obsesiva en los primeros escritos y las diferencias con relación al TOC
Ana Luiza Martins Ribeiro Pires; Jacqueline de Oliveira Moreira
Resumo
Abstract
Resumen
1. INTRODUÇÃO
A neurose obsessiva é um tema importante e muitas vezes confundido com o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) classificado pelo DSM-V. A psiquiatria caracteriza esse transtorno por ideia repetitiva e intrusiva que invadem a consciência, comportamento compulsivo com predominância de rituais comportamentais que prejudicam o funcionamento social, ocupacional e pessoal, provocando angústia no indivíduo.
Segundo o DSM-V:
Obsessões são pensamentos repetitivos e persistentes (p. ex., de contaminação), imagens (p. ex., de cenas violentas ou horrorizantes) ou impulsos (p. ex., apunhalar alguém). É importante observar que as obsessões não são prazerosas ou experimentadas como voluntárias: são intrusivas e indesejadas e causam acentuado sofrimento ou ansiedade na maioria das pessoas1.
A frequência e a gravidade das obsessões e compulsões variam entre os indivíduos com TOC (p. ex., alguns têm sintomas leves a moderados, passando 1 a 3 horas por dia com obsessões ou executando compulsões, enquanto outros têm pensamentos intrusivos ou compulsões quase constantes que podem ser incapacitantes)1.
O diagnóstico em psicanálise além de ser estrutural é também sob transferência, o que exige do analista um trabalho de produzir certa fala que possa indicar algo da posição do sujeito na fantasia. Falamos de um endereçamento da fala, de uma ultrapassagem dos fenômenos que nos permite formular um diagnóstico como função terapêutica e concomitantemente nos afasta das caricaturas engendradas pelos manuais como padrões de sofrimento psíquico3.
A neurose obsessiva é, indubitavelmente, o tema mais interessante e compensador da pesquisa analítica. Deve-se confessar que, se nos esforçarmos por penetrar mais profundamente em sua natureza, teremos de confiar em admissões duvidosas e suposições não confirmadas4.
As lembranças reativadas e as autoacusações delas decorrentes nunca reemergem inalteradas na consciência: o que se torna consciente como ideias e afetos obsessivos, substituindo as lembranças patogênicas, no que concerne à vida consciente, são estruturas que consistem em uma conciliação entre ideias reprimidas e repressoras8.
Medidas penitenciais (cerimoniais opressivos, observação de números); medidas de precaução (todas as espécies de fobias, superstição, minuciosidade, incremento do sintoma primário da conscienciosidade); medidas relacionadas ao medo de delatarse (colecionar aparas de papel, misantropia), ou para assegurar o entorpecimento [da mente] (dipsomania)8.
[...] fazendo-se retroceder todas as substituições e transformações de afeto encontradas, até que a recriminação primária e sua vivência sejam libertadas e possam ser colocadas diante do Eu para novo julgamento. Para isso, é preciso elaborar a fundo um número inimaginável de representações intermediárias ou de compromisso que fugazmente podem se tornar representações obsessivas8.
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