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Revista Brasileira de Psicoteratia

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Rev. bras. psicoter. 2019; 21(2):119-220



Resumos

XXIX Jornada sul-Riograndense de Psiquiatria Dinâmica - 2018

 

 

TRABALHOS PSICOTERAPIA

Preditores do abandono inicial de tratamento em psicoterapia psicodinâmica

Clarissa Machado Pessota, Luan Paris Feijó, Silvia Pereira da Cruz Benetti

Instituição: Unisinos

Um a cada cinco pacientes abandonam o tratamento psicoterápico sem que os objetivos do tratamento sejam atendidos. Nesse sentido, as pesquisas sobre o abandono psicoterápico contribuem para identificar fatores de risco deste fenômeno, contudo os estudos sobre a interrupção prematura do tratamento, nas sessões iniciais, ainda são restritos. Portanto, objetiva-se identificar os preditores do abandono inicial no processo psicoterapêutico psicanalítico. Trata-se de uma pesquisa transversal e documental que analisou 1272 prontuários de pacientes jovens-adultos de um ambulatório, cuja abordagem é a psicoterapia psicodinâmica de longa duração em Porto Alegre/RS. Os instrumentos utilizados foram a ficha de contato inicial, a avaliação e a alta institucional e o SCL-90-R. Os dados foram analisados por meio da análise de Regressão Logística Binária Multivariada em dois grupos independentes: abandono inicial (desde a primeira sessão até dois meses) e abandono médio (de 3 a 6 meses). Os resultados sugerem como preditoras do abandono inicial, as variáveis sociodemográfica, baixa renda; clínica: ansiedade fóbica; as de tratamento, não ter realizado psicoterapia anteriormente e as razões do término de tratamento, para o tipo de abandono (não compareceu à sessão e não justificou); para o paciente (outros motivos: mudança de cidade, falta de recursos e motivos de saúde) e para os fatores organizacionais; insatisfação. Esses achados apontam para um perfil de risco para o abandono psicoterápico inicial e destaca a atenção às consultas realizadas até o segundo mês para auxiliar na adesão ao tratamento. Por fim, indicam-se novas avaliações, especialmente, focadas nas características do tratamento e na inserção de novas variáveis como a do terapeuta frente ao abandono psicoterápico inicial.

Correspondência
Clarissa Machado Pessota
pessotaclarissa@gmail.com




Desenvolvimento de Protótipos Brasileiros de Psicoterapia Psicodinâmica e Terapia Cognitivo-Comportamental de Crianças.

Guilherme Pacheco Fiorini, Vera Regina Röhnelt Ramires

objetivo: desenvolver protótipos brasileiros de Psicoterapia Psicodinâmica (PP) e Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) para crianças com transtornos internalizantes (TI) e externalizantes (TE). método: dezoito experts brasileiros em PP (n=9) e TCC (n=9) pontuaram os 100 itens do Child Psychotherapy Q-Set (CPQ) buscando descrever uma sessão típica que aderisse aos pressupostos de suas respectivas abordagens teóricas para o tratamento de crianças com TI. Após, os participantes avaliaram os mesmos itens buscando descrever uma sessão típica que aderisse às concepções de suas respectivas abordagens teóricas no tratamento de crianças com TE. Foi realizada uma análise fatorial do tipo Q com rotação varimax. Resultados: os experts apresentaram uma concordância alta em suas avaliações, considerando ambas as abordagens teóricas e ambas as categorias diagnósticas. A análise fatorial gerou três fatores independentes. As avaliações em TCC concentraram-se em um fator, enquanto as avaliações em PP geraram um fator descrevendo o tratamento de crianças com TI e um fator descrevendo o tratamento de crianças com TE. Discussão: o protótipo único da TCC refletiu uma conceptualização geral dessa abordagem, indiscriminada em relação à psicopatologia do paciente. O protótipo da PP para crianças com TI evidenciou um processo pautado pela interpretação, enquanto que o protótipo da PP para crianças com TE caracterizou um processo mais suportivo e com foco na relação terapêutica. Infere-se uma maior flexibilização no setting da PP para crianças com diferentes sintomatologias.

Palavras-chave: Protótipos de psicoterapia; Psicoterapia de crianças; Psicoterapia psicodinâmica; Terapia cognitivo-comportamental




Sentimentos contratransferenciais com pacientes antissociais e psicopatas

Mariana Ribeiro de Almeida, Lisieux Elaine de Borba Telles

Nosso trabalho consiste em uma revisão da literatura sobre contratransferência com pacientes antissociais e psicopatas, motivado pela escassez de bibliografia sobre o assunto e pela sua importância para a prática clínica. Inicialmente, é realizada uma revisão dos conceitos de transtorno da personalidade antissocial segundo a definição do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM 5, 2013) e de psicopatia de acordo com a conceitualização de Cleckley (1941, 1988) e de Hare (1993), salientando também as contribuições de Winnicott (1956) e de Kernberg (1984, 1998 apud Gabbard, 2006; 2007) para o tema, e após aborda-se a contratransferência com esses pacientes, com destaque para as conceitualizações de Lion (1978; 1999) e de Meloy (1998, 2002). Os sentimentos despertados por esses pacientes são intensos e contraditórios, e constituem campo rico e ainda pouco explorado para estudo e pesquisa.

Palavras-chave: Transtorno da personalidade antissocial; Psicopatia; Contratransferência




Mentalização em pacientes adultos com diagnóstico de TDAH

Tais Biazus

OBJETIVO: Diversas teorias tem sugerido que pacientes com TDAH apresentem uma capacidade de mentalização diminuída, pela tendência em agir impulsivamente e pela dificuldade em interpretar estados mentais alheios e próprios. Assim, este trabalho visa reproduzir essa hipótese, por meio da mensuração da função reflexiva em pacientes adultos com diagnóstico de TDAH. MÉTODOS: A amostra do estudo é constituída por 57 pacientes adultos com TDAH, avaliados e diagnosticados no ProDAH (Ambulatorio de TDAH HCPA) e 173 controles recrutados no banco de sangue do mesmo hospital. Para inclusão no estudo, os indivíduos deveriam ser maiores de 18 anos e capazes de decidir por sua participação no estudo. Foram excluídos indivíduos que apresentavam história significativa de doença neurológica, história atual ou pregressa de sintomas psicóticos ou um QI estimado < 70. Nos casos do estudo, os procedimentos diagnósticos seguiram os critérios do DSM-5 para TDAH e aplicação de entrevistas clínicas e semiestruturadas, como a versão em português do K-SADS-E e do ADHD Self-Rated Scale Screener (ASRS). Nos controles, foi realizada triagem para TDAH utilizando-se ASRS. Em relação à mentalização, a avaliação de cada paciente foi realizada por meio da mensuração da capacidade reflexiva, pela escala RFQ_8 (Reflexive Function Questionnaire), uma versão simplificada do RFQ_54, que ainda está em processo de validação para o português. RESULTADOS: Os escores de RF_c foram menores em pacientes com TDAH [RF_c = mediana 1.0 (intervalo interquartil = 1,08)] quando comparados aos controles [1,7 (1,5)]; enquanto os escores de RF_u foram maiores em pacientes com TDAH [0,7 (0,7)] quando comparados aos controles [0,3 (0,5)] (P < 0,0001). DISCUSSÃO: A partir dos resultados desse estudo, pode-se afirmar que a função reflexiva é prejudicada em pacientes adultos com TDAH em comparação aos controles. Pela avaliação desses indivíduos, observou-se que o nível de certeza é menor, ou seja, há uma maior tendência a avaliar os estados mentais próprios e alheios com uma menor clareza do que os indivíduos pertencentes ao grupo controle. Em contrapartida, o nível de incerteza é maior nos pacientes com diagnóstico de TDAH, mostrando que estes apresentam uma maior dificuldade em reconhecer pistas que levam a um melhor entendimento do comportamento próprio e dos outros. Acredita-se que os sintomas do TDAH, como desatenção e impulsividade, contribuem consideravelmente para que esses indivíduos apresentem maior dificuldade na leitura dessas pistas e também no reconhecimento dos estados mentais próprios e alheios, ou seja, os sintomas centrais do TDAH parecem ser dificultadores do processo de mentalização por seus portadores. Porém, outros fatores, como relações precoces de apego, fatores genéticos e estresse ambiental, podem estar envolvidos nesse processo. CONCLUSÃO : Por meio desse estudo, foi possível concluir que há prejuízo da função reflexiva nos pacientes adultos com TDAH em comparação aos controles. Observou- se que esses pacientes apresentam média na escala RFQ_8 que converge para hipomentalização, o que mostra que os sintomas de TDAH, como impulsividade e desatenção, podem ser contribuintes para que os indivíduos apresentem uma menor apreciação dos estados mentais próprios e dos outros indivíduos. Com base nesses achados, pode-se sugerir que os pacientes adultos com TDAH, além de apresentarem um benefício com o tratamento farmacológico, pelo controle de sintomas que trazem prejuízo à função reflexiva, como impulsividade e desatenção, também se beneficiariam com tratamentos psicoterápicos que implementam melhora na função reflexiva e, consequentemente, geram um melhor entendimento dos estados mentais próprios e alheios, o que poderia impactar positivamente os relacionamentos interpessoais desses indivíduos.




A oficina do Jornal no CAPS: uma visão prática das tecnologias de cuidado em saúde mental

Guilherme Machado Paim, Stephanie Zunino N. Guinsburg e Juliana Unis Castan

Instituição: Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) - UFRGS

Introdução: Na implementação da Lei nº 10.216/2001, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) tornaram-se um serviço essencial para o cumprimento de um modelo de atenção à saúde mental pautado na ampliação e qualificação do cuidado e a constituição de uma rede de assistência ao processo hospitalar. Constituem-se enquanto unidades de atendimento compostas por uma equipe de trabalho multidisciplinar, operando com a finalidade da reabilitação psicossocial dos seus usuários. Em vista disso, os CAPS possuem diferentes modalidades de atendimento que buscam o desenvolvimento dos usuários em suas diferentes esferas de vida. Objetivo: Demonstrar as possibilidades psicoterapêuticas do desenvolvimento de competências específicas e capacidades relacionais a partir de uma oficina multiprofissional, buscando fomentar e incentivar novas e inovadoras intervenções no trabalho em a saúde mental. metodologia: Relato de experiência descrevendo a oficina multiprofissional que tem por objetivo a construção e elaboração do Jornal do CAPS, relacionando a vivência do grupo de trabalho com o desenvolvimento de habilidades individuais e dispositivos relacionais fundamentados no conceito de tecnologias de cuidado em saúde. O grupo ocorre semanalmente, contando com a participação de em média 18 usuários, entre 20 e 62 anos, de ambos os sexos, que apresentam como principais diagnósticos Transtorno Afetivo Bipolar e Esquizofrenias. Resultados: A partir de uma atividade voltada para a tarefa da construção e editoração do Jornal, e da dinâmica grupal consequente, ocorre a organização do pensamento e estimulação da atenção e da comunicação; Através de um ambiente que incentiva os processos de fortalecimento de vínculos, observa-se o desenvolvimento de autonomia, protagonismo e corresponsabilidade, pilares da relação de cuidado em saúde; Com o uso do computador e da internet, estimulase a responsabilidade e a cooperação entre os usuários, assim como a aprendizagem de novas tecnologias favorece o aumento da autoestima e autoeficácia. Conclusão: Destaca-se o potencial de trabalho da referida atividade no desenvolvimento de importantes aspectos da vida dos usuários com o objetivo de sua efetiva reinserção social.




Exploração das intervenções do terapeuta em episódios de ruptura da aliança em um caso de psicoterapia psicodinâmica com paciente borderline

Eduarda Duarte de Barcellos, Vitória Maria Tabosa Evaldt, Fernanda Barcellos Serralta

Instituição: Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS)

Introdução: Rupturas na aliança terapêutica (AT) são caracterizadas como eventos que evidenciam problemas na qualidade do relacionamento entre paciente e terapeuta, sendo tensões ou quebras na relação colaborativa. São classificadas conforme o movimento do paciente: confrontação, quando se move contra o terapeuta; e evitação, quando ocorre o afastamento ou esquiva do paciente em relação ao terapeuta ou ao trabalho terapêutico. A percepção e resolução das rupturas estão relacionadas a um bom desfecho da psicoterapia e dificuldades nas resoluções podem predizer abandono. Pacientes com diagnóstico de transtorno de personalidade borderline (TPB) possuem características que dificultam o estabelecimento da AT, entre elas a inconstância nos comportamentos interpessoais e a desregulação emocional. Portanto, na psicoterapia com esses pacientes, faz-se necessária uma atenção maior voltada às intervenções que podem modificar o nível da AT. Sendo assim, explorar como o terapeuta intervém para reparar rupturas da AT no início do tratamento possui relevância para a clínica e para a pesquisa. Objetivo: Explorar as possíveis relações entre as intervenções do terapeuta e a sua capacidade de reparar as rupturas da AT em uma sessão de uma psicoterapia psicodinâmica de um paciente com TPB. método: Este estudo faz parte de um projeto maior intitulado "A personalidade borderline e seu impacto nos processos de vinculação e mudança em psicoterapia psicanalítica" desenvolvido pelo LAEPSI (UNISINOS). Trata-se de um estudo de caso sistemático, no qual foi analisada a terceira sessão de uma psicoterapia interrompida precocemente. Esta sessão foi escolhida por apresentar rupturas e resoluções mais significativas na fase inicial do tratamento. A dupla é composta por uma terapeuta, 32 anos, com formação em psicoterapia psicanalítica e por um paciente homem, 30 anos, diagnosticado com TPB. O paciente foi convidado a participar do estudo de forma voluntária e assinou o TCLE, bem como a terapeuta. As sessões foram gravadas em vídeo e transcritas. Juízes independentes codificaram a sessão com o 3RS, que identifica e classifica as rupturas e reparações na AT, através da análise da sessão em segmentos de 5 minutos. Foram classificados os turnos de fala da terapeuta que cumpriram os requisitos mínimos (n=80) com o TACS-1.0, que descreve a comunicação terapêutica de forma detalhada e compreende sua evolução. Resultados: Como exploração inicial, destaca-se o pouco foco na relação terapêutica (n=8), o que vai contra as recomendações encontradas na literatura para o tratamento de pacientes com TPB. Também se percebeu foco maior nas ações (n=39) e pouca exploração dos afetos (n=7) do paciente. O número elevado de rupturas (n=26) e menor de resoluções (n=5) é comum ocorrer nesta etapa de tratamento, mas pode estar relacionado com o abandono. A terapeuta buscou as resoluções principalmente convidando o paciente a discutir sobre a terapia ou a relação terapêutica, por meio de afirmações que visam sintonizar (n=26) e ressignificar (n=17) a comunicação do paciente. Por fim, a análise completa e intensiva deste e de outros casos poderá oferecer uma melhor compreensão da reverberação da técnica psicoterápica no abandono (ou adesão) de pacientes com TPB em psicoterapia.




A machine learning approach to understand the relationship between therapist factors and patient distress in psychoanalytic psychotherapy

Pricilla Braga Laskoski, Gabriela Massaro Carneiro Monteiro, Fernanda Barcellos Serralta, Cláudio Laks Eizirik, Ives Cavalcante Passos, Simone Hauck

Objective: To present the use of machine learning as a methodology for studying psychotherapeutic process through the identification of the therapist's factors that affect a patient's mental state (distress) during a psychotherapy session. methods: We presented a psychoanalytic psychotherapy case composed of 120 videotaped sessions. Distress was assessed by Outcome Questionnaire (OQ-45) and therapist effects by Psychotherapy Process Q-Set (PQS). Recursive feature elimination was performed with leave-one-out cross validation (LOOCV) using a random forest algorithm. Results: The best random forest model differentiated high from low levels of distress with an Area Under the Receiver Operating Characteristic Curve (AUC) of 0.725, sensitivity of 79%, specificity of 62% and balanced accuracy of 70.5%. The best model indicated a combination of 6 variables as the most relevant predictors of distress. Conclusion: This study showed that machine learning approach could be an useful tool in promoting process research advancement, allowing the study of numerous simultaneous variables without assuming linearity. Therapeutic interaction is a complex phenomenon and the debate about the effective ingredients that promote therapeutic change is central. Machine learning approach could be helpful in making possible, for example, a better understanding of the interaction of specific and common factors along the therapeutic process.

Keywords: Machine Learning; Psychoanalysis; Psychoanalytic Psychotherapy; Psychotherapy Process Research




Psicoterapia Psicanalítica com pacientes surdos: um estudo qualitativo sobre aspectos e adaptações técnicas da prática

Juliana Neves, Cleonice Zatti, Charlie Severo, Bibiana Malgarim, Lucia Helena de Freitas

Instituição: Universidade Federal do Rio Grande Do Sul

Como os surdos tratam os seus conflitos psicológicos? Quem os ouve? Como atua o terapeuta que atende pacientes surdos? A Psicoterapia Psicanalítica é possível nesses casos? A escuta como função princeps do terapeuta é diferente para essas pessoas? É necessário fazer adaptações no setting psicoterápico? Para dar conta do sofrimento emocional, muitos surdos têm chegado aos consultórios de psicoterapia e encontrado profissionais desamparados e sem preparo, sobretudo tecnicamente, para lidar com a sua diferença. Seja pelo número restrito de publicações ou de colegas que trabalham nesse campo, muitos clínicos psicanalíticos veemse obrigados a conduzir os seus tratamentos de forma mais intuitiva. Para tanto, o objetivo principal deste estudo é descrever os aspectos e as adaptações técnicas que caracterizam o atendimento em Psicoterapia Psicanalítica realizada por profissionais ocupados com o universo da surdez. Esta escrita é o resultado de uma pesquisa qualitativa - analítica e subjetiva - apoiada em uma leitura diversificada. A amostra foi composta por seis participantes, e a coleta de dados foi realizada por meio de uma entrevista semiestruturada. A lista de questões foi elaborada a partir de uma revisão teórica sobre a Psicoterapia Psicanalítica, sobre surdez e sobre o cuidado psicológico com pessoas surdas. A análise de conteúdo foi apoiada na metodologia conceituada por Bardin e resultou em três categorias finais que, a posteriori, foram descritas e discutidas. São elas: Inserção profissional no campo da surdez: preparação e embargos iniciais; Contextualização e subjetivação do paciente surdo; Abordagem psicanalítica com pacientes surdos: aspectos e adaptações técnicas da prática. Este trabalho pretende servir de auxílio a psicoterapeutas comprometidos com as demandas de pacientes surdos, além de ser um incentivo para a elaboração de novas discussões e estudos sobre o tema.

Palavras-chave: Psicoterapia Psicanalítica; Psicanálise; Psicanálise e Surdez; Psicoterapia Psicanalítica com Pessoas Surdas; Surdez




Qual o tempo apropriado para medir fatores de processo e resultado em Psicoterapia Psicodinâmica?

Camila Piva da Costa, Carolina Stopinski Padoan, Simone Hauck, Stefania Pigatto Teche, Cláudio Laks Eizirik

Instituição: Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS e Contemporâneo Instituto de Psicanálise e Transdisciplinaridade.

Resumo: Diferentes instrumentos e formas de medir os fatores relacionados ao progresso e à efetividade da psicoterapia psicodinâmica (PP) têm sido amplamente discutidos na literatura. No entanto, não há diretrizes estabelecidas sobre o momento adequado para a realização dessas avaliações. Objetivo: O objetivo deste estudo é problematizar qual é o momento adequado para mensurar fatores de resultado (sintomas, relações interpessoais, desempenho do papel social) e fatores de processo (aliança) nos estágios iniciais da PP. Método: Estudo de coorte naturalístico que acompanhou 304 pacientes durante os primeiros seis meses de psicoterapia. A aliança terapêutica foi avaliada após quatro sessões; os sintomas, as relações interpessoais e o papel social foram avaliados no pré-tratamento e após 12 e 24 sessões. Resultados: Os resultados indicam que quatro sessões foram suficientes para medir a dimensão vínculo da aliança terapêutica, enquanto que mais tempo é provavelmente necessário para medir adequadamente outros aspectos da aliança terapêutica, como tarefas e objetivos. No entanto, 12 sessões de tratamento foram suficientes para melhora inicial em todas as dimensões dos instrumentos de resultado com tamanhos de efeito moderados, e esses ganhos foram estáveis na 24ª sessão. Conclusão: De acordo com nossos achados, 12 sessões parecem ser suficientes para avaliar a melhora inicial em PP, enquanto mais estudos são necessários para avaliar o tempo apropriado para desenvolver todas as dimensões da aliança terapêutica. Mais estudos são necessários para avaliar o tempo apropriado para medir a fase intermediária e a avançada em relação aos sintomas, relações interpessoais, papel social e reorganização da personalidade.

Correspondência
Rua Felix da Cunha, 737/606, bairro Moinhos de Vento
Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brazil




Em busca de uma identidade, um estudo de caso de transculturalidade

Marcela Renata Gonçalves Zilio Jannke, Eduardo Schmidt Jannke, Vivian Peres Day

O presente trabalho relata o estudo de caso de um adulto jovem, do sexo masculino que imigrou temporariamente ao Brasil para estudar e que encontra dificuldades para se expressar emocionalmente, apresentando intenso sofrimento psíquico. O acesso facilitado da entrada de alunos estrangeiros em universidades brasileiras traznos a necessidade de estudos sobre o tema, bem como os desafios encontrados por terapeutas na prática clínica. Objetivo: Discutir as dificuldades técnicas na aplicação de psicoterapia de orientação analítica em um estudante proveniente de um país da américa central. método: Para o estudo, foi aplicado o Teste Rorschach com algumas restrições devido à língua nativa, permitiu-se a expressão na língua de sua preferência (espanhol, inglês e português), a aplicação do teste foi gravada e posteriormente transcrita, revisada e corrigida. A princípio iniciou-se psicoterapia de orientação analítica de frequência semanal sob supervisões. Resultados: Houve certa confusão percebida no campo pela terapeuta. O paciente apresentava um grau de ansiedade intensa com de sintomas de difícil acesso e uso simultâneo de três idiomas. Seriam realmente aspectos não pensados/traduzidos, a procura de uma função "alfabetizadora"? Tratava-se de aspectos culturais cuja tradução estava prejudicada? A aplicação do teste e o material das sessões foi aos poucos sendo entendido. A riqueza simbólica do paciente, permitiu a tentativa de compreensão transcultural e intrapsíquica. O Teste Rorschach serviu de auxílio no entendimento e na comunicação com o paciente, muito impactante quanto aos resultados, interpretados sem o compromisso de precisão, por se tratar de três idiomas aglutinados e não ter um protocolo definido. Conclusão: A função analítica, tradutora de afetos e pensamentos, mostrou-se de importância fundamental para o alívio das angústias paranoides vividas pelo paciente e percebidas no campo. A psicoterapia é um importante recurso terapêutico que pode e deve ser aprimorado, sendo as demandas da clínica sempre instigantes e que exigem reflexões e avanços. A contemporaneidade, as rápidas mudanças nos limites geográficos e a globalização tornaram as fronteiras mais fluidas, tanto na realidade interna quanto na externa. Tais mudanças exigem novos desafios ao terapeuta e avanços na teoria e na técnica. Se mantivermos a escuta atenta, acolhedora e neutra, não só o paciente, mas todo o método sairá mais integrado e enriquecido.

Correspondência
Marcela Renata Gonçalves Zilio Jannke
Avenida Dom Joaquim, 1515, sala 714
96020-260, Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil
E-mail: marcelazilio@gmail.com




O ensino-aprendizado em psicoterapia de orientação analítica (POA): uma experiência de supervisão coletiva

Carmem Emilia Keidann

A proposta do trabalho é compartilhar uma experiência de supervisão coletiva em um curso de introdução de Psicoterapia de Orientação Analítica no intuito de tecer considerações sobre o ensino e aprendizado, ressaltando a posição e a responsabilidade do supervisor, como catalisador deste processo. Há alguns anos, a carência de trabalhos, de cursos de formação de supervisores e de pesquisas sobre este tema era uma constatação em nosso meio. O quadro atual revela modificações. Não realizo uma revisão sistemática da literatura. As observações e reflexões teóricas advéem tanto de atividades em que participei tanto quanto de alguns autores como Grinberg, Szecsödy, Ogden, Romanowski, Mabilde, Eizirik, Brito, Zaslavsky A motivação para realização deste trabalho surgiu nos primeiros encontros de março deste ano, com um grupo de alunos do curso de extensão do CELG. Predominava no grupo um genuíno interesse e desejo de aprender. Emergiu em mim uma sensação de estar envolvida numa nova /velha experiência e de que escrever as vivências para debater com os colegas, seria uma forma de aprendizado para mim,bem como propiciaria expandir a compreensão sobre o tema. Uma jornada é um ambiente propício para este exercício. Considero como primeiro objetivo de uma supervisão o aprimoramento da escuta, inspirada na " atenção flutuante" na recomendação de conversar com o paciente. O outro,seria o de sublinhar o compromisso do terapeuta em cada sessão de ampliar a compreensão do que vai sendo revelado, tentando ir além do manifesto( sintomas, queixas, fatos) Considerando o campo terapêutico, conceito fundamental na psicanálise e/ou psicoterapia contemporânea observar e compreender a relação transferencial e contratransferencial é outra meta fundamental dos encontros de supervisão. E as intervenções? Qual a atividade do terapeuta, além da escuta? Ter algo a dizer implica de que os aspectos anteriores tenham sido contemplados. Não temos protocolos de atendimento e o que vai ser de utilidade depende de cada momento daquela sessão, que sempre trazem algo de hipótese a ser ou não confirmado pelo paciente. A ênfase é na singularidade de cada encontro e de cada dupla. Descrevo suscintamente a metodologia utilizada. O apresentador do material clínico fazia a leitura do seu relato da sessão e, então, ficava numa posição de ouvinte e tecendo alguma observação no final de cada encontro,ou antes quando da necessidade de esclarecimento. Prontificou-se a escrever algo sua experiência como participante do processo. Combinamos que cada encontro um aluno elaboraria um comentário sobre o que considerasse relevante na discussão do grupo, material lido no início do próximo encontro. Contamos com a participação de duas observadoras que fizeram o relato livre de duas supervisões. Ressalto a importância desta atividade para o terapeuta iniciante na formação psicoterápica junto com o tratamento pessoal e seminários teóricos. E para finalizar, além de agradecer aos colegas que colaboraram para a realização deste trabalho, reitero que é um tema que precisa ser mais estudado e pesquisado.




Oficina de fotografia: a materialidade da mente através da lente

Laís Steffens Brondani, Maria Souza Cardoso, Aida Suzane Souza da Silva Marques, Anderson Borges Ferreira; Gisele Battistelli, Juliana Unis Castan

Instituição: Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) - Rua Ramiro Barcelos, 2350 - Porto Alegre - RS

Introdução: A partir dos ideais de autonomia e liberdade e dos preceitos da Reforma Psiquiátrica Brasileira, compreende-se a necessidade de incentivar as vozes das pessoas acometidas por enfermidades mentais, muitas vezes estigmatizados socialmente. A internação psiquiátrica configura-se um tempo e espaço protegido em que se busca conhecer não só os sintomas mas também as necessidades e desejos dos pacientes, resgatando sua subjetividade e autonomia frente à vida. A fotografia configura-se como uma manifestação artística do subjetivo individual, permitindo que sentimentos, emoções, sonhos e percepções sejam explorados e materializados. Objetivo: Reconhecer e dar visibilidade à visão dos pacientes acerca das suas vivências na internação psiquiátrica. método: O projeto da oficina fotográfica foi realizado em uma unidade psiquiátrica de um hospital geral universitário que conta com 36 leitos. Foram convidados a participar da oficina os pacientes que demonstraram interesse pelo tema e não apresentavam risco agudo de auto ou heteroagressão. Primeiramente, foi realizada reunião para explanação de material teórico sobre fotografia aos pacientes, assim como orientações acerca da atividade. Em seguida, distribuiu-se câmeras aos dez pacientes interessados e com nível de organização necessária para realizar a atividade, quando foram solicitados a capturar imagens que representassem a internação ou sentimentos relacionados a vivência nesse espaço. Alguns dias depois, os pacientes escolheram três fotografias suas para impressão e, após, reuniram-se para elaboração de frases reflexivas sobre as imagens. Por fim, o produto final da oficina, um cartaz exposto na sala de visitas, onde familiares, amigos e equipe puderam contemplá-lo em forma de exposição artística. Resultados: Analisando o conteúdo do cartaz elaborado com as imagens captadas, encontrou-se questões de fé, valores, cuidado, ideias de recomeço e de aprisionamento, solidão, tédio e ansiedade. Observou-se que os pacientes captaram olhares muitas vezes não percebidos pelos profissionais, ocasionando reflexões por parte da equipe e impactando a prática assistencial. Conclusão: Foram trabalhados aspectos da Reforma Psiquiátrica de empoderamento, autonomia e liberdade de expressão dos pacientes com transtornos psiquiátricos, enfatizando e valorizando uma voz atuante sobre o ambiente em que eles estão inseridos. Os pacientes materializaram o seu mundo subjetivo e demonstraram a profundidade e a extensão do olhar com fotografias, possibilitando a reflexão dos observadores a partir do ponto de vista de pessoas acometidas por doenças psiquiátricas.

Palavras-chave: Terapia pela arte; Saúde Mental; Práticas interdisciplinares




Trauma na infância e representação de apego com os pais na infância

Fernanda Munhoz Driemeier Schmidt, Camila Piva da Costa Cappellari, Angela Piva, Bruna Ceconello, Jéssica Aronis, Julia Camargo Contessa, Maricéia Duarte Cossio, Paola Rodrigues Bottega, Fernanda Serralta.

Instituição: Contemporâneo Instituto de Psicanálise e Transdiciplinaridade

A história pessoal do indivíduo, suas experiências na infância, influenciam e marcam o seu desenvolvimento psicológico. A vivência de traumas na infância é uma das possíveis adversidades que marcam o sujeito e podem trazer implicações negativas nas mais diversas áreas do funcionamento do indivíduo na vida adulta. Os pais apresentam um papel importante na modulação das respostas e funcionamento da criança frente ao trauma e são um importante preditor de desfechos pós-traumáticos infantis. Objetivo: avaliar a relação entre traumas na infância e estilos de apego parental em pacientes que buscam psicoterapia psicodinâmica. Método: Foi realizado um estudo transversal, correlacional com 180 pacientes adultos que iniciaram psicoterapia psicodinâmica entre maio de 2015 e maio de 2016 em um ambulatório de saúde mental. Os instrumentos utilizados foram: ficha de dados sóciodemográficos, Questionário sobre traumas na infância (Chilhood trauma questionnaire-CTQ) e o instrumento de apego com os pais (Parental Bonding Instrument- PBI). Resultados: Os resultados apontam que a maioria dos pacientes que passaram por traumas na infância apresentam correlação significativa com o tipo de apego aos pais. Quanto maior o controle materno e paterno maior o abuso emocional, negligência emocional e trauma total e, além disso, o controle paterno também se relacionou a abuso físico e sexual. O cuidado materno e paterno apresentou correlação inversamente proporcional com todas as dimensões do apego. Quanto maior o cuidado materno e paterno menor o abuso emocional, físico, sexual, negligencia emocional, física e trauma total. Verificou-se também correlação entre o controle paterno e vivências de abuso emocional, físico, sexual, negligência emocional, física e trauma total. Conclusão: Os resultados corroboram com a literatura, indicando que o vínculo precoce de apego seguro auxilia na elaboração de experiências traumáticas. Destacam-se características de controle na relação de apego com o pai, no sentido de superproteção, que estão relacionadas a vivência de todos os tipos de trauma na infância.

Correspondência
Casemiro de Abreu, 651, Rio Branco
Porto Alegre, RS, Brasil




As dimensões da aliança terapêutica e os objetivos de tratamento na Psicoterapia Psicodinâmica

Camila Piva da Costa, Carolina Padoan, Andre Goettems Bastos, Maria Lúcia Tiellet Nunes, Simone Hauck, Luciano Santos Pinto Guimaraes e Claudio Eizirik

Instituição: Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Contemporâneo Instituto de Psicanálise e Transdisciplinaridade (CIPT)

A aliança terapêutica e a concordância de objetivos entre paciente e terapeuta são fatores importantes no desfecho do tratamento. No entanto, poucos estudos abordam as especificidades de cada dimensão da aliança. Objetivos: Avaliar a qualidade da aliança terapêutica em todas suas dimensões e a concordância quanto aos principais objetivos do tratamento entre paciente e terapeuta e seu impacto no desfecho. Método: Estudo naturalístico de follow up com desenho misto que avaliou 272 duplas no inicio do tratamento e após 12 meses em uma instituição de ensino psicodinâmica. Resultados: Percebe-se que pacientes e terapeutas tem percepções diferentes da aliança em relação a tarefa e aos objetivos do tratamento e que pacientes tendem a avaliar melhor a aliança do que os terapeutas. Porém, o grau de concordância entre a dupla em relação aos objetivos não interferiu nos resultados do tratamento. Pacientes que abandonaram o tratamento apresentam menor aliança na dimensão tarefa. Discussão: Sugere-se que a colaboração da dupla paciente-terapeuta deve estar baseada em outros fatores além da concordância de objetivos de tratamento e pode ser que necessite de mais tempo para avaliar esse constructo. Indica-se que pacientes que não compreendem ou não concordam com os mecanismos de ação do modelo psicodinâmico (tarefa) parecem desistir da psicoterapia. Sugere-se que no treinamento dos psicoterapeutas seja incluído intervenções nas sessões iniciais no sentido de explicitar para o paciente o método utilizado pela psicanálise para alcançar os objetivos.




Tradução e Adaptação para o Português Brasileiro da Friends and Family Interview - FFI

Fernanda Munhoz Driemeier Schmidt, Eduardo Brusius Brenner, Vitória Sander Ferraro, Vera Regina R. Ramires

Instituição: Unisinos - Universidade do Vale do Rio dos Sinos

Pesquisas em âmbito internacional têm demonstrado a importância de estudos que, através de instrumentos específicos, busquem entender os padrões de apego e a função reflexiva de crianças e adolescentes, assim como a relação entre esses dois fatores e a psicoterapia psicodinâmica. No Brasil, os estudos nesse tema são escassos e não existem instrumentos disponíveis para esse tipo de pesquisa. Objetivo: traduzir e adaptar para o português brasileiro a entrevista Friends and Family Interview. Método: O estudo foi desenvolvido em quatro etapas, avaliando-se a equivalência entre a versão traduzida e o instrumento original em quatro áreas: equivalência semântica, idiomática, experiencial e conceitual. A FFI é um protocolo que avalia o apego e a função reflexiva em crianças e adolescentes que é teoricamente baseada na AAI, mas dimensionada para as habilidades desenvolvimentais da população infanto-juvenil de 9 a 16 anos. Busca elucidar tanto os modelos internos de funcionamento relacionados a experiências precoces como a extensão do funcionamento reflexivo concernente a experiências passadas e presentes. Ela interroga o jovem a respeito do próprio self, da sua família, amigos e professores, dada a saliência que todos esses relacionamentos têm para essa faixa etária (Kriss, Steele & Steele, 2012). Resultados: A versão em português da FFI foi analisada e aprovada por um comitê de experts, formado por seis psicólogos com experiência clínica. Finalmente, foram realizados dois grupos focais com participantes da faixa etária do público alvo, para discussão das questões da entrevista e avaliação da sua compreensão e pertinência. A versão final foi aprovada pelo autor da FFI. Conclusão: As possibilidades de utilização da entrevista no âmbito da clínica e da pesquisa são discutidas.

Palavras-chave: Padrões de apego; Função reflexiva; Psicoterapia de crianças; Adaptação de instrumento.

Correspondência
Mostardeiro, 5, sala 512, Moinhos de Vento
Porto Alegre, RS, Brasil




A contribuição do método de observação de bebê de Esther Bick para a clínica pediátrica e psiquiátrica

Cristiane Felix Schlindwein Reis, Mariana Cainelli, Lissandra da Silva Pedroso, Maristela Priotto Wenzel

A ideia deste trabalho surgiu a partir dos seminários semanais do método de observação de bebês de Esther Bick (1948) realizados no CELG entre 2017 e 2018, nos quais eram discutidos os relatórios advindos da observação de um bebê por cada integrante do grupo. Inicialmente será abordado como surgiu o método, como se formou o grupo, o papel da coordenadora para o desenvolvimento de um ambiente de confiança para o grupo, as repercussões da presença das observadoras no ambiente familiar e a percepção de alguns indícios de possível psicopatologia em desenvolvimento no bebê. Além disso, buscarão ser demonstradas as contribuições de tal método para a atividade das observadoras na clínica de pediatria e de psiquiatria através de vinhetas. Após um ano de observações compartilhadas, percebeu-se nas participantes uma ampliação da capacidade de escuta e de olhar para as comunicações pré-verbais e verbais, o aprimoramento da capacidade de continência, uma maior ponderação sobre intervir, ou não, e a melhora no timing das intervenções. Por fim, o trabalho aborda como a escrita pode ser, além do resultado de um processo de aprendizado ao longo desse período, uma forma de elaboração do término de um ano da observação, da supervisão coletiva e das vivências em grupo.

Palavras-chave: Observação; Lactente; Relações mãe-filho; Desenvolvimento infantil; Comportamento do lactente; Teoria psicanalítica.




Busca por auxilio espiritual, acolhida e psicoterapia: observação da busca por auxilio espiritual em um centro espirita

Patrícia Inglez de Souza Machado Gauer, Gabriel Jose Chitto Gauer

Instituição: PUCRS

Introdução: O estabelecimento de uma relação entre espiritualidade e saúde mental pode representar relevante contribuição para a constante busca de ressignificação que permeia a vida moderna (BARTH, 2014). Estudos tem demonstrado que uma vinculação religiosa ou espiritual muitas vezes corrobora a adesão aos tratamentos médicos e psicológicos. E, em especial no que se refere a adesão aa psicoterapia, a valorização do sistema de crenças do paciente pelo terapeuta tem papel de destaque (GIOVELLI, et.al). Desta forma, evidencia-se a importância de trabalhos que possam contribuir para o melhor entendimento do que permeia a busca das pessoas por apoio religioso ou espiritual. método: Foi realizada uma pesquisa bibliográfica. Além de livros e artigos de autores já consagrados na temática, foi realizada uma busca de artigos nas principais bases de dados, com o uso dos descritores "espiritualidade", "espiritismo e psicologia", "estado emocional", "auxilio espiritual", "psicoterapia" e "espiritualidade e psicoterapia", entre outros. Após a identificação dos artigos, foi realizada uma seleção dos mesmos, considerando sua relevância e contribuição para a pesquisa proposta. Por fim, a análise das informações coletadas foi concretizada por meio de comparações, a fim de agregar a compreensão de diferentes autores sobre o tema. A pesquisa de campo foi qualitativa, na forma de observação descritiva e não-participante, buscando um olhar interdisciplinar sobre Espiritualidade, Espiritismo e Psicologia, bem como sobre a relação entre os mesmos. A amostragem foi intencional e a população selecionada foi pessoas que buscam auxilio espiritual em um centro espirita. Após autorização prévia dos responsáveis pela acolhimento na instituição, foram realizadas 4 observações, com duração mínima de 45 minutos. O objetivo foi observar o comportamento e as demandas das pessoas que estavam aguardando atendimento ou sendo atendidas, verificando, ainda, se estavam sozinhas ou acompanhadas, bem como a existência ou não de um padrão comportamental e de interação entre as mesmas. A confidencialidade foi preservada, uma vez que nem o local de observação, nem as pessoas participantes foram identificadas. Posteriormente, para melhor compreensão, os dados obtidos foram sistematizados, comparados e agrupados para uma analise embasada nos elementos encontrados na revisão teórica. Resultados: Percebemos ao longo das observações que a maioria das pessoas que buscou auxilio estava sozinha e não foi possível observar significativa interação entre as mesmas. As pessoas buscam auxilio para dar vazão a algum tipo de sofrimento psíquico, mas ainda assim chegam ao local sozinhas e assim permanecem, pouco interagindo entre si. Também foi possível observar que, em alguns casos, a busca ocorre claramente por uma necessidade de acolhida, não encontrada em outro local, como se observa na fala de uma das pessoas: "Hoje to precisando de um colinho!". Em algumas situações, observou-se que a busca de orientação espiritual era para um familiar (namorado/mãe doente), entretanto envolvia uma situação que afetava diretamente a pessoa que foi em busca de auxílio. Por fim, uma das pessoas verbalizou um sentimento de vazio, referindo ter buscado atendimento por estar com uma sensação de que algo estava faltando. Nos casos observados, percebemos uma postura bastante acolhedora das pessoas que trabalhavam no local. Conclusão: Conquanto as limitações do estudo não permitam uma ampla generalização, observamos que muit as pessoas que frequentam locais de apoio espiritual buscam apoio psicológico e um local onde possam realizar a catarse do seu sofrimento psíquico. Percebeu-se tanto nos dizeres, quanto na postura das pessoas que buscaram auxilio, que os padecimentos dos "Tempos de Narcizo", como refere Debora Farinati (2008), assolam os indivíduos contemporâneos. A explicação da autora no que tange aa depressão como angustia difusa, como um sentimento de vazio, efetivamente corrobora a noção de que a busca pela espiritualidade é impulsionada pelas novas formas de expressão do sofrimento. Isso pode ser constatado na pratica, ao observar-se a angustia que permeou a busca por auxilio das pessoas observadas. Apesar de se manterem isoladas, temos de considerar a necessidade de um sentimento de pertença e apoio do grupo (MASLOW), cuja concretização pode ocorrer pelo simples fato de estarem naquele mesmo local. Assim, a busca de ajuda espiritual, pode ser considerada como mais uma opção de suporte ao trabalho psicoterápico. Também é importante que o psicoterapeuta esteja atento e saiba lidar com possíveis sentimentos contratransferenciais (EIZIRIK, C. & LEWKOWICZ, S., 2005) que possam fazê-lo tentar interferir na busca desta forma de ajuda. Seus valores, crenças religiosas ou ausência das mesmas podem interferir na relação terapêutica. O psicoterapeuta também pode se sentir ameaçado pelo fato do paciente estar buscando e recebendo apoio fora do "setting terapêutico". Entretanto o fato do paciente estar buscando outras formas de ajuda deve, na verdade, ser valorizado, tanto por sua importância para a melhora do paciente, como também por poder ser usado para reforço da aliança terapêutica. O paciente que se sente aceito e não criticado pelo terapeuta, além de aderir melhor ao tratamento, irá ter mais confiança e trazer outras questões que transferencialmente infere (TYSON, R. & EIZIRIK, C, 2005) que possam não ser aceitas pelo seu psicoterapeuta.

Correspondência
Rua Tito Lívio Zambecari, 56/204, bairro MontSerrat
Porto Alegre, RS, Brasil
(51) 35177946 e (51)999930530
patriciaimgauer@gmail.com




À flor da pele: um olhar sobre a pessoa do psicoterapeuta

Bibiana Machado Cadó, Cibele Milagre

Instituição: Fundação Universitária Mário Martins Objetivo: Tecer considerações a respeito da figura do psicoterapeuta, tendo como base a obra de Alice Miller, "O Drama da Criança Bem dotada". Metodologia: Os temas abordados no livro de Alice Miller foram alvo de uma fundamentação teórica, apoiandose nas ideias de outros autores como Winnicott, Freud e Nancy McWillians. Além disso, através de busca em plataformas de pesquisa, foram encontrados estudos qualitativos sobre o tema. Resultados: Foram encontrados estudos que evidenciaram a influência da história de vida pessoal tanto na escolha quanto no desenvolvimento profissional do psicoterapeuta. Outros estudos sugerem associação entre uma infância mais traumática e a escolha profissional. Conclusão: A variável do psicoterapeuta é considerada um tema importante, e que apesar do crescente interesse, ainda existem poucos estudos sobre o tema necessitando de mais pesquisas. As afirmações de Alice Miller, embora generalistas, são relevantes e conseguem despertar curiosidade e gerar questionamentos necessários sobre o tema.

Correspondência
Email: bibacado@gmail.com




Estados Alterados de Consciência na Psicoterapia: uma Revisão Sistemática

Milena Nardini-Bubols, Andrea Silva, Daniele Silva da Silva, Letícia de Oliveira Alminhana

Instituição: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Objetivo: Este estudo faz parte de uma pesquisa de doutorado e busca discutir as atuais pesquisas sobre o uso de métodos de indução a estados alterados de consciência (EAC) na psicoterapia, assim como os possíveis benefícios e malefícios causados por eles, suas limitações, indicações e contraindicações. metodologia: Foi realizada uma revisão sistemática com busca nas bases de dados Embase, Web of Science, Scopus, Pubmed, PsychINFO, Scielo e BVS, utilizando as strings: ["Altered states of consciousness" AND "Psychotherapy"] e ["Transpersonal" AND "Psychotherapy"] em dezembro de 2017. Foram incluídos apenas artigos publicados a partir do ano 2000 no intuito de observar estudos atuais e empíricos sobre o tema, nos idiomas português, inglês e espanhol. A busca e a seleção foram realizadas aos pares, na presença de um terceiro juiz em caso de discordância. Os artigos foram selecionados de acordo com o título e o abstract. Resultados: Dos 631 artigos encontrados, foram selecionados 16 estudos empíricos. De modo geral, os estudos foram realizados com adultos (n= 160), sendo em sua maioria mulheres, distribuídos entre o Brasil (1), a Europa (5) e os Estados Unidos (10). As intervenções foram realizadas utilizando técnicas e recursos da Psicologia Transpessoal. Observamos que 7 estudos apresentaram as técnicas de forma clara, conseguindo mensurar o efeito das intervenções. Contudo, a maioria dos estudos careceu de cuidados metodológicos essenciais. Conclusão: Apesar de serem pesquisas inovadoras, poucos estudos apresentaram uma estrutura metodológica consistente. Diante da difusão de técnicas transpessoais e de indução a EAC, futuramente devem ser elaborados estudos com delineamentos experimentais rigorosos, no intuito de observar riscos e benefícios do uso de tais recursos em psicoterapia.




O abuso sexual infantil e o trauma psíquico: enlaces a partir da clínica psicanalítica

Almerindo Antônio Boff

Introdução: O abuso sexual é considerado uma temática deliciada e complexa, pois perpassa diversas dimensões. O abuso sexual infanto-juvenil ocorre quando crianças ou adolescentes são submetidos a uma atividade sexual sem consentimento, ou que não consigam compreender. Isto inclui carícias e todas as formas de contato oral-genital, genital ou anal com a criança (quer a vítima esteja vestida ou despida), bem como abusos sem toque, como exibicionismo, voyeurismo ou envolvimento da criança na pornografia. As consequências do abuso sexual infanto-juvenil estão presentes em todos os aspectos da condição humana, deixando marcas - físicas, psíquicas, sociais, sexuais, entre outras - que poderão comprometer seriamente a vida adulta da vítima. Para a psicanálise a situação de abuso sexual pode ser entendida como um trauma psíquico que pode provocar efeitos patológicos duradouros na organização psíquica de um indivíduo. O abuso sexual pode acarretar em sérias consequências, pela experiência traumática vivenciada, essas experiências podem afetar o desenvolvimento cognitivo e emocional de crianças e adolescentes que foram abusadas sexualmente. A Psicanálise enquanto uma abordagem que busca a compreensão do sujeito desejante, contribui na compreensão dos impactos do abuso sexual sobre o desenvolvimento psíquico dos indivíduos. Nos últimos anos, identifica-se um crescente interesse de estudos na identificação de diferentes aspectos do problema, abarcando desde questões de epidemiologia até as consequências do abuso sexual. No entanto, ressalta-se que apesar da vasta contribuição das mais distintas áreas do conhecimento, há uma carência de estudos que buscam a compreensão psicanalítica sobre a temática. Neste sentido, este trabalho tem por objetivo realizar uma revisão bibliográfica abordando a literatura nacional com o intuito de elucidar questões relevantes sobre o abuso sexual infantil, evidenciando aspectos conceituais, epidemiológicos, manifestações clinicas, diagnósticas e os enlaces da clínica psicanalítica. metodologia: Para a realização do estudo foram utilizadas publicações no período de 2013 a 2018, sendo adquiridas de fontes específicas: PubMed e SciELO, empregando como descritores "abuso sexual infantil" e "violência sexual infantil". Resultados: A revisão realizada evidenciou que a violência sexual contra crianças é universal e reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um grave problema de saúde pública que afeta milhões de crianças no mundo todo e merece atenção especial por parte de diferentes setores e áreas do conhecimento. Em relação à epidemiologia do abuso sexual infantil a maioria dos estudos aponta para uma maior prevalência de vítimas do sexo feminino. Em todo o mundo, cerca de 25% das meninas e 9% dos meninos são expostos a qualquer forma de abuso sexual durante a infância. O abuso sexual de crianças ocorre principalmente nos anos da pré-adolescência (13,14 anos). As meninas são mais propensas que os meninos a serem abusadas sexualmente, no entanto, os meninos são menos propensos a relatar abuso sexual. Conclusão: A pesquisa de revisão possibilitou denotar aspectos fundamentais do abuso sexual infanto-juvenil que demonstram a complexidade desta temática na contemporaneidade. O trauma psíquico causado pelo abuso sexual pode deixar marcas profundas na vida da vítima. A Psicanálise ao oferecer um espaço muito singular de fala e escuta, possibilita aos sujeitos vítimas da violência a elaboração do trauma causado pelo abuso sexual.




Auscultando estórias: blog como ferramenta empática em narrativas de saúde mental

Leonardo Rickes da Rosa, Andressa Cavalcante Paz e Silva, Paola Iana Fucks da Veiga, Diana Kuhn, Ronaldo Rodrigues de Oliveira, Roberto Pierobom Lima

Introdução: Com o intuito de propagar o exercício da empatia através da escrita, foi criado o blog Auscultando Estórias (AE). Objetivando a criação de uma ferramenta para disseminar a saúde baseada em narrativas, criouse um canal para que acadêmicos da graduação, médicos, professores, profissionais da saúde e o público em geral compartilhe relatos e vivências em saúde. Objetivo: Utilizar o Blog como ferramenta de compartilhamento de estórias e promover a saúde mental do estudante no compartilhamento de suas experiências, angústias e frustrações. metodologia: Em setembro de 2017 foi criado o Blog do AE (www.auscultandoestorias.com. br), sendo a saúde mental do estudante um dos enfoques no processo de compartilhamento das vivências. Há uma diversidade de assuntos abordados. Os conteúdos estão dispostos em forma de textos e imagens. Também é possível a interação do visitante, respondendo ou opinando em relação às estórias publicadas, além da sugestão de temas para as próximas postagens. O blog dispõe de agenda semanal de compartilhamento dos textos, com autores de diferentes lugares do Brasil. A interação entre os auscultadores ocorre de forma positiva nas postagens. Resultados: O blog é uma ferramenta capaz de enriquecer o aprendizado e sensibilizar o público leitor das estórias. A divulgação das estórias amplifica o compartilhamento de emoções, sentimentos, questionamentos e angústias que são comuns aos estudantes envolvidos nos textos. Conclusão: Portanto, acredita-se que há um processo de gerar empatia no processo da escrita, corroborando para promover saúde mental no participante.

Correspondência
rickesdarosa@gmail.com




Suicídio na Literatura e na Filosofia

Rafaela Luma da Silva Bettega, Alexandre da Silva Quadros, João Pedro Felkl Nascimento, Almerindo Antônio Boff, Luiza Facchin Ghilardi Vieira, Rayssa Madalena, Feldmann,Lincoln Matheus Suehtam

Instituição: Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC

Objetivos: O presente resumo intenda expor como o suicídio foi entendido e retratado na literatura e na filosofia, utilizando destes materiais como instrumentos para uma melhor compreensão do fenômeno do suicídio, visto por diversos autores como mal do século XXI. metodologia: Para realização da pesquisa foram utilizados de livros publicados ao longo da história da filosofia, além de artigos publicados na SciELO e quadros de artistas como Manet e Grozs. Resultados: As questões entre vida e morte permeiam o imaginário humano ao longo dos séculos. Não é por acaso que o suicídio é um tema abordado por diferentes correntes de pensamento e áreas do conhecimento, uma vez que se busca compreender o porquê de alguém dar fim a sua própria vida. O presente resumo busca expor como o suicídio foi entendido e retratado na literatura e na filosofia. Diante disso, Simmel,1998, nos apresenta a relação vida-morte, sendo a morte significativamente uma unidade configuradora da vida, na medida em que "cada passo da vida não só se mostra como uma aproximação à morte, mas é também configurado positivamente e a priori por ela, que é um elemento real da vida". Assim, sabendo-se que a morte é um fator importante para a configuração da vida, o suicídio, definido por Durkheim como brevemente enquanto "todo o caso de morte que resulta direata ou indiretamente de um ato positivo ou negativo praticado pela própria vítima, ato que a vítima sabia dever produzir este resultado". Para além de filosofias que outrora condenavam o suicida, como a corrente estoica e cristã, Durkheim apresenta o suicídio de quatro maneiras: suicídio egoísta, como resultado da individualidade excessiva; fatalista, por excesso de regulação social; altruísta, por excesso de integração social; e anômico, por perda da relação indivíduo-sociedade. A literatura traz exemplos bem pertinentes desses tipos, o Romantismo, período literário caracterizado por exacerbada idealização amorosa apresenta em diferentes personagens a evasão pela morte. Escolha essa feita por vários indivíduos como subterfúgio para aniquilar a tristeza de um amor impossível, ou seja, o indivíduo volta-se para si de forma tão intensa, que resulta em uma perda de significado tudo aquilo que o cerca. Um exemplo clássico do suicídio egoísta está em Romeu e Julieta de William Shakespeare. O suicídio fatalista, na literatura brasileira, é apresentado por Castro Alves, conhecido como Poeta dos Escravos por denunciar as mazelas vividas pela população negra no país. Nesse caso, o suicídio era uma forma de resistência ao autoritarismo, sendo a única escapatória a um contexto opressor. Para além dos personagens nos livros, a literatura foi capaz de transpor os limites do imaginário, e desencadear uma onda de suicídios coletivos na Europa, que seriam um exemplo de suicídio altruísta, com o "mal do século" e a publicação dos Sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe. Pós popularização da obra, segundo Alvarez, "o suicídio se tornou um ato literário, um gesto histérico de solidariedade para com qualquer herói ficcional [...]. Para os jovens românticos que tinham a postura, mas não o talento de seus heróis, a morte era a grande inspiração e o grande consolo" (1999, p. 210). O suicídio anômico também está evidente nas obras de diferentes autores da segunda geração romântica brasileira, como no clássico poema de Álvares de Azevedo: Se eu morresse amanhã. A temática extremamente pessimista, nos revela o distanciamento do eu-lírico e da sociedade, sentimento de não pertencimento que teria como último fim o desencadeamento do suicídio. Pode-se dizer que a filosofia contemporânea contribuiu muito para os pensamentos sobre o suicídio, uma vez que é marcada por um contexto histórico pós consolidação do capitalismo resultante da Primeira Revolução Industrial (séc. XVIII), este que antecede períodos de guerras, incertezas e instabilidade. Afasta-se, portanto, da concepção racionalista e cartesiana de muitos pensadores da Modernidade e a filosofia desdobra-se em pensadores que abordam temáticas a partir de perspectivas como o existencialismo e o niilismo. A frustração do progresso da humanidade presente na obra de autores como Nietzsche, Schopenhauer e Freud é corroborada pelas atrocidades do neocolonialismo e das guerras, em especial, da 1ª Guerra Mundial. Arthur Schopenhauer, abordando o suicídio como um ato errôneo, contudo não criminoso, inclusive tentando explanar os casos em que poderia ser aceito. O tema surge também nas belas artes, como nas obras "Le Suicidé" de Manet, 1881 e "Selbstmord" de Grozs, 1916. Posteriormente, um dos responsáveis por negar o cartesianismo é Jean Paul Sartre, no momento em que afirma que o essencial não é aquilo que influenciou o homem, mas aquilo que ele fez daquilo que fizeram dele, em certa medida responsabilizando o homem pelos seus atos. Contrariando o pensamento racionalista de René Descartes: "Penso, logo existo", no qual a razão precede a existência, Sartre, então, põe a existência em primeiro lugar. Por conseguinte, o suicídio é uma atitude assumida pela condição de liberdade. Assim, por essa perspectiva: o homem está condenado a ser livre. Condenado, porque não se criou a si próprio; e no entanto livre, porque uma vez lançado no mundo, é responsável por tudo quanto fizer (SARTRE, 1970 citado por ANGERAMI ; 1997. 41). Conclusão: A discussão e representação acerca do tema por diferentes atores da filosofia e da literatura nos acrescenta muito ao tentarmos entender esse tema bastante enigmático e circundado de tabus. O trabalho do profissional da saúde mental deve ter a filosofia e a literatura como guias inalienáveis na jornada que é compreender os determinantes sociais e psicológicos do suicídio.




Comparação dos traços de personalidade e busca por ajuda psiquiátrica em uma amostra de estudantes universitários

Virgínia Camatti, Marina Cardoso de Souza, Camila Reinert, Rafael Mondrzak, Andreia Sandri, Nina Rosa Furtado.

Estudantes universitários têm uma alta prevalência de problemas de saúde mental. Estudos monstram que três quartos dos transtornos mentais têm sua incidência no início da idade adulta (em torno de 20 anos) e que a maioria das pessoas com transtorno mental somente recebe tratamento após uma espera de vários anos. É também durante a adolescência ou no começo da idade adulta que as características de um transtorno de personalidade costumam tornar-se reconhecíveis. Esta idade coincide com a idade modal encontrada em estudantes universitários do Brasil em 2014, que é de 21 anos. Existem pesquisas que indicam um aumento nos sintomas de transtornos mentais nos estudantes de maior nível acadêmico. Ansiedade e depressão são mais prevalentes em estudantes universitários do que na população em geral. Isso pode ter relação com a ideia de ser frequente que o universitário entre em contato nesse momento de vida, pela primeira vez, com uma série de decepções e desidealizações acerca do mundo e de si próprio. A saúde mental do estudante universitário deve ser priorizada devido a importância desses jovens para a sociedade. A psicoterapia pode ser um instrumento importante tanto para combater o insucesso acadêmico - tendo como efeito uma melhoria significativa do rendimento escolar- quanto para evitar a cronificação de um transtorno psiquiátrico. No entanto, observa-se que nem todos esses indivíduos buscam por ajuda psiquiátrica. Um estudo demonstrou que apenas um terço dos estudantes universitários que apresentam algum transtorno mental buscou por tratamento. Objetivo: O objetivo do presente estudo é comparar as características patológicas da personalidade e os sintomas psiquiátricos encontrados em universitários que procuram ajuda psiquiátrica comparados com universitários que não buscam atendimento. Justificativa: Um maior conhecimento do perfil de personalidade da população universitária da PUCRS e dos universitários que buscam tratamento no Ambulatório de Psicoterapia Analitica (AMPA) pode ser um primeiro passo para o desenvolvimento de intervenções efetivas para essa população que facilitem o reconhecimento dos sintomas e diminuam o número de estudantes desassistidos e a demora na busca por tratamento. Dessa maneira, as universidades podem otimizar a implementação de campanhas que possam promover saúde mental. Além disso, podem encorajar e facilitar um acesso equitativo aos serviços de saúde mental que estejam disponíveis. metodologia: estudo transversal realizado no período de agosto de 2017 até novembro de 2018 com os pacientes que procurarem o ambulatório de psicoterapia de orientação analítica (AMPA) da PUCRS. Serão aplicados os questionários Personality Inventory for DSM-5 (PID-5) e Patient Health Questionaire-4 (PHQ-4). Os dados serão analisados com o SPSS utilizando as medidas de effect size. Resultados: Pesquisa em andamento. Resultados parciais serão apresentados no pôster. Conclusão: Pesquisa em andamento.




Mentoria: promovendo a saúde mental na universidade

Fernanda Madruga Prestes, Lara Carolina Peixoto Quiche, Laura Barbon Dalmoro, Matheus Evangelista Siqueira, Mônica Paula Trelles, Isadora Macedo Tristão, Nicholas Frota

Instituição: Universidade Federal do Rio Grande (FURG)

Objetivo: Mentoria foi um projeto desenvolvido por acadêmicos de medicina da Universidade Federal do Rio Grande no final de 2017 e submetido como Projeto da Acolhida Cidadã no primeiro semestre de 2018. O projeto surgiu a partir da necessidade de trazer o tema de saúde mental para a universidade, propondo ações que pudessem ser significativas frente ao cenário já conhecido dos alunos de medicina, especialmente do primeiro ano do curso, período de adaptação. O projeto visa promover a saúde mental dos estudantes do primeiro ano do curso de medicina da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), através do acolhimento e acompanhamento realizado de forma continuada por alunos que já vivenciaram as fases de transição do ingresso na universidade. Nesse processo, procura-se identificar demandas e dificuldades relacionadas ao primeiro ano do curso, ao meio acadêmico e à adaptação a uma nova cidade; fornecer estratégias de enfrentamento de estresse e de organização/reorganização do tempo de estudo; promover a desmistificação em torno da dificuldade das disciplinas, da relação professor-aluno e outras questões que possam ser fatores geradores de ansiedade e estresse; promover um espaço de integração fora do ambiente curricular que permita a abordagem do aspecto psicossocial dos estudantes; facilitar o encaminhamento e identificação de alunos que necessitem de ajuda profissional para tratar questões de saúde mental; promover relação longitudinal entre os alunos dos diferentes anos do curso; treinar habilidades de comunicação e moderação de grupos entre os mentores. metodologia: O projeto apresenta sete grupos de mentorandos compostos por sete a onze alunos do primeiro ano do curso de medicina da FURG. As reuniões ocorrem a cada quinze dias, intercalando três a quatro grupos por semana, com duração de cerca de uma hora, nas salas disponíveis na área acadêmica do Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Côrrea Jr, sendo conduzidas pelos mentores previamente capacitados por oficinas que aconteceram antes do início das atividades. Os mentores são alunos do terceiro, quarto e quinto ano da faculdade de medicina da FURG, previamente selecionados e entrevistados. São realizadas também reuniões dos mentores com uma equipe de suporte oferecida pela universidade composta de psicólogo/ psiquiatra, a fim de atender demandas e dificuldades dos tutores. A capacitação inicial dos tutores foi realizada antes da Semana da Acolhida da FURG com duração de três dias em turno integral com rodas de conversa, oficinas e palestras conduzidas por profissionais da saúde convidados como psiquiatra, psicólogos, enfermeira e um médico de família e comunidade. Os temas abordados foram planejados de acordo com questionário previamente respondido pela última turma da universidade a cursar o primeiro ano da medicina, em que se identificaram algumas demandas que nortearam as atividades de capacitação, como conversas sobre ideação suicida, como realizar o manejo desses alunos, atividades para serem feitas na cidade, orientação sobre estudos, entre outros. A cada dois meses ocorrem reuniões entre a coordenação do projeto, os mentores e uma psicóloga para identificar possíveis demandas e dúvidas com o objetivo de capacitá-los nessas áreas e supervisionar o andamento do projeto. A mentoria também conta com uma página no Facebook para divulgar eventos, notícias e as próprias ferramentas ligadas ao mentoring. Resultados: O projeto de mentoria tem se tornado uma referência para estudantes de diversos anos da universidade que buscam informação sobre ajuda psicológica e psiquiátrica e até mesmo sobre como manejar situações de colegas e amigos em ideação suicida ou quadros graves de depressão e ansiedade. Juntamente com a EBSERH do Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Côrrrea Jr da FURG, conseguiu-se, através do projeto, 12 horas de atendimento psicológico e 8 horas de atendimento psiquiátrico para os alunos de todos os anos do curso de medicina, uma vez que a área acadêmica não dispõe de profissionais para atendimento no campus saúde, o que figura como uma demanda importante. O projeto também tem auxiliado a levantar diversas questões de saúde mental dos estudantes de medicina através de conversas e postagens no facebook com dicas para ajudar os colegas nos períodos de prova e estresse, de como abordá-los e de como construir um ambiente acadêmico mais saudável. Atualmente, a página do facebook da mentoria conta com mais de mil curtidas, com as postagens sendo compartilhadas por universidades e alunos de todo o país. Além disso, estão sendo organizadas oficinas de manejo de estresse abertas para o público com práticas de meditação mindfulness e espaços de conversa. Conclusão: A saúde mental do estudante de medicina é um tema de grande relevância e muitas vezes negligenciado dentro do espaço universitário. Como sabido, o perfil dos acadêmicos hoje é de alunos que se distanciam da família para cursar a faculdade, em um contexto de adaptação tanto à nova cidade, quanto aos desafios de morar sozinhos pela primeira vez e às exigências que a universidade faz. Todas essas mudanças são apontadas como fortes causadores de estresse e ansiedade nesse período. O projeto tem sido importante no sentido de trazer esse tema para a discussão, dando suporte para os estud antes, a partir do entendimento de que a universidade deve ter objetivos muito mais amplos além da formação do profissional. O estímulo a esse debate pôde extrapolar a universidade em que o projeto está inserido por meio das publicações na página do Facebook da mentoria, que apresentaram grande impacto ao alcançar estudantes de diferentes cursos e regiões do país, muitos deles, inclusive, entraram em contato com a organização do projeto solicitando permissão para transformar as postagens em cartazes para divulgar nas suas universidades, evidenciando, assim, a necessidade da discussão sobre saúde mental na universidade. Dessa forma, o projeto Mentoria FURG atua como promotor da saúde mental no meio acadêmico, bem como de apoio aos estudantes, utilizando o espaço de fala como meio terapêutico nas rodas de conversas e contando com o apoio de alunos mentores - pessoas que já percorreram mais do caminho acadêmico e podem orientar os alunos que chegam à universidade.

Correspondência
Rua Carlos Gomes, 697 ap 102 Bairro: Centro
96200-460 Rio Grande, RS, Brasil




Medidas para avaliar resultados de psicoterapia psicanalítica com crianças e adolescentes no Brasil

Bruna Holst, Carolina Saraiva de Macedo Lisboa

Instituição: Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS

Introdução: A psicoterapia psicanalítica é uma abordagem de tratamento mental amplamente empregada na infância e adolescência. Não só visa a diminuição de sintomas, mas também a modificação do comportamento e da estrutura e funcionamento da personalidade. Considerando o impacto desta modalidade de intervenção na saúde mental global e seus efeitos ao longo da vida, evidencia-se uma crescente preocupação com a comprovação científica de sua efetividade e atenção aos métodos de avaliação que atestam os seus resultados. Objetivo: Este material procede de uma revisão sistemática mais abrangente, visando investigar instrumentos utilizados em estudos brasileiros com intervenções psicoterápicas com crianças e adolescentes. Neste recorte, destacamos os instrumentos utilizados em estudos da abordagem psicanalítica. método: Cinco bases de dados foram consultadas, sem limitação temporal; para cada base, dois juízes independentes realizaram a seleção dos registros e aplicaram os critérios de exclusão e inclusão. Resultados: O banco final compreendeu 10 artigos, sendo seis estudos de caso e quatro estudos quantitativos. Quatro estudos utilizaram instrumentos projetivos, quatro utilizaram instrumentos projetivos e psicométricos e dois estudos apenas medidas psicométricos. Do banco final, 70% dos estudos avaliaram a psicoterapia apenas a partir da perspectiva do paciente. Foram listados 14 instrumentos utilizados, que serão apresentados. Conclusão: Observa-se um número limitado de estudos na área da psicoterapia psicanalítica com crianças e adolescentes que tenham empregado medidas de avaliação das intervenções realizadas. Observam-se lacunas no corpo de evidências neste campo de estudo, e levantam-se sugestões visando o aprimoramento de pesquisas na área.

Correspondência
Avenida Ipiranga, 6681 - Prédio 11, sala 929
90619-900 Porto Alegre, RS, Brasil
Fone/Fax: 3320.3500, ramal 7750




Adaptação e evidências de validade da escala Outcome Questionnaire Short Form - OQ-10.2

Julia Macedo Salvador, Carolina Saraiva de Macedo Lisboa

Instituição: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) Resumo: O Outcome Questionnaire Short Form (OQ-10.2) é uma escala americana de autorrelato que avalia o funcionamento psicológico geral do paciente, sem a expectativa de que a pontuação revele um diagnóstico psiquiátrico. Este instrumento é uma versão abreviada de fácil e rápida aplicação do Outcome Questionnaire (OQ-45), o qual foi concebido e é utilizado para avaliação de resultado em psicoterapia. O objetivo deste estudo é traduzir, adaptar e investigar evidências de validade para o contexto brasileiro do OQ-10.2. Para isto participarão do estudo 100 adultos, selecionados por buscarem o serviço de atendimento de uma instituição de ensino em psicoterapia; e por conveniência e bola de neve em uma coleta online através no site Qualtrics. Os procedimentos para tradução e adaptação seguirão processo padronizado recomendado pela equipe editorial da OQ Measures. Serão investigadas evidências de validade de conteúdo, de critério e de constructo. Os participantes responderão um questionário de dados sociodemográficos, o OQ-10.2, DASS-21, a Escala de Autoestima de Rosenberg e a Escala de Satisfação com a Vida. A análise de dados ocorrerá a partir de técnicas de estatística descritiva e utilização do programa SPSS. Serão calculados os alfas de Cronbach a fim de verificar a consistência interna da escala. Correlações entre as partes do instrumento serão igualmente calculadas, assim como correlações entre as demais escalas. Por fim, será realizada a análise fatorial confirmatória do OQ-10.2. A adaptação semântica e cultural da escala já foi concluída. Itens foram modificados semanticamente para o entendimento dos participantes e a tradução final foi aprovada pelos autores originais. O estudo está em fase de coleta de dados para que a validação de critério e de constructo sejam realizadas. A validação do OQ-10.2 visa proporcionar uma ferramenta prática de avaliação de psicoterapias, independente de sua linha teórica.

Correspondência
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Melhora da Qualidade de Vida e Redução de Sintomas Depressivos em Estudantes de Medicina com Intervenção de Sessão Única

Mariane Bagatin Bermudez, Monise Costanzi, Malu Joyce de A. Macedo, Tiago Tatton, Alice Menezes Xavier, Ygor Arzeno Ferrão, Kate H. Bentley, Gisele Gus Manfro, Carolina Blaya Dreher

Introdução: A alta prevalência de ansiedade e depressão em estudantes de Medicina está claramente estabelecida. Quando comparado com os estudantes estadunidenses, os estudantes de medicina brasileiros apresentam mais depressão e menor qualidade de vida. Além disso, não há intervenção preventiva para esse grupo de risco no Brasil. O Unified Protocol for Transdiagnostic Treatment of Emotional Disorders (UP) é um protocolo de terapia cognitivo-comportamental de única sessão que foi projetado para abordar o neuroticismo e foi adaptado em um intervenção breve, transdiagnóstica e preventiva. O principal objetivo deste estudo foi testar a eficácia da versão traduzida e adaptada deste protocolo sobre redução de sintomas psiquiátricos e melhora da qualidade de vida em estudantes de Medicina brasileiros. métodos: Primeiramente, o protocolo foi traduzido e adaptado para o português brasileiro. Estudantes de Medicina com idade ≥ 18 anos, que assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e estavam dispostos a participar do intervenção foram incluídos no estudo. Sintomas psicóticos, episódio depressivo grave e risco psiquiátrico agudo foram critérios de exclusão. MINI, MEAQ, QLESQ, RSE, EMRI, OASIS e BDI foram aplicados antes e 90 dias após a intervenção. MEAQ, QLESQ, RSE, EMRI e OASIS também foram aplicaodos 7 e 30 dias após a sessão. Resultados: Foram incluídos 62 estudantes. O UP mostrou melhora significativa dos sintomas depressivos (BDI p <0,001) e da qualidade de vida (QLESQ p <0,001). Também houve redução significativa da prevalências dos diagnósticos de depressão (p = 0,006), agorafobia (p = 0,023), ansiedade social (p = 0,001), transtorno do pânico (p = 0,001) e bulimia (p = 0,012). Conclusão: O UP foi uma intervenção válida para prevenir transtornos mentais em um grupo de risco no Brasil. O formato de grupo de uma única sessão, transdiagnóstico, com 2 horas de duração reduz os custos financeiros e facilita sua disseminação.

Correspondência
Mariane Bagatin Bermudez
bagatinmariane@gmail.com
Fone (51) 999554322




Fatores comuns e fatores específicos no processo da psicoterapia psicodinâmica de crianças

Eduardo Brusius Brenner, Leonardo Valentini, Luísa Bergonsi, Rodrigo Gabbi Polli, Vera Regina Rohnelt Ramires

Instituição: Universidade do Vale do Rio dos Sinos Este estudo focalizará fatores específicos e fatores inespecíficos no processo da psicoterapia psicodinâmica de crianças. Fatores comuns ou inespecíficos se referem a aqueles ingredientes ativos que não são associados com apenas uma abordagem terapêutica, mas encontram-se presentes em todas elas. Já os fatores específicos relacionam-se aos aspectos peculiares de cada abordagem, tais como a técnica, as intervenções do terapeuta. A literatura científica reconhece a necessidade de estudos de processo e resultados que contemplem as complexidades do processo terapêutico psicanalítico. Isso implica superar a ênfase nas mudanças sintomáticas, a dependência de modelos de mudanças lineares acerca da relação processo-resultado, e a crença de que diferentes fatores que explicam o resultado terapêutico interagem de modo linear e cumulativo. Partindo da premissa de que o processo terapêutico não é um processo linear e cumulativo, e da importância de reconhecer o papel que diferentes elementos podem assumir no seu transcurso, este estudo buscará analisar e compreender como tais elementos atuaram em quatro psicoterapias psicodinâmicas de crianças em idade escolar, que foram realizadas em settings naturalísticos e no seu conjunto somaram 409 sessões registradas em videotape. Além de identificar e analisar a aliança terapêutica estabelecida em cada tratamento, a abordagem ou não da função reflexiva no processo, as técnicas e intervenções utilizadas pelas terapeutas e o papel do brinquedo em cada psicoterapia, buscar-se-á identificar a relação desses elementos entre si e com os resultados das psicoterapias. Será realizado um estudo de delineamento misto, longitudinal, com uso de medidas repetidas e baseado no procedimento de Estudo de Casos Sistemáticos. Serão utilizados os instrumentos Therapy Process Observational Coding System for Child Psychotherapy - Alliance Scale - TPOCS-A, Child Psychotherapy Q-Set, CPQ, Comparative Psychotherapy Process Scale - CPPS e Children's Play Therapy Instrument - CPTI, aplicados aos vídeos das sessões. Como medidas de resultados serão utilizados o Child Behavior Checklist - CBCL, e o Método de Rorschach. Os dados serão submetidos a Correlações de Pearson, Análise Discriminante e Equações Estruturais.

Palavras-chave: Psicoterapia psicodinâmica; Crianças; Estudo de processo; Aliança terapêutica; Resultados

Correspondência edub.brenner@gamil.com e verareginaramires@gmail.com




Análise das Estruturas de Interação no Processo de Psicoterapia Psicodinâmica de Quatro Crianças

Rodrigo Gabbi Polli, Marina Gastaud, Cibele Carvalho, Eduardo Brusius Brenner, Vera Regina Rohnelt Ramires

Instituição: Universidade do Vale do Rio dos Sinos A psicoterapia psicodinâmica de crianças ainda carece de estudos que investiguem os resultados, o processo terapêutico e os mecanismos de mudança. A literatura é unânime em ressaltar a importância e a necessidade de mais pesquisas que analisem esses aspectos fundamentais para uma intervenção clínica bem-sucedida. Estudos mostram que mudanças nos padrões de interação foram relacionadas tanto a mudanças na estrutura psicológica dos pacientes como à melhora sintomática. Partindo dessas premissas, o foco desse estudo foram as estruturas de interação na psicoterapia psicodinâmica de crianças. Foi realizado um estudo de delineamento misto, longitudinal, baseado no procedimento de estudo de casos sistemáticos. Foram estudadas quanto ao processo e a mudanças quatro psicoterapias de crianças em idade escolar. O procedimento Child Psychotherapy Q-Set (CPQ) foi usado para determinação das estruturas de interação e o Método Rorschach como medidas de resultado, para avaliar mudanças na estrutura psicológica dos participantes. A duração das psicoterapias variou de 15 a 44 meses, envolvendo de 40 a 160 sessões. A base de dados foi composta ao todo por 409 sessões de psicoterapia psicodinâmica de crianças que foram analisadas de acordo com o CPQ. Os resultados permitiram identificar as estruturas de interação das quatro psicoterapias e evidenciaram que essas estruturas constituíram um mecanismo de mudança importante durante o processo terapêutico. A compreensão e modificação das estruturas de interação foi acompanhada por melhoras em três dos quatro casos clínicos analisados. Os resultados também mostraram que algumas estruturas de interação podem corresponder a modelos de intervenção que diferem da abordagem da psicoterapia psicodinâmica. Desta forma, foi sugerida a natureza integracionista das psicoterapias e a grande importância de compreender os elementos no processo que são efetivos para responder às necessidades da criança, mais do que os tipos de tratamento, que podem estar presentes nos diferentes modelos psicoterápicos. Palavras-chave: Psicoterapia psicodinâmica; Crianças; Estudo de processo; Estruturas de interação.

Correspondência
ropsiufsm@gmail.com e verareginaramires@gmail.com




Avaliação do apego e da função reflexiva: Adaptação de instrumento e análise do potencial preditivo do desfecho de psicoterapia de crianças e adolescentes

Vitória Sander Ferraro, Fernanda Munhoz Driemeier Schmidt, Gabriela Dionisio Ffner, Amanda Aquino da Costa, Sofia Koch Hack, Vera Regina R. Ramires

Instituição: Unisinos - Universidade do Vale do Rio dos Sinos Pesquisas em âmbito internacional têm demonstrado uma relação importante entre os padrões de apego, a função reflexiva, o desfecho e os resultados das psicoterapias psicodinâmicas. No Brasil, os estudos nesse tema são escassos e não existem instrumentos disponíveis para esse tipo de pesquisa com crianças e adolescentes. Este projeto é composto por dois estudos. O Estudo I buscará atender o objetivo de traduzir, adaptar e validar para o português brasileiro a entrevista Friends and Family Interview - FFI que avalia o apego e a função reflexiva de crianças em idade escolar e adolescentes. A FFI é teoricamente baseada na Adult Attachment Interview, mas dimensionada para as habilidades desenvolvimentais da população infanto-juvenil. O processo de codificação fornece o apego global, bem como escores em várias dimensões, que integram os constructos avaliados pela entrevista: coerência da narrativa, modelos funcionais internos e função reflexiva. O processo de tradução e adaptação para o português brasileiro da FFI seguirá as diretrizes propostas na literatura. A validade de critério do instrumento será realizada através de comparação dos resultados com os obtidos em medida similar. Será realizada a Correlação de Pearson para avaliar o grau de concordância entre as medidas. O Estudo II buscará analisar os estilos de apego de crianças e adolescentes com indicação para psicoterapia psicodinâmica e sua associação com o desfecho e com o resultado do tratamento. Método: Será longitudinal tipo painel, naturalístico e explicativo. Os participantes serão os mesmos em ambos estudos:crianças e adolescentes com idades entre 9 a 16 anos, que buscarem psicoterapia psicanalítica numa clínica de formação de psicoterapeutas e atendimento clínico à comunidade de Porto Alegre, entre março de 2018 e março de 2019. Estima-se a participação de 90 jovens. Os instrumentos utilizados serão: ficha de dados sóciodemográficos, Inventário de Comportamentos da Infância e Adolescência (CBCL - versão para crianças e adolescentes de 6 a 18 anos), Entrevista para avaliação do apego e da função reflexiva (Friends and Family Interview -FFI). Questionário sobre função reflexiva para jovens (RFQY) e Nota de alta. O CBCL e o RFQY serão repetidos aos 4, 8 e 12 meses de tratamento. As entrevistas da FFI serão gravadas, transcritas e analisadas por juízes treinados. Vinte por cento das entrevistas serão analisadas por dois juízes, de maneira independente, com objetivo verificar a concordância entre avaliadores e aferir, dessa forma, a confiabilidade das avaliações. Correlação intraclasse será utilizada para verificar a concordância entre os juízes. Para avaliar o poder preditivo dos estilos de apego e da função reflexiva em relação ao desfecho da psicoterapia (alta ou abandono) será realizada uma regressão logística. Para verificar o poder preditivo dos estilos de apego e da função reflexiva em relação aos resultados da psicoterapia (mudanças sintomáticas) será realizada uma regressão linear múltipla. O projeto foi aprovado pelo Comitê de ética e todos os procedimentos éticos serão seguidos. Resultados: Espera-se encontrar uma relação estatisticamente significativa entre os estilos de apego e função reflexiva com os desfechos dos tratamentos e resultados. O apego seguro estará relacionado a melhores desfechos e resultados.

Correspondência
Mostardeiro, 5/512, Porto Alegre, RS
E-mail: vitoriaferraro@hotmail.com; fernandadriemeier@hotmail.com




"Contratransferência e sua associação com o abandono da psicoterapia de orientação analítica"

Marina Cardoso de Souza, Luiza Petzhold, Virginia Camatti, Rafael Mondrzak, Camila Reinert, Andreia Sandri, Nina Rosa Furtado.

Instituição: Ambulatório de Psicoterapia de Orientação Analítica do Hospital São Lucas (AMPA) Freud trouxe a noção de contratransferência (CT) pela primeira vez como sendo um resultado, no analista, dos sentimentos inconscientes do paciente. Portanto, para Freud a contratransferência era um obstáculo a ser vencido pelo terapeuta e entendido como uma resistência do analista.1 Ao longo século XX e principalmente na segunda metade, com Paula Heimann e Heinrich Racker, o conceito de CT ampliou-se de forma drástica até transformar-se em um incrível utensílio dentro do processo da psicoterapia de orientação analítica.2 De acordo com a literatura atual, reações contratransferenciais têm implicações no processo terapêutico, influenciando, desta forma, o desfecho do tratamento psicoterápico. A contratransferência hoje é tanto uma fonte de informações valiosas sobre o paciente quanto uma interferência no tratamento.6; 7 O abandono do tratamento em psicoterapia tem sido foco de pesquisas e discussão, justificado pelas altas taxas de abandono evidenciadas em literatura nacional e internacional. A interrupção do tratamento possui conseqüências variadas, tanto para o paciente como para o terapeuta e a instituição de atendimento. O abandono psicoterápico traz para todas as partes envolvidas sentimentos de fracasso, ineficácia e um custo econômico importante.13 Devido à escassez de estudos na área de psicoterapia, relacionadas as características do paciente e do terapeuta, não há consenso em relação aos fatores associados ao sucesso em psicoterapia, bem como de fatores preditores de abandono. Em estudo realizado no Rio Grande do Sul, que avaliou fatores associados ao abandono precoce em psicoterapia de orientação analítica no Hospital de Clínicas de Porto Alegre18, a gravidade da psicopatologia não pareceu estar associada, isoladamente, ao abandono. Objetivos: Avaliar a associação do abandono da psicoterapia de orientação analítica e a contratransferência, em uma amostra de pacientes neuróticos e jovens terapeutas do Ambulatório de Psicoterapia Analítica (AMPA) do Hospital São Lucas da PUCRS. Além disso, o presente estudo busca também correlacionar a associação do abandono com a gravidade dos sintomas. Justificativa: O abandono do tratamento psicoterápico possui conseqüências tanto para os pacientes quanto para os terapeutas e serviços assistenciais. O entendimento da contratransferência e a sua influência no processo terapêutico justificam esse estudo, tendo em vista a escassa literatura sobre o assunto e a sua relevância, ao buscar a associação entre contratransferência e abandono do tratamento no primeiro ano de tratamento psicoterápico. metodologia: Estudo longitudinal observacional não experimental onde um grupo de residentes e cursistas do Ambulatório de Psicoterapia Psicanalítica do Serviço de Psiquiatria do Hospital São Lucas (AMPA-PUCRS) e os pacientes assistidos pelo ambulatório serão acompanhado pelo período de um ano. O desfecho a ser avaliado será primariamente o abandono de tratamento. As informações serão coletadas através do preenchimento da Escala para Avaliação de Contratransferência (EACT) pelos médicos residentes e cursistas que cursam estágio curricular pelo AMPA durante o segundo ano de formação do curso e residência de Psiquiatria, que será preenchida na primeira sessão e repetida 3, 6 e 9 meses após o início do tratamento. Serão coletados dados sociodemográficos e escala de gravidade dos sintomas dos pacientes atendidos neste ambulatório (GAD-7 e PHQ-9) no primeiro atendimento. Os dados serão analisados pelo SPSS 25®. Resultados: Pesquisa em andamento. Resultados parciais serão apresentados no pôster. Conclusão: Pesquisa em andamento.




Psicoterapia Psicodinâmica de uma menina com sintomas Internalizantes: Um Estudo de Similaridade a Protótipos Brasileiros

Leonardo Valentini

Objetivo: investigar o processo da Psicoterapia Psicodinâmica (PP) de uma criança com sintomas internalizantes em relação à sua similaridade a protótipos brasileiros de terapia cognitivo-comportamental (TCC) e de PP para crianças com transtornos internalizantes e externalizantes. método: pares de juízes avaliaram todas as sessões (n=40) da psicoterapia de uma menina com sintomas internalizantes, utilizando o Child Psychotherapy Q-Set (CPQ). Os graus de similaridade das sessões aos protótipos brasileiros de psicoterapia foram calculados por meio da correlação de Pearson. Resultados: O tratamento apresentou similaridade significativa simultaneamente aos protótipos da TCC e da PP para crianças com transtornos internalizantes. Não foi encontrada similaridade significativa ao protótipo da PP para crianças com transtornos externalizantes. Discussão: Os protótipos brasileiros de psicoterapia de crianças mostraram-se uma ferramenta útil na avaliação do processo terapêutico. Os dados apresentados indicam que, na prática, as características das psicoterapias de crianças se sobrepõem e os processos apresentam um caráter integrativo.

Palavras-chave: Processos psicoterapêuticos; Psicoterapia da criança; Psicoterapia psicanalítica; Terapia cognitivo-comportamental.




Propriedades psicométricas do Diagnóstico Psicodinâmico operacionalizado - 2 em pacientes com transtornos mentais graves em psicoterapia em um hospital público

Cinthia Danielle Araújo Vasconcelos Rebouças, Bruno Perosa Carniel, Guilherme Kirsten Barbisan, Leonardo Gonçalves, Ana Laura Gehlen Walcher, Gabriel Mendes Araújo, Sthéfani Schütz, Neusa Sica da Rocha

Instituição: Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Introdução: O diagnóstico de pacientes psiquiátrico difere, sob diversos aspectos, daqueles de pacientes com doenças físicas. Os sistemas de classificação para diagnósticos psiquiátricos têm vários propósitos: distinguir um diagnóstico psiquiátrico de outro, de modo a oferecer o tratamento mais efetivo; proporcionar uma linguagem comum entre os profissionais da saúde; explorar as causas ainda desconhecidas de muitos transtornos mentais. As duas classificações psiquiátricas mais importantes são o manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM), desenvolvido pela American Psychiatric Association (APA) e a classificação internacional de doenças (CID), desenvolvida pela Organização Mundial de Saúde. No entanto, além de contemplarem fenômenos clínicos superficiais deixando de lado os mecanismos psíquicos subjacentes, estes manuais agrupam sob uma mesma nomenclatura fenômenos muito distintos, tanto do ponto de vista psicológico quanto em termos de evolução e prognóstico. Assim, no intuito de expandir a classificação descritiva de sintomas, que foi formulado o Diagnóstico Psicodinâmico Operacionalizado -2 (OPD-2), que consiste em um construto multiaxial que possibilita abranger a complexidade e a inter-relação das condições e fatores que determinam os fenômenos e as patologias mentais do ponto de vista psicodinâmico. O OPD-2 é composto por cinco eixos: I. Vivência da doença e pré-requisitos para o tratamento; II. Relações interpessoais; III. Conflito intrapsíquico; IV. Estrutura psíquica; e V. Diagnóstico nosológico. Objetivos: Avaliar as propriedades psicométricas do instrumento OPD 2 em uma amostra clínica brasileira, avaliando as validades concorrentes do instrumento com o SCL-90R (Symptom Check-List 90), o WHOQOL-BREF (The World Health Organization Quality of Life - brief version), e a BDI (Beck Depression Inventory) observando se o inventário estruturado OPD-2 manterá boas propriedades psicométricas observadas em outros estudos quando aplicado em uma amostra brasileira. método: Foi realizado um estudo naturalístico longitudinal com uma amostra consecutiva de pacientes que no momento de sua inclusão na pesquisa estavam em acompanhamento ambulatorial psicoterapêutico oferecido pelo Serviço de Psiquiatria do HCPA. Após consentirem sua participação, cada participante foi submetido a uma entrevista semi-estruturada seguindo as orientações preconizadas pelo manual de aplicação do instrumento em estudo. Os participantes responderam ainda a uma seleção de protocolos de avaliação autoaplicáveis, entre eles o WHOQOL-BREF, o SCL-90R e a BDI. A validade concorrente entre os eixos do OPD-2 e a dimensão de psicoticismo da SCL-90R, os domínios do WHOQOL-BREF e a BDI foi realizada por meio dos testes de correlação de Spearman. Para todos os testes foram considerados significativos resultados com p ≤0,05. Para itens que medem o mesmo constructo foi calculado o alfa de Cronbach para avaliar a consistência interna do item. Resultados: Uma amostra de 80 entrevistas foram avaliadas, essa amostra foi de maioria feminina (n=62), com média de idade de 44,49 (dp=11,85), 33,8% com ensino médio completo. Essa amostra apresentou valor médio da BDI de 34,53 (dp=11,90). Quanto a análise, a mesma foi orientada a partir dos eixos pré-estabelecidos pelo protocolo. Dentre os itens do eixo I, o item EQ-5D, que se oferece uma medida que avalia a qualidade de vida do paciente nos últimos 7 dias, demonstrou correlação significativa inversa com o domínio físico do WHOQOL-BREF (rs= -0,333 p=0,015), dentre os itens que avaliam como o paciente vivencia a doença, o item que avalia a redução de sintomas foi significativamente correlacionado com os domínios psicológico (rs=0,339 p=0,010), social (rs=0,350 p=0,008) e ambiental (rs=0,265 p=0,048) da WHOQOL-BREF, enquanto o item que avalia capacidade introspectiva demonstrou correlação significativa inversa com a dimensão de psicoticismo da SCL-90R (rs= -0,308 p=0,025), os demais itens do eixo I não apresentaram nenhuma outra correlação significativa com os resultados da SCL-90R, WHOQOL-BREF e BDI. Dentre os itens do eixo III, o item que avalia se os conflitos manifestos pelo paciente na entrevista podem ser classificados de forma segura apresentou correlação significativa com o domínio psicológico da WHOQOL-BREF (rs=0,285 p=0,032) e correlação inversa com a dimensão de psicoticismo da SCL-90R (rs= -0,303 p=0,029), o item que avalia o conflito de necessidade de auto-cuidado versus autossuficiência apresentou correlação significativa com o domínio psicológico da WHOQOL-BREF (rs=0,283 p=0,037), o item que avalia o conflito edípico apresentou correlação inversa com o domínio físico da WHOQOL-BREF (rs= -0,326 p=0,015), o item que avalia o conflito de identidade apresentou correlação significativa com os domínios psicológico (rs=0,314 p=0,019) e ambiental (rs=0,308 p=0,024), os demais itens do eixo III não apresentaram nenhuma outra correlação significativa com os resultados da SCL-90R, WHOQOL-BREF e BDI. Quanto aos itens do eixo IV que avalia a dimensão estrutural do sujeito, que refere-se a disponibilidade de funções mentais para a regulação do self e de suas relações com objetos internos e externos, todos os seus itens: autopercepção (rs=0,339 p=0,015), percepção do objeto (rs=0,281 p=0,046), autorregulação (rs=0,338 p=0,015), regulação da relação objetal (rs=0,445 p=0,001), comunicação interna (rs=0,441 p=0,001), comunicação com o mundo externo (rs=0,447 p=0,001), capacidade de vinculação com objetos internos (rs=0,359 p=0,010), capacidade de vinculação com objetos externos (rs=0,456 p=0,001) e estrutura total (rs=0,448 p=0,001) tiveram correlação significativa com a dimensão de psicoticismo da SCL-90R. Além das correlações com este instrumento, o eixo IV apresentou correlações significativas entre o item regulação da relação objetal inversamente com os domínios físico (rs= -0,296 p=0,027) e social (rs= -0,316 p=0,018) e o item capacidade de vinculação com objetos internos (rs= -0,275 p=0,04) e capacidade de vinculação com objetos externos (rs= -0, 272 p=0,044) tiveram correlação inversa com o domínio social da WHOQOL-BREF. E o item que avalia a estrutura total apresentou uma correlação inversão com o domínio psicológico (rs= -0,306 p=0,023) da WHOQOL-BREF. Quanto a consistência interna do instrumento o eixo IV apresentou valor de alfa de cronbach de 0,922. Conclusões: Os resultados desse estudo demonstraram que a avaliação realizada pelo OPD-2, em algumas formas, acompanha os resultados de instrumentos autoaplicáveis já validados como o WHOQOL-BREF e a SCL-90R. O OPD-2 quando administrado por avaliadores preparados e treinados para o preenchimento preconizado pelo manual o OPD-2 mostrou boa qualidade de avaliar os conflitos e as questões estruturais dos sujeitos. Assim, os resultados obtidos sugerem que a versão brasileira do OPD-2 tem boa condição de avaliar propriedades psicodinâmicas, podendo ser um instrumento útil dentro dos contextos clínico e em pesquisa.

Correspondência
E-mail: cinthiadani@gmail.com




Analisando as diferenças: sessão dialogada, transcrita, supervisionada

Mônica Vian, Angela Blaut, Camila Saldanha, Moema Schifino Linkiwcz, Gabriela Nardin de Assis Brasil, Eduardo Schmitt Amaro, Franciele Michelon, Aline Alvares Bittencourt

Para a psicanálise, existem três pilares importantes na formação do psicanalista, também chamado de tripé psicanalítico. São estes: o tratamento pessoal, o estudo da teoria e a supervisão. Os psicoterapeutas em sua formação e ao longo de sua trajetória buscam ajuda de profissionais mais experientes que possam supervisionálos nesta caminhada. Para uma sessão ser supervisionada existem várias formas de apresentação do material. A dialogada vêm sendo, tradicionalmente, o material mais utilizado para a aprendizagem de psicoterapia. É feita a partir da memória do terapeuta que tenta descrever da melhor maneira que conseguir os fenômenos ocorridos durante a sessão, além de complementar essa descrição com sentimentos, impressões e fantasias que surgem em sua mente durante a sessão. Autores também destacam a riqueza de um material produzido a partir da memória do terapeuta, uma vez que este é treinado e conhece longitudinalmente o caso, tornando mais curta e densa a leitura em supervisão. A supervisão do material contempla ainda, os aspectos transferenciais e contratransferenciais sentidos e entendidos pelo terapeuta, importantíssimos para evoluções do paciente. No presente trabalho iremos discutir o material feito a partir da memória do terapeuta, a dialogada, comparado com o material transcrito de sessões gravadas e buscando integrar com o conteúdo discutido em supervisão. Para isso, foram analisadas três sessões dialogadas e foram comparadas às mesmas três sessões transcritas, de uma paciente atendida em psicoterapia psicanalítica por uma terapeuta do núcleo de pesquisa de uma instituição de ensino e pesquisa de psicoterapia psicanalítica. As sessões são supervisionadas coletivamente, com frequência semanal. Para a análise das sessões dialogadas e das transcrições, se utilizou o método de análise de conteúdo de Bardin. A partir desta análise foram criadas categorias que se destacaram em ambos os materiais, assim como algumas que se fizeram presentes apenas no material transcrito das sessões. Sabe-se que por mais fidedigno e completo que o material dialogado possa estar, existem fenômenos inconscientes presentes durante a sessão que impede que o relato dialogado se apresente tal qual o que se passou durante a sessão. Observou-se que temas como relacionamentos interpessoais, sentimentos de irritabilidade e desânimo, relação entre paciente e terapeuta e objetivos de vida se fizeram presente nos dois materiais em quase todas as sessões analisadas. Dentro das categorias criadas, não se percebeu uma diferença significativa entre os dois materiais, mostrando o quanto que apesar da dialogada ser realizada a partir da memória do psicoterapeuta, o conteúdo se manteve equivalente nos dois materiais. Apesar das transcrições serem úteis para identificação completa do conteúdo manifesto, para aquilo que é dito pela dupla, o material latente que advém do conteúdo latente só pode ser expressado através do relato dialogado. Através do material dialogado, percebe-se que a supervisão se dispõe a trabalhar mais com aquilo que o terapeuta pode trazer em seu discurso, acrescentando mais na formação do terapeuta e no entendimento do caso e da dupla.

Palavras-chave: Supervisão; Dialogada; Psicoterapia




Adaptação transcultural e evidências preliminares de validade de construto da versão Brasileira do Reflective Functioning Questionnaire - 54 (RFQ 54 - Br)

Aline Álvares Bittencourt, Luan Paris Feijó, Rosilene Pereira da Silva, Fernanda Barcellos Serralta

A função reflexiva (FR), consiste na capacidade do indivíduo, de forma implícita ou explícita, interpretar os estados mentais, tais como desejos, necessidades, sentimentos e razões, de suas próprias ações e dos outros. Com o objetivo de avaliação em contextos de mensuração em larga escala e com tempo limitado foi necessário construir uma medida que avaliasse de forma abrangente a FR. Com esse propósito, a Reflective Functioning Questionnaire (RFQ) -, dividida em subescala de certeza (RFQ_C) e incerteza (RFQ_I) dos estados mentais - foi proposta. No Brasil, ela ainda não havia sido traduzida e suas propriedades psicométricas avaliadas. OBJETIVO: realizar a adaptação transcultural e examinar preliminarmente a validade de constructo da versão Brasileira do RFQ - 54 ítens. MÉTODO: (a) procedimento de tradução e adaptação da RFQ 54 - Br e (b) estudo das características psicométricas da RFQ 54 - Br por meio da validade de construto. (a) Os procedimentos foram 1) Duas traduções independentes; 2) Produção de painel de especialistas de uma versão conciliada baseada nas duas traduções; 3) Retrotradução por tradutor profissional; 4) Comparação da tradução retroativa e original; 5) Versão revisada 6) Produção de um relatório explicando as decisões de tradução. (b) Participaram 140 indivíduos que buscaram atendimento em um Ambulatório de Saúde Mental na região norte do Brasil. Foram coletados dados sociodemográficos e clínicos nos prontuários e aplicados o RQF 54 - Br e o Brief Symptom Inventory (BSI). Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva, correlação de Spearman e análise de confiabilidade por Alfa de Cronbach. RESULTADOS: (a) Dos 54 itens da versão final, 16 (29,63%) foram idênticos aos originais, 35 (64,81%) sofreram pequenas alterações para aprimorar a leitura no português brasileiro e 3 (5,56%) necessitaram grandes alterações para manter o sentido em português. (b) A escala apresentou níveis adequados de consistência interna por meio dos alfas (RFQ_C α = .703 e RFQ_I α = .816). As correlações, dos dados sociodemográficos, indicaram associação negativa entre idade e incerteza. A escala de certeza apresentou correlações positivas com sintomas de ansiedade e ansiedade fóbica e negativas com psicoticismo, paranoia, obsessões compulsões, hostilidade, depressão e sensibilidade interpessoal, bem como com o Índice Geral de Severidade dos sintomas (IGS). A escala de incerteza evidenciou correlações positivas com psicoticismo, paranoia, obsessões compulsões, hostilidade, depressão, sensibilidade interpessoal e com o IGS, e dos sintomas e correlações negativas com ansiedade, somatização e ansiedade fóbica. DISCUSSÃO/CONCLUSÃO: O instrumento mostra-se adequado para aplicação na população brasileira, apresentando equivalência semântica e conceitual com o original. A análise preliminar em uma população clínica apresenta evidências de validade de construto, com índices satisfatórios do coeficiente Alfa de Cronbach, inclusive mais elevados que os da versão original. As correlações encontradas entre a RFQ e o BSI são consistentes e sugerem validade convergente. É importante salientar que o estudo é preliminar e realizado com uma amostra pequena e de apenas um local. O exame da validade de construto deverá ser ampliado com outras amostras e instrumentos. A RFQ já pode ser utilizada por pesquisadores brasileiros. Suas propriedades psicométricas mostram-se promissoras, devendo ser melhor investigadas em estudos futuros realizados com grupos clínicos e não clínicos.

Palavras-chave: Mentalização; Função reflexiva; Escala; Validade; Confiabilidade




Avaliação basal do ensaio clínico multicêntrico, controlado e randomizado: impacto de uma intervenção baseada em mindfulness na qualidade de vida e redução de sintomas de burnout em policiais brasileiros: o estudo POLICE

Marcelo Trombka, Marcelo Marcos Piva Demarzo, Ana Laura Gehlen Walcher, Bruno Carniel, Daniel Campos Bacas, Sonia Beira Antonio, Karen Cicuto, Vera Salvo, Neusa Sica Rocha

Instituição: Programa de Pós-Graduação em Psiquiatria e Ciências do Comportamento UFRGS/HCPA e Departamento de Medicina Preventiva - Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) Objetivo: Policiais experimentam alto grau de estresse crônico, estando entre os profissionais com maiores taxas em termos de doenças e acidentes. O impacto negativo na saúde mental é notável, evidenciado por taxas elevadas de burnout, ansiedade, depressão e pior qualidade de vida que a população em geral. O objetivo geral deste estudo é avaliar o efeito de uma intervenção baseada em Mindfulness - Protocolo MBHP (Mindfulness Based Health Promotion) - na qualidade de vida, sintomas de burnout, estresse percebido, sintomas de ansiedade e depressão e os mecanismos potenciais de resiliência, mindfulness, decentramento, autocompaixão, espiritualidade e religiosidade de policiais brasileiros. Serão apresentados os dados preliminares da avaliação basal da amostra. metodologia: Esse trabalho apresentará os resultados da avaliação basal de um ensaio clínico multicêntrico, controlado e randomizado com três pontos de avaliação: baseline (2 semanas préintervenção), pós-intervenção (2 semanas após a intervenção) e seguimento de seis meses. 170 participantes foram randomizados para Intervenção Baseada em Mindfulness (IBM) ou grupo lista de espera. O protocolo foi preparado de acordo com a declaração do SPIRIT 2013 e foi aprovado pelos comitês de ética dos centros. Foram selecionados policiais em duas cidades brasileiras: Polícia Civil (Porto Alegre) e Guarda Civil (São Paulo). A avaliação baseline incluiu dados sociodemográficos e as seguintes varáveis: Qualidade de Vida (WHOQOLBREF), Sintomas de Burnout (MBI-GS), Níveis de Estresse (PSQ), Sintomas de Ansiedade e Depressão (HADS), Resiliência (CD-RISC-25), Níveis de Mindfulness e Decentramento (MAAS e EQ), Níveis de Auto-Compaixão (SCS), Saúde Mental (GHQ-12), Subtipos de Burnout (BCSQ-12), Espiritualidade (WHOQOL-SRPB-BREF) e Religiosidade (DUREL). Resultados/Conclusão: Foram avaliados os aspectos sociodemográficos da etapa baseline de 170 questionários, os quais mostraram que os participantes tinham idades entre 24 e 60 anos, com média de 42,26 anos de idade. No que se refere ao sexo, 25,3% da amostra era masculina, enquanto 74,7% era feminina. Quanto à situação familiar, 73,3% declararam ter um parceiro estável, enquanto 26,7% declararam não ter parceiro estável. Quanto ao uso de substâncias, 91,8% da amostra era não tabagista, enquanto 8,2% da amostra era tabagista; 53,5% declararam consumir álcool, enquanto 46,5% declararam não consumir álcool. Quanto à escolaridade, 9,7% possuíam ensino médio completo, 52,1% possuíam ensino superior completo, 35,2% possuía especialização e 3% possuía mestrado ou doutorado. A análise completa dos dados de baseline está em andamento, devendo ser concretizada até agosto de 2018, razão pela qual fomos impossibilitados de inserir todos os resultados neste resumo. Os valores de média e desvio padrão dos domínios do WHOQOL, dos níveis de estresse e burnout e as correlações (coeficiente de pearson) entre estas 3 variáveis e os valores de P estarão disponíveis para apresentação na Jornada do CELG.

Correspondência
Faculdade de Medicina - Campus Saúde
Rua Ramiro Barcelos, 2400 2º andar
90035003 Porto Alegre, RS, Brasil




Mentalização na Psicoterapia Psicodinâmica de Crianças

Cibele Carvalho, Geoff Goodman, Vera Regina Röhnelt Ramires

Instituição: Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)

Resumo: A mentalização tem sido considerada um fator comum dos processos terapêuticos, inerente a todos os modelos efetivos de tratamento. No entano, pesquisas empíricas que evidenciem a presença e a relevância do constructo para o processo da psicoterapia psicodinâmica de crianças são, ainda, escassas. Para contribuir com o preenchimento dessa lacuna, o objetivo deste estudo foi analisar três psicoterapias de crianças, no que diz respeito à similaridade dos tratamentos ao protótipo da abordagem baseada na função reflexiva (FR). Foi realizado um estudo descritivo e longitudinal baseado no procedimento de Estudo de Caso Sistemático. Participaram três crianças, em idade escolar, e suas terapeutas. Duzentos e setenta e três sessões foram codificadas com o Child Psychotherapy Process Q-Set (CPQ) e analisadas de acordo com a semelhança ao protótipo FR. Os resultados evidenciaram algum grau de semelhança ao protótipo FR em todas as psicoterapias. Todos os tratamentos aumentaram a similaridade com o protótipo RF ao longo do tempo. Além disso, foi possível identificar que existiram algumas características comuns e outras distintas em cada um dos tratamentos. Os resultados do estudo permitiram evidenciar a presença e a importância da mentalização na psicoterapia psicodinâmica de crianças.





TRABALHOS PSIQUIATRIA CLÍNICA

Novas possibilidades terapêuticas na saúde mental: trabalhando as habilidades sociais através da série Big Bang Theory

Larissa Onill de Avila Pereira, Yan Dias, Juliana Unis Castan, Flávia Pimentel Pereira

Introdução: O Centro de Atenção Psicossocial - CAPS II é um serviço de tratamento para pessoas com transtornos mentais graves. As equipes multiprofissionais dos CAPS II buscam atuar na prevenção de agravos e promoção da saúde e tem nos grupos terapêuticos uma importante ferramenta na busca da reabilitação psicossocial. Analisando o perfil dos usuários do CAPS II percebe-se um prejuízo significativo na socialização, com casos de isolamento e comportamentos evitativos que contribuem para o enfraquecimento da rede de suporte social. A partir dessa demanda, foi criado o grupo de Treinamento de Habilidades Sociais (THS) que busca desenvolver novas habilidades sociais, melhorar a frequência de habilidades existentes e diminuir comportamentos disfuncionais. Objetivo: Pretende-se apresentar e descrever o funcionamento do Grupo de Treinamento de Habilidades Sociais (THS) que foi realizado em um CAPS II localizado em Porto Alegre. A proposta do grupo visa trabalhar as habilidades sociais melhorando a comunicação e interação dos participantes. método: O grupo de THS foi estruturado com 11 sessões e pré-selecionado 10 candidatos adultos jovens. Os critérios de seleção dos candidatos foram estabilidade do quadro clínico, capacidade mínima de manter a atenção e seguir instruções, necessidade de desenvolver habilidades sociais, especialmente de comunicação, e desejo de participar. Cada sessão teve uma temática e planejamento específicos pré definida, porém com flexibilidade para alterar o cronograma conforme necessidade dos membros do grupo. Os usuários foram convidados a participar e destes 6 efetivaram sua participação, sendo todos do sexo masculino. A coordenação do grupo ficou sob responsabilidade dos residentes multiprofissionais da Enfermagem e Psicologia, sendo supervisionado de forma coletiva pelas respectivas preceptoras de cada área. Foi solicitado que os participantes assinassem um contrato com esclarecimentos acerca do cronograma, objetivo e regras do grupo. Como recurso técnico optouse por utilizar vídeos da série Big Bang Theory para estimular a reflexão e discussão da temática prevista por encontro. O planejamento das sessões contava com simulação de situações reais e role play. No fechamento do grupo, os usuários que tiveram maior adesão receberam certificado. Resultados: O uso dos vídeos foi bem recebido pelos participantes do grupo, permitindo que desenvolvessem capacidade de observação nos outros para, posteriormente, transferirem essa habilidade para si (auto-observação). A análise de pistas sociais nas interações também foi facilitada tanto pelos vídeos como pela técnica de role play, incentivando a reflexão sobre atitudes e leitura social. Os participantes deram feedback positivo, referindo que algumas habilidades treinadas foram utilizadas em situações do cotidiano de cada um. Conclusão: A proposta do grupo de THS torna-se relevante como uma opção terapêutica que auxilia os usuários da rede de Saúde Mental na reabilitação social.

Correspondência
Rua São Manoel, 285 - bairro Rio Branco
90620110 Porto Alegre, RS, Brasil - CAPS II HCPA




Tricotilomania: Relato de Caso

Bruna Botter, Iron Pedro Giacomelli, Glauco Tashiro, Pablo Merlo Medeiros

Objetivos: Relatar o caso de uma paciente feminina de 19 anos com quadro de tricotilomania desde os seis anos de idade associado a tricofagia e transtorno obsessivo-compulsivo com compulsão por limpeza. Discutir características clínicas, diagnóstico e tratamento da tricotilomania. métodos: Entrevista psiquiátrica com paciente e familiares, com posterior relato e revisão de literatura utilizando o Pubmed com os seguintes descritores: "tricotilomania", "tratamento", "relato de caso". Foram selecionados 15 artigos. Descrição do caso: Uma adolescente com diagnóstico de tricotilomania comórbido com transtorno obsessivo-compulsivo, foi submetida a laparotomia devido tricobezoar e sofreu importante prejuízo social, devido à demora para elucidação diagnóstica e encaminhamento a um serviço de saúde mental. Paciente evolui com melhora significativa após início do tratamento, porém retornou com novos episódios de tricofagia cinco meses após avaliação inicial. Discussão: A tricotilomania pode causar sofrimento significativo e, no caso desta paciente, além do sofrimento psicossocial, também causou importante acometimento físico e orgânico com a Síndrome de Rapunzel, forma mais grave de tricofagia. A paciente recebeu tratamento cirúrgico, farmacológico e indicação de psicoterapia. A literatura mostrou que a clomipramina é o fármaco com melhores resultados para tricotilomania e o Treinamento da Reversão de Hábito (TRH) demonstrou ser o mais eficaz dentre as intervenções psicoterapêuticas.

Palavras-chave: Tricotilomania; Transtorno obsessivo-compulsivo; Síndrome de Rapunzel




Diagnóstico Psicodinâmico Operacionalizado (OPD-2) de mulheres vítimas de violência doméstica

Luciane Maria Both, Taís Cristina Favaretto e Lúcia Helena Machado Freitas

Instituição: PPG Psiquiatria e Ciências do Comportamento, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil

Introdução: A violência doméstica contra mulher refere-se ao abuso ou poder do parceiro íntimo causando danos ou omissão do bem-estar físico e psicológico da vítima; implica um padrão comportamental repetitivo e cíclico. É um problema de saúde pública, cujo Brasil ocupa o sétimo lugar no ranking mundial de uxoricídios. Dessa forma, é de extrema relevância identificar com maior precisão o funcionamento psicológico dessas mulheres, para desenvolver intervenções que foquem com maior efetividade na necessidade dessas vítimas. Para isso, o Diagnóstico Psicodinâmico Operacionalizado, 2ª versão, recentemente foi adaptado para avaliar esse contexto. O instrumento compreende uma avaliação multiaxial psicodinâmica, complementar ao diagnóstico nosológico tradicional. Objetivo: Investigar o Diagnóstico Psicodinâmico Operacionalizado (OPD-2) de mulheres vítimas de violência doméstica, explorando a gravidade e vivência da violência, as funções estruturais, o padrão relacional disfuncional e os conflitos intrapsíquicos. método: Trata-se de uma pesquisa quantitativa, transversal com 56 mulheres vítimas de violência doméstica, amostragem por conveniência, oriundas de um serviço público do sul brasileiro. A idade média das mulheres foi de 30,07 anos (SD=9,65); maioria com nível médio de formação acadêmica, brancas e renda entre 1 e 2 salários mínimos mensais. A vítima, após perícia médica, foi convidada a participar da pesquisa. A Entrevista Clínica foi gravada e transcrita. A confidencialidade entre as juízas foi substancial (k>0,6). Resultados: Conforme a avaliação do OPD-2, verificou-se que a gravidade da violência estava associada à intensidade do sofrimento subjetivo das mulheres. As vítimas atribuíram os fatores externos como mais relevantes que os aspectos internos para a explicação do episódio violento do marido, como uso bebida alcoólica, e para a resolução da situação da violência, destacando-se a medida protetiva com afastamento do parceiro. No padrão relacional, elas permitem muito espaço, protegendo-se insuficientemente; percebem os demais como controladores, que se impõem de forma grosseira, desafiando-as ou abandonamnas. A vítima antecipa o desejo do agressor, como resposta defensiva ao desconforto e sofrimento relacionais, torna-se submissa, assim mantém o relacionamento abusivo. O conflito psíquico principal foi a "necessidade de ser cuidado versus autossuficiência" (78,6%), com modo de atuação misto predominantemente ativo, cujas mulheres desdobravam-se para cuidar dos demais, como forma de sentirem-se cuidadas, mas esquecendo-se de si mesmas. E o nível de estrutura predominante foi mediano, em que possuem objetos internos inseguros, apresentando dificuldades de regulação emocional e percebem a realidade de maneira distorcida. Não reconhecem suas limitações e necessidades. Foi verificado que 78,6% dos casos possuíam alguma desordem psiquiátrica: Transtorno Depressivo Maior (41,1%), Transtorno de Estresse Pós-Traumático (19,9%), entre outros. Conclusão: Este estudo construiu evidências empíricas sobre observações clínicas no que diz respeito ao funcionamento psicológico dessa população e das questões que compõem a manutenção da violência doméstica contra a mulher. A dinâmica da vitimização é difícil de identificar, pois as vítimas possuem vergonha em denunciar ou não são críticas sobre o problema. A compreensão dos padrões internalizados, das funções estruturais e do tensionamento de motivações são fundamentais para a prevenção da revitimização e da construção mecanismos de enfrentamento mais adaptativos, como também para promover maior adesão ao tratamento. A identificação dimensional psicodinâmica é uma ferramenta útil para o planejamento e foco terapêutico das demandas que constituem os obstáculos e impasses da interrupção do ciclo da violência.

Correspondência
lucianeboth@gmail.com
(54) 99614-5522




Esquizofrenia: biomarcadores pró-inflamatórios, anti-inflamatórios e influência da sinvastatina sobre a interleucina-6

Lenise Petter Francesconi, André Tavares Victorino, Raquel Verônica MattjeJacobus, Iarsan Ardeola Salah, Victor Hugo Schaly Cordova, Eduarda Dias da Rosa, Larissa Oliveira, Paulo Silva Belmonte de Abreu, Keila Maria Mendes Ceresér

Objetivos: Existem evidências convergentes de que a inflamação durante o desenvolvimento cerebral pode contribuir para a patogênese da esquizofrenia. O presente estudo avaliou biomarcadores inflamatórios em pacientes esquizofrênicos estáveis usando clozapina. métodos: Foram recrutados 60 pacientes ambulatoriais com esquizofrenia e 60 controles saudáveis, pareados por sexo e idade. O diagnóstico foi definido utilizando a avaliação clínica e os critérios operacionais para transtornos psicóticos (OPCRIT). Todos os pacientes esquizofrênicos estavam em uso de clozapina. Foram colhidas amostras de sangue de todos os sujeitos para avaliar os níveis séricos de IL-6, IL-10, IL-12, TNF-α e CCL-11. A análise foi realizada utilizando o SPSS v.22 e os valores de p ≤0,05 foram considerados significativos. Projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (n°15-0558). Resultados: Os resultados revelaram concentrações aumentadas de IL-6 (p=0,027), TNF-α (p<0,001) e CCL11 (p<0,001) nos pacientes em comparação com os controles, na ausência de qualquer outra doença que contribua para a resposta inflamatória, exceto esquizofrenia. Curiosamente, os pacientes sob uso de sinvastatina apresentaram níveis mais baixos de IL-6 em comparação com pacientes que não utilizavam esta medicação (p=0,02) e controles (os controles não utilizavam estatinas). Conclusões: Embora o estudo corroborasse com as evidências anteriores para o aumento dos marcadores inflamatórios na esquizofrenia, detectou-se um papel anti-inflamatório da sinvastatina em pacientes com diagnóstico clínico da esquizofrenia usuários de clozapina.




Alterações no hemograma observadas nos últimos cinco anos em um grupo de pacientes ambulatoriais com esquizofrenia usuários de clozapina.

Raquel Verônica MattjeJacobus, André Tavares Victorino, Lenise Petter Francesconi, Iarsan Ardeola Sala, Victor Hugo Schaly Cordova, Keila Maria Mendes Ceresér

Objetivos: Os pacientes com esquizofrenia usuários de clozapina podem apresentar alterações no hemograma, sendo agranulocitose e neutropenia descritas na literatura. O presente estudo avaliou alterações no hemograma nos últimos cinco anos em pacientes esquizofrênicos estáveis usando clozapina. métodos: Foram incluídos 121 pacientes ambulatoriais com esquizofrenia. O diagnóstico foi definido utilizando a avaliação clínica e os critérios operacionais para transtornos psicóticos (OPCRIT). Todos os pacientes com esquizofrenia estavam em uso de clozapina. A coleta dos dados foi realizada através da análise de prontuários, após assinatura, por parte dos pesquisadores, do termo de compromisso para utilização dos dados (TCUD). Projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (n°16-0144). Resultados: Estes pacientes são polimedicados, utilizando entre 1-11 medicamentos (mediana 3), sendo que apenas 18 pacientes (14,9%) utiliza somente clozapina. Apesar da maior parte dos estudos descrever que agranulocitose e neutropenia são os principais efeitos adversos da clozapina, não encontramos estas alterações em nossa amostra. 71 pacientes (58,7%) apresentaram alterações no hemograma nos últimos cinco anos, sendo mais prevalentes monocitose (45,1%), neutrofilia (38,0%) e eosinofilia (36,7%). Conclusões: É fundamental, para o sucesso do tratamento, o controle hematológico, pois a partir destes dados, junto com o conhecimento da história do paciente quanto às medicações atuais e utilizadas no passado, poderá ser dado um aconselhamento quanto ao uso correto das medicações, alertando os mesmos para o reconhecimento de sinais de toxicidade ou de sub-efeitos.

Categoria: Pesquisas originais. Área: Psiquiatria Clínica




Preditor de riscos para transferência do paciente psiquiátrico para unidade fechada - um estudo caso controle

Diana Kuhn, Ronaldo Rodrigues de Oliveira, Rafael Rocha, Rafael Moreno Ferro de Araújo

Objetivo: Ao observar as peculiaridades dos pacientes que em algum momento da internação tiveram que ser transferidos para unidade psiquiátrica fechada percebemos a necessidade da elaboração de fatores preditivos para avaliar possíveis futuras transferências. O objetivo primário é analisar os casos que necessitarão uma transferência de uma unidade aberta para uma internação em unidade fechada, a fim de identificar fatores de risco para este desfecho. Identificar quais os pacientes têm a maior propensão a apresentar alguma complicação durante a internação (e.g. fuga, agressão à funcionário). Objetivo secundário é construir um instrumento de avaliação de risco (escala), através dos fatores de risco identificados, que possa ser facilmente aplicado pelo clínico já no serviço de emergência psiquiátrica (nas primeiras horas da admissão hospitalar), a fim de otimizar a escolha por unidade psiquiátrica aberta ou fechada. metodologia: após a elaboração de uma lista com variáveis úteis que poderão prever a necessidade de uma transferência para unidade fechada os residentes responsáveis pela elaboração do banco de dados analisaram os prontuários e verificam quais dados seriam de fato factíveis de ser coletados. Sendo assim, conduziremos um estudo de caso-controle a ser realizado com pacientes que foram internados no Hospital São José, que é uma unidade psiquiátrica aberta, localizado em Arroio do Meio, Rio Grande do Sul, Brasil. Serão analisados prontuários de pacientes que foram internados durante o período de 01 de março de 2015 a 01 de Junho de 2018. Os casos serão pacientes que foram transferidos para outro hospital com unidade fechada de psiquiatria. Os controles serão selecionados via sorteio aleatório (função RAMDOM do Excel) entre os outros pacientes internados no mesmo período do paciente considerado caso. Serão escolhidos três controles para cada caso. A investigação do prontuário será minunciosamente analisada buscando variáveis dos casos e controles. A pesquisa está devidamente cadastrada e aprovada pela Plataforma Brasil sob número: 80261617.7.0000.8059. Resultados preliminares: Durante o período do estudo, a unidade psiquiátrica teve um total de 829 internações, destas 17 tiveram que ser transferidas, o que representa 2.0% das internações. Dos casos, 82,3% eram do sexo masculino, com idade entre 14 e 35 anos (média de 23.4). Conclusão: Acreditamos que aplicando está escala posteriormente, no momento da internação, ocorrerá uma abreviação no tempo de transferência, com objetivo de evitar complicações (agressão a outros pacientes e funcionários, fugas hospitalares) bem como a otimização do tratamento visto as características do paciente em questão. Assim evitaremos futuras complicações e ajudaremos a repensar em novas formas de cuidado ao paciente com transtornos mentais graves e seus cuidadores (equipe de saúde mental) assim como na hierarquização do cuidado.

Correspondência
Diana Kuhn
Departamento de Psiquiatria do Hospital São José
Rua Júlio de Castilhos, 314 - Centro
95940-000 Arroio do Meio, RS, Brasil
E-mail: dianakuhn@gmail.com




Importante retardo de crescimento, microcefalia e fáscies típica associados ao déficit intelectual: síndrome de Seckel

Bibiana de Borba Telles, Rodrigo da Silva Batisti, Daniel Luccas Arenas, Anna Carolina Viduani Martinez de Andrade, Diego Henrique Terra, Maria Angélica Tosi Ferreira, Danielle Barbiaro, Maria Angélica Tosi Ferreira, Paulo Ricardo Gazzola Zen, Rafael Fabiano Machado Rosa

Instituição: Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) Objetivo: relatar uma paciente com síndrome de Seckel, tentando salientar os achados que levaram ao seu diagnóstico, incluindo a presença de déficit intelectual. metodologia: fizemos a descrição do caso junto com uma revisão da literatura. Resultados: paciente, uma menina, nasceu de parto cesáreo, com 8 meses de gestação, pesando 1220 gramas. Ela chegou a apresentar episódios de crises convulsivas e evoluiu com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor. Começou a caminhar com 1 ano e 6 meses. A tomografia computadorizada de crânio evidenciou atrofia cortical e microcefalia. A criança foi hospitalizada aos 3 anos de idade por apresentar quadro de anemia importante, sugestiva de anemia de Fanconi. A pesquisa complementar de quebras cromossômicas induzidas pela mitomicina-C foi normal. O raio-X de mãos e punhos para idade óssea, realizado aos 2 anos, mostrou uma idade óssea de 1 ano e 2 meses (atraso >2 desvios-padrões). Ela foi submetida a uma cirurgia de correção de luxação congênita do quadril com 6 anos de idade. No exame físico, com 10 anos e 8 meses, a paciente apresentava altura de 112 cm (média para 3 anos e 11 meses), microcefalia absoluta e relativa, face pequena com nariz proeminente e micrognatia, prega palmar única e clinodactilia de quintos dedos das mãos. O seu cariótipo foi feminino normal. Estava em acompanhamento com a Neurologia, estando em uso de ácido valproico. Não estava frequentando o colégio. Apresentava indicação de escola especial. Conclusão: a soma dos achados foi compatível com o diagnóstico de síndrome de Seckel. Ela é uma doença genética autossômica recessiva rara caracterizada por nanismo, microcefalia com déficit intelectual e uma aparência facial de "cabeça de pássaro". A chance de recorrência nestes casos é de 25%, uma vez que a síndrome apresenta um padrão de herança autossômico recessivo. O déficit intelectual usualmente é grave. A presença de importante nanismo de início pré-natal associados à microcefalia, déficit intelectual e achados faciais, como face pequena com nariz proeminente (lembrando "as de um pássaro"), devem lembrar a possibilidade do diagnóstico de síndrome de Seckel.

Correspondência
Rua Sarmento Leite, número 245/403 - Bairro Centro
90050-170 Porto Alegre, RS, Brasil




Síndrome de Klinefelter: possíveis sintomas neurológicos e comportamentais observados na infância

Bibiana de Borba Telles, Rodrigo da Silva Batisti, Daniel Luccas Arenas, Anna Carolina Viduani Martinez de Andrade, Diego Henrique Terra, Brenda Rigatti, Carlos, Eduardo Veloso do Amaral, Elisa Pacheco Estima Correia, Laura Lais Chaves, Rafael Fabiano Machado Rosa

Instituição: Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA)

Objetivo: foi descrever um caso de síndrome de Klinefelter, chamando atenção para os sintomas neurológicos e comportamentais que podem ser observados na infância. metodologia: realizou-se a descrição do caso e uma revisão da literatura. Resultados: o paciente apresentava 10 anos e 8 meses de idade. Ele possuía história de hipotonia, atraso no desenvolvimento neuropsicomotor (começou a ficar sentado sozinho com 1 ano de idade e a caminhar com 3 anos) e na fala (pronunciou as primeiras palavras aos 3 anos). Além disso, apresentava comportamento caracterizado por inquietude, dificuldade de concentração e de aprendizado, sendo que estava atualmente no terceiro ano da escola (possuía duas repetências). O seu eletroencefalograma era normal. Ao exame físico, com 10 anos e 8 meses, observavam-se altura de 144 cm (P50-75); peso de 36 kg (P50-75); perímetro cefálico de 52 cm (P2-50); envergadura de 144,5 cm; telecanto; nariz largo com ponta bulbosa; prognatismo; palato alto, maloclusões dentárias; ausência de ginecomastia ou de alteração na supinação/pronação dos antebraços; clinodactilia de quintos dedos das mãos (mais evidente à direita); genitália externa masculina (sem pelos pubianos ou axilares) e testículos com cerca de 3-4 cm no seu maior comprimento. O seu cariótipo revelou uma constituição cromossômica 47,XXY[3]/46,XY[21], compatível com o diagnóstico de síndrome de Klinefelter em mosaico. Conclusão: a síndrome de Klinefelter é uma doença genética causada por um cromossomo X adicional em homens (47,XXY) que se caracteriza clinicamente por hipogonadismo e infertilidade. Contudo, os seus achados clínicos são usualmente não específicos durante a infância. Déficits cognitivos específicos envolvendo a compreensão da linguagem e o funcionamento executivo fazem parte do espectro clínico da síndrome de Klinefelter. Embora a maioria dos estudos descreva apenas um comprometimento cognitivo leve, a síndrome tem sido descrita em 0,4% dos meninos com necessidades de educação especial e sem diagnóstico conhecido, e em 1,2% daqueles com déficit intelectual de etiologia não conhecida. O atraso no desenvolvimento neuropsicomotor é um achado comum entre estes pacientes.

Correspondência
Rua Sarmento Leite, número 245/403 - Bairro Centro
90050-170 Porto Alegre, RS, Brasil




Processo de tradução, adaptação cultural e evidências de validade das escalas SANS (Scale for the Assessment of Negative Symptoms) e SAPS (Scale for the Assessment of Positive Symptoms) para o português brasileiro

Manuella Machado Dos Santos, Luis Henrique Paloski, João André Weber de Oliveira, Tatiana Quarti Irigaray, André Goettems Bastos, Irani Iracema de Lima Argimon, Letícia Oliveira Alminhana

Instituição: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Introdução: As escalas de avaliação de sintomas negativos e positivos, SANS e SAPS respectivamente, foram criadas no intuito de desenvolver instrumentos que permitissem avaliações de sintomas psicóticos presentes em diversas psicopatologias. Ambas as escalas são constituídas por cinco eixos que devem ser analisados e preenchidos pelo profissional que realiza a avaliação do paciente. A SANS é composta pelos eixos: 1Embotamento afetivo; 2- Alogia; 3- Avolição/Apatia; 4- Anedonia/Associabilidade; 5- Atenção. A SAPS, por sua vez, é formada pelos eixos: 1- Alucinações; 2- Delírios; 3- Comportamento motor grosseiramente desorganizado; 4- Desorganização do pensamento; 5- Afeto inapropriado. Essas escalas são bastante utilizadas em vários países, no entanto, no Brasil não foi realizado nenhum estudo que tivesse como objetivo a adaptação cultural e a validação clínica desses instrumentos. Objetivos: Esse estudo possui como objetivo traduzir, adaptar culturalmente e buscar evidências de validade das escalas SANS e SAPS, visando possibilitar o seu uso adequado no Brasil. Ademais, realizar estudos de validade de conteúdo, construto, concordância interavaliadores e validade concorrente dos instrumentos também compõe os objetivos dessa pesquisa. método: O procedimento adotado para a tradução e adaptação das escalas é composto por uma série de etapas, que incluem: traduções feitas por experts; avaliação de profissionais (público-alvo) e o estudo com 30 psiquiatras/psicoterapeutas com utilização das versões em português das escalas. Serão realizadas análises para o cálculo da concordância interavaliador (Kapha), validação de conteúdo, bem como análises de confiabilidade e fidedignidade das escalas. Resultados Preliminares: O estudo está em andamento e, até o dado momento, já foram realizadas as sínteses, bem como a atualização das SANS e da SAPS de acordo com a 5ª edição do DSM. Conclusão: Espera-se que a SANS e a SAPS, assim como em outros países, apresentem índices psicométricos adequados no Brasil, alcançando alto índice de concordância interavaliadores, viabilizando, então, a sua utilização na área da Psicologia e da Psiquiatria no Brasil. Palavras-chave: Psicometria; Teste Psicológico; Escala Psiquiátrica

Correspondência
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Av. Ipiranga, 6681 Partenon
90619-900 Porto Alegre, RS, Brasil




Associação entre gênero e tipos de delitos em usuários de crack internados

Yeger M. Telles, Felipe Ornell, Vinícius S. Roglio, Juliana Nichterwitz Scherer,Flavio Pechansky, Felix H. P. Kessler

Instituição: Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas, Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Rua Professor Álvaro Alvim, 400, 90420-020, Porto Alegre, RS, Brasil

Objetivo: Analisar a associação entre gênero e tipos de delito cometido por usuários de crack. método: Estudo transversal multicêntrico com dados secundários onde foram avaliados 429 homens e 103 mulheres (n=532) com dependência de crack, recrutados em duas unidades de internação e em 6 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) de 6 capitais brasileiras. Informações sobre o envolvimento em atividades ilícitas foram obtidas através do Addiction Severity Index (ASI v.6). Associações entre gênero e tipos de ato ilícito foram investigadas por teste exato de Fisher e Razões de Prevalência (RP) e estimadas por Regressão de Poisson robusta controladas por idade, escolaridade, raça, estado civil e histórico de morar na rua. Resultados: A amostra apresentou homogeneidade entre os gêneros em relação às variáveis sociodemográficas, com idade média de 32,8 anos (dp=8,6), 63,8% negros ou pardos, 38,4% solteiros e 31% casados, 60,3% com escolaridade até o ensino fundamental e 43,8% relataram já ter morado na rua. A prevalência de histórico de detenção (H:69,9%; M:42,7%; RP=1,64; p<0,001), histórico de prisão (H:47,1%; M:29,1%; RP=1,62; p=0,002) e prisão por porte de drogas (H:26,8%; M:15,5%; RP=1,65; p=0,037) se mostrou maior para os homens. Já a prevalência de envolvimento com prostituição (H:5,6%; M:15,5%; RP=0,36; p=0,001) foi maior para as mulheres. Conclusão: As prática delitivas entre usuários de crack são distintas entre os gêneros. Enquanto homens são presos mais frequentemente, mulheres demonstram maior envolvimento com prostituição. Estes resultados estão em consonância com estudos prévios realizados em outros países. Segundo a literatura, homens costumam envolver-se mais com tráfico e, por isso, carregam maiores quantidades de drogas e acabam sendo mais detidos do que as mulheres. Além disso, nota-se que o perfil da mulher usuária de crack envolvida com prostituição costuma ser distinto das profissionais do sexo, associando-se a maiores índices de exposição à violência e aumento no risco de contaminação por doenças infectocontagiosas. Estes dados são importantes para o desenvolvimento de estratégias preventivas e políticas voltadas a esta população.




O que pensam filhos dos pacientes psiquiátricos internados?

Ana Luiza Ache, Paula F. Moretti, Rogéria Recondo, Gibsi P. Rocha, Marco Pacheco, Lucas Spanemberg

Instituição: Hospital São Lucas - PUCRS

Introdução: Atualmente, as doenças psiquiátricas na infância têm crescido cerca de 13% na comunidade. Os filhos de pacientes com transtornos mentais estão mais sujeitos a desenvolver psicopatologia. Desta forma a identificação precoce de situações de vulnerabilidade e estresse se tornam importantes para promoção de saúde e bem-estar, assim como prevenção de psicopatologia na vida adulta. Objetivo: O objetivo do estudo é compreender o que as crianças expressam em relação a doença dos pais e a internação na unidade de psiquiatria de um hospital geral. metodologia: Filhos biológicos (4-17 anos) de pacientes internados na UIP da PUCRS foram entrevistados e avaliados, assim como seus principais cuidadores durante a internação dos pais. Resultados: Foram avaliados 43 filhos de 31 pacientes, media 10.8 ± 4.19) 48% dos filhos tinham menos de 12 anos, e 48% eram do sexo feminino. 80% dos filhos perguntavam sobre a internação do familiar, e 54% perguntavam ou falavam da doença do familiar com o cuidador. Quando questionados sobre o que estava preocupando neste momento, 34% responderam que sua maior preocupação era com internação e com a recuperação do familiar internado. 32% dos indivíduos avaliados foram identificados em situação de sofrimento e encaminhados para tratamento. Conclusão: Atualmente no mundo existem poucos estudos que avaliem os filhos dos pacientes psiquiátricos, em especial no momento da internação dos pais. Em estudos realizados na Austrália e Reino Unido, as crianças apontam como o momento mais estressante de suas vidas a internação psiquiátrica dos pais. A avaliação desta população que é tão negligenciada, bem como a identificação de situações de sofrimento mostra-se muito importante, para que se possa encaminha-los para atendimento, com objetivo de proteger os menores de idade, prevenir o desenvolvimento de psicopatologia e promover bem-estar.




Psicodiagnóstico na Internação Psiquiátrica da Infância e Adolescência em hospital geral: Panorama do triênio 2015-2016-2017

Stephanie Zunino N. Guinsburg, Juliana U. Castan

Instituição: Hospital de Clínicas de Porto Alegre - HCPA

Introdução: A internação psiquiátrica de crianças e adolescentes em um hospital geral tem como principais objetivos o esbatimento dos sintomas, contenção de riscos, elucidação diagnóstica e planejamento terapêutico. O psicodiagnóstico permite, de forma relativamente breve, o acesso a questões emocionais e cognitivas do indivíduo, favorecendo um melhor conhecimento de seu funcionamento. Objetivo: Apresentar um panorama referente à realização de psicodiagnósticos em leitos de internação na especialidade da Psiquiatria da Infância e Adolescência de um hospital geral universitário no sul do Brasil. Nesta especialidade, o hospital em questão conta com quatro leitos para adolescentes e dois para crianças. método: De forma retrospectiva, realizou-se um levantamento dos psicodiagnósticos realizados em pacientes internados nos leitos da especialidade da psiquiatria da infância e adolescência em um hospital geral nos anos de 2015, 2016 e 2017. Resultados: Os principais motivos para as solicitações de psicodiagnóstico pela equipe médica foram auxílio no planejamento terapêutico (n=48) e auxílio no diagnóstico (n=24). Das 129 internações, em 65,1%, houve solicitação de psicodiagnóstico. Das 84 solicitações, 77 (91,7%) psicodiagnósticos foram realizados e liberados no prontuário eletrônico do hospital. Entretanto, analisando ao longo dos três anos, evidenciou-se uma diminuição do número de solicitações deste exame (2015=82%; 2016=63%; 2017=53% das internações). Esta diminuição parece estar relacionada à implementação da Iniciativa Choosing Wisely no hospital e à estratégia de psicoeducação, realizada pela equipe de psicologia, à equipe assistente quanto à necessidade do exame psicodiagnóstico durante a internação. Conclusão: A uma relação tênue e delicada entre a importância do psicodiagnóstico para uma melhor elucidação do caso, contribuindo no diagnóstico e planejamento terapêutico, versus o momento em que a avaliação é realizada, visto que a internação caracteriza um momento de maior fragilidade e vulnerabilidade do indivíduo.

Palavras-chave: Psicodiagnóstico; Avaliação Psicológica; Internação Psiquiátrica; Infância; Adolescência




Doença de Sanfilippo (mucopolissacaridose do tipo III): um erro inato do metabolismo caracterizado por anormalidades neurocomportamentais

Rodrigo da Silva Batisti, Bibiana de Borba Telles, Thiago Gabriel Rampelotti, Daniel Luccas Arenas, Anna Carolina Viduani Martinez de Andrade,Roberta Andrejew Caetano, Brenda Rigatti, Elisa Pacheco Estima Correia,Laura Lais Chaves, Rafael Fabiano Machado Rosa

Instituição: Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA)

Objetivo: relatar os achados neurocomportamentais de duas irmãs com o diagnóstico de doença de Sanfilippo (mucopolissacaridose do tipo III - MPS-III). metodologia: realizou-se a descrição dos dois casos e uma revisão da literatura. Resultados: a primeira paciente é o quarto filho de pais consanguíneos. Ela evoluiu com atraso de desenvolvimento neuropsicomotor. Na sua avaliação, aos 6 anos, notou-se epicanto bilateral, telecanto, raiz nasal baixa e larga, hirsutismo e pés cavus. Não havia hepatoesplenomegalia. A criança caminhava na ponta dos pés e falava somente frases incompletas. Ela estava para frequentar a escola especial. Não possuía história de crises convulsivas. Na sua avaliação radiográfica, evidenciou-se osteopenia, clavículas alargadas, sinais de moderada expansão e deficiência de modelamento da diáfise de ambos os úmeros que apresentavam aspecto tubular, arqueamento lateral de ambos os rádios e aspecto cilíndrico dos metacarpianos e falanges de ambas as mãos. A sua irmã de 11 anos apresentava alteração comportamental, com importante agitação psicomotora e dificuldade escolar. Iniciou com crises convulsivas aos 7 anos. Estava em uso de risperidona, ácido valproico, carbamazepina e prometazina. Seus achados faciais eram similares, acrescidos de cabelos secos, sobrancelhas espessas e cílios longos. A avaliação metabólica de ambas as irmãs evidenciou a presença de heparan sulfato na urina e diminuição da dosagem da enzima acetilCoa glicosamina N-acetiltransferase em leucócitos. Estes resultados foram compatíveis com o diagnóstico de MPS-III. Conclusão: a MPS-III é uma doença genética autossômica recessiva rara. Estes pacientes apresentam um quadro neurodegenerativo grave de início precoce, com proeminentes distúrbios de cognição, comportamento e convulsões. Diferentemente do quadro clássico das mucopolissacaridoses, a MPS-III usualmente apresenta um menor envolvimento esquelético e de órgãos internos, como o fígado e o baço. O diagnóstico é importante tanto para melhorar o tratamento de suporte dos pacientes como para o aconselhamento genético da família. Nestes casos, os pais apresentam um risco de recorrência para um filho afetado de 25%.

Correspondência
Rua Sarmento Leite, número 245/403 - Bairro Centro
90050-170 Porto Alegre, RS, Brasil




Síndrome de Cockayne e sua associação com sintomas neurológicos e comportamentais

Rodrigo da Silva Batisti, Bibiana de Borba Telles, Thiago Gabriel Rampelotti, Daniel Luccas Arenas, Anna Carolina Viduani Martinez de Andrade, Elisa Pacheco Estima Correia, Brenda Rigatti, Elisa Pacheco Estima Correia, Paulo Ricardo Gazzola Zen, Rafael Fabiano Machado Rosa

Instituição: Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA)

Objetivo: descrever uma paciente com diagnóstico de síndrome de Cockayne, uma doença autossômica recessiva rara, caracterizada por envelhecimento precoce e um quadro neurodegenerativo. metodologia: fez-se o relato do caso junto com uma revisão da literatura. Resultados: a paciente, uma menina, foi avaliada inicialmente aos 3 anos por apresentar microcefalia, atraso no desenvolvimento neuropsicomotor e de fala (ela ainda não andava sem apoio e falava apenas dissílabas) e alterações cerebrais. Estas consistiam de atrofia, calcificações em gânglios da base e sinais de desmielinização. Ela era filha de pais consanguíneos (primos em primeiro grau). Não havia casos semelhantes ao dela na família. Ao exame físico, observou-se nanismo (estatura de 78 cm, abaixo do percentil 3, com média para 1 ano e 4 meses), microcefalia absoluta e relativa (o perímetro cefálico era de 39 cm - abaixo do percentil 2), micrognatia, e lesão hiperemiada e descamativa em face, indicativa de reação de fotossensibilidade. Conclusão: a soma dos achados apresentados por nossa paciente foi compatível com o diagnóstico de síndrome de Cockayne. Esta é uma condição genética caracterizada por retardo de crescimento e degeneração multissistêmica, com variável idade de início e índice de progressão. A fotossensibilidade da pele pode levar a problemas com a exposição solar. A consanguinidade observada entre os pais correlaciona-se com a etiologia da síndrome, uma vez que esta é uma condição autossômica recessiva. A síndrome de Cockayne é uma doença de evolução progressiva, sendo que em relação ao prognóstico, a sobrevida média destes pacientes é de cerca de 12 anos de idade (devido, principalmente, a problemas respiratórios como a pneumonia). Anormalidades neurológicas são comuns entre estes pacientes, podendo incluir tanto crises convulsivas como alterações comportamentais.

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Depressão: Incidência em paciente com Epilepsia Refratária internados para Videomonitorização em um Hospital Geral.

Fernanda Rohrsetzer, Juliana U. Castan

Instituição: Hospital de Clínicas de Porto Alegre, HCPA

De acordo com dados da OMS de 2015, estima-se que mais de 300 milhoes de pessoas no mundo sofram de depressão, equivalente a 4.4% da população mundial. No Brasil, esta taxa é de 5.8%. Epilepsia é um transtorno neurológico crônico caracterizado por crises convulsivas recorrentes e por seus efeitos neurobiológicos, cognitivos, psicológicos e sociais. Cerca de 20 a 50% dos pacientes com Epilepsia Refratária apresentam comorbidade psiquiátrica, especialmente depressão. Objetivo: verificar níveis de sintomas de depressão em pacientes com Epilepsia Refratária do Lobo Temporal (ELT), internados para videomonitorização em um hospital geral universitário. O hospital conta com dois leitos equipados para videomonitorização.. método: estudo exploratório, transversal e quantitativo. Níveis de sintomas de depressão foram obtidos através da Escala Beck de Depressão (BDI). A amostra constituiu-se de pacientes internados para videomonitorização da epilepsia, no período entre janeiro de 2016 e dezembro de 2017. Resultados: Dos 100 pacientes videomonitorizados durante este período, 67 responderam a BDI. Destes, 63% pontuaram o equivalente a sintomas de depressão classificado em níveis Mínimo ou Leve; 32% em nível Moderado e 5% em nível Grave. Conclusão: Os níveis de sintomas de depressão da amostra deste estudo foram consideravelmente superiores à prevalência mundial e brasileira. Esta realidade aponta para a importância de um diagnóstico em tempo hábil com o objetivo de obter tratamento adequado para esta população.




Importância da delimitação do perfil clínico dos usuários de crack

Larissa Figueiredo Paes, Luana Larissa Schmitt da Silva, Lincoln Matheus Monçon Severo, Sofia Perez Lopes da Silveira. Isabela Terra Raupp, Almerindo Antônio Boff

OBJETIVOS: Realizar uma revisão bibliográfica abordando a literatura nacional e internacional a fim de melhor compreender a dependência de crack, aprofundando os conhecimentos sobre essa patologia e suas comorbidades. METODOLOGIA: Foi realizada uma revisão bibliográfica em publicações até 8 de maio de 2018, foram adquiridas de fontes específicas: UpToDate, PubMed, Pepsic e SciELO, de acordo com critérios pré-determinados para seleção de artigos. RESULTADOS: Epidemiologia: Prevalência de problemas clínicos: depressão 56%, comportamento de quebra de regras 70,3%, problemas internalizantes 77,4%, problemas externalizantes 77,4%. Patogênese: o modelo dos transtornos por uso de substância resulta de um processo no qual diversos fatores interagem e influenciam o comportamento do uso de crack e a minimização do discernimento acerca da utilização de tal substância. Portanto, a facilidade de acesso à droga e sua aceitação social podem ser os determinantes principais da experimentação inicial, mas outros fatores como a personalidade e a biologia de cada indivíduo provavelmente são pontos de grande valia para determinar os efeitos da droga, como o grau em que seu uso frequente gera modificações no SNC. Comorbidades: Entre os usuários de crack, os problemas internalizantes e externalizantes apresentam a mesma proporção. Os problemas de comportamento internalizantes são qualificados por dificuldades sociais, como ansiedade, depressão e sentimento de inferioridade, outrora os externalizantes se apresentam com características tal qual desafio, impulsividade, agressividade e hiperatividade, fortalecendo os conflitos com o ambiente. Diagnóstico: a dependência se caracteriza pelo uso repetitivo de uma droga ou substância química, com ou sem dependência física. Esta indica uma alteração fisiológica promovida pela administração repetida de uma droga, cuja a cessação abrupta resulta em uma síndrome específica. CONCLUSÃO: A pesquisa de revisão possibilitou conhecer o perfil clínico dos usuários de crack. A delimitação desse perfil permite o desenvolvimento de estratégias de intervenção e prevenção mais assertivas a partir da adaptação do tratamento às características dos grupos, assim melhorando a aderência e a eficácia.




Transtorno de pânico: diagnóstico e conduta

Lincoln Matheus Monçon Severo, Luana Larissa Schmitt da Silva, Larissa Figueiredo Paes, Sofia Perez Lopes da Silveira, Isabela Terra Raupp, Almerindo Antônio Boff

OBJETIVOS: o presente estudo busca apresentar os aspectos necessários para identificar a síndrome do pânico, juntamente às suas principais características e ao seu manejo clínico. METODOLOGIA: Para realização da pesquisa foram utilizados artigos publicados até agosto de 2017 nas bases de dados SciELO, PePSIC, além de livros e da Revista Brasileira de Psiquiatria. RESULTADOS: Epidemiologia: A prevalência de transtorno de pânico varia de 1 a 4% ao longo da vida e costuma surgir no início da idade adulta - com média de 25 anos -, sendo as mulheres três vezes mais acometidas por essa patologia. Em relação às comorbidades, 91% dos pacientes com tal condição apresentam outra doença psiquiátrica, sendo um terço destes diagnosticados com transtorno depressivo maior. Manifestações clínicas: O primeiro ataque de pânico pode ser espontâneo ou estar associado a algum fator estressor como trauma emocional moderado, exercícios físicos ou uso de substâncias; sendo a associação ou não desse ataque a outro fator de indispensável investigação. Diagnóstico: o diagnóstico de transtorno de pânico se da por ataques de pânico recorrentes e inesperados, nos quais ocorrem quatro ou mais sintomas dentre os quais estão taquicardia, sudorese, tremores, falta de ar ou asfixia, náusea ou desconforto abdominal, vertigem, calafrios, desmaios, parestesia, desrealização, medo de perder o controle, enlouquecer, medo de morrer. Um a dois terços dos pacientes diagnosticados com transtorno de pânico evoluem para uma condição denominada agorafobia, caracterizada por medo de ter outro ataque de pânico associado à evitação de lugares e situações cujo escape ou obtenção de ajuda sejam difíceis Manejo: o tratamento do transtorno de pânico se da tanto com abordagem psicológica, por meio dos ISRSS e dos benzodiazepínicos, quanto com a abordagem psicológica, sendo a terapia cognitivo-comportamental bastante eficaz. CONCLUSÃO: A pesquisa de revisão possibilitou evidenciar aspectos importantes a respeito do transtorno de pânico e do seu manejo. A promoção de saúde e uma boa abordagem do paciente com essa patologia são essenciais para amenizar o número e a intensidade de ataques de pânico, de modo a reduzir danos.




Adaptação transcultural da escala AANEX (Apprasials of Anomalous Experiences)

Juliana Schmidt Raddatz, Marcela Alves Sanseverino,Aline Ponzzoni, Letícia Oliveira Alminhana

Contexto: Alguns modelos cognitivos sugerem que os sintomas positivos da psicose, também chamados de experiências anômalas, podem levar a quadros clinicamente relevantes, dependendo de como essas experiências são auto avaliadas, o contexto onde ocorrem, e sua resposta emocional. Pessoas da população geral, têm relatado a presença de sintomas como ouvir vozes, pseudo-alucinações e crenças incomuns, sem apresentarem ansiedade em relação a isso. Dessa forma, parece haver alguns critérios que definem quando uma determinada experiência se tornará patológica ou não. Assim, é importante conseguir identificar os fatores protetores em indivíduos que apresentam experiências anômalas, prevendo o desenvolvimento dos sintomas relacionados com a psicose, através da avaliação das respostas cognitivas e do sofrimento em relação aos sintomas. Objetivo: Como objetivo deste trabalho, visamos a adaptação transcultural da escala AANEX (appraisals of anomalous experiences inquiry). método: 1. Tradução por dois experts; 2. Síntese das traduções por um terceiro juiz; 3. Retrotradução (aprovada pela pesquisadora que criou a escala). A partir desta versão, serão convidados 10 profissionais (5 psicólogos e 5 psiquiatras) para a realização da validade de conteúdo. Dois psicólogos e três psiquiatras aplicarão a AANEX em pacientes com diagnósticos do espectro da esquizofrenia; Três psicólogos e dois psiquiatras aplicarão a escala em pessoas que relataram a presença de experiências anômalas, sem diagnóstico. Além da escala de validação de conteúdo e concordância Inter avaliadores, também será realizado um grupo focal depois da aplicação da escala, com os 10 profissionais, a fim de observar qualitativamente a compreensão e dificuldades de aplicação da escala. Resultados: O estudo ainda está em fase inicial. Conclusão: futuros estudos deverão realizar validações com um número maior de participantes, bem como, com a utilização de grupos de comparação. Tais estudos, poderão contribuir para o aumento da compreensão das experiências anômalas, indicando fatores de risco e proteção para o desenvolvimento de transtornos mentais graves.

Palavras-chave: Validação de escala; Experiências anômalas; Diagnóstico diferencial




Relação entre tentativas de suicídio e letalidade no Rio Grande do Sul em 2017 segundo o Centro de Informações Toxicológicas do estado (CIT/RS)

Ricardo Tavares Monteiro, Gibsi Maria Possapp Rocha, Carlos Alberto Spalding Lessa, Rogério Grossmann, Carlos Augusto Mello da Silva

Instituição: Centro de Informações Toxicológicas do Rio Grande do Sul (CIT/RS)

Objetivo: estabelecer o perfil sociodemográfico das tentativas de suicídio (TS) no Rio Grande do Sul no ano de 2017, e compreender a relação entre essas tentativas e sua letalidade conforme o agente escolhido. metodologia: os dados foram coletados a partir do registro dos atendimentos em telemedicina realizados pelo Centro de Informações Toxicológicas do Rio Grande do Sul (CIT/RS). Resultados: no ano de 2017, foram registradas 5153 tentativas de suicídio (TS) no estado. Dessas, 3820 (74,1%) por mulheres e 1333 (25,9%) por homens. Os óbitos por suicídio invertem a incidência segundo o sexo: 35,71% dos óbitos são femininos, enquanto 64,29% são masculinos. A faixa etária com maior incidência de TS é dos 20 aos 29 anos, com um total de 1254 (24,3%), seguida do grupo dos 30 aos 39 anos, com 1077 (20,9%); o terceiro grupo, por fim, de 15 a 19 anos, com 955 (18,5%). Os principais agentes para a TS variam conforme faixa etária, porém o mais frequente em todas as idades é o uso de medicamentos. Isso não corresponde, no entanto, ao agente com maior letalidade. No ano analisado, os principais agentes para TS foram Medicamentos 4277 (83%), Associação de Grupos 300 (5,8%), Raticidas 194 (3,7%) e Pesticidas Agrícolas 152 (2,9%). Os óbitos, no entanto, ocorreram principalmente por Produtos Químicos Industriais (6,82%), Pesticidas Agrícolas (1,97%), Associação de Grupos (0,67%). As medicações constam como 4º principal grupo nos óbitos com incidência de 0,14%. Conclusão: o perfil epidemiológico das tentativas de suicídio no Rio Grande do Sul em 2017 mostrou maior incidência no sexo feminino, enquanto os óbitos foram maiores no sexo masculino. A faixa etária mais comum foi o grupo dos 20 aos 29 anos, e o principal agente foram as medicações. O agente de maior letalidade, no entanto, são os Produtos Químicos Industriais.

Correspondência
Av Ipiranga, 5400 - Jardim Botânico
90610-000 Porto Alegre, RS, Brasil




Estudo de caso de paciente de 14 anos com pensamentos homicidas, de canibalismo, ideação suicida, com resposta parcial à eletroconvulsoterapia

Recuero T. C., Radins B. R., Tisott C. G. e Rheinheimer, Berenice

Instituição: Hospital Materno Infantil Presidente Vargas

Objetivo: Este relato tem o objetivo de apresentar o caso e a sua evolução, fomentar a discussão de diagnósticos diferenciais e avaliar novas possibilidades terapêuticas. Apresentação do caso: A.Y., 14 anos, feminina, asiática, procedente de litoral do RS, internou na Unidade Psiquiátrica de Hospital Geral por apresentar ideias homicidas (pensamentos sobre cometer uma 'chacina' em sua escola), pensamentos de canibalismo, 'beber sangue' e ideação suicida. Escreveu uma carta, sobre "pensamentos e desejos" e ideação suicida, sendo sugerida a internação psiquiátrica. Os sintomas não causavam estranheza ou repugnância a ela. Apresentou duas tentativas de suicídio prévias, aos 13 e 14 anos, ambas por ingesta de medicamentos. Realizava automutilação, diariamente, visando aliviar sentimentos de angústia. Referia tristeza, choro excessivo, desesperança, insônia e distorção da imagem corporal há 1 ano. Em locais de aglomeração de pessoas, ficava ansiosa e em duvida se estariam falando dela. É descrita pela mãe como 'manipuladora' e não sentindo remorso ou empatia. Foi iniciado Sertralina, até a dose de 200mg/dia. Associou-se Risperidona e foi substituída por Aripiprazol (30mg/dia) devido ocorrência de paraefeitos. Apresentou melhora da ideação suicida e dos sintomas depressivos/ansiosos. Permanecia a discrição dos pensamentos homicidas, direcionado a outros. A paciente seguia reafirmando que poderia cometer crimes, não demonstrando teatralidade ou preocupações. Após 3 meses de internação, com ausência de resposta aos pensamentos homicidas, houve a indicação de Eletroconvulsoterapia. Foram realizadas 12 sessões de ECT, todas com estímulo bitemporal, onde a variação da potência foi de 6,1-10,1J e do tempo de estímulo foi de 2,16s-3,6s. Os tempos de convulsão foram de 16s-65s. Apresentou melhora dos sintomas, com diminuição da intensidade e da quantidade dos pensamentos, melhora do insight e do risco de heteroagressão. Discussão: A prevalência de episódios psicóticos em adolescentes entre 13 à 18 anos é de 7,5%. Questionamos se os pensamentos de heteroagressão ocorrem como consequência de psicose, por seu caráter bizarro. A indicação do ECT foi baseada nesta possibilidade. Pela idade da paciente não se pode diagnosticar transtorno de personalidade antissocial. Este caso é incomum, devido a dificuldade de definir psicose ou pródromos de transtorno antissocial. Considerações Finais: Apesar da melhora dos sintomas, existe escassa literatura sobre o quadro do caso, mostrando a importância deste relato. Há necessidade de seguimento e acompanhamento para avaliação do diagnóstico e evolução do quadro.

Correspondência
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Porto Alegre, RS, Brasil
Telefone para contato: (53) 999823017




Avaliação dos níveis de BDNF em pacientes hospitalizados por trauma físico - Hospital de Emergência de Porto Alegre, RS

Cleonice Zatti, Luciano Santos Pinto Guimarães, Márcia Rosane MoreiraSantana, Eliana Ferreira Gonçalves Scherner, Emílio Salle, Renato Piltcher,Mariana Lunardi Spader, Vitor Crestani Calegaro, Bianca Wollenhaupt deAguiar, Lúcia Helena Machado Freitas

Introdução: Diversos centros de pesquisa, principalmente americanos, israelenses e australianos, vêm se destacando na realização e publicação de projetos investigativos em múltiplas direções. Abrangem desde a validação diagnóstica, passando pela busca de marcadores e/ou achados neuroendócrinos relevantes, até a proposição e testagem de diferentes modalidades terapêuticas para o TEPT1. Em nosso meio também tem surgido estudos sobre a presença de alterações nos níveis do fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) nos transtornos de estresse2. Frente às evidências epidemiológicas e aos achados de pesquisas acima mencionados, fica evidente a necessidade de um maior entendimento do TEA. Objetivos: Verificar os níveis de BDNF em pacientes que sofreram trauma físico associando-os com TEA. MÉTODOS: Foram selecionados pacientes acima de 18 anos, vítimas de trauma físico suficientemente grave e recomendados para hospitalização pelo médico clínico por um período mínimo de 48 horas. A amostra foi de conveniência (n=117), o período de coleta ocorreu entre 22 de julho de 2013 a 19 de dezembro de 2014. Os níveis séricos de BDNF foram medidos pelo método ELISA sanduíche, usando um kit comercial de acordo com as instruções do fabricante (Milipore, EUA). Instrumentos: 1) Questionário sociodemográfico; 2) Mini-International Neuropsychiatric Interview (MINI). RESULTADOS: Os sujeitos que aceitaram participar da pesquisa foram discriminados por turno, sendo que 38 sujeitos tiveram o BDNF e demais questionários respondidos no turno da manhã, e 79 sujeitos no turno da tarde (Masculino n=103; feminino n=14). Encontramos uma diferença significativa entre as distribuições do BDNF entre os turnos, sendo que o grupo que realizou a testagem no turno da tarde o resultado do BDNF foi maior (U=1906,5 ; p=0,018), conforme apresentado na tabela 1. Foi encontrada diferença estatística entre três subníveis do TEA somente no período da tarde. Sujeitos (n=7) com TEA A1 (UTarde=892; pTarde=0,013), A2(UTarde=1005; Tarde=0,025) e A (UTarde=581;pTarde=0,044) apresentaram distribuição de BDNF menor quando comparado com a distribuição de sujeitos sem TEA. CONCLUSÕES: A população cuja coleta ocorreu à tarde apresentou valores significativamente maiores de BDNF em relação à coleta do turno da manhã. Além disso, foi possível hipotetizar que os menores valores de BDNF aferidos na coleta do turno da manhã se devam a uma resposta ao ciclo circadiano do cortisol, cuja ação inibe a expressão da neurotrofina sérica. A dosagem de BDNF nesse estudo não foi suficiente para distinguir pacientes com TEA (apenas com seus subníveis) e sem TEA. Consideramos este ponto uma limitação quanto à amostra. Dessa forma, mais estudos são necessários para uma associação mais precisa dos níveis de BDNF e o desenvolvimento de TEA.







Suicidal behaviors according to main reason for the psychiatric care in patients attended in the emergency management of a General Hospital

Rochelle Affonso Marquetto, Augusto Martins Lucas Bittencourt, Bruno Lodi, Fernanda Ziegler Bennemann, Liz Lopes Sombrio, Tatiana Verardi Pedroso Basso, Luiza Helena Meneghetti Gonçalves, Nickolle Lorandi Pasche, Aline Parisotto, Melina Friedrich, Luis Souza Motta, Marco Antônio Pacheco, Lídia Maria Bersano, Lucas Spanemberg

Institution: Psychiatric Hospitalization Unit of São Lucas Hospital of Pontifical Catholic University of Rio Grande do Sul (PUCRS) and Specific Nucleus of Training in Psychiatry of the School of Medicine of PUCRS

Introduction: Suicidal behavior is an important cause of morbidity and mortality of the world and an important cause of attending of medical emergency. Objective: To identify the association between suicidal behavior and main reason for the psychiatric attending by Psychiatric Emergency Management Team (PEMT) in a General Hospital. methods: A descriptive cross-sectional study, the database was collected by personalized interview protocol, that compose the attending register of PEMT in the emergency at São Lucas Hospital of PUCRS. The data were obtained from January 2016 to March 2018, with all of patients registers. The register contains socio demographic and clinical data, further on diagnostic hypothesis made by psychiatric trainee on call through CID-10 and Suicide Risk model by MINI International Neuropsychiatric Interview (MINI 5.0). The association between Suicide Risk (SR) and main reason for the psychiatric care were tested for chi-square test of SPSS 21.0. program. Results: Were found 1531 registers, being 63,4% of female. The main reason was Suicidal Ideation (20.4%), Suicide Attempt Set (18.4%), Depressive Symptoms (12.5%), Anxious Symptoms (11.5%), Psychotic Symptoms (10,4%), Behavior Change (7.3%), Use and abuse of drugs/ medicines (6.3%). Among those diagnosed with Suicidal Ideation 82% were SR, Suicide Attempt with 92.2%, Depressive Symptoms with 28.8%, Anxious Symptoms with 10.2%, Psychotic Symptoms with 13.8%, Behavior Change with 11.6% and Use and abuse of drugs / medicines with 16.5%. Discussion: This study showed the most of patients who came to get care for suicidal ideation and suicide attempt, presented high suicide risk. However, should be seem that patients who came to get care for other reasons also presented high suicide risk, remembering this should always be evaluated.




Traços de personalidade e sua relação com planejamento e tentativa de suicídio

Stephan Espinosa Meirelles, Aline Damé Vogg, Cauê Negrinho Attab, Diana Kuhn, Ronaldo Rodrigues de Oliveira, Émile Hirdes Krüger, Rafael Moreno Ferro de Araújo

Objetivo: a prevalência, características e métodos do comportamento suicida variam amplamente entre grupos demográficos e comunidades diferentes, mas estima-se que, anualmente, mais de 800.000 pessoas cometam suicídio no mundo, e que para cada suicídio haja muitos outros indivíduos com comportamento suicida. O objetivo principal foi diferenciar os traços de transtornos de personalidade de indivíduos que planejaram o suicídio daqueles que tentaram suicídio em algum momento da vida, assim como as características da tentativa de suicídio em relação ao método (agressivo ou não-agressivo) e planejamento da tentativa (impulsiva ou planejada). métodos: 40 pacientes participaram do estudo (72,5% das mulheres). A média de idade foi de 38,3 anos, com predomínio de indivíduos com ensino fundamental incompleto (57,5%). Um total de 31 pacientes (77,5%) tentou o suicídio em algum momento da vida, enquanto 9 (22,5%) tiveram ideação suicida com plano sem nunca tentar suicídio. Para avaliar os sintomas dos 10 transtornos de personalidade incluídos no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - Quarta Edição (DSM-IV-TR) utilizamos o Questionário de Diagnóstico de Personalidade para o DSM-IV (PDQ-4). O comportamento suicida foi avaliado através do instrumento Mini International Neuropsychiatric Interview (MINI). Resultados: o escore do PDQ-4 nos pacientes apresentou uma média de 4.5 características limítrofes, superior a outras características de personalidade. A menor média de traços de personalidade entre os participantes foi a personalidade anti-social (1,8). Indivíduos com mais traços de personalidade histriônicos tendem a planejar mais do que agir impulsivamente quando tentam suicídio (mediana 3 vs 2, p = 0.039). Conclusões: Nossos achados apontam que traços de personalidade histriônicos estão associados a tentativas de suicídio planejadas. Entretanto, estudos futuros com amostras maiores e distribuição homogênea entre os grupos de planejamento e de tentativa de suicídio serão necessários para confirmar nossos resultados.




Associação entre história de vivências traumáticas e tentativa de suicídio em pacientes atendidos no Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre, RS

Cleonice Zatti, Luciano Santos Pinto Guimarães; Mauro Soibelman, Márcia Rejane Semensato; Vítor Crestani Calegaro, Lúcia Helena Machado Freitas

Introdução

A tentativa de suicídio deve ser encarada como um problema de saúde pública. Esta é uma tarefa bastante ampla, pois demanda treinamento dos profissionais da saúde para detecção do risco de suicídio, bem como a prevenção nos seus diferentes níveis e tratamento de imediato.1,2. Objetivo: Esta investigação teve como objetivo principal estudar a existência de associação entre tentativa de suicídio (TS) e trauma na infância em pacientes atendidos no Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre - RS. métodos: Tratou-se de um estudo de caso-controle (28 casos; 56 controles). O estudo foi realizado de 20 de agosto de 2015 a 21 de março de 2016, utilizando os seguintes instrumentos: Childhood Trauma Questionnaire (CTQ); Questionário sociodemográfico. Resultados: A amostra examinada (n=84) demonstrou distribuição semelhante em relação ao gênero (M/F = 46,4%/53,6%), com idade média de 35,6 anos (DP=12,8). Através do instrumento CTQ foram avaliados os traumas na infância. Os grupos apresentaram médias distintas nas variáveis abuso emocional (p<0,001), abuso físico (p<0,001), negligência emocional (p<0,001) e negligência física (p<0,001). Abuso emocional foi a variável com maior diferença de médias entre os grupos, seguida de negligência emocional (5,3 e 5,1, respectivamente). Conclusões: Os resultados deste estudo apontaram a adoção de ações preventivas e terapêuticas relacionadas a maus-tratos durante o desenvolvimento infantil como um fator importante na redução de risco para o suicídio. Em se tratando de tendências à autodestruição e aspectos transgeracionais ligados à pulsão de morte, profissionais da área de saúde mental devem buscar uma atenção preventiva quando observado estes incrementos.







Leucopenia induzida por Carbamazepina em paciente transgênero em uso de Terapia Hormonal

Thricy Dhamer

Introdução: A carbamazepina é um derivado tricíclico do iminostibeno. O mecanismo exato de sua ação anticonvulsiva é desconhecido, pode deprimir a atividade do núcleo ventral anterior do tálamo, pode atuar no SNC diminuindo a transmissão sináptica ou a adição da estimulação temporal que dá origem à descarga neuronal, estimula a liberação de hormônio antidiurético. Além disso, apresenta ações anticolinérgicas, antidepressivas, inibidora da transmissão neuromuscular e antiarrítmica. Além das indicações bem conhecidas, é recomendada como sintomática no controle de impulsos e em terapia combinada na desintoxicação alcoólica. Objetivo: Apresentar um caso de leucopenia induzida por carbamazepina em associação a terapia hormonal em paciente transgênero. Relato de caso: Paciente transgênero de masculino para feminino, 23 anos, sem profissão definida, ensino médio incompleto. Interna compulsoriamente em ala psiquiátrica da Sociedade Beneficente Hospital Candelária para desintoxicação pelo uso de álcool. Fazia uso de cerca de 1-1,5litros de cachaça ao dia, há 6 anos, com piora acentuada no último ano. Último uso 3 dias antes da internação. Duas internações psiquiátricas prévias por motivos semelhantes, tendo permanecido abstinente por no máximo 75dias, não estava em uso de medicações psiquiátricas prescritas, em uso apenas de contraceptivo hormonal oral (Diane 35), sem acompanhamento médico. Sem comorbidades. Paciente chega em estado précontemplativo, humor disfórico, irritadiço, negando tremores, náusea, vômitos ou outros sintomas de abstinência, sem juízo crítico dos prejuízos do álcool. Durante a internação, iniciada carbamazepina com progressão gradual a 600mg, citoneurim e diazepam. Realizadas entrevistas motivacionais, com boa aceitação, seguindo as regras instituídas. Laboratoriais, que eram normais na chegada, após 7 dias de uso das medicações, apresentaram leucopenia (leucócitos totais 2396, segmentados 1289), sem demais alterações. A carbamazepina foi suspensa abruptamente, com recuperação completa do leucograma após 3 dias, sendo leucócitos totais 5305 e segmentados 2544. Recebe alta após21 dias, em condições para tal. Discussão: A carbamazepina é uma medicação eficaz e bem tolerada na abstinência alcoólica, sendo uma alternativa aos benzodiazepínicos, apresenta menos potenciação dos efeitos cognitivos do consumo do álcool e não tem os efeitos de dependência ou tolerância1. A carbamazepina demonstrou-se superior ao lorazepam ao diminuir o consumo de álcool, isto é, dias de consumo após o término da desintoxicação, principalmente daqueles pacientes com história prévia de múltiplas desintoxicações. A dosagem indicada varia de 400 a 800mg/dia2. A reação adversa a medicamento é "qualquer resposta prejudicial ou indesejável e não intencional que ocorre com medicamentos em doses normalmente utilizadas no homem para profilaxia, diagnóstico, tratamento de doença ou para modificação de funções fisiológicas". Alterações hematológicas são uma das reações adversas relativamente frequentes com o uso da carbamazepina, entre elas, destaca-se a leucopenia. A leucopenia é definida como o número total de leucócitos inferior a 3.500. Contudo, na maioria dos casos, estes efeitos mostram-se transitórios e são indícios improváveis de um princípio de anemia aplástica ou agranulocitose. Recomenda-se intensificar a monitorização laboratorial no caso de alterações agudas, considerando descontinuação da medicação. A carbamazepina é um potente indutor de CYP3A4 e de outros sistemas de enzimas fase I e fase II no fígado, e pode, portanto, reduzir as concentrações plasmáticas de medicações concomitantes metabolizadas principalmente pelo CYP3A4, por indução do seu metabolismo. A associação entre carbamazepina e contraceptivo hormonal oral pode afetar significativamente a ação esperada do último, comprometendo a ação terapêutica esperada, tendo em vista a diminuição dos níveis séricos do mesmo pela competição entre os fármacos durante a(s) fase(s) de metabolização. Porém, observou que a interação medicamentosa apresentada pelo paciente em questão não demonstrou aumento do risco de efeitos adversos, como pudera ser suspeitado no início do atendimento. Conclusão: A carbamazepina é um potente indutor enzimático hepático e apresenta interação medicamentosa intensa. Desta forma, sempre que a medicação for usada, salienta-se a importância de estar atento para as alterações das concentrações plasmáticas resultantes, bem como dos possíveis efeitos adversos.




Prevenção do risco de suicídio em idosos: influência dos fatores de personalidade do Big Five

Letícia Güenter, Isadora Ferreira Teixeira, Paula Engroff, Ornella Di Leone,Gabriel Behr Gomes Jardim, Lucas Spanemberg, Alfredo Cataldo Neto

Introdução: A taxa de suicídio em indivíduos acima dos 70 anos, no Brasil, foi de 7,8 mortes a cada 100.000 habitantes, em 2006, enquanto na população geral esse índice era de 5,7 em 100.000. Recentemente, um grande número de estudos encontrou associação entre os fatores da personalidade (Big Five) e doenças mentais em idosos, principalmente transtornos do humor. O risco de suicídio foi pouco estudado. O modelo dos Cinco Grandes Fatores (CGF) é um dos mais extensamente aceitos no mundo científico, com validade da sua utilização em amostras brasileiras. Os CGF são: neuroticismo, extroversão, abertura à experiência, agradabilidade e consciencialidade. Este estudo se propõe a investigar a associação entre os fatores de personalidade e o risco de suicídio em idosos. métodos: O estudo foi realizado a partir de um banco de dados produzido pelo projeto de pesquisa "Influência das características de personalidade e apego no desenvolvimento, manifestação clínica e prognóstico dos transtornos cognitivos", gerado por coletas feitas de julho de 2015 a julho de 2016 na população em acompanhamento da coorte de base populacional intitulada Programa de Envelhecimento Cerebral (PENCE), totalizando 271 idosos. Foram coletados dados de risco de suicídio (Mini Entrevista Neuropsiquiátrica Internacional - MINI) e de avaliação de personalidade (Inventário de Personalidade - NEO-FFI-R). Foi utilizada análise estatística com teste de qui-quadrado e regressão de Poisson.

Resultados





Dentre os sujeitos que apresentavam risco de suicídio, 18 deles apresentavam níveis altos de neuroticismo (p < 0,01), 5 deles apresentavam níveis altos de extroversão (p < 0,001), 4 deles apresentavam níveis altos de abertura a experiências (p < 0,942), 10 deles apresentavam níveis altos de agradabilidade (p < 0,005) e 14 deles apresentavam níveis altos de consciencialidade (p < 0,029). A razão de prevalência controlada para sexo, idade, escolaridade, cognição e escore de maus tratos infantis para extroversão foi de 0,314 (IC 0,116-0,851; p < 0,05), para abertura a experiência foi de 0,801 (IC 0,259-2,482), para agradabilidade foi de 0,369 (IC 0,1500,903; p < 0,05) e para consciencialidade foi de 0,382 (IC 0,149-0,976; p < 0,05). A razão de prevalência de neuroticismo não foi computada porque todos os sujeitos com risco de suicídio apresentavam altos escores do traço. Conclusão: Os traços de personalidade extroversão, agradabilidade e consciencialidade são fatores de proteção para o desenvolvimento de futuro risco de suicídio. A abordagem desses traços em modelos psicoterapêuticos pode prevenir o suicídio nas pessoas idosas.




Mudança de personalidade pós traumatismo cranioencefálico grave: relato de caso

Caroline Fredi Almeida

Introdução: A definição de Traumatismo Cranioencefálico (TCE), pelo Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC), é uma lesão causada por um trauma externo, traduzido por: perda de consciência, amnésia, anormalidades neurológicas ou neuropsicológicas, fraturas de crânio e lesões intracranianas diagnosticadas ou morte1. Em 2010, nos Estados Unidos, os TCEs representaram aproximadamente 2,5 milhões de consultas na emergência, destes, aproximadamente 87% foram tratados e liberados, outros 11% foram hospitalizados e aproximadamente 2% morreram. Além disso, distúrbios neurológicos e psiquiátricos secundários, podem ocorrer pós TCE, como a epilepsia pós-traumática e distúrbios do humor1. Os transtornos psiquiátricos constituem uma das comorbidades mais prevalentes pós TCE, dentre eles, destacam-se a Depressão Maior e as Alterações de Personalidade2. Objetivo: Relatar um caso de paciente com mudança de personalidade após Traumatismo Cranioencefálico Grave - subtipo combinado. Relato de caso: Paciente sexo masculino, 54 anos, aposentado, ensino fundamental incompleto, interna no Instituto Psiquiátrico Forense de Porto Alegre (IPF), cumprindo Medida de Segurança devido a homicídio praticado em setembro de 2005. Vem apresentando, nos últimos anos, maior hostilidade, agressividade e impulsividade. Em novembro de 1998, após sofrer um acidente doméstico, fez um TCE Grave, sendo submetido à craniotomia e após 25 dias de internação recebeu alta hospitalar com prescrição de fenitoína 300 mg/dia e fenobarbital 100mg/noite. Aproximadamente um ano após o TCE, separou-se de sua esposa, com quem estava casado há trinta anos, devido a discussões frequentes. Tendo logo em seguida iniciado outro relacionamento. Alguns anos depois, em 2005, após ter chegado em casa, foi tomar chimarrão e diz ter escutado reclamações da companheira sobre a desorganização da casa, ouviu dela a seguinte frase: "Agora quem manda aqui sou eu e te comporta velho senão eu te corro daqui". Logo em seguida, ele dirigiu-se até ela, empurrando-a e jogando-a ao chão, pegou sua enxada e desferiu cinco golpes na cabeça de sua parceira, provocando sua morte. Perguntado sobre o que fez, disse que no momento em que cometia o crime, não se dava conta do que fazia. Sobre os momentos posteriores ao fato, disse: "Arrastei o corpo para um canto, limpei minhas mãos e fui tomar meu chimarrão". O paciente relata que alguns minutos mais tarde chega a sua casa a brigada militar dizendo que haviam recebido uma denúncia, por telefone, de que alguém estava sendo agredido naquele local. Conduziu então eles até o corpo da vítima e disse: "Fui eu mesmo que matei, podem me prender". Paciente nega períodos de depressão ou euforia no passado. Nega agressões a animais ou pessoas, furtos, agressões a propriedades, violações de regras, antes do TCE. Nunca teve envolvimento com a polícia, antes de cometer o crime. Realizou TC de crânio que evidenciou: Extensa lesão em lobo temporal direito, com comprometimento de estruturas mesocorticais e mesiais. Observa-se lesão de hipocampo direito, que pode ser responsável pelas alterações comportamentais e déficit de memória, especialmente a memória visual. EEG realizado em vigília (em uso de carbamazepina 600mg): Presença de ritmos rápidos e de alta amplitude sobre a cicatriz cirúrgica, o que pode ser esperado e normal na situação, sem outras alterações. Na avaliação do estado mental apresentava-se lúcido, hipovigil e hipotenaz, sem alterações de sensopercepção, orientado, pensamento lentificado, agregado, com conteúdo empobrecido, humor eutímico, afeto hipomodulado, calmo, cooperativo, mas apático, como se estivesse "engessado". Juízo crítico prejudicado em relação à sua conduta após o TCE. Segundo relato do filho, antes do TCE, paciente abusava frequentemente de álcool (1l destilado/finais de semana) e sobre o efeito do mesmo ficava mais irritado, porém era uma pessoa trabalhadora, correta, que se relacionava bem com as pessoas. Na empresa onde trabalhou por 25 anos, vindo a aposentar-se por tempo de serviço, era um funcionário muito bem conceituado. Após TCE, apresentou alterações cognitivas, de comportamento, tornando-se agressivo e impulsivo. Além de ter crises convulsivas frequentes pois esquecia de usar suas medicações. Foi realizado diagnóstico de Mudança de Personalidade devido a TCE, subtipo combinado. Discussão: As lesões cerebrais e suas coberturas ocorrem em aproximadamente 200 por 100.000 pessoas por ano e respondem por 14 a 30 mortes por 100.000 pessoas por ano nos Estados Unidos2. No Brasil existem poucos estudos epidemiológicos de TCE, porém sabe-se que a maioria dos casos, em todas as faixas etárias, são vítimas de quedas e a faixa etária mais atingida é dos 21 aos 60 anos, com predominância do sexo masculino2. A gravidade do TCE pode ser classificada em leve, moderada ou grave, conforme a apresentação clínica do paciente, sinais e sintomas neurológicos2. As consequências de um TCE vão desde a recuperação total até alterações variadas e permanentes, de acordo com a região cerebral afetada1. Essas alterações podem passar despercebidas, e muitas vezes não é feita a ligação causal com o trauma3. As áreas neuroanatômicas mais acometidas, são as áreas frontal, orbital e temporal, mesmo que não haja impacto direto numa região, podem ocorrer lesões traumáticas por contra golpe, principalmente em área frontal e temporal. As lesões axonais difusas podem provocar danos mecânicos ou químicos aos neurônios comprometidos4. Os transtornos psiquiátricos estão entre as morbidades pós TCE mais prevalentes e, dentre esses transtornos, destacam-se a Depressão Maior e as Alterações de Personalidade5. O transtorno orgânico de personalidade, CID 10 (F07.0) caracteriza-se por alteração significativa dos padrões habituais do comportamento pré-mórbido, particularmente no que se refere a expressões das emoções, necessidades e impulsos6. A mudança de personalidade pode incluir pouca motivação e uma tendência a ser egocêntrica e menos consciente das necessidades dos outros. Alguns se tornam desinibidos e rudes, podem apresentar julgamento moral comprometido. Agitação e agressão podem ser muito difíceis de administrar3,7. Conclusão: Infelizmente, devido a visão dissociada que temos do ser humano, separando o orgânico do psicológico, pacientes que sofrem de TCE tendem a não receber o atendimento que deveriam, o que pode contribuir de forma decisiva para o surgimento de graves consequências em suas vidas. Tendo em vista a importância da temática aqui desenvolvida, a avaliação dos transtornos psiquiátricos pós TCE deve ser mais valorizada. A identificação e tratamento precoce dos transtornos mentais é essencial para um desfecho benéfico para o paciente. Espera-se que o diagnóstico de Transtorno de Personalidade pós TCE aumente de modo considerável à medida que os profissionais tomem conhecimento de sua existência, magnitude e extensão4.




Frequência de transtornos psiquiátricos e impulsividade entre motoristas usuários de drogas

Leticia Fara, Juliana N. Scherer, Daiane Silvello, Vanessa L. Volpatto, Vinícius Roglio, Felipe Ornell, Lisia von Diemen, Felix Kessler, Flavio Pechansky

Objetivo: Avaliar características sociodemograficas, escores de impulsividade e comorbidades psiquiátricas associadas com dirigir sob o efeito de substâncias psicoativas em uma amostra clínica de motoristas usuários de substâncias psicoativas (SPAs). método: Este trabalho consiste em uma análise secundária de um estudo transversal. Foram recrutados 154 motoristas usuários de SPAs em uma unidade de tratamento de um hospital público de Porto Alegre. Características sociodemografricas,, padrão de uso de SPAs e comportamentos de risco (incluindo a direção sob efeito de álcool/drogas) foram avaliados pela 6ª versão do Addiction Severity Index (ASI-6). Comorbidades psiquiátricas foram examinas através da Structured Clinical Interview for DSM-IV (SCID-I). Os escores de impulsividade foram avaliados através da Escala de Impulsividade de Barrat (BIS-11). Variáveis quantitativas foram comparadas entre os grupos através do Teste-T e as variáveis categóricas foram investigadas utilizando o Teste Qui-quiadrado de Associação. Todas as análises foram feitas através do Softwere IMB SPSS versão 18.0. Resultado: Condutores usuários de drogas que reportaram comportamento de dirigir sob efeito de álcool/drogas (n=75) e os que não reportaram esse comportamento (n=79) eram adultos jovens (36±9), caucasianos (56,6%), não casados (60,4%) que estudaram até o ensino fundamental (40,2%). Da amostra, 24,7% tinha o álcool como droga de preferência, enquanto 75,3% cocaínicos. O grupo que dirigia sob efeito de álcool/drogas apresentava alta prevalência de Transtorno Bipolar (tipo I e II) comparado aos que não possuíam esse comportamento (8% VS 0%, p=0,027); o transtorno obsessivo-compulsivo se mostrou mais prevalente no grupo que não possuía o comportamento de dirigir sob efeito de álcool/drogas (10% vs 0%, p=0,001). Sujeitos com histórico de direção sob efeito de álcool/drogas mostravam altos níveis de impulsividade nos escores da Barrat (80.4±8 vs 77.2±10, p=0.050), respectivamente. Demais comportamentos de risco, (tais como uso de droga injetável) não apresentaram diferença significativa ente os grupos. Conclusão: Comorbidades psiquiátricas e impulsividade estão associados ao histórico de direção sob efeito de álcool/drogas em condutores usuários de SPAs. Pesquisas que enfoquem não apenas esses aspectos, mas também outros fatores que podem influenciar essas variáveis, tais como traços de personalidade e funções cognitivas no grupo de indivíduos que possuíam histórico de direção sob efeito de álcool/drogas são de extrema necessidade para desenvolver políticas públicas para intervenções efetivas.




Ácido Valproico no tratamento da Tartamudez - estudo de caso

Armando Fries, Vanessa Loss Volpatto, Marcos Paulo Betinardi, Juliana Scherer, Felipe Ornell

Instituição: Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Objetivo: Apresentar o estudo de caso de um paciente que demonstrou melhora da tartamudez após o inicio do tratamento com Ácido Valpróico.

método: Relato de caso. O sujeito em questão aceitou que o caso fosse relatado e assinou o termo de consentimento livre e esclarecido autorizando também o acesso aos dados de prontuário. Dados como idade, gênero, profissão, queixa principal, história da doença atual, exame do estado mental, história psiquiátrica pregressa, história psiquiátrica familiar, e evolução clínica foram consultados diretamente prontuário a partir das notas de evolução. A avaliação de sintomas depressivos e de ansiedade foi feita através do Inventário de Depressão de Beck (BDI) e Inventário de Ansiedade de Beck (BAI); os sintomas de ansiedade social foram mensurados através da Escala Liebowitz de Fobia Social. A redução da tartamudez (que não era o objetivo do tratamento) foi verificada por aferição clinica. Conclusão: Trata-se de um paciente com diagnóstico de tartamudez e Transtorno de Ansiedade Social (TAS), sem histórico de episódio maníaco ou hipomaníaco prévio, que buscou acompanhamento psicofarmacológico e psicoterápico para o TAS. A partir do início do tratamento com inibidores seletivos da receptação de serotonina, o paciente apresentou virada maníaca. O diagnóstico diferencial de Transtorno Bipolar (TB), a partir dos critérios do DSM-V, possibilitou a revisão da conduta farmacológica. Após o início do tratamento com Ácido Valpróico, o paciente demonstrou estabilização do humor e melhora global da ansiedade, da depressão - como era esperado - mas curiosamente demonstrou redução substancial da tartamudez. Não há na literatura evidências que justifiquem a utilização de um protocolo específico para o tratamento farmacológico da gagueira. Neste sentido este trabalho pode contribuir para a realização de estudos futuros com amostras maiores e com controle de variáveis potencialmente confundidoras.




Quinze anos estudando a violência doméstica: avanços ou retrocessos?

Vivian Day

Objetivos: Em 2003, um grupo de psiquiatras e outros profissionais convidados, debruçaram-se sobre o delicado e ainda pouco estudado tema, à época, no nosso meio, da violência doméstica. Hoje, 15 anos depois, o mesmo, porém remodelado grupo, reuniu-se para perguntar, o que mudou? Houve avanços? Retrocessos? métodos: Foi realizada revisão bibliográfica atualizada, contemplando a legislação recente, dados epidemiológicos, estatísticos e contribuições científicas mais contemporâneas na psiquiatria forense e na medicina legal. Resultados: Em números brutos, a violência não só aumentou, como também expandiu-se nas suas formas. O grupo encontrou dados preocupantes e mais amplos referindo-se à novas apresentações ou à maior transparência nos dados, como mulheres grávidas, crianças e adolescentes envolvidas em complexas situações de violência, mulheres agressoras em diferentes contextos, a crescente ligação entre as drogas lícitas e ilícitas com o ambiente violento, a exposição de indivíduos do grupo LGBT à uma maior vulnerabilidade de serem vítimas de agressões, entre outros dados. Conclusão: Ao grupo, coube refletir sobre tais achados, nada promissores a curto prazo. Mesmo que a sociedade tenha evoluído e enfrentado com maior transparência o problema, novas leis de proteção às mulheres, crianças e adolescente, idosos, deficientes, ainda resta um longo percurso para que tais mudanças se reflitam na prática ne redução dos índices. Do ponto de vista psiquiátrico, estratégias de prevenção, investimentos em tratamento de dependência química, acompanhamento de agressores e um maior aporte psicossocial na comunidade poderia trazer bons frutos no futuro.




Leucopenia induzida por Carbamazepina em paciente transgênero em uso de Terapia Hormonal

Thricy Dhamer

Introdução: A carbamazepina é um derivado tricíclico do iminostibeno. O mecanismo exato de sua ação anticonvulsiva é desconhecido, pode deprimir a atividade do núcleo ventral anterior do tálamo, pode atuar no SNC diminuindo a transmissão sináptica ou a adição da estimulação temporal que dá origem à descarga neuronal, estimula a liberação de hormônio antidiurético. Além disso, apresenta ações anticolinérgicas, antidepressivas, inibidora da transmissão neuromuscular e antiarrítmica. Além das indicações bem conhecidas, é recomendada como sintomática no controle de impulsos e em terapia combinada na desintoxicação alcoólica. Objetivo: Apresentar um caso de leucopenia induzida por carbamazepina em associação a terapia hormonal em paciente transgênero. Relato de caso: Paciente transgênero de masculino para feminino, 23 anos, sem profissão definida, ensino médio incompleto. Interna compulsoriamente em ala psiquiátrica da Sociedade Beneficente Hospital Candelária para desintoxicação pelo uso de álcool. Fazia uso de cerca de 1-1,5litros de cachaça ao dia, há 6 anos, com piora acentuada no último ano. Último uso 3 dias antes da internação. Duas internações psiquiátricas prévias por motivos semelhantes, tendo permanecido abstinente por no máximo 75dias, não estava em uso de medicações psiquiátricas prescritas, em uso apenas de contraceptivo hormonal oral (Diane 35), sem acompanhamento médico. Sem comorbidades. Paciente chega em estado précontemplativo, humor disfórico, irritadiço, negando tremores, náusea, vômitos ou outros sintomas de abstinência, sem juízo crítico dos prejuízos do álcool. Durante a internação, iniciada carbamazepina com progressão gradual a 600mg, citoneurim e diazepam. Realizadas entrevistas motivacionais, com boa aceitação, seguindo as regras instituídas. Laboratoriais, que eram normais na chegada, após 7 dias de uso das medicações, apresentaram leucopenia (leucócitos totais 2396, segmentados 1289), sem demais alterações. A carbamazepina foi suspensa abruptamente, com recuperação completa do leucograma após 3 dias, sendo leucócitos totais 5305 e segmentados 2544. Recebe alta após21 dias, em condições para tal. Discussão: A carbamazepina é uma medicação eficaz e bem tolerada na abstinência alcoólica, sendo uma alternativa aos benzodiazepínicos, apresenta menos potenciação dos efeitos cognitivos do consumo do álcool e não tem os efeitos de dependência ou tolerância1. A carbamazepina demonstrou-se superior ao lorazepam ao diminuir o consumo de álcool, isto é, dias de consumo após o término da desintoxicação, principalmente daqueles pacientes com história prévia de múltiplas desintoxicações. A dosagem indicada varia de 400 a 800mg/dia2. A reação adversa a medicamento é "qualquer resposta prejudicial ou indesejável e não intencional que ocorre com medicamentos em doses normalmente utilizadas no homem para profilaxia, diagnóstico, tratamento de doença ou para modificação de funções fisiológicas". Alterações hematológicas são uma das reações adversas relativamente frequentes com o uso da carbamazepina, entre elas, destaca-se a leucopenia. A leucopenia é definida como o número total de leucócitos inferior a 3.500. Contudo, na maioria dos casos, estes efeitos mostram-se transitórios e são indícios improváveis de um princípio de anemia aplástica ou agranulocitose. Recomenda-se intensificar a monitorização laboratorial no caso de alterações agudas, considerando descontinuação da medicação. A carbamazepina é um potente indutor de CYP3A4 e de outros sistemas de enzimas fase I e fase II no fígado, e pode, portanto, reduzir as concentrações plasmáticas de medicações concomitantes metabolizadas principalmente pelo CYP3A4, por indução do seu metabolismo. A associação entre carbamazepina e contraceptivo hormonal oral pode afetar significativamente a ação esperada do último, comprometendo a ação terapêutica esperada, tendo em vista a diminuição dos níveis séricos do mesmo pela competição entre os fármacos durante a(s) fase(s) de metabolização. Porém, observou que a interação medicamentosa apresentada pelo paciente em questão não demonstrou aumento do risco de efeitos adversos, como pudera ser suspeitado no início do atendimento. Conclusão: A carbamazepina é um potente indutor enzimático hepático e apresenta interação medicamentosa intensa. Desta forma, sempre que a medicação for usada, salienta-se a importância de estar atento para as alterações das concentrações plasmáticas resultantes, bem como dos possíveis efeitos adversos.

Ensino acessível às comunidades acadêmicas e à sociedade: a experiência da Liga de Medicina Legal e Psiquiatria Forense da UFRGS

Mateus de Borba Telles, Luana Strapazzon, Yan de Brum, Bibiana de Borba Telles, Giovanna Sandi Maroso, Marcelle Loureiro, Lisieux E. de Borba Telles

Instituição: Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Objetivo: Descrever a formação e funcionamento de uma nova modalidade de ensino da Psiquiatria Forense (PF) e Medicina Legal através da experiência da Liga de Medicina Legal e Psiquiatria Forense da UFRGS. metodologia: Durante muito tempo, os psiquiatras forenses se formaram de maneira autodidata, baseados em suas práticas nos hospitais forenses e presídios, ou através da realização de perícias psiquiátricas. O crescimento da psiquiatria e sua inserção em hospitais gerais colocou o psiquiatra em contato com a realidade da violência praticada e sofrida pelo doente mental, bem como com as múltiplas faces da violência doméstica, as sequelas e as limitações deixadas por alguns transtornos mentais graves, as vulnerabilidades existentes nas diferentes fases do ciclo vital e as diversas responsabilidades profissionais e éticas ante o doente hospitalizado. Perante essas realidades, observamos o aumento do espaço que essa subespecialidade vem conquistando nos planos nacional e mundial. Assim, na década de 1990, a PF foi oficialmente reconhecida pelo American Board of Medical Specialties, como subespecialidade psiquiátrica, e, em 1996, foi acreditada a primeira residência em PF nos EUA. No Brasil, a ABP, através do Departamento de Ética e Psiquiatria Legal, vem promovendo o ensino e a atualização dos psiquiatras nessa área. Entre as universidades observamos no ano de 2006 o surgimento da primeira residência em PF. Em 2015, a Faculdade de Medicina da UFRGS fundou a Liga de Medicina Legal e Psiquiatria Forense da UFRGS (LIMELPF). A Liga é composta por alunos da graduação e residentes de Psiquiatria sob a coordenação de um professor do departamento e tem como objetivo divulgar e aprofundar os conhecimentos de Psiquiatria, PF e Medicina Legal junto a sociedade e comunidade acadêmica, através de atividades extra-classes. Com esse fim, elaboramos atividades temáticas em cada mês, como o de combate à exploração e abuso sexual de crianças e adolescentes (maio), o de prevenção ao suicídio (Setembro Amarelo) e o de prevenção à violência contra a mulher (outubro). Conclusão: Acreditamos que os temas desenvolvidos pela LIMELPF sejam de fundamental importância e possam trazer conhecimento acadêmico para alunos, profissionais de saúde e comunidade. A Liga tem buscado, através da interdisciplinaridade, contribuir para a formação acadêmica e desenvolver a conscientização da comunidade para a temática da saúde mental.

Correspondência
Rua Ramiro Barcelos, 2400 - Santa Cecília
90035-003 Porto Alegre, RS, Brasil




Título: Preditores do Tempo de Internação de Gestantes em Unidade de Psiquiatria de Hospital Materno-Infantil na cidade de Porto Alegre - RS.

Recuero T. C., Tisott C. G., Radins R. B., Czykiel M. S., Bertoluci M. S., Motta, G. L. C. L., Schuc, S. B.

Instituição: Hospital Materno Infantil Presidente Vargas

Introdução: A gestação é um período de alto risco para o surgimento ou exacerbação de transtornos mentais. A prevalência destes transtornos varia de 14-30% durante a gestação3. Nos casos mais graves, é significativo o número de pacientes que necessita admissão hospitalar durante o período gestacional4. A Unidade Psiquiátrica em que o estudo foi realizado fica localizada em Porto Alegre-RS e é referência para internação de gestantes com transtornos mentais graves. Sabe-se que há pouca evidência acerca dos fatores preditores do tempo de internação psiquiátrica na gravidez, o que limita o entendimento e a abordagem deste grupo específico de pacientes. Objetivo: Avaliar os preditores de tempo de internacão das gestantes que foram admitidas na Unidade de Psiquiatria de um Hospital Materno-Infantil no ano de 2017. método: Estudo transversal retrospectivo através da revisão dos prontuários de todas as pacientes gestantes internadas em uma unidade de psiquiatria no ano de 2017. Resultados: No ano de 2017, foram internadas 159 pacientes na unidade de psiquiatria, das quais 29 eram gestantes. A idade média foi de 28,3 anos, com uma média de gestações de 3,5. Na admissão hospitalar as pacientes tinham idade gestacional média de 25,5 semanas. A maioria delas (62,1%) nunca havia sido internada e não havia feito consultas de pré-natal (51,7%) na presente gestação. Houve correlação positiva entre o número de dias de internação e o número de gestações prévias (Pearson= 0,509 p=0,005). O Transtorno por Uso de Substâncias foi diagnosticado em 69,3% das pacientes. Conclusão: O preditor de tempo de internação para uma paciente gestante nesta amostra foi o número de gestações prévias, sendo maior o tempo quanto maior o número de gestações anteriores. Sabe-se que mulheres com doença mental tem maior probabilidade de ter uma gravidez não planejada, além de menor suporte social, que está associado ao aumento da gravidade dos sintomas de saúde mental5. Nossos achados destacam as altas taxas de vulnerabilidade neste grupo de gestantes, seja pelos inadequados cuidados em saúde, abuso de substâncias ou falta de suporte familiar. Devido à importância de tal assunto no cenário atual em saúde pública, é necessário um maior acesso a serviços de saúde para engajar as mulheres ao pré-natal e assim integrar o planejamento familiar à saúde mental. São necessários mais estudos com maior número de pacientes, além de seguimento longitudinal, a fim de aumentar o poder de análise dos dados.

Correspondência
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Ketamina: uma alternativa para o tratamento de depressão refratária

Lincoln Matheus Monçon Severo, Luana Larissa Schmitt da Silva, Larissa Figueiredo Paes, Sofia Perez Lopes da Silveira, Isabela Terra Raupp, Almerindo Antônio Boff

OBJETIVO: A partir de revisão bibliográfica, elucidar os possíveis usos da Ketamina no tratamento de depressão refratária. METODOLOGIA: Foi realizada uma busca nas bases de dados Scielo, Pubmed, Pepsic e UpToDate pela palavra Ketamina . RESULTADOS: Sabe-se que a maioria das terapias farmacológicas conhecidas para o tratamento da depressão podem levar de semanas até meses para começar a combater os sintomas e proporcionar alívio aos doentes. Em contraste, os benefícios do anestésico foram sentidos em questão de horas, devido ao fato do fármaco agir sobre receptores diferentes, os receptores NMDA, que possuem um importante papel na etiologia das psicopatologias como a ansiedade e a depressão e que estariam associados ao aprendizado e à memória. Estudos pré-clínicos têm demonstrado que antagonistas dos receptores NMDA, como o MK-801, AP7, CPP, neramexane e outros, exibem efeitos ansiolíticos e antidepressivos em ratos, atuando na regulação das sinapses e na plasticidade cerebral. Atualmente, se tem usado da Eletroconvulsoterapia, para o tratamento da depressão refratária, entretanto, além do fato de que muitos centros não possuem a estrutura necessária, essa abordagem ainda é rodeada por tabus que retardam a busca pelos serviços. CONCLUSÃO: A ketamina apresenta efeito benéfico no tratamento da depressão refratária, podendo ser considerada opção terapêutica no manejo de tal patologia devido ao menor tempo de ação em comparação com os antidepressivos atuais e pela facilidade de administração por via sublingual. Além disso, a ketamina acarretaria em melhor adesão devido aos tabus e a dificuldade de acesso à eletroconvulsoterapia. Ainda faltam estudos que reforcem o uso da ketamina devido aos efeitos colaterais sentidos pelos pacientes, como alucinações auditivas e visuais, contudo, há expectativa futura de separação dos compostos responsáveis pela melhora dos sintomas depressivos e dos responsáveis pelas alucinações.




Subgrupos cognitivos no transtorno bipolar

Flavia Lima, Diego Rabelo, Joana Bücker, Leticia Czepielewski, Mathias Souza, aissa Telesca, Brisa Sole, Maria Reinares, Eduard Vieta, Adriane R Rosa

Introdução: Estudos recentes têm relatado que o transtorno bipolar (TB) é caracterizado pela heterogeneidade
no funcionamento cognitivo, estando associado a diferentes níveis de desempenho nas medidas cognitivas objetivas. Nosso estudo visa replicar, em uma amostra brasileira de pacientes com TB, os achados de subgrupos cognitivos, assim como identificar diferenças entre os grupos em relação às características sociodemográficas e clínicas, dificuldades cognitivas subjetivas e funcionamento psicossocial. métodos: Cento e trinta indivíduos, incluindo 73 pacientes eutímicos com TB e 57 controles saudáveis, foram avaliados através de uma bateria neurocognitiva abrangente. Conduziu-se uma análise hierárquica de clusters para examinar a existência de subgrupos distintos baseados nas medidas cognitivas objetivas. Além disso, os indivíduos de cada subgrupo foram comparados em variáveis sociodemográficas, clínicas, funcionamento psicossocial e medidas cognitivas subjetivas. Resultados: Foram encontrados três subgrupos distintos: um primeiro cluster com cognição intacta (43,5%), um segundo cluster com comprometimento cognitivo seletivo (33,3%) e um terceiro cluster com comprometimento cognitivo global (23,3%) (figura 1). O grupo intacto teve mais anos de escolaridade (p <0,001) e maior QI estimado (p <0,001) do que os subgrupos com prejuízo (global e seletivo). Além disso, o grupo intacto era mais jovem (p = 0,011), tinha idade de diagnóstico (p <0,037) e idade de primeira hospitalização (p <0,035) mais precoce que os indivíduos do grupo global. Não foram encontradas diferenças significativas entre os três grupos quanto ao funcionamento psicossocial e às medidas cognitivas subjetivas. Conclusão: Nossos resultados corroboram os achados recentes de heterogeneidade do funcionamento cognitivo no TB, evidenciando a existência de um continuum de gravidade que vai de indivíduos com cognição preservada a indivíduos com prejuízo cognitivo moderado. Também identificamos anos de educação e QI estimado como as variáveis que diferenciam o grupo com cognição preservada dos grupos com algum grau de comprometimento. A detecção de subgrupos homogêneos de pacientes por dimensão cognitiva é fundamental para o melhor entendimento da fisiopatologia da doença, bem como para oportunizar tratamentos mais específicos.

Figura 1. Perfil neurocognitivo dos três clusters




Efeitos de um Protocolo de Treinamento de Respiração Profunda sob os sintomas de ansiedade em pacientes com Transtorno Bipolar

Silvia Dubou Serafim

Introdução: O Transtorno Bipolar (TB) é uma das doenças mais incapacitantes no mundo. É frequentemente acompanhado de comorbidades, tanto clínicas quanto psiquiátricas. Ansiedade é uma das comorbidades mais prevalente em TB, e o tratamento é difícil, pois as medicações podem induzir mania. Portanto, os métodos alternativos com potencial para melhorar sintomas ansiosos são muito importantes. Respiração profunda (RP) é uma técnica simples, que não necessita de grandes investimentos, não precisa de espaço específico. A respiração profunda tem grande potencial para o tratamento de transtornos psicológicos, porém a literatura ainda carece de avaliações dos benefícios e um protocolo definido de RP, com tempo de duração e frequência dos exercícios respiratórios. OBJETIVO: Esse trabalho teve como objetivo geral avaliar os efeitos de um protocolo de exercícios de respiração profunda em pacientes com Transtorno Bipolar. METODOLOGIA: Os pacientes realizaram sete encontros, sendo três destes para avaliação (antes e após aplicação do protocolo e um mês após protocolo) e quatro para intervenção. Foi utilizado o programa estatístico R para compilação e análise dos dados. Vinte pacientes aceitaram participar do estudo e realizaram a avaliação pré-intervenção, porém quatorze pacientes completaram o protocolo, sendo que 3 desistiram devido a questões de logística e 3 foram excluídos do estudo por não atenderem todos os critérios de inclusão. RESULTADOS: As escalas HAM-A, BECK-A, HAM-D e YMRS tiveram diferenças significativas pré, pós-intervenção e follow-up. Os resultados indicam que o protocolo de Respiração Profunda é efetivo na redução dos níveis de ansiedade em pacientes com Transtorno Bipolar. O protocolo de Respiração Profunda não teve efeitos colaterais negativos e pode ser aplicado para aliviar os sintomas de ansiedade em pacientes com Transtorno Bipolar.




Projeto UNIQUE Brazil - Estudo transcultural e multicêntrico sobre experiências anômalas em população geral: características clínicas e sociodemográficas

Marcela Alves Sanseverino, Daniele Silva, Juliana Raddatz e Letícia Oliveira Alminhana

Introdução: Em 2009, foi observado que entre 75 e 90% das experiências psicóticas (EP) são transitórias e costumam desaparecer com o tempo. No entanto, a propensão à psicose pode se tornar persistente e patológica com prejuízos clinicamente relevantes. Ainda assim, EP podem estar presentes na população geral, podendo estar associadas ao bem-estar e à criatividade. Atualmente, estudos estão sendo realizados com o propósito de melhor compreender EP em populações sem diagnóstico. Um grupo de pesquisas do IOPPN - King's College London/UK, está desenvolvendo um estudo intitulado: "UNIQUE - Unusual Experiences Enquire". O objetivo do estudo é observar características sociodemograficas e psicológicas de indivíduos com EP, comparados com pacientes e controles. Os autores têm encontrado diferenças em relação à ansiedade e angústia para lidar com a EP, que podem indicar fatores protetivos para o desenvolvimento de transtorno psicótico. Objetivo: Replicar o estudo UNIQUE na população brasileira, com o objetivo de compreender os fatores de risco e de proteção para o desenvolvimento de transtornos do espectro da esquizofrenia e comparar com os achados na população inglesa. método: Após a devida aceitação do CEP-PUCRS, serão recrutados participantes voluntários para três grupos: não-clínico, indivíduos sem transtorno psicótico com EP persistentes; clínico, indivíduos com o diagnóstico de transtorno psicótico; controle, indivíduos saudáveis sem EP. Para avaliação psicológica serão aplicados os seguintes questionários: BDI-II, BAI, Escala de Satisfação com a Vida, Questionário de Bem-Estar Psicológico, Questionário de Vínculo Parental, Questionário de Esquemas de Young: forma breve, Escala de Auto-Estima de Rosemberg, Questionário de Estilos de Defesa, WHOQOL - Bref e Questionário de Mindfulness de Southhamptom. Para avaliação de fatores ambientais e sócio-demográficos será realizada uma anamnese completa e aplicado o Inventário de Habilidades Sociais e a Escala de Percepção de Suporte Social. Nos grupos não-clínico e clínico serão aplicados instrumentos para avaliação das suas EP, sendo o principal, a AANEX (Entrevista sobre a avaliação das Experiências Anômalas). A análise estatística será realizada no SPSS e se utilizará ANOVA one way para comparar as variáveis relacionadas aos aspectos psicológicos e sócio-demográfico. Resultados: O estudo ainda está em fase inicial. Neste momento, estão sendo realizadas adaptações das escalas utilizadas pelos pesquisadores ingleses, como a AANEX e a SANS e SAPS. Conclusão: Ressalta-se a importância desse estudo, devido à necessidade de compreender diferenças e semelhanças transculturais entre resultados obtidos no Reino Unido e no Brasil, no que tange ao estudo de experiências de caráter psicótico.

Palavras-chave: Experiências Psicóticas; Esquizofrenia; Fatores de risco e proteção.




Pega leve - Saúde Mental do Estudante Universitário

Ana Carolina V. ANDRADE; Franco ZORTÉA; Daniel ARENAS; Bruno A.V. BERNARDY; Betina SCHAURICH; Bruna CORRÊA; Louise O. SOARES. Coordenadora: Ana Margareth Siqueira BASSOLS

Instituição: Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Estudos brasileiros tem constatado a prevalência superior à média populacional geral de transtornos mentais em estudantes universitários. Do sofrimento psíquico inespecífico à importante taxa de suicídios completos, sabe-se que o graduando é população de risco. Os danos na saúde mental estão ligados a baixo desempenho escolar e abandono da formação, o que é um desastre individual e, já que são perdidos profissionais especializados em potencial, um infortúnio social. Objetivo: O projeto Pega Leve tem como objetivo criar uma rede de identificação e encaminhamento adequado de estudantes em risco, dar visibilidade à questão da saúde mental na universidade e causar um impacto cultural positivo na promoção e prevenção em saúde mental. método: Estudantes voluntários serão capacitados em triagem preliminar e encaminhamento adequado para atendimento profissional e criarão uma rede com capilaridade por diversos cursos, faculdades e universidades. Além disso, será promovida uma campanha de conscientização pública sobre o tema e serão criados grupos de participantes compartilhando experiências, pensando soluções, desconstruindo o estigma em torno da saúde mental e catalisando a valorização cultural do equilíbrio entre o bem-estar e a performance do graduando. Conclusão: O Pega leve é um projeto submetido em 2018, estando em fase inicial no momento. Aumentar a discussão e a promoção de saúde mental entre universitários é o nosso objetivo primordial, podendo assim empoderar o estudante acerca da identificação de questões de saúde mental em si e nos colegas, contribuindo para a prevenção.

Palavra-chave: Saúde mental; Ensino superior; Prevenção




Aspectos Psicodinâmicos da Anorexia Nervosa - Relato de um Caso

Joao Fernando Vaucher Sefrin, Alice Vivian Ferreira, André Machado Patella

Instituição: UCPel - Pelotas - RS

Introdução: a anorexia nervosa é uma síndrome que tem como características a inanição autoinduzida, uma busca incessante por magreza ou medo mórbido de engordar ou perturbação na percepção do próprio peso ou da própria forma. É um transtorno muito mais prevalente em mulheres e em geral inicia na adolescência. As hipóteses de um fator psicológico subjacente em pacientes jovens com a síndrome envolvem conflitos em torno da transição da juventude para a vida adulta. Objetivo: a anorexia nervosa apresenta uma alta taxa de mortalidade, devendo seu tratamento ser criteriosamente planejado. Com este relato de caso, tem-se como objetivo ilustrar aspectos psicodinâmicos do transtorno para ajudar na interpretação e tratamento dos pacientes, visto que a preocupação com a comida é a ocorrência de uma perturbação maior, que envolve o autoconceito. Relato do caso: Paciente A.S.K, feminino, 32 anos, natural e procedente de Pelotas, iniciou há mais ou menos 10 anos com quadro de restrição alimentar, pulando muitas refeições. Nessa época (2009) teve término de relacionamento, o qual durou 4 anos, e a morte de sua tia, que era muito próxima, por tumor cerebral. Para ela foi muito difícil lidar com a piora progressiva da tia em pouco tempo. Essas situações fizeram com que a paciente passasse a pular refeições. Porém, foi em 2012 que a paciente apresentou piora dos sintomas de restrição alimentar, pois teve término de segundo relacionamento e outros estressores (realização de cirurgia no colo do útero e semana de provas na faculdade). Ela relatou que esse período foi o mais intenso, emagrecendo drasticamente e chegando a pesar 37Kg (IMC 13,26). Em fev/2017 paciente teve a perda da avó materna, com a qual tinha muito apego, e no mesmo ano teve que fazer seu TCC. Isso piorou novamente seus sintomas de restrição alimentar. No mesmo ano, em maio, a paciente, que estava sendo acompanhada na pesquisa da psicologia da UCPel, foi encaminhada ao nosso ambulatório de psiquiatria. Queixava-se de não estar conseguindo se alimentar, tristeza, ansiedade em relação a ter que fazer seu TCC e incapacidade de realizar as suas atividades profissionais. As pacientes com anorexia têm convicção de que são impotentes e ineficazes. O corpo é percebido como separado do self, como se pertencesse aos pais. Não têm senso de autonomia e não se sentem no controle de suas funções corporais. Paciente levou 10 anos (2008 - 2018) para se formar em engenharia industrial e refere sentimento de culpa pela demora. Acredita que usou esse período conturbado de sua vida como atenuante para não conseguir estudar, rodar nas cadeiras que cursava e postergar sua vida acadêmica e profissional. Paciente tem problemas com o pai, que foi ausente na sua infância por ser alcoólatra, e com sua mãe que tem depressão grave e tentativas prévias de suicídio. Apresenta uma relação de dependência/simbiose com a mãe, que deposita na paciente uma responsabilidade de ser cuidada. Na anorexia nervosa, a mãe parece cuidar da criança de acordo com suas próprias necessidades. Quando suas iniciativas não recebem respostas de confirmação, a criança não consegue desenvolver um senso de self saudável. Em vez disso, a criança se percebe como uma extensão da mãe, sendo incapaz de se separar psicologicamente. Assim, o corpo é muitas vezes percebido como se fosse habitado por introjeções maternas ruins, sendo a inanição uma tentativa de parar o crescimento desse objeto interno desagradável.

No final de 2016, paciente teve uma briga com o pai, sofrendo uma agressão física, e ficou meses sem entrar em contato. No quadro da anorexia, o pai típico é carinhoso apenas superficialmente, mas abandona a filha nas vezes em que é realmente necessário. Em janeiro de 2018, paciente teve nova piora do quadro de restrição alimentar, por ter que lidar com a acentuação da ideação suicida da mãe. Paciente agravou sintomas de ansiedade, tristeza, e também apresentou ideação suicida, porém sem planejamento. Foi encaminhada ao Pronto Socorro de Pelotas para realizar internação clínica, com acompanhamento psiquiátrico, por apresentar baixo IMC (Peso: 42,6Kg - IMC 15,65). Chegou a ir ao PSP, mas não quis ser internada por achar que tinham "outras doenças bem mais graves que a sua", continuando acompanhamento em nosso serviço de psiquiatria. Em fev/2018 foi iniciado Olanzapina 5mg - 1cp à noite e mantido Escitalopram 20mg - 1 cp à noite. Paciente ganhou peso, estando em 26/03/2018 com 45,7Kg e IMC 16. Paciente, em abril/2018, relatou estar ciente dos seus problemas psicológicos, familiares, e mais ativa no seu tratamento. No entanto, pouco antes de sua formatura, passou a apresentar hipersonia, ideação suicida e nova piora na restrição alimentar. Assim a Olanzapina foi diminuída para 2,5 mg/dia à noite. Paciente passou a se sentir mais ansiosa com a sua carreira profissional e medo de não conseguir desempenhar o seu papel. Relatou sentir-se bloqueada para procurar emprego na sua profissão, buscando em outras áreas, como na pesquisa em Epidemiologia. Após a formatura teve novamente ideação suicida, pensamentos com arma de fogo (negou ter acesso), e imaginou como sua mãe a vestiria no velório. Foi introduzido em maio/2018 Bupropiona 150mg - 1cp pela manhã, com intuito de melhorar sintomas de hipersonia e hipobulia. Atualmente, sente-se "amarrada" para iniciar novos ciclos e refere ter necessidade de "chamar a atenção" de sua família. Está fazendo treinamento para participar do grupo da Epidemiologia, o que faz aumentar sua ansiedade sobre o futuro. E com isso está pulando mais refeições e se isolando. Foi à nutricionista, porém tem resistência às medidas recomendadas. Nega ter aversão ao seu corpo, se acha magra, porém, em nenhum momento do curso do transtorno, aparentou preocupação com o quadro grave que apresentava. Conclusão: o presente relato reforça os aspectos psicodinâmicos do transtorno, mostrando sua importância para a interpretação e terapêutica do quadro, explorando e, cuidadosamente, expondo as distorções do tamanho do corpo e validando a experiência interna das pacientes. Assim, é possível que se busque o crescimento e autonomia.




Perfil sociodemográfico de suicídios em Instituto Geral de Perícias do Rio Grande do Sul- (IGP-RS)

Júlia Camargo Contessa, Angelita Maria Ferreira Machado Rios, Kleber Cardoso Crespo, Pedro V S Magalhães

Introdução: conhecer o perfil sociodemografio de suicídios em regiões próximas a capital do Rio Grande do Sul se demonstra necessário, considerando o elevado índice de suicídios na região Sul do país. Objetivo: Descrever o perfil sociodemográfico de suicídios encaminhados para necrópsia. método: estudo transversal a partir da análise das necropsias realizadas no Instituto Geral de Perícias do Rio Grande do Sul- (IGP-RS). Foi realizado o levantamento de suicídios de janeiro a maio de 2017 e 2018 com fins de comparação. As variáveis estudadas foram gênero, método utilizado, local, mês. Resultados: De janeiro a maio de 2017, 20 mulheres foram vítimas de morte intencional - suicídio. Neste período, os suicídios masculinos excederam em aproximadamente quatro vezes este número. Enforcamento foi o método mais utilizado, principalmente na população masculina. As mortes ocorreram predominantemente em Porto Alegre. O mês de fevereiro apresentou o maior número de mortes femininos e janeiro foi o mês com maior número de suicídios masculinos. Conclusão: Estes dados apontam a presença de dificuldades e sofrimento psíquico, em especial, na população masculina da capital do Rio Grande do Sul. É necessário novas investigações para compreender os motivos de suicídio desta população. Conhecê-los possibilita aprimorar o desenvolvimento de estratégias de prevenção e tratamento que busquem a redução do índice de suicídios.

Correspondência
Júlia Contessa
E-mail: julia.contessa@acad.pucrs.br




Marcadores Inflamatórios séricos em Doença Mental Grave: diminuição de interleucinas 2 e 6 após tratamento de pacientes internados

Schmitt Júnior AA MD; Alves LPC MD; Rocha NS PhD.

INTRODUÇÃO: Há um aumento do número de evidências da associação entre inflamação crônica de baixo grau e doenças mentais graves. No entanto os achados podem ser dificultados em função da heterogeneidade dos estudos e da população estudada. Nosso estudo teve como objetivo testar em uma população "true-to-life setting" a hipótese que há um aumento dos níveis de marcadores inflamatórios em doenças mentais graves e que eles podem diminuir durante o tratamento hospitalar. MÉTODOS: 92 pacientes com Depressão Unipolar, 26 pacientes com Depressão Bipolar, 44 pacientes com Mania e 44 pacientes com Esquizofrenia foram considerados portadores de doença mental grave e avaliados na admissão e na alta hospitalar. Total de 206 pacientes. Equações de estimativas generalizadas foram utilizadas para analisar a variação dos níveis séricos dos marcadores inflamatórios (interferon gama, TNF alfa, interleucinas 2,4,6,10 e 17) entre a admissão e a alta dos pacientes. Além disso, seus resultados foram comparados aos de 100 controles saudáveis, tanto na baixa, quanto na alta hospitalar, através do teste U de Mann-Whitney. Foram utilizadas escalas GAF, BPRS, CGI-S escore, HDRS-17 e YMRS para avaliar melhora dos pacientes durante o tratamento. Foram considerados significativos os resultados com p<0,05. RESULTADOS: 68,9% dos pacientes concluíram o estudo. Houve uma redução significativa dos escores da BPRS e CGI, e um aumento dos escores da GAF para todos os transtornos avaliados (P<0,001). Houve redução significativa da HDRS-17 entre os pacientes deprimidos (P<0,001) e da YMMS entre os pacientes com diagnóstico de mania (P<0,001). Os marcadores em geral apresentaram níveis séricos mais elevados em relação aos controles para um nível de significância p<0,05, independente do diagnóstico. Não houve redução significativa dos níveis de Interferon gama (p 0,64), TNF alfa (p 0,87), IL 4 (p 0,21), IL 10 (p 0,88) e IL 17 (P 0,71) em nenhum dos diagnósticos avaliados. Os níveis de IL6 e IL2 diminuíram significativamente entre a admissão e a alta apenas entre os pacientes internados com depressão maior (P=0.002 e P=0.03, respectivamente). Entre os outros transtornos (esquizofrenia, mania e depressão bipolar), não foi encontrado mudança dos níveis desses marcadores para um nível de significância p<0,05. CONCLUSÃO: Pacientes com depressão maior tiveram redução de IL6 e IL2 durante o tratamento hospitalar e a diminuição dos seus níveis foi acompanhada de melhora clínica. Não foi encontrada essa associação para outros transtornos mentais graves (depressão bipolar, mania e esquizofrenia).




Delirium induzido por pregabalina: um relato de caso

Fernanda Bifano Soares, Laura Sacramento Kunzler, Aline Dummer Venzke, Laura Sigaran Pio de Almeida

Introdução: Pregabalina é um isômero do ácido gama-aminobutírico aprovado para terapia adjunta de pacientes adultos com crises convulsivas parciais. Ele se liga ao canal de cálcio voltagem-dependente em várias das regiões do sistema nervoso central. Foi demonstrado ser eficaz para tratamento da dor em patologias como neuralgia do trigêmeo, neuropatia diabética, neuralgia pós-herpética, fibromialgia e outras condições neurológicas, como esclerose múltipla1. Seus principais efeitos adversos neurológicos são tontura, vertigem, desequilíbrio, descoordenação, ataxia, diplopia, visão borrada, ambliopia, tremor, sonolência, estado confusional, distúrbios da atenção, desorganização do pensamento, euforia, astenia e fadiga2. Dois artigos relataram delirium como um efeito colateral do uso deste medicamento1,3, havendo a associação a psicose e alucinações visuais em um destes relatos3. Delirium é uma alteração cognitiva definida por início agudo, curso flutuante, distúrbios da consciência, atenção, orientação, memória, pensamento, percepção e comportamento4. As causas podem ser intracraniais, como epilepsia, trauma e infecções, ou extracraniais, como por medicamentos, ingestão de drogas ou abstinência, envenenamento, uso de sedativos ou tranquilizantes, disfunção endócrina, entre outras5. Objetivo: Ilustrar e alertar aos profissionais da saúde sobre o potencial delirogênico desta droga, visto seu uso frequente na atualidade, através de relato de caso. metodologia: As informações referidas neste trabalho foram obtidas por meio de entrevista com o paciente e seus familiares, exame do estado mental, revisão de prontuário e revisão de literatura. Relato do caso: D.S.C., 51 anos, homem, branco, lavador de carros, procedente de Pelotas/RS, evangélico, HIV positivo (em tratamento), com história prévia resolvida de depressão sem sintomas psicóticos, chegou ao hospital psiquiátrico trazido pela SAMU, acompanhado da esposa, após ser encontrado nu, em más condições de higiene e com diversas escoriações pelo corpo. Ao acolhimento, apresentava-se sonolento, desorientado, com pensamento predominantemente mágico, delírios persecutórios e religiosos, além de afeto pueril e irritável e importante agitação psicomotora. O quadro havia iniciado há cerca de três semanas, uma semana após início de uso de pregabalina 300mg ao dia para tratamento de possível fibromialgia. Segundo relato da esposa, o paciente também manifestava alucinações visuais e cenestésicas, amnésia para memória recente, inversão do ciclo sono-vigília e comportamentos bizarros, sugestivos de psicose. Estas alterações ocorriam em surtos, com piora progressiva, intercalados com períodos de plena normalidade. No dia anterior à internação, a esposa do paciente suspendeu uso de pregabalina, acreditando que os sintomas poderiam ser secundários ao uso desta droga. Na internação, paciente recebeu como prescrição de baixa haloperidol 10mg ao dia e diazepam 30mg ao dia. Foram coletados exames laboratoriais gerais, todos normais, com exceção de elevação de CK-total (1176). Realizou TC de crânio, dentro dos limites da normalidade. Paciente evoluiu com melhora dos sintomas em aproximadamente uma semana. Devido sinais de impregnação, optou-se por reduzir dose de haloperidol inicialmente. Posteriormente, visto a não melhora desses sinais mesmo com associação a biperideno, a medicação foi trocada por clorpromazina em dose equivalente, com boa aceitação. Novos laboratoriais apresentaram normalização de CK-total (110). Paciente recebeu alta médica após 5 semanas de internação, com remissão completa dos sintomas, para seguimento ambulatorial com plano de retirada gradual da clorpromazina. Discussão: Neste caso, o diagnóstico definitivo foi de delirium induzido por pregabalina (CID10 F19.921). Uma semana após início da medicação, o paciente apresentou alteração aguda e flutuante ao longo do dia em diversas funções mentais, tendo nunca antes apresentado os sintomas relatados. Exibiu melhora absoluta destes após uma semana de suspensão da medicação, associado a prescrição de droga antipsicótica em internação hospitalar. Outros diagnósticos diferenciais possíveis seriam demência na doença causada pelo HIV, transtorno delirante orgânico e episódio depressivo grave com sintomas psicóticos, todos descartados pois paciente não apresentou critérios para estes diagnósticos. De acordo com Hickey et al.1, desde 2005, houveram diversos casos relatados de delirium secundário à pregabalina. Porém, a maioria destes ocorrem em pacientes idosos, em uso de múltiplas medicações e com diversas comorbidades, o que não permitiu definir o uso de pregabalina como causador etiológico único de delirium. No seu estudo, Hickey et al. relata caso de paciente jovem, com fibromialgia, sem condições médicas associadas, cujo episódio de delirium iniciou uma semana após introdução de pregabalina e teve duração de 4 semanas, possivelmente por haver apresentado agitação secundária ao uso de antipsicóticos, de forma semelhante ao caso relatado neste resumo. Conclusão: Por ser considerada uma droga segura e eficaz no tratamento de dor crônica, a pregabalina vem sendo cada vez mais prescrita. Ainda assim, conforme evidenciado neste relato, seu uso pode desencadear quadro de delirium. Portanto, frente ao surgimento de estado confusional agudo, é importante considerar o potencial delirogênico da pregabalina e investigar seu uso para um possível diagnóstico diferencial.




Burnout em Residentes de Psiquiatria: o papel dos sintomas psiquiátricos e das relações institucionais

Gabriela Massaro Carneiro Monteiro, Ives Cavalcante Passos, Simone Hauck e Fernanda Lucia Capitanio Baeza

Instituição: Programa de Pós-Graduação em Psiquiatria e Ciências do Comportamento/UFRGS/HCPA

Introdução: A saúde mental dos médicos é um problema crescente nos dias de hoje. A residência médica é um período delicado. Este estudo teve como objetivo investigar a relação entre burnout, presença de sintomas psiquiátricos e relações interpessoais e institucionais em residentes de psiquiatria. metodologia: Estudo transversal. Preditores de burnout em residentes de psiquiatria foram avaliados em um modelo de regressão linear. Cada uma das três dimensões de burnout, quais sejam, exaustão emocional (EE), despersonalização (DP) e realização profissional (RP), foram utilizadas como variáveis dependentes. Resultados: 75,8% da população total responderam ao questionário (n = 66). Destes, 83,3% caracterizaram burnout (EE: 47%, PA: 69,7%, D: 62,1%). Triagem positiva para ansiedade, alta carga horária de trabalho, sensação de poder ser prejudicado pelos colegas e a sensação de estar sempre abaixo do que o preceptor esperava estavam relacionados a níveis mais elevados de EE. A sensação de um clima colaborativo na instituição foi associada a um menor nível de DP e a triagem positiva para ansiedade e somatização foi relacionada a maiores níveis de DP. O rastreamento positivo para depressão foi associado a níveis mais baixos de RP e a sensação de pertencer à instituição estava relacionada com níveis mais elevados de RP. Conclusão: Este estudo forneceu informações adicionais sobre o burnout em residentes de psiquiatria e elucidou possíveis fatores modificáveis, enfatizando a necessidade de novas investigações sobre o assunto. Além da associação entre sintomas psiquiátricos e burnout, encontramos uma correlação positiva entre relações interpessoais e institucionais e burnout, ainda não abordada na literatura.

Correspondência
Gabriela Carneiro Monteiro
54 991615465
Rua Ramiro Barcelos, 2350, Serviço de Psiquiatria




Estudo Psicodinâmico de Luto, melancolia e depressão - relato de um caso

João Fernando Vaucher Sefrin, Mariana Motta, Gustavo Rosa (médico psiquiatra)

Instituição: UCPel - Pelotas, RS

Introdução: o luto é considerado uma experiência universal, que inclui sentimentos de tristeza, dor psíquica e angústia5. No entanto, ainda não são precisos os limites de luto normal, luto patológico ou melancolia, que podem se manifestar através de uma depressão grave. A melancolia é um tema amplo e complexo, trata-se de uma síndrome que envolve vários fatores psíquicos interligados, significativos do ponto de vista psiquiátrico. Objetivo: com este relato de caso, pretende-se exemplificar fatores de confusão entre os diagnósticos e apontar alguns fatores psicodinâmicos presentes no caso. Questão norteadora: os lutos, as perdas, a dor psíquica e as relações com a melancolia e a depressão. Relato do caso: Paciente CMDR, feminino, 57 anos, viúva, natural e procedente de Pelotas, dona de casa, com ensino fundamental incompleto. Há 3 anos, por recomendação do CAPSi (local onde seu filho faz acompanhamento) procurou atendimento devido a sintomas depressivos, sendo, então, encaminhada ao CAPS. Porém, não se sentiu confortável e, não notando melhora do quadro, abandonou o tratamento. Há 2 anos paciente foi contatada pela pesquisa da psicologia da UCPel e encaminhada ao ambulatório de psiquiatria da UCPel. Ao iniciar o acompanhamento, paciente relatou tristeza, ideias de desvalia, choro fácil, anedonia, isolamento social, ideações suicidas, alucinações auditivas (ouvia chamarem pelo seu nome) e alucinações visuais (vultos) há 14 anos, iniciando após suicídio da filha e morte do marido devido a IAM, 1 mês após. Paciente conta que durante a infância residia com sua mãe e avó materna e mantinham uma boa relação. Relata que seu pai abandonou a família para trabalhar em Porto Alegre. Aos seus 7 anos de idade, sua mãe teve outro relacionamento. Paciente conta que seu padrasto era alcoólatra e quando fazia uso do álcool, lhe assediava, passando a mão em todo o seu corpo. Devido a isso, casou-se aos 14 anos de idade com o intuito de "fugir" dos assédios do padrasto. Após a morte de sua mãe, paciente conta que seu padrasto entrou em abstinência do álcool e hoje ela mantém uma relação estável com o mesmo. Refere que, em sua vida adulta, nunca manteve um padrão de humor alegre por muito tempo, sendo sempre uma pessoa "mais para baixo". Mesmo se sentindo triste durante sua vida, apresentava uma boa relação com seu marido e seus filhos. Relata que trabalhou durante toda a vida como doméstica em residências e em serviços de higiene de mercados, e isso lhe motivava. Paciente teve 6 filhas mulheres e 3 filhos homens com o mesmo marido, sendo uma gestação gemelar, porém um dos bebês faleceu nos primeiros dias de vida. Relata que seu filho mais novo, aos 7 anos de idade apresentou sintomas compatíveis com transtorno depressivo maior grave, com ideações e tentativas de suicídios repetidas vezes. Devido a isso, paciente acompanhou o filho, dos 7 anos de idade até o presente momento (aos 23 anos), em consultas no CAPSi. Em relação ao filho mais velho, paciente cita que o mesmo já se casou 4 vezes durante a vida, e lhe deu 9 netos. Quanto ao filho do meio, conta que sempre foi uma pessoa muito boa e sempre mantiveram uma ótima relação e que, mesmo não tendo escolaridade, é um filho inteligente, conseguindo emprego com facilidade. Teve um relacionamento durante a adolescência, no qual teve um filho. Entretanto, aos 18 anos de idade, contou para a sua mãe que era homossexual e levou seu parceiro para residir com ele e a paciente, a qual relata ser, junto com o restante da família, muito preconceituosa, não conseguindo aceitar completamente a orientação sexual do filho. 4 das filhas casaram-se e tiveram filhos, residindo em Pelotas, perto da sua casa. A paciente mantém uma boa relação com todas elas. Uma de suas filhas, aos 24 anos, suicidou-se por enforcamento. Paciente conta que achava que sua filha estava na melhor fase de sua vida, mesmo após ter descoberto que havia adquirido HIV devido a traições do marido. Paciente diz, também, que sua filha não deixou nenhum bilhete ou aviso, e sente-se culpada por não ter ajudado e não ter compreendido algum possível sinal que a filha tenha dado. Após 1 mês da morte dessa filha, seu marido, cardiopata em tratamento irregular, faleceu aos 52 anos, devido IAM. Desde então, paciente apresenta tristeza profunda, choro fácil, anedonia, insônia, alucinações auditivas e visuais. Paciente começou o acompanhamento no nosso ambulatório dia 18/10/2017 iniciando com Fluoxetina 20mg 1cp pela manhã, Risperidona 2mg 1cp à noite e Diazepam 5mg 3cp à noite. Durante as consultas foi aumentado gradualmente a dose da fluoxetina até o presente momento, em 4cp ao dia e associando-se amitriptilina 25mg 4cp à noite. Mesmo em altas doses das medicações, não houve remissão dos sintomas. Assim, associou-se Bupropiona 125mg 1cp ao dia. Na última consulta (13/06/2018) referiu que apresentou pequena melhora em relação ao choro fácil, melhora do sono e aumento do apetite, entretanto, os sintomas de tristeza profunda, anedonia e vontade de não mais viver seguiam-se, bem como as alucinações auditivas e visuais, tendo-se aumentado a Risperidona para 4mg. entendimento: A demanda desta paciente é lidar com a história de repetição de perdas e traumas. Sofreu abandono do pai aos 7 anos e abuso sexual do padrasto, além de um ambiente familiar hostil, por dependência de álcool. Casamento precoce na entrada da adolescência para fuga de situações de vulnerabilidade psicológica. Tem vários filhos, família humilde, com pouca instrução e sem estrutura emocional adequada para lidar e tolerar as perdas. Esta paciente vive marcada por mortes e perdas do passado. Vivenciou a morte da mãe, a perda de um dos bebês gêmeos, tentativas de suicídio já na infância de um dos seus filhos, revelação de homossexualidade de outro filho, angústias relacionadas à doença por HIV da filha, com posterior suicídio silencioso, e morte súbita do marido. A paciente vive em estado de luto por perdas reais. Como não conseguiu elaborar um processo de se desligar dos objetos perdidos e liberar a energia psíquica ali investida, o trabalho de luto não se concluiu; não foi possível reinvestir os objetos que morreram, permanecendo o seu ego empobrecido de energia psíquica. Pode-se dizer que o eu desta paciente identificou-se com os vários objetos perdidos, a ponto dele mesmo se perder. Dos estados de luto, o seu quadro evoluiu para uma melancolia: algo nesta paciente não termina por definir-se, algo falta onde deveria estar; a libido foi retirada do ego porque a perda do objeto amado transformou-se na perda do eu. Na melancolia também há um estado de espírito penoso, choro, lamento, perda de interesse pelo mundo externo, igual ao luto, porém, nesta, há uma perturbação da autoestima e empobrecimento do ego. Esta paciente, apresenta humor deprimido crônico, inibição de atividades prazerosas e auto recriminações por culpa pelas mortes não evitadas. Na sua história de vida vemos um destino que a impossibilita de fazer projetos de vida, pois está sempre se defendendo desta sequência de lutos. O componente destrutivo se instala e predomina ideias de morte. Isto explicaria, ao mesmo tempo, sua baixa resposta ao tratamento farmacológico, bem como a presença de ideias suicidas, junto com o fator genético de predisposição ao suicídio. Cabe ainda ressaltar que a paciente por ter baixo suporte social, é identificada como fator de risco para o luto patológico ou melancolia, assim como padrão disfuncional de enfrentamento de crises e conflitos graves5. O teste de realidade revela que o objeto amado não existe mais, exigindo que toda libido seja retirada dele. Essa exigência provoca uma oposição, pois as pessoas nunca abandonam facilmente uma posição libidinal. Esta oposição pode ser tão intensa que dá lugar a um desvio da realidade e a um apego ao objeto por intermédio de uma psicose alucinatória2. Conclusão: com o presente relato, conclui-se que os fatores psicodinâmicos desempenham papel importante no desenvolvimento e curso dos transtornos depressivos, incluindo-se o luto e a melancolia. A paciente do caso, mesmo após otimizado o manejo farmacológico não apresentou melhora efetiva e esperada dos sintomas, o que só reforça a importância da compreensão psicodinâmica para o médico.




Burnout na Formação Médica: Custo da Empatia?

Cristina Plentz Pessi, Daniel Spritzer, Grasiela Marcon, Daniel Arenas, Ana Margareth Bassols, Charlie Trelles Severo, Diego Rebouças, Fernando Ledjerman, Gabriela Monteiro, Idete Bizzi, Júlia Frozi., Luísa Bisol, Marco Aurélio Olendzki, Melina Canterji, Patrícia Lago, Pedro Victor De Lima Nascimento Santos, Tamires M Bastos, Vanessa Volkmer, Cláudio Laks Eizirik, Simone Hauck

Instituição: Programa de Pós-Graduação em Psiquiatria e Ciências do Comportamento /UFRGS /HCPA e CELG/ Centro de Estudos Luiz Guedes

São crescentes as evidências sobre a morbidade associada à formação médica. Risco aumentado para doença psiquiátrica e, certamente, prejuízo ao bem estar e vida pessoal, ainda pouco estudados, estão presentes desde a preparação para o vestibular. Um dos focos desses estudos é a síndrome de Burnout. Atualmente, o crescente número de suicídios relatados no meio universitário pela mídia trouxe ainda mais essa questão como algo a ser estudado e repensado. Na carreira acadêmica, esse risco parece aumentar ao longo do tempo, chegando a 6x o risco da população geral no doutorado. A crença de que é possível e necessário corresponder a qualquer na demanda profissional, o "orgulho" de sobreviver ao rigor da formação tipo 'seleção natural, o estigma ao pedir ajuda, a valorização ao aumento da pressão e das horas trabalhadas' como significando de sucesso e melhores resultados, precisam ser urgentemente repensados. Médicos são modelos, e é fundamental o desenvolvimento de estudos e projetos que possam auxiliar no entendimento desse processo, viabilizando ações e mudanças embasadas no aprofundamento da compreensão da trajetória dos médicos. Acreditamos que um dos fatores importantes dentro desse processo é a empatia. Desde a sua definição, ainda há muito para compreender sobre como ela interage com outros fatores na qualidade do trabalho com os pacientes e no impacto deste sobre o profissional. Ao dialogar com outras disciplinas e cenários, a compreensão psicanalítica parece fundamental, tendo muito a contribuir ao sair dos muros dos consultórios e institutos de formação, auxiliando os profissionais da saúde a lidar com seus pacientes e sentimentos por eles despertados, assim como com as motivações que os levam a escolha e dedicação a carreira.




Perfil Psiquiátrico de Gestantes usuárias de crack internadas em

César Antônio Caldart, Felix Henrique Paim Kessler, André Kracker Imthon, Malu Joyce de Amorim Macedo, Monise Costanzi, Mauro Barbosa Terra

Instituição: Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Objetivo: Avaliar o perfil psiquiátrico de gestantes usuárias de crack em internação psiquiátrica pública de referência no tratamento de gestantes dependentes de substâncias psicoativas na cidade de Porto Alegre- RS. metodologia: Foram incluídas gestantes usuárias de crack encaminhadas para desintoxicação em internação psiquiátrica no Hospital Materno Infantil Presidente Vargas. Foram aplicados os seguintes instrumentos: Sexta Versão da Escala de Gravidade de Dependência (ASI-6), em sua versão light; Mini International Neuropsychiatric Interview (MINI) para avaliação das principais comorbidades psiquiátricas; Entrevista Clínica Semiestruturada - SCID-II para avaliação de transtornos da personalidade do grupo B e um questionário sobre informações clínicas e obstétricas. Resultados: Foram entrevistadas sete gestantes usuárias de crack. Todas referiram um baixo nível de fissura, quatro disseram que a gestação foi indesejada, mas seis desejavam ficar com o bebê. Cinco haviam se prostituído e quatro tinham mantido relações sexuais sem proteção em troca de drogas. Nos últimos 30 dias antes da internação, uma gestante tinha usado crack todos os dias, três utilizaram a droga por 15 dias e três usaram por menos de cinco dias. Além do crack, neste período, cinco tinham usado tabaco, três haviam utilizado maconha, duas tinham feito uso de álcool e duas usaram cocaína. As comorbidades psiquiátricas mais frequentes foram: transtorno bipolar tipo I (duas gestantes da amostra), transtorno bipolar tipo II (uma gestante) e transtorno distímico (uma gestante). Em relação aos transtornos da personalidade (TP), foi encontrado que duas gestantes tinham TP borderline, uma apresentava TP narcisista, uma gestante tinha TP antissocial e uma apresentava a comorbidade de TP borderline/antissocial. Todas consideravam que o tratamento para o uso de drogas e a manutenção da abstinência eram consideravelmente ou extremamente importantes. A comorbidade clínica encontrada de forma mais frequente foi o HIV (quatro gestantes eram HIV positivo). Conclusão: Com base na amostra coletada até o momento, encontrou-se resultados compatíveis com a literatura atual: a existência de múltiplas comorbidades psiquiátricas associadas ao uso de múltiplas substâncias psicoativas em gestantes dependentes de crack. Além disso, a alta prevalência de infecção pelo HIV mostra que as comorbidades nesta população não são apenas psiquiátricas, mas também clínicas. Em face de tamanha morbidade materna e, consequentemente, fetal e neonatal, faz-se necessário seguir estudando o tema tanto pela sua importância clínica quanto social.




Comportamento evitativo em pacientes portadores de TOC: um estudo psicopatológico exploratório

César Antônio Caldart, Ygor Arzeno Ferrão

Instituição: Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA)

Objetivo: Determinar as características sócio- demográficas (sexo, idade, estado civil, religião, etnia, trabalho, classe social, número de anos estudados), características psicopatológicas intrínsecas ao TOC (idade de início dos sintomas, curso clínico da doença, história familiar de TOC e tiques, presença e gravidade de fenômenos sensoriais, dimensão dos sintomas do TOC e gravidade dos mesmos), características psicopatológicas extrínsecas ao TOC (suicidalidade, avaliação de crenças e gravidade de depressão e ansiedade), comorbidades psiquiátricas e tratamentos utilizados em pacientes portadores de TOC que apresentam comportamentos evitativos (CEs) versus aqueles que não apresentam. metodologia: Estudo de caso-controle do Consórcio Brasileiro de Pesquisa sobre Transtorno Obsessivo-Compulsivo (C-TOC), contando com n:1001. O critério de inclusão para comportamento evitativo foi apresentar qualquer resposta positiva nas questões sobre evitação da lista de sintomas da Escala Dimensional de sintomas obsessivo-compulsivos de Yale-Brown (DY-BOCS). Resultados: A análise univariada comparou as variáveis entre dois grupos: com CEs (n=738; 73,8%) e sem CEs (n=263; 26,3%). Após regressão logística com todas as variáveis com p<0,10 na análise univariada, obteve-se associação dos CEs com: a) dimensão de contaminação/limpeza, tanto em possuir sintomas nessa dimensão (p=0,002; OR=2,36), quanto apresentar maior gravidade nessa dimensão (p=0,007; OR=1,08); b) dimensão agressão/violência/desastres naturais (p<0,001; OR=3,14) e c) dimensão sexual/religiosa (p=0,059; OR=1,73). Conclusão: Portadores de TOC que apresentam sintomas dimensionais de agressão, gravidade de sintomas da dimensão de contaminação e sintomas dimensionais sexuais/religiosos estão mais propensos a apresentarem comportamento evitativo. Esses achados sugerem que deve-se redobrar os cuidados ao avaliar essa população de pacientes.

Correspondência
R. Sarmento Leite, 245 - Centro Histórico,
90050-170 Porto Alegre, RS, Brasil (UFCSPA)
Telefone: (51) 3303-9000




INICIAÇÃO CIENTIFICA

Gêmeos monozigóticos com a síndrome do X frágil: achados psicomotores e comportamentais

Daniel Luccas Arenas, Diego Henrique Terra, Henrique Perez Filik, Guilherme Girardi May, Eric Schwellberger Barbosa, Daniélle Bernardi Silveira, Ernani Bohrer da Rosa, Paulo Ricardo Gazzola Zen, Rafael Fabiano Machado Rosa

Instituição: Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA)

Objetivo: demonstrar um caso de gêmeos monozigóticos com a síndrome do X frágil, enfocando os seus aspectos psicomotores e comportamentais.

metodologia: descrição de relato de caso, junto à revisão da literatura.

Resultados: os pacientes eram o segundo e terceiro filhos de um casal com 42 anos (mãe) e 41 anos (pai), ambos hígidos e não consanguíneos, sendo a primeira filha (15 anos) também hígida. Alguns primos maternos possuíam dificuldade de fala. A gestação ocorreu sem intercorrências. A mãe negava o uso de medicações ou de drogas. Eles nasceram a termo, com medidas adequadas para o nascimento. Evoluíram com dificuldade de aprendizagem e de fala. Necessitaram fazer acompanhamento em serviço de estimulação precoce. Ao exame físico, com 11 anos e 9 meses de idade, observavam-se em ambos a presença de face longa e triangular, orelhas grandes e em abano, pectus excavatum e clinodactilia bilateral de quintos dedos. Havia descrição de agitação psicomotora, presença de movimentos repetitivos e contato visual reduzido. O cariótipo realizado com pesquisa do sítio frágil do X, utilizando-se de meios pobres em ácido fólico, evidenciou fragilidade em Xq27.3 em ambos os gêmeos, o que foi compatível com o diagnóstico de síndrome do X frágil. Os achados clínicos também eram compatíveis com o diagnóstico clínico com a síndrome. O prejuízo intelectual dos pacientes, apesar de não mensurado, bem como as suas características fenotípicas, pareciam ser similares.

Conclusão: do ponto de vista neurológico, a síndrome do X frágil é considerada a segunda causa mais comum de déficit intelectual após a síndrome de Down. Ela é causada por mutações no gene FMR1, sendo a grande maioria por uma expansão das repetições do trinucleotídeo CGG. Existe uma escassez na literatura de casos similares ao nosso (gêmeos idênticos afetados pela síndrome do X frágil) sendo cada relato essencial para ampliar a compreensão acerca do tema.

Correspondência
Rua Sarmento Leite, número 245/403 - Bairro Centro,
90050-170 Porto Alegre, RS, Brasil




Liga de Cronobiologia e medicina do sono - 2018 : uma abordagem multidisciplinar ao ensino de cronobiologia.

Raul Costa Fabris, Ana Carolina Odebrecht Vergne de Abreu, Paula Chiamenti, Otávio Augusto Gonçalves Dias Cionek, Alicia Carissimi, Luísa Klaus Pilz, Maria Paz Loayza Hidalgo

Instituição: Laboratório de Cronobiologia e Sono do Hospital de Clínicas de Porto Alegre - UFRGS

OBJETIVO: Este trabalho tem como objetivo relatar as atividades de extensão universitária, ensino e difusão de ciência realizadas pela Liga de Cronobiologia e Medicina do Sono da UFRGS/HCPA (Licronos) durante o ano de 2018.

METODOLOGIA: A Liga é um projeto de extensão realizado por uma equipe multidisciplinar composta por alunos da graduação e da pós-graduação da UFRGS e coordenado pela Professora Maria Paz Loayza Hidalgo, do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da FAMED-UFRGS. Como parte do projeto são realizadas atividades de ensino e promoção de saúde sobre ritmos biológicos, voltadas tanto para o meio acadêmico quanto para o público geral. Contamos com palestrantes de diversas formações, dentre elas Medicina, Biomedicina, Psicologia, Nutrição, Filosofia e Arquitetura. Neste trabalho, avaliamos as atividades de 2018 quanto ao número de eventos realizados, quantidade de participantes, formação profissional dos participantes, produção de materiais de difusão de ciência e alcance da divulgação em mídias sociais.

RESULTADOS: Até o presente momento, a Licronos realizou 3 eventos de ensino, com os temas "Cronobiologia e Neurociência", "Big Data e Machine Learning nas Ciências da Saúde" e "Iluminação Artificial e Saúde". O total de participantes ao longo dos eventos de ensino foi de 193 ouvintes, sendo destes 79,8% estudantes de graduação, 11,9% alunos ou professores de programas de pós-graduação e 8,3%, profissionais da comunidade externa. Dos estudantes de graduação, os cursos mais frequentes foram Psicologia (43,6% dos estudantes de graduação), Medicina (35,6%) e Biomedicina (4,7%), com participação de ouvintes de 9 outros cursos (16,1%), como Engenharia da Computação, Ciência Política, Fonoaudiologia e Informática. A divulgação dos eventos foi feita por meio da página do Facebook da Liga (fb.me/licronoshcpa), criada em março de 2018, que conta com 233 seguidores. Somando a divulgação dos 3 eventos, obtivemos um alcance total de 45.300 pessoas, 2.958 visualizações dos eventos, 1.271 respostas, 59 compartilhamentos e 126 reações aos eventos, conforme dados colhidos pelas estatísticas do Facebook. Quanto a materiais de difusão de ciência, foi escrito o capítulo "Liga de Cronobiologia e Medicina do Sono", no Livro "Ligas Acadêmicas: definições, experiências e conclusões", publicado em mídia física e digital em Abril deste ano.

CONCLUSÃO: Comparativamente às atividades desenvolvidas no ano anterior, observamos um aumento expressivo no número de participantes e no engajamento do público nas redes sociais em 2018. A abordagem multidisciplinar adotada pela Liga favorece a participação de ouvintes de diferentes formações profissionais, amplia a difusão do conhecimento científico sobre ritmos biológicos e saúde e contribui para a integração entre as atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão realizadas pelo Laboratório de Cronobiologia e Sono do HCPA/UFRGS.

Correspondência
raulcfabris@hotmail.com




O bem-estar através da leitura:Um estudo sobre uma proposta de atividades de compreensão leitora para pacientes psiquiátricos internados

Gabriel de Oliveira Panitz, Patricia de Andrade Neves, Pedro Timm da Silveira, Bibiana Brino do Amaral, Rafaela Birck Detanico, Paloma Othero, Ariella Dutra Dal Pozzo

Instituição: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)

OBJETIVOS: Desenvolver atividades de compreensão leitora em textos de estrutura narrativa dominante (crônicas), que sejam uma forma de terapia não medicamentosa e que possam promover bem-estar aos pacientes psiquiátricos internados. Verificar em que medida o grupo de profissionais de saúde que atuam na internação, os profissionais da Psicolinguística e interfaces e os oficineiros avaliam essas atividades e acreditam que elas possam contribuir na humanização hospitalar (ala psiquiátrica especificamente). METODOLOGIA: O presente estudo está inserido na interface entre as áreas da Psiquiatria (Medicina) e da Psicolinguística (Letras), sendo assim, as atividades de leitura têm um direcionamento e um embasamento teórico linguístico específico. São construídas cinco atividades de compreensão leitora, por meio do gênero crônica (que trata de assuntos cotidianos, com uma linguagem mais despojada e coloquial, ou seja, mais atrativa e de fácil compreensão). Ademais a escolha de textos narrativos a serem trabalhados com esses pacientes é pertinente, pois esse tipo de texto faz parte do conhecimento prévio da população em geral e está atrelado à noção de temporalidade e trabalha com a verossimilhança. RESULTADOS: Nota-se que ao se praticar a leitura em ambiente hospitalar a internação torna-se menos dolorosa e agressiva, pois o paciente verbaliza seus problemas e reduz a ansiedade, a monotonia e o medo decorrentes da internação. Contata-se que atividades de leitura podem auxiliar no combate às patologias emocionais que atingem as pessoas, pois elas promovem prazer, conforto e contribuem para o bem-estar físico e mental. CONCLUSÃO: Os resultados permitem afirmar a importância da interface entre as áreas da Medicina e da Letras para um direcionamento teórico das iniciativas de humanização hospitalar através da leitura. Sendo assim, é mostrado nesse estudo o papel, a viabilidade, os novos direcionamentos linguísticos e a boa aceitação das atividades sugeridas na promoção do bem-estar dos pacientes psiquiátricos internados.

Palavras-chave: Atividades de leitura; Bem-estar; Crônicas; Interdisciplinaridade; Narrativas; Pacientes da ala psiquiátrica




Narrativa na ala Psiquiátrica: um recorte da formação médica

Gabriel de Oliveira Panitz, Karine Inês Scheidt, Talissa Bianchini, Lucas Faleiro, Mikaela Zeni, Ivan Ferreira Carlos Antonello,,Patricia de Andrade Neves.

Instituição: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)

OBJETIVOS: Desenvolver habilidades dos futuros profissionais da área da saúde, por meio de um trabalho interdisciplinar, estimulando-os à empatia, escuta ativa e percepção da individualidade dos pacientes. Promover a humanização e avaliar a melhora da qualidade de vida no espaço hospitalar por meio da técnica narrativa como complementação terapêutica. Alimentar um banco de dados referente aos pacientes internados na Ala Psiquiátrica do HSL da PUCRS e às atividades realizadas. METODOLOGIA: Esse projeto fundamenta-se em uma experiência de integração entre Medicina e Letras, contribuindo com a formação médica e o bem estar do paciente. A narrativa, por meio da contação de histórias, torna-se instrumento de aprendizado dos estudantes da área da saúde, posto que a profissão médica baseia-se em ouvir e em interpretar histórias contadas pelos pacientes, além de ser uma ferramenta de aproximação do paciente ao raciocínio lógico e à razão. Isso acontece por meio de encontros diários e da realização de um sarau mensal. Registram-se os dados, decorrentes das atividades, armazenando-os em um banco de dados. Semanalmente, há uma reunião para discussão das atividades, orientação acadêmica e revisão do preenchimento dos dados. RESULTADOS: Nota-se a reciprocidade de benefícios entre acadêmicos e pacientes envolvidos nas atividades. Percebe-se a importância da leitura na recuperação da saúde dos pacientes e no aprendizado dos acadêmicos, que desenvolvem habilidades de escuta, interpretação, empatia e comunicação. CONCLUSÃO: A pesquisa integra diferentes áreas da comunidade acadêmica, aprimora as habilidades médicas dos estudantes, investiga a eficácia do estímulo à leitura na recuperação dos pacientes e facilita a obtenção de evidências científicas por meio do registro em um banco de dados. Há perspectivas de que a hipótese trabalhada possa ser expandida a partir da reprodução do método e utilizada no ensino e na assistência.

Palavras-chave: Coleta de Dados; Habilidades médicas; Interdisciplinaridade; Narrativa; Terapêutica




Aspectos neurocomportamentais de uma paciente com hipomelanose de Ito

Anna Carolina Viduani Martinez de Andrade, Daniel Luccas Arenas, Diego Henrique Terra, Daniélle Bernardi Silveira, Ernani Bohrer da Rosa, Jamile Dutra Correia, Maurício Rouvel Nunes, Elisa Pacheco Estima Correia, Paulo Ricardo Gazzola Zen, Rafael Fabiano Machado Rosa

Instituição: Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA)

Objetivo: descrever um paciente com hipomelanose de Ito, salientando os seus aspectos neurocomportamentais. metodologia: realizou-se um relato de caso e revisão da literatura. Resultado: a paciente apresentava 3 anos e 10 meses, única filha de um casal de pais jovens e sem casos semelhantes na família. Ela evoluiu após o nascimento com hipotonia e atraso no desenvolvimento neuropsicomotor. Sustentou a cabeça aos 10 meses, sentou sem apoio com 1 ano, e andou com 1 ano e 6 meses. Emitia apenas sons e frequentava escola especial. Sua avaliação audiométrica através do BERA foi normal. Possuía tendência a se relacionar pouco com as demais crianças, além de apresentar crises de agressividade com gritos e tapas. Nunca havia apresentado crises convulsivas. A avaliação através do eletroencefalograma revelou disfunção córtico-subcortical generalizada e duplo foco epileptiforme nas áreas temporais médias e posterior. A tomografia computadorizada de crânio mostrou dilatação do sistema ventricular, moderada ampliação das cisternas basais, além de discretas hipodensidades periventriculares adjacentes aos cornos frontais. Ao exame físico, com 3 anos e 10 meses, evidenciou-se fronte proeminente, epicanto bilateral, fendas palpebrais pequenas, com impressão de hipertelorismo, ponte nasal alta, orelhas baixo implantadas e retrovertidas, e áreas de hipopigmentação seguindo as linhas de Blaschko, mais visíveis em membros inferiores, antebraços e tórax. Os exames de cariótipo realizados a partir do sangue periférico e da pele foram normais (46,XX). A soma dos achados clínicos foi compatível com o diagnóstico de HI. Conclusão: a HI caracteriza-se pela presença de lesões de pele hipocrômicas que seguem as linhas de Blaschko e assimetria corporal, estando estas frequentemente associadas a manifestações sistêmicas, como sintomas neurológicos e comportamentais. Assim, nosso objetivo foi descrever uma paciente com HI, chamando atenção para os achados que levam ao seu diagnóstico.

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Rua Sarmento Leite, número 245/403 - Bairro Centro
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Déficit intelectual e atraso no desenvolvimento neuropsicomotor em um paciente com a variante rara da síndrome de Klinefelter 49,XXXXY

Anna Carolina Viduani Martinez de Andrade, Daniel Luccas Arenas, Diego Henrique Terra, Jamile Dutra Correia, Maurício Rouvel Nunes, Maria Angélica Tosi Ferreira, Bibiana de Borba Telles, Rodrigo da Silva Batisti, Paulo Ricardo Gazzola Zen, Rafael Fabiano Machado Rosa

Instituição: Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA)

Objetivo: descrever os achados clínicos de uma paciente apresentando a variante rara da síndrome de Klinefelter 49,XXXXY, condição associada ao atraso no desenvolvimento neuropsicomotor e ao déficit intelectual. metodologia: realizou-se o relato do caso e uma revisão da literatura. Resultados: o paciente era o primeiro filho de um casal jovem. Durante a gestação, diagnosticou-se crescimento intrauterino restrito no sétimo mês. Ele nasceu a termo, por parto normal, pesando 1950 g, medindo 43 cm, e com escore de Apgar 9 no quinto minuto. Ao nascimento, houve hipótese de síndrome de Down como diagnóstico. A avaliação clínica cardiológica constatou provável estenose pulmonar. Quanto ao desenvolvimento neuropsicomotor, evoluiu com atraso, sentando-se sem apoio com 8 meses e caminhando sozinho com 3 anos e 1 mês. Aos 3 anos e 9 meses pronunciava poucas palavras. Apresentou posteriormente dificuldade de aprendizagem. A radiografia de mãos e punhos mostrou importante retardo da maturação óssea. Ao exame físico, evidenciou-se achatamento occipital do crânio; implantação baixa dos cabelos na fronte e na nuca; fenda palpebral oblíqua para cima; orelhas retrovertidas com hélix sobredobrada; palato alto; testículos retráteis e pênis pequeno escondido na gordura pubiana. O cariótipo mostrou a presença de uma constituição cromossômica masculina com tetrassomia do cromossomo X - 49,XXXXY - o que foi compatível com o diagnóstico de variante de síndrome de Klinefelter: Na avaliação endocrinológica, verificou-se a presença de hipogonadismo hipergonadotrófico. Conclusão: relatos de variantes da síndrome de Kleinefelter são considerados raros. Estas deveriam ser lembradas entre indivíduos com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor e déficit intelectual, apresentando dismorfias e hipogonadismo. Salientamos a dificuldade do diagnóstico dessas variantes tendo como base os achados clínicos, porque há sobreposição dos mesmos com os de outras cromossomopatias. Sendo assim, a realização do cariótipo é muito importante para a definição etiológica da síndrome e, consequentemente, o adequado manejo do paciente.

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Traumas Precoces e o Transtorno da Personalidade Antissocial em Usuários de Crack

Vanessa Loss Volpatto, Luana da Silveira Gross, Juliana Nichterwitz Scherer, Felipe Ornell, Lisia von Diemen, Flavio Pechansky, Felix Henrique Paim Kessler

Objetivo: Investigar a associação entre TPAS e a ocorrência de traumas precoces em usuários de crack que buscaram tratamento no sistema público de saúde brasileiro. método: Uma amostra de 185 usuários de crack foi recrutada em unidades especializadas no tratamento de dependentes químicos em seis capitais brasileiras. A fim de avaliar variáveis sociodemográficas foi utilizado o Addicition Severity Index (ASI-6). As comorbidades psiquiátricas foram avaliadas pelo Mini International Neuropsychiatric Interview (MINI). Para verificar a ocorrência de vivências traumáticas foi utilizado o Childhood Trauma Questionnaire (CTQ). O teste qui-quadrado foi utilizado para verificar a associação entre TPAS e a ocorrência de traumas precoces. Resultado: Da amostra, 41,1% (n=76) possuíam diagnóstico do TPAS, enquanto 58,9% (n=109) não possuíam. Encontrou-se associação significativa entre traumas decorrentes de abuso; 36,8% possuíam vivência de abuso emocional e diagnóstico de TPAS, vs 22,2% que tinham essa vivência e não possuíam o diagnóstico (p=0,045), 51,3% reportaram histórico de abuso físico e diagnóstico de TPAS comparado a 24,87% que não possuíam TPAS (p=0,005), e 17,3% havia histórico de abuso sexual e TPAS vs 4,7% de quem não possuía o transtorno (p=0,010). Não foram encontradas associações significativas entre histórico de negligência física e TPAS (15,8% possuíam do diagnóstico concomitante com vivência de negligência física vs 23,1% que não possuíam o diagnóstico de TPAS, p=0,299) e emocional (19,7% possuíam do diagnóstico concomitante com vivência de negligência emocional vs 18,5% que não possuíam o diagnóstico de TPAS, p=0,987). Conclusão: Os achados do presente estudo corroboram dados da literatura que sugerem uma forte associação entre vivências traumáticas e desenvolvimento de transtornos de personalidade. A partir dos nossos resultados, observamos que os subtipos traumáticos abusivos são mais frequentes em nossa amostra, quando comparado aos traumas de negligência, que pode ser explicado devido a nossa amostra ser de usuários de crack, que tendem a possuir um histórico traumático mais violento comparado a outras populações. Percebe-se a importância de mapear essas situações precocemente e desenvolver estratégias educativas a fim de se prevenir a violência na infância e suas futuras complicações na vida adulta, como o TPAS e uso de drogas pesadas.

Correspondência
Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas, Centro Colaborador em Álcool e Drogas HCPA/SENAD
Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Rua Professor Álvaro Alvim, nº 400,
90420-020 Porto Alegre, RS, Brasil




A Avaliação da Função Reflexiva na Psicoterapia Psicodinâmica de Crianças e Adolescentes - Dados Preliminares

Vitória Sander Ferraro, Fernanda Munhoz Driemeier Schmidt, Afra Cristina Chiappetta, Lucca Zini Homem de Bittencourt, Eduardo Brenner, Eduarda Cardoso de Souza, Vera Regina R. Ramires

Instituição: Unisinos - Universidade do Vale do Rio dos Sinos

Este estudo é um recorte do projeto intitulado Avaliação do Apego e da Função Reflexiva:Adaptação de Instrumento e Análise do Potencial Preditivo do Desfecho de Psicoterapia de Crianças e Adolescentes. A Função Reflexiva (FR) é uma aquisição do desenvolvimento que permite à criança refletir e compreender as atitudes dos outros e próprias, possibilitando que ela aja de maneira adaptada em contextos interacionais específicos. Estudos têm demonstrado a associação entre déficits na FR e o estabelecimento de diversas desordens emocionais e a FR tem sido considerada um fator comum nas diferentes modalidades de psicoterapias. Os estudos nesse tema são escassos no Brasil. Objetivo:avaliar e descrever a função reflexiva de crianças e adolescentes que buscam psicoterapia psicodinâmica.Método: Foi realizado um estudo transversal com 20 pacientes na faixa etária de 9 a 17 anos (M=13,35, DP=2,85) que iniciaram psicoterapia psicodinâmica entre abril de 2018 e maio de 2018 em um ambulatório de saúde mental. Os instrumentos utilizados foram a ficha de dados sócio-demográficos e o The Reflective Function Questionnaire for Youths (RFQY)- adaptado para o português brasileiro. Os dados apresentados são preliminares de um estudo piloto. Resultados: A maioria dos pacientes que buscaram atendimento eram do sexo masculino (55%), cursavam o ensino fundamental (65%) e moravam com ambos os pais (40%). Com relação ao motivo da busca de atendimento, 40% relataram problemas de retraimento e depressão, 20% problemas de relacionamento e 15% ansiedade e depressão. Na avaliação da FR obteve-se a média de 7,9 (DP=0,8), os escores foram divididos em baixa FR (escores iguais ou menores que 8) e alta FR (escores igual ou maior que 9). Apenas dois pacientes apresentaram uma alta função reflexiva. Conclusão: Apesar de serem análises preliminares, já foi possível observar a baixa capacidade de FR das crianças e adolescentes que buscaram psicoterapia psicodinâmica. Identificar a FR do paciente permite sua abordagem, uma vez que FR irá interferir na forma como a criança e o adolescente compreendem seu próprio estado mental e do outro, as suas relações interpessoais, relação com o terapeuta e capacidade de refletir e compreender suas dificuldades emocionais e conflitos. É importante a sua avaliação no início do tratamento. Além da sua utilização na clínica psicológica, a avaliação da FR mostra-serelevanteferramenta no desenvolvimento das pesquisasde processo e resultado das psicoterapias.

Palavras-chave: Função reflexiva; Psicoterapia de crianças e adolescentes.

Correspondência
Mostardeiro, 5/512
Porto Alegre, RS, Brasil
E-mail: vitoriaferraro@hotmail.com; fernandadriemeier@hotmail.com




Uma perspectiva qualitativa sobre divórcio e seu impacto na saúde mental dos filhos

Danielle Soares, Antonio Côrtes, Nathália Lobato, Rafaela Girardi

Instituição: Faculdade de Medicina da UFRGS

OBJETIVO: Nosso objetivo consiste em avaliar o impacto da qualidade da relação parental na saúde mental dos filhos, a partir de uma perspectiva qualitativa dos divórcios e casamentos dos pais dos participantes. Será investigado se filhos de pais que se divorciaram na infância ou adolescência têm mais ou menos traços de ansiedade quando comparados a filhos de pais casados com relação conflituosa. Esperamos encontrar resultados que corroborem a hipótese de que uma relação conflituosa entre os pais têm maior impacto na saúde mental dos filhos no que diz respeito à ansiedade do que um divórcio que aconteça de maneira saudável. METODOLOGIA: Os dados foram coletados por meio de um formulário divulgado via redes sociais por um período de duas semanas entre maio e junho de 2018, com respostas anônimas provenientes de 257 pessoas. Esse questionário foi aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, consistindo em uma parte de aspectos sociodemográficos, uma parte de aferição de traços de ansiedade e uma parte sobre a qualidade da relação parental, separando os casos de divórcio e casamento. Como critérios de inclusão desta pesquisa usamos a idade apenas, entre 18 e 30 anos, que compõem a geração Y. Maiores de 30 não participaram da pesquisa, pois queríamos descartar a geração antecessora conhecida como X devido à sua cultura e mentalidade sobre casamento já muito divergentes da atual. Para estabelecer quem seria ansioso ou não, atribuímos pontos as respostas das perguntas e decidimos uma pontuação de corte, com base na média da própria amostra. Para estabelecer a qualidade da relação marital - tóxico ou não - fizemos o mesmo processo, atribuindo pontuações. RESULTADOS: Nossa amostra foi composta principalmente por estudantes de classe média alta, com a maior parte deles estando na faixa de 20-22 anos. Quanto a ansiedade, encontramos um grande percentual de ansiosos - 73,5%, o que é condizente com a literatura atual quanto à faixa etária e classe social predominante. Acerca da relação parental, confirmamos nossa hipótese de que filhos de pais que mantêm um casamento conflituoso apresentam porcentagem de ansiedade maior (89,1%) do que a dos entrevistados que vivenciaram um divórcio dito saudável (56,8%) (p = 0,0005). CONCLUSÃO: Concluímos que o divórcio pode ser menos prejudicial aos filhos no aspecto da ansiedade que um casamento conflituoso. Portanto, mais pesquisas que avaliem qualitativamente os divórcios e seus impactos na saúde mental dos filhos são necessárias, para talvez desconstruir a mentalidade que permeia nosso meio de que a separação é a última opção. Dessa forma, estratégias para reduzir os danos de casamentos tóxicos às famílias, a partir de uma aceitação mais precoce da ideia do divórcio como solução para o problema, poderiam ser propostas, gerando separações saudáveis e benéficas para o núcleo familiar em conflito. O viés de seleção é uma limitação do nosso estudo, uma vez que o formulário foi divulgado pelas redes sociais Facebook e Whatsapp.

Correspondência
Rua Ramiro Barcelos 2400 (FAMED - UFRGS)
daniellesoarest@gmail.com




Estigmatização de doenças psiquiátricas

Rafael Bittencourt Bins (rbins_2@hotmail.com), Gabriela Brendel Blum e Ives Cavalcante Passos

Instituição: Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA)

Objetivou-se avaliar como os indivíduos percebem as doenças psiquiátricas e as pessoas com doenças mentais no Brasil. Um questionário de 27 perguntas foi realizado utilizando a ferramenta "Google Formulários". A primeira parte avaliou o perfil socioeconômico do participante da pesquisa, e a segunda parte, a sua percepção sobre doenças psiquiátricas e sobre doentes mentais. As respostas eram anônimas, objetivas e de escolha simples. Os meios de divulgação foram as mídias sociais "Whatsapp" e "Facebook", por meio de compartilhamento de link e por divulgação do questionário na página "Saúde Mental na Atualidade", respectivamente. O questionário foi aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Como resultado, 917 pessoas responderam ao questionário, sendo 614 do gênero feminino (67,3%) e 297 do gênero masculino (32%). As médias de idade e de anos de estudo foram, respectivamente, 39,35 e 13,7 anos. Um total de 80,1% eram brancos e 62,8% residem no Estado do Rio Grande do Sul. Entre os principais resultados, encontrou-se que a renda influencia na percepção sobre a doença psiquiátrica ser ou não como outra doença qualquer (tabela 1). Ademais, a escolaridade dos respondentes e o fato de possuírem doença psiquiátrica diagnosticada por um profissional (tabela 1) influenciaram na opinião sobre a doença mental ser devido à falta de força de vontade do doente. As demais variáveis, como idade e gênero, não apresentaram diferenças significativas entre os grupos. Entre as limitações da pesquisa, está a restrição dos indivíduos que responderam o questionário àqueles que têm acesso às redes sociais e que entraram em contato com a pesquisa durante a sua veiculação na internet. O número de indivíduos que respondeu ao questionário também não foi representativo da população brasileira, principalmente considerando a alta escolaridade dos participantes. Desse modo, almejamos que futuramente a pesquisa possa atingir um mínimo de 5 mil pessoas em diferentes Estados para obtermos resultados mais fidedignos ao que os brasileiros pensam sobre doenças psiquiátricas.




Correspondência
Rafael Bittencourt Bins
rbins_2@hotmail.com

 

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