Rev. bras. psicoter. 2019; 21(2):79-92
Plutarco LW, Ribeiro JVV, Gusmão EÉS, Farias MG. Terapia Cognitivo-Conductual e intervenciones con parejas en Brasil: ¿amor o divorcio?. Rev. bras. psicoter. 2019;21(2):79-92
Artigo de Revisao
Terapia Cognitivo-Conductual e intervenciones con parejas en Brasil: ¿amor o divorcio?
Cognitive-Behavioral therapy and interventions with couples in Brazil: love or divorce?
A terapia Cognitivo-Comportamental e a intervenção com casais no Brasil: amor ou divórcio?
Lia Wagner Plutarcoa; João Virgílio Vieira Ribeirob; Estefânea Élida da Silva Gusmãoc; Mariana Gonçalves Fariasd
Resumo
Abstract
Resumen
A terapia cognitivo-comportamental tem se mostrado eficaz no tratamento das mais diversas queixas psicológicas, no manejo clínico de transtornos psicológicos e no embasamento de intervenções com diferentes públicos-alvo1,2. O que se conhece hoje como terapia cognitivo-comportamental, na prática, representa uma pluralidade de modelos de intervenções psicoterápicas, por exemplo, a Terapia Racional Emotiva, a Terapia Dialética Comportamental, a Terapia do Esquema, a Terapia Cognitivo-Comportamental tradicional de Aaron Beck, entre outras3.
De acordo com Dobson et al.3, tais modelos têm, em comum, uma prática baseada em evidências e, em via de regra, seguem três princípios de base, a saber: a) os pensamentos podem ser conhecidos ou acessados, portanto, com o devido treino, as pessoas podem passar a ter consciência a respeito da sua forma de pensar; b) os pensamentos mediam as respostas emocionais e comportamentais, sendo responsáveis por diversos padrões de comportamentos e emoções emitidos por uma pessoa; por fim, c) com base nos dois princípios anteriores, admite-se que é possível modificar a forma que as pessoas respondem ou interpretam os eventos ao seu redor. Ancorada em tais premissas, a intervenção psicoterapêutica da terapia cognitivo-comportamental, segundo Beck4, incide, principalmente, sobre três níveis de cognição: pensamentos automáticos, crenças intermediárias e crenças centrais - utilizando diferentes instrumentos e técnicas para modificar cognições distorcidas (para uma revisão, pode-se consultar o livro citado).
Nesse cenário, levando em consideração que os psicólogos devem estar preparados para atuar frente a uma variedade de problemas e populações, algumas das técnicas utilizadas no tratamento da depressão e de outros transtornos psicológicos foram adaptadas para o manejo clínico das demandas de casais em conflito. Nessa abordagem, o trabalho clínico com casais busca identificar e modificar crenças irracionais que geram desentendimentos e problemas para o relacionamento conjugal5. Na literatura americana, podem ser encontrados diversos protocolos de tratamento dentro dessa vertente psicológica para a intervenção clínica com tal público, advindos de pesquisas que demonstram experiências exitosas das técnicas e metodologias da terapia cognitivo-comportamental junto a casais1, 6. As publicações formam o campo da Terapia Cognitivo-Comportamental de Casal ou CBCT (i.e., Cognitive behavior couples therapy) e mostram que ela pode ajudar os casais a lidarem melhor com estresses do relacionamento e problemas de saúde de origem física ou psicológica1, 7. De modo geral, as intervenções baseadas na CBCT têm como principal foco a interação entre as cognições, as respostas emocionais e as interações comportamentais dos casais1.
Gurman et al.7 reúnem as diversas fases da interseção da terapia de casal com a terapia cognitivo-comportamental. De forma resumida, os autores propõem três grandes períodos pelos quais a CBCT já passou. Em um primeiro período, as intervenções tinham como foco o treinamento de habilidades específicas, como a comunicação e a resolução de problemas e a mudanças de comportamentos manifestos, sendo o papel do terapeuta, principalmente, psicoeducativo e diretivo. O segundo período foi marcado pela compreensão da necessidade de mudar simultaneamente a si e ao parceiro, por meio da Terapia Integrativa Comportamental de Casal e do desenvolvimento de algumas habilidades, como a aceitação mútua, as quais passaram a figurar entre os objetivos psicoterapêuticos. O terceiro período, por sua vez, foi marcado por produções que visavam trabalhar com casais considerados "difíceis", por exemplo, casais cujo um dos parceiros possuía um diagnóstico médico ou psiquiátrico estabelecido e que afetasse a relação íntima, como o alcoolismo.
É importante ressaltar que as relações amorosas e sexuais são estressores potenciais que podem prejudicar a saúde física e mental de uma pessoa. Há evidências que mostram, por exemplo, que problemas de relacionamento podem acarretar transtornos como depressão e ansiedade; reduzir em cerca de quatro anos a expectativa de vida; aumentar os níveis de irritação; diminuir o sistema imunológico; e, ainda, favorecer o aparecimento de problemas psicossociais, como o abuso de substâncias químicas e até o suicídio8, 9,10. Por tais motivos, torna-se evidente a necessidade de compreender e investigar os diversos fenômenos da relação marital, buscando avaliar a eficácia das técnicas frente aos diferentes conflitos e demandas dos casais, bem como contribuir para o desenvolvimento de estratégias sistematicamente estruturadas e que podem ser reproduzidas.
No entanto, em contexto brasileiro, a terapia de casal aliada à terapia cognitivo-comportamental, parece ser um tema ainda pouco estudado. A falta de uma literatura nacional que fundamente a prática clínica com casais gera intervenções arbitrárias, desestruturadas e pouco eficazes, em grande parte, transpostas de modelos de outros contextos, principalmente do americano - o qual é o mais amplamente utilizado como referência. De fato, a revisão mais recente da produção científica acerca da Terapia Cognitiva com Casais, no Brasil, data de 2008 e foi realizada por Peçanha et al.5. Na ocasião, os autores consultaram sete bases de dados, incluindo bases internacionais e nacionais, como Pubmed e Portal de periódicos CAPES; dessas, somente a Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) apresentou publicações dentro dos critérios pesquisados. Foram encontrados somente dois artigos que abordavam as duas temáticas "terapia de casal" e "terapia cognitivo-comportamental", demonstrando-se a escassez da literatura brasileira a respeito do uso dessa abordagem terapêutica junto a casais até aquele momento. Passados dez anos, desde o estudo de Peçanha et al.5, permanece o questionamento acerca dos avanços da produção brasileira acerca dessa temática. Portanto, o presente artigo tem como objetivo realizar uma revisão sistemática da literatura acerca da terapia de casal aliada à terapia cognitivo-comportamental, buscando averiguar se o cenário de publicações brasileiras sobre o tema modificou-se de forma significativa nos últimos dez anos, especificamente entre o intervalo dos anos de 2008 e 2018.
MÉTODO
Foi realizada uma revisão sistemática da literatura, em bases de dados nacionais e no Google Scholar, visando estabelecer o que vem sendo produzido a respeito do tema na literatura brasileira. A revisão sistemática da literatura pode ser brevemente descrita como um processo de reunião, avaliação crítica e sintética dos resultados de diversos estudos11.
ESTRATÉGIA DE BUSCA
Foram realizadas buscas no Portal de periódicos CAPES, sem especificação de bases de dados e no Google Scholar. No Portal de periódicos CAPES foram utilizados os descritores, no seguinte arranjo: "'terapia cognitivo-comportamental' AND 'casal'". Especificamente no Google Scholar, que permite a utilização de um maior número de descritores simultâneos, foi realizada uma única busca empregando os seguintes descritores em conjunto: "terapia marital", "terapia conjugal", "terapia de casal", "terapia cognitivo-comportamental", "terapia cognitiva".
CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO
Foram utilizando os seguintes critérios de inclusão das publicações: tipologia de produção (exclusivamente artigos), ano de publicação (2008 a 2018), idioma (português). Além disso, área temática foram incluídos apenas artigos que abordavam a terapia de casal aliada à terapia cognitivo-comportamental. Nos casos de artigos de metodologia quantitativa, foram inclusos somente aqueles cuja amostra era composta por casais. Foram excluídas publicações em outros formatos, como monografias e dissertações e/ou que envolviam outras modalidades temáticas, como psiquiatria. Os resultados das buscas podem ser observados na Figura 1.
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