Rev. bras. psicoter. 2019; 21(2):93-103
Silva HAB, Zanetti SAS. La elección amorosa entre la compulsión a la repetición y la transferencia: un caso clínico. Rev. bras. psicoter. 2019;21(2):93-103
Relato de Caso
La elección amorosa entre la compulsión a la repetición y la transferencia: un caso clínico
The love choice between compulsion to repetition and transference: a clinical case
A escolha amorosa entre a compulsão à repetição e a transferência: um caso clínico
Homero Artur Belloni Silvaa; Sandra Aparecida Serra Zanettib
Resumo
Abstract
Resumen
INTRODUÇÃO
As escolhas amorosas muitas vezes são problemáticas, a ponto de Nasio1 as colocar entre uma das situações que mais aparecem nos consultórios, juntamente com as escolhas profissionais. No entanto, por mais que as pessoas pensem a respeito do par amoroso, elaborem teorias sobre a vida desse outro, reflitam sobre o seu passado, imaginem o futuro juntos, não é com base nesses aspectos conscientes que tais decisões são tomadas. Para Nasio1, a decisão de começar um relacionamento ou não é tomada sempre com base em aspectos mais inconscientes do indivíduo e, assim como outras escolhas, o autor defende que elas não são explicadas sem o conceito freudiano de compulsão à repetição.
A partir do exposto, cremos ser de extrema importância que aqueles que trabalham com a clínica psicanalítica tenham olhares atentos para esta questão: a relação entre a compulsão à repetição e a escolha amorosa, tendo em vista o caráter central que esta relação pode ocupar em um caso clínico. Assim, esse artigo se propõe a apresentar um relato de um caso no qual perceber o modo como se organizava a escolha amorosa foi essencial para o tratamento e a compreensão do caso. Ainda visa expor a importância de se considerar a repetição no contexto dos relacionamentos amorosos dentro da relação transferencial, explorando a função do terapeuta como aquele capaz de identificar na relação transferencial os resultados dos fenômenos inconscientes do paciente. É o terapeuta quem convoca o indivíduo para repensar sua vida por meio desta repetição, de modo que esse consiga abandonar o caráter repetitivo de suas ações.
COMPULSÃO À REPETIÇÃO
A noção de compulsão à repetição se mostra muito importante para a teoria e prática psicanalítica, de modo que escutar e perceber a repetição tem se mostrado um desafio a ser percorrido por psicólogos que visam compreender o inconsciente de seus pacientes1. Para o autor, essa compulsão é um movimento inconsciente do indivíduo de repetir um passado traumático esquecido. Segundo ele, sua importância se pauta na questão que ela é a principal atividade do inconsciente, dirigindo nossas escolhas amorosas, profissionais, dentre outras. Portanto, o autor garante que qualquer profissional que se proponha a estudar, observar ou escutar o inconsciente deve analisar não apenas situações prazerosas para o indivíduo, mas situações lhe causam sofrimento e que mesmo assim tende-se a repetir ao longo da vida.
Freud2 em "Além do princípio do prazer" começa a descrever o caráter de compulsão que existe na repetição. Nesse texto, Freud dá alguns exemplos de como fatos traumáticos são repetidos nos sonhos, nas brincadeiras infantis e na vida dos neuróticos e, a partir disso, ele se pergunta o motivo do ego repetir tais fatos. Esse momento da metapsicologia freudiana é decisivo para toda teoria psicanalítica, pois como Caropreso e Simanke3 defendem, grande parte da teoria psicanalítica está sendo questionada por Freud neste momento, já que a ideia do "princípio do prazer" está em cheque.
Para responder à questão da repetição nos sonhos, nos jogos infantis e na vida dos neuróticos, mesmo em situações desprazerosas, Freud2 introduz a noção de compulsão à repetição. Para ele, toda situação traumática tende a se repetir independente do desprazer causado por ela. Kegler e Macedo4 explicam que Freud está dizendo que em momentos de excitação muito grande o aparelho psíquico não consegue "ligar" uma ideia aos sentimentos e sensações produzidas por essa excitação, tornando a situação traumática. Para os autores, toda vez que isso ocorre surge um campo para a compulsão à repetição, pois esse ato de repetição teria como objetivo buscar conectar sentimentos e sensações as ideias, e por isso a repetição existe mesmo que ela proporcione desprazer. No entanto, Kegler e Macedo4 ainda ressaltam, como também apontou Freud2, que a compulsão à repetição e a satisfação pulsional estão intimamente ligadas, ou seja, mesmo ocorrendo certo desprazer no ato repetitivo sempre ocorre uma satisfação pulsional: "(...) resta o suficiente para justificar a hipótese da compulsão à repetição, e esta nos parece mais originária, mais elementar, mais pulsional que o princípio do prazer que é por ela afastado"2.
Nesse mesmo caminho, Garcia-roza5 entende que a pulsão seria o combustível da repetição e, devido a isso, o autor aponta que podemos falar em compulsão à repetição. O autor supõe que existe uma necessidade em repetir o passado esquecido e essa repetição sempre se dá em uma relação com o objeto. Nasio1 defende o mesmo entendimento: para ele, o inconsciente se manifesta na repetição e sua força propulsora é a própria pulsão:
"(...) o inconsciente é igualmente a força que nos leva a reproduzir compulsivamente os mesmos fracassos, os mesmos traumas e os mesmos comportamentos doentios - e então a repetição é uma repetição patológica e o inconsciente uma pulsão de morte." 1
"Desde nova tenho um sonho que me atormenta muito, e sempre que eu tenho, acordo e não consigo mais dormir..." (Ana, 39 anos).
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