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Revista Brasileira de Psicoteratia

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Rev. bras. psicoter. 2019; 21(3):41-53



Artigos de Revisao

Reflexão a respeito dos fatores de risco relacionados ao suicídio em idosos: revisão sistemática

Reflection on risk factors related to the suicide in the elderly: systematic review

Reflexión sobre los factores de riesgo relacionados con el suicidio en ancianos: revisión sistemática

Raiana Almeida de Souza; Kelvim Klaim Almeida Cristóvão; Helton Camilo Teixeira

Resumo

O envelhecimento é um processo natural, progressivo e irreversível, acarreta modificações de caráter fisiológico, psicológico, emocionais e sociais. Neste momento o idoso estará suscetível e vulnerável a situações de sofrimento mental, sentimentos de desesperança, desamparo, desespero e depressão, levando-o a pensar, planejar e, tentar ou cometer suicídio. Diante disso, o presente estudo tem por objetivo descrever através da revisão sistemática quais evidências cientificas há na literatura nacional publicada entre os anos de 2009 até 2018 a respeito dos fatores de risco relacionado ao suicídio em idosos. A busca de artigos científicos no Portal da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), através das nas bases de dados da SCIELO (Scientific Eletronic Libray Online), LILACS (Literatura Latino-americana e PEPSIC (Periódicos de Psicologia), utilizando-se ainda o instrumento metodológico PICoS, com o intuito de responder à seguinte questão norteadora: "Quais evidências cientificas há na literatura nacional a respeito dos fatores de risco relacionados ao suicídio em idosos". Foram utilizados os seguintes Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): "Idosos", "Suicídio", "Fatores de Risco". Incialmente foram identificados 72 artigos, entretanto, através dos critérios de inclusão e exclusão obteve como amostra final o total de 16 artigos. Após a leitura e análise dos artigos selecionados e revisados, observa-se que os principais fatores de risco relacionados ao suicido em idosos são: aposentadoria, diminuição de possibilidades de escolhas, perda das habilidades, problemas de relacionamento familiar e depressão. É importante a reflexão a respeito da temática por parte dos profissionais de saúde e das politicas públicas de saúde, com intuito de avaliar, intervir, prevenir o suicido em idosos, além de fortalecer os laços familiares e sociais, diminuindo consequentemente a incidência do suicídio nessa população.

Descritores: Idosos; Suicídio; Fatores de Risco

Abstract

Aging is a natural, progressive and irreversible process that entails physiological, psychological, emotional and social changes. At this time the elderly will be susceptible and vulnerable to situations of mental suffering, feelings of hopelessness, helplessness, despair and depression, leading them to think, plan and, attempt or commit suicide. Therefore, the present study aims to describe through the systematic review which scientific evidence is available in the national literature published between 2009 and 2018 about the risk factors related to suicide in the elderly. The search for scientific articles in the Virtual Health Library (VHL) Portal, through the databases of SCIELO (Scientific Electronic Libray Online), LILACS (Latin American Literature and PEPSIC (Psychological Journals), also using the PICoS methodological instrument, in order to answer the following guiding question: "What scientific evidence is available in the national literature regarding risk factors related to suicide in the elderly." The following Health Sciences Descriptors (DeCS) were used: "Seniors", "Suicide", "Risk factors". Initially, 72 articles were identified, however, through the inclusion and exclusion criteria the total sample was 16. After reading and analyzing the selected and reviewed articles, The main risk factors related to suicide in the elderly are: retirement, decreased choice, loss of skills, family relationship mottos and depression. It is important to reflect on the theme by health professionals and public health policies, in order to evaluate, intervene, prevent suicide in the elderly, and strengthen family and social ties, thus reducing the incidence of suicide in this area. population.

Keywords: Seniors; Suicide; Risk Factors

Resumen

El envejecimiento es un proceso natural, progresivo e irreversible, que implica cambios de naturaleza fisiológica, psicológica, emocional y social. En este momento los ancianos serán susceptibles y vulnerables a situaciones de angustia mental, sentimientos de desesperanza, impotencia, desesperación y depresión, lo que lo lleva a pensar, planificar y intentar o suicidarse. Por lo tanto, el presente estudio tiene como objetivo describir a través de la revisión sistemática "Qué evidencia científica hay en la literatura nacional sobre los factores de riesgo relacionados con el suicidio en los ancianos" publicadas entre 2009 a 2018. La búsqueda de artículos científicos en el Portal de la Biblioteca Virtual de Salud (VHL), a través de las bases de datos de SCIELO (Scientific Eletronic Libray Online), LILACS (Latin American Literature y PEPSIC) utilizando también el Instrumento metodológico PICoS, con el fin de responder a la pregunta guia. Se utilizaron los siguientes descriptores en Ciencias de la Salud (DeCS): "anciano", "suicidio", "Factores de Riesgo". Sin embargo se identificaron 72 artículos, a través de los criterios de inclusión y exclusión, la muestra final fue el total de 16 artículos. Después de leer y analizar los artículos seleccionados y revisados, se observa que los principales factores de riesgo relacionados con el suicidio en las personas mayores son: jubilación, reducción de posibilidades de elección, pérdida de habilidades, problemas de relación Familia y depresión. Es importante reflexionar sobre el tema de los profesionales de la salud y las políticas de salud pública, con el fin de evaluar, intervenir, prevenir el suicidio en los ancianos y fortalecer los lazos familiares y sociales, Incidencia de suicidio en esta población.

Descriptores: Anciano; Suicidio; Factores de Riesgo

 

 

INTRODUÇÃO

O envelhecimento é um processo dinâmico e progressivo, promovendo modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas, que de certa forma determinam a progressiva perda da capacidade de adaptação da pessoa ao meio, ocasionando maior suscetibilidade e maior incidência de patologias que, por sua vez, podem levá-la à morte1. Esse processo de envelhecimento acarreta algumas mudanças biopsicossociais, e tais mudanças interferem diretamente no modo de perceber e lidar com a velhice, podendo o idoso apresentar sentimentos de incapacidade ou invalidez2.

Ao avançar a idade, as perdas, frustrações, doenças, desvalorização social, isolamento, afetam a autoestima do idoso, gerando crises em todos os aspectos da vida3. Tais situações afetam diretamente a autoestima e a saúde desse idoso: o mesmo pode então desenvolver o comportamento suicida, tirar sua própria vida em momento de sentimentos de desespero, desesperança e desamparo, com intuito de livrar-se da dor emocional.

O comportamento suicida tem etiologia multifatorial, com influência de fatores biológicos, socioambientais e psicológicos, cada um com seu peso específico, e possivelmente nenhum deles isoladamente possa ser suficiente para explicar por si só tais comportamentos. Estima-se que, para cada suicídio consumado, houve 5 hospitalizações e 22 visitas aos serviços de emergência por tentativa de suicídio4.

O suicídio tem impactado diretamente a população idosa, na qual os mesmos tentam colocar fim à própria vida, usando meios mais letais do que pessoas de outras faixas etárias e, por isso suas tentativas costumam ser consumadas. Cabe ressaltar ainda que os idosos estão mais suscetíveis de não serem encontrados ou ajudados em tempo hábil, pois muitos vivem sozinhos5.

O suicídio é anualmente responsável por quase um milhão de mortes no mundo e especialmente preocupante quando se trata de idosos. Nos países divulgadores de taxas de suicídio, esse índice vem aumentando consideravelmente, principalmente em pessoas de idade mais avançada6. De acordo com a Organização Mundial de Saúde - OMS (2014)7, nas últimas quatro décadas suas taxas aumentaram em 60%. Nesses dados não estão inclusas as tentativas, que são 20 vezes mais frequentes do que os casos de suicídio consumados, estimando-se que, em 2020, o número de suicídios atinja 1,5 milhões de pessoas (avalia-se que ocorram 24 suicídios por dia).

O Brasil tornou-se o oitavo país com o maior número absoluto de suicídios. Em 2012 foram registradas 11.821 mortes, cerca de 30 por dia, sendo 9.198 homens e 2.623 mulheres. Foi observado que entre o ano de 2000 e 2012 houve um aumento de 10,4% na quantidade de mortes, sendo constatado que 30% ocorreram em jovens8. A taxa de suicídio brasileira em 2012 foi de 4,8%, e no Estado de Rondônia no mesmo ano foi de 4,6%. A percentagem por faixa etária que teve o maior índice foi a dos 70-79 anos com 18,72%, em segundo lugar de 60-69 anos com 12,32%, em terceiro lugar de 50-59 anos com 9,70% e em quarto lugar na faixa de 20-29 anos com 7,29%8.

O suicídio entre pessoas idosas está associado principalmente a histórias de depressão, todavia, outros fatores como as enfermidades físicas e mentais graves, aspectos socioculturais como decadência profissional e socioeconômica encontram-se como causas desta violência autoinfligida. Nesse sentido, a depressão é considerada como o fator de maior relevância do suicídio, uma vez que pode estar associada não só ao sofrimento físico crônico, mas a perdas, abandono, solidão e a conflitos familiares9.

É necessária a investigação dos fatores situacionais, tais como eventos que provoquem ansiedade, depressão, melancolia, tristeza profunda nos idosos, diagnóstico de uma doença grave, aposentadoria, que acaba por destituir o idoso de uma função de produtividade na sociedade, acarretando assim a consequência do isolamento social, perda de referências sociais, problemas financeiros, dificuldades de relacionamentos. Além disso, a morte de pessoas próximas como cônjuges, filhos, amigos, parentes, podem também ser eventos desencadeadores do comportamento suicida10.

Diante do exposto, o presente estudo tem por objetivo descrever quais evidências científicas existem disponíveis na literatura nacional a respeito dos fatores de risco relacionados ao suicídio em idosos. O Brasil é um país em processo de transição epidemiológica, no qual as pessoas estão envelhecendo e precisam aprender a lidar com tal condição.


MÉTODO

Trata-se de um estudo de revisão sistemática, o qual identifica, seleciona, coleta dados, analisa e avalia criticamente estudos sobre um determinado assunto, a partir de uma pergunta norteadora, que obedece a métodos sistemáticos e explícitos. O estudo partiu da seguinte questão norteadora: "Quais evidências cientificas há na literatura nacional a respeito dos fatores de risco relacionados ao suicídio em idosos?".

Uma boa pergunta de pesquisa analítica, a que investiga a relação entre dois eventos, é formada por diversos componentes. Quatro deles estão relacionados no anagrama PICO: população; intervenção (ou exposição); comparação; e desfecho (O, outcome, do inglês). Um quinto componente da pergunta, que por vezes vale a pena acrescentar, é o tipo de estudo (S, study type, do inglês). O anagrama mudaria para PICOS11.

Para a elaboração da pergunta da pesquisa utilizou-se a metodologia PICoS conforme observado a seguir:




Esse tipo de pesquisa engloba dados da literatura teórica que visa identificar, selecionar, avaliar e sintetizar as evidências relevantes disponíveis11. A partir desse método, a busca dos artigos utilizados na pesquisa aconteceu durante os meses de agosto até dezembro de 2018. Os artigos analisados foram pesquisados através da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e utilizaram-se os seguintes Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): "Idosos", "Suicídio", "Fatores de Risco" em português, disponíveis no Portal da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), nas bases de dados da Scielo (Scientific Eletronic Libray Online), Lilacs (Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e Pepsic (Periódicos de Psicologia).

Inicialmente foram encontrados 4.973 artigos publicados em diversos idiomas e com diversas abordagens a respeito do suicídio. Entretanto foram utilizados critérios de inclusão e exclusão para o desenvolvimento da revisão, analise e discussão do trabalho. Os critérios de inclusão no presente estudo foram: artigos brasileiros disponíveis na integra nas bases de dados, com recorte temporal de 2009 até 2018 que abordavam os fatores de risco relacionado ao suicídio em idosos. Os critérios de exclusão foram: artigos incompletos nas bases de dados, assim como os escritos em outros idiomas ou que não correspondiam à temática proposta.

Utilizamos os estudos nacionais em virtude da realidade local a respeito do suicídio em idosos ser diferente de outros países, pois a partir desse apanhando cientifico, é possível refletir e discutir a respeito dos fatores de risco relacionados ao suicídio em idosos no contexto brasileiro. A partir disso, buscamos contribuir para consolidar e fortalecer as estratégias de politicas publicas voltadas para a saúde do idoso, principalmente o que tange a saúde mental e o sofrimento mental.

Após esses critérios, foi desenvolvida a leitura, análise e reflexão do conteúdo, que contou com três etapas: (1) pré-análise, (2) exploração do material e a (3) interpretação dos resultados, restando-se 16 artigos que serviram de apoio para a formulação da revisão sistemática.


Fluxograma



RESULTADOS

O suicídio é uma temática com vastas publicações e artigos realizados conforme observado na primeira etapa da pesquisa através dos Descritores em Ciência da Saúde (DeCS). Porém, a partir da segunda etapa foram levados em consideração apenas os artigos que abordavam os fatores de risco relacionados ao suicído em idosos em seu conteúdo, conforme veremos durante todo o artigo e explicitado na Tabela 1.




O envelhecimento é um processo inato e individual ao ser humano, no qual o indivíduo passa por mudanças inevitáveis. O idoso nesse momento da sua vida vivencia mudanças biológicas, sociais, e, principalmente, psicoemocionais. O suicídio em idosos acomete ambos os gêneros, entretanto há uma diferença singular em relação à tentativa e ao ato consumado. Há um aumento do número de óbitos no país, do tipo suicídio, em indivíduos masculinos em processo de envelhecimento12.

Entre os idosos, as mulheres são as que mais idealizam o suicídio, já os homens, disparam na frente em relação ao ato suicida, chegando às vias de fato10. O Gênero é considerado um fator de vulnerabilidade ao suicídio. Uma das razões da taxa elevada de suicídio em homens tem sido atribuída à crise da masculinidade e ao fato de não conseguirem se adaptar a um mundo em mudança15.

Em um estudo realizado no Recife junto ao segmento idoso da população, a faixa etária na qual ocorrem mais necropsias por causas externas é aquela situada entre os 60 e 69 anos, pois existe um número maior de indivíduos nesse intervalo, estando mais ativos e, portanto, com melhores condições de mobilidade do que os idosos de idade mais avançada17.

Ressalta-se ainda nos estudos de Meneghel et al; (2012)15 que as taxas de suicídio tendem a aumentar no mundo, também em razão do aumento do número de idosos, pois é sabido que o referido segmento é o que, proporcionalmente, mais comete suicídios. Infelizmente, quando se trata de suicídio, as melhorias das condições socioeconômicas de um país parecem influenciar pouco na prevenção dessa ocorrência.

Ainda de acordo com Minayo e Cavalcante10, a pessoa idosa pode ir diretamente ao assunto, confidenciando a pessoas próximas ou respondendo a alguém que a agride dizendo que quer morrer. Muitas vezes, porém, a pessoa idosa apenas insinua seu desejo de morte, comentando sobre isso com familiares, amigos e companheiros.

Côrte et al.12 afirmam que alterações de ambiente no que se refere à profissão, relacionamentos conjugais e familiares em movimento e morte de elementos próximos expõem a situações de vida não usuais. Conforme as condições de amparo econômico e/ou a demora para desenvolver novos projetos, a realidade se apresenta como mais ou menos desestruturante.

Para Minayo e Cavalcante10, os fatores predisponentes para o suicídio em idosos são: morte de uma pessoa querida, mormente de um cônjuge; doença terminal com dores incontroláveis; medo do prolongamento da vida sem dignidade, trazendo prejuízos econômicos e emocionais aos familiares; isolamento social; mudanças nos papéis sociais que lhes conferiam reconhecimento; ou situações de dependência física ou mental diante das quais o idoso se sente humilhado10.

O impacto do suicídio na sociedade ainda é um tabu: será que esses idosos quando jovens já tiveram ideação ou tentativas suicidas? Será que o número de idosos suicidas, com ou sem a presença de doença mental, foram sempre excluídos ou fragilizados socialmente? Será que esses idosos foram atravessados por perdas, não elaboração do luto, e depressão não diagnosticada devido às dificuldades de recursos de saúde?13

Na velhice há uma forte tendência a depressão, tendo em vista a complexidade de fatores que possibilitam ao idoso desencadear sentimentos negativos, tais como o isolamento, o que por vezes culmina em depressão, vendo na sua imagem uma antecâmara da morte14. Quanto maior for a soma de doenças associadas à depressão e quanto mais grave for o limite funcional real ou imaginado, maior o risco de autoaniquilamento.21 A depressão na velhice pode ser considerada por muitos familiares como processo natural do envelhecimento, pois ao observar que os idosos passaram por longas alterações, em especial a perda da independência e o novo papel social que desempenham acabam por negligenciar o quadro depressivo do idoso. Para Cavalcante, Minayo & Mangas16, quanto maior for a soma de doenças associadas à depressão e quanto mais grave for o limite funcional real ou imaginado, maior o risco de auto aniquilamento.

Segundo Batista & Santos18 a demência, o consumo de álcool ou o alcoolismo, as doenças cardíacas, a hipertensão arterial, a disponibilidade de benzodiazepinas, os antidepressivos, os barbitúricos, os antipsicóticos, os ansiolíticos ou tranquilizantes, ser do sexo masculino e ter mais de 75 anos, morar em países industrializados, ter problemas de relacionamento, perder o seu domicilio ou sociedade, possuir alguns traços de personalidade (orgulho, rigidez, pessimismo, sentimento de desesperança, negação do envelhecimento, comportamentos obsessivos), a perda de habilidades, a diminuição da possibilidade de escolhas, a diminuição da qualidade de sono, a ausência de alguém em que se possa contar a perda do papel tradicional na família, a redução do número de cuidadores, a dependência de outras pessoas, o histórico de internação e a ocorrência de alguma tentativa de suicídio anterior são fatores de risco relacionados ao suicídio em idosos.

As tentativas e ideações suicidas em idosos são um fenômeno difícil de ser enumerado em sua manifestação empírica, mas pode ser quantificado do ponto de vista da diversidade de meios e manifestações ao longo do ciclo vital19. De acordo com Filho et al.20, em relação as causas que levam os idosos a desenvolverem ideações e cometerem atos suicidas são: aposentadoria, depressão, transtorno do humor, doenças crônicas, conflitos familiares tanto relacionados à violência contra os idosos, separação pela morte de um familiar próximo.

Observou-se nos estudos de Carvalho et al.22 que é importante conhecer os fatores de riscos dessa população para este fenômeno. Considerando o ponto de vista de saúde pública, há uma estreita relação entre ideação, tentativas e o próprio ato do suicídio entre idosos. Deste modo, as manifestações do desejo de se matar(ideação) ou alguma ação (tentativas) podem e devem ser tratadas o mais precocemente possível.

Foi observado que há influência dos fatores sociais e econômicos quando se compara a região Sul, tradicionalmente o local com taxas mais altas de suicídio e mais desenvolvido economicamente, com as regiões Norte e Nordeste, que possuem baixas taxas de suicídio e indicadores socioeconômicos desfavoráveis23. Fatores como desigualdade social, baixa renda e desemprego, bem como escolaridade, influenciam a ocorrência do suicídio. A terceira idade consiste em campo vital no qual o idoso é acometido por mudanças negativas que o impedem de laborar em razão de doenças crônicas ou incapacidades físicas ou psicológicas, o que resulta em um tipo de morte subjetiva, bem como social24.

Segundo Barroso et al. (2018)24, a perda de identidade, assim como do sentido da vida, em regra, costumam passar despercebidos pelos membros da família; apesar de possuírem forte e íntima relação com atividades do cotidiano do idoso, envolvendo a limitação de uso de alguns objetos pessoais e mudança de casa, quando vão morar com os filhos, momento em que são obrigados a se adaptar a rotina de vida que não é a sua; ou seja, ocorre uma perda de autonomia generalizada, que abrange tanto seus bens, quanto seu espaço.

Ao analisar os fatores psicossociais que levam as pessoas a cometerem suicídio são realizadas autopsias psicológicas, que são importantes para reconstruírem as motivações e aspectos emocionais que envolvem as crises existências do idoso25. Nas autopsias psicológicas realizadas por Sérvio e Cavalcante (2013)25,os autores concluem que o autoextermínio é resultado de um intenso sofrimento psicológico no decorrer da vida do individuo, a falta de sentindo na vida, a desestabilização pessoal e familiar, sendo potencializado principalmente pela presença de transtorno mental e uso de álcool.


CONCLUSÃO

O comportamento suicida é uma situação frequente nos últimos anos, tendo um aumento significativo entre idosos, em virtude de diversas situações que vivenciam e experimentam nesse momento em sua vida, o que torna alarmante o aumento epidemiológico do suicídio nessa população.

Com o intuito de descrever quais as evidências cientificas há na literatura nacional a respeito dos fatores de risco relacionados ao suicídio em idoso, utilizou-se como base a metodologia PICoS para o norteamento da pergunta. Verificou-se que a população brasileira vive o processo de envelhecimento e as estratégias e politicas públicas para a saúde do idoso ainda estão voltadas para o modelo biomédico e não para o modelo biopsicossocial. É notório, a partir da leitura e análise dos artigos utilizados nesta revisão, que existem inúmeros fatores de risco relacionados ao suicídio em idosos. Entretanto, entre os principais fatores de risco identificados nos artigos nacionais destaca-se: a aposentadoria, diminuição de possibilidades de escolhas, perdas das habilidades, problemas de relacionamento, o transtorno mental, principalmente a depressão.

A partir dessa reflexão a respeito desses fatores de risco identificados na realidade brasileira, é importante que mais estudos e publicações referentes à temática sejam desenvolvidos. Dessa forma, pode-se sensibilizar e mobilizar os profissionais de saúde a estarem atentos e capacitados a realizar cuidados voltados para prevenção, identificação e intervenção do suicídio em idosos, melhorando a saúde mental dos mesmos, além de fortalecer seus laços familiares e sociais.


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Centro Universitário São Lucas, Enfermagem - Porto Velho - RO - Brasil

Correspondência

Raiana Almeida de Souza
e-mail: raiana.0409@gmail.com
Kelvim Klaim Almeida Cristóvão
e-mail: kelven_klain@hotmail.com
Helton Camilo Teixeira
e-mail: helton.teixeira@saolucas.edu.br

Submetido em: 07/12/2018
Aceito em: 15/01/2020

Contribuições: Raiana Almeida de Souza - Redação - Revisão e Edição;
Kelvim Klaim Almeida Cristóvão - Redação - Revisão e Edição;
Helton Camilo Teixeira - Contribuição do autor: Redação - Revisão e Edição.

Instituição: Centro Universitário São Lucas

 

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