Rev. bras. psicoter. 2019; 21(3):41-53
Souza RA, Cristóvão KKA, Teixeira HC. Reflexão a respeito dos fatores de risco relacionados ao suicídio em idosos: revisão sistemática. Rev. bras. psicoter. 2019;21(3):41-53
Artigos de Revisao
Reflexão a respeito dos fatores de risco relacionados ao suicídio em idosos: revisão sistemática
Reflection on risk factors related to the suicide in the elderly: systematic review
Reflexión sobre los factores de riesgo relacionados con el suicidio en ancianos: revisión sistemática
Raiana Almeida de Souza; Kelvim Klaim Almeida Cristóvão; Helton Camilo Teixeira
Resumo
Abstract
Resumen
INTRODUÇÃO
O envelhecimento é um processo dinâmico e progressivo, promovendo modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas, que de certa forma determinam a progressiva perda da capacidade de adaptação da pessoa ao meio, ocasionando maior suscetibilidade e maior incidência de patologias que, por sua vez, podem levá-la à morte1. Esse processo de envelhecimento acarreta algumas mudanças biopsicossociais, e tais mudanças interferem diretamente no modo de perceber e lidar com a velhice, podendo o idoso apresentar sentimentos de incapacidade ou invalidez2.
Ao avançar a idade, as perdas, frustrações, doenças, desvalorização social, isolamento, afetam a autoestima do idoso, gerando crises em todos os aspectos da vida3. Tais situações afetam diretamente a autoestima e a saúde desse idoso: o mesmo pode então desenvolver o comportamento suicida, tirar sua própria vida em momento de sentimentos de desespero, desesperança e desamparo, com intuito de livrar-se da dor emocional.
O comportamento suicida tem etiologia multifatorial, com influência de fatores biológicos, socioambientais e psicológicos, cada um com seu peso específico, e possivelmente nenhum deles isoladamente possa ser suficiente para explicar por si só tais comportamentos. Estima-se que, para cada suicídio consumado, houve 5 hospitalizações e 22 visitas aos serviços de emergência por tentativa de suicídio4.
O suicídio tem impactado diretamente a população idosa, na qual os mesmos tentam colocar fim à própria vida, usando meios mais letais do que pessoas de outras faixas etárias e, por isso suas tentativas costumam ser consumadas. Cabe ressaltar ainda que os idosos estão mais suscetíveis de não serem encontrados ou ajudados em tempo hábil, pois muitos vivem sozinhos5.
O suicídio é anualmente responsável por quase um milhão de mortes no mundo e especialmente preocupante quando se trata de idosos. Nos países divulgadores de taxas de suicídio, esse índice vem aumentando consideravelmente, principalmente em pessoas de idade mais avançada6. De acordo com a Organização Mundial de Saúde - OMS (2014)7, nas últimas quatro décadas suas taxas aumentaram em 60%. Nesses dados não estão inclusas as tentativas, que são 20 vezes mais frequentes do que os casos de suicídio consumados, estimando-se que, em 2020, o número de suicídios atinja 1,5 milhões de pessoas (avalia-se que ocorram 24 suicídios por dia).
O Brasil tornou-se o oitavo país com o maior número absoluto de suicídios. Em 2012 foram registradas 11.821 mortes, cerca de 30 por dia, sendo 9.198 homens e 2.623 mulheres. Foi observado que entre o ano de 2000 e 2012 houve um aumento de 10,4% na quantidade de mortes, sendo constatado que 30% ocorreram em jovens8. A taxa de suicídio brasileira em 2012 foi de 4,8%, e no Estado de Rondônia no mesmo ano foi de 4,6%. A percentagem por faixa etária que teve o maior índice foi a dos 70-79 anos com 18,72%, em segundo lugar de 60-69 anos com 12,32%, em terceiro lugar de 50-59 anos com 9,70% e em quarto lugar na faixa de 20-29 anos com 7,29%8.
O suicídio entre pessoas idosas está associado principalmente a histórias de depressão, todavia, outros fatores como as enfermidades físicas e mentais graves, aspectos socioculturais como decadência profissional e socioeconômica encontram-se como causas desta violência autoinfligida. Nesse sentido, a depressão é considerada como o fator de maior relevância do suicídio, uma vez que pode estar associada não só ao sofrimento físico crônico, mas a perdas, abandono, solidão e a conflitos familiares9.
É necessária a investigação dos fatores situacionais, tais como eventos que provoquem ansiedade, depressão, melancolia, tristeza profunda nos idosos, diagnóstico de uma doença grave, aposentadoria, que acaba por destituir o idoso de uma função de produtividade na sociedade, acarretando assim a consequência do isolamento social, perda de referências sociais, problemas financeiros, dificuldades de relacionamentos. Além disso, a morte de pessoas próximas como cônjuges, filhos, amigos, parentes, podem também ser eventos desencadeadores do comportamento suicida10.
Diante do exposto, o presente estudo tem por objetivo descrever quais evidências científicas existem disponíveis na literatura nacional a respeito dos fatores de risco relacionados ao suicídio em idosos. O Brasil é um país em processo de transição epidemiológica, no qual as pessoas estão envelhecendo e precisam aprender a lidar com tal condição.
MÉTODO
Trata-se de um estudo de revisão sistemática, o qual identifica, seleciona, coleta dados, analisa e avalia criticamente estudos sobre um determinado assunto, a partir de uma pergunta norteadora, que obedece a métodos sistemáticos e explícitos. O estudo partiu da seguinte questão norteadora: "Quais evidências cientificas há na literatura nacional a respeito dos fatores de risco relacionados ao suicídio em idosos?".
Uma boa pergunta de pesquisa analítica, a que investiga a relação entre dois eventos, é formada por diversos componentes. Quatro deles estão relacionados no anagrama PICO: população; intervenção (ou exposição); comparação; e desfecho (O, outcome, do inglês). Um quinto componente da pergunta, que por vezes vale a pena acrescentar, é o tipo de estudo (S, study type, do inglês). O anagrama mudaria para PICOS11.
Para a elaboração da pergunta da pesquisa utilizou-se a metodologia PICoS conforme observado a seguir:
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