Rev. bras. psicoter. 2019; 21(3):25-40
Santos CGB, Jucá TAC, Melo ALC, Sartes LMA. Caracterização dos estudos sobre ambivalência em Psicoterapia: uma revisão de literatura. Rev. bras. psicoter. 2019;21(3):25-40
Artigos de Revisao
Caracterização dos estudos sobre ambivalência em Psicoterapia: uma revisão de literatura
Characterization of ambivalence studies in Psychotherapy: a literature review
Caracterización de los estudios sobre ambivalencia en Psicoterapia: una revisión de literatura
Camilla Gonçalves Brito Santos; Taís Andrade Calixto Jucá; Ana Luísa Caetano Melo; Laisa Marcorela Andreoli Sartes
Resumo
Abstract
Resumen
INTRODUÇÃO
Em psicoterapia, a ambivalência do paciente ocorre quando o mesmo apresenta posições opostas em relação à mudança. Ela pode ser acompanhada por uma emoção intensa, já que o cliente está dividido e não apto a agir1. Esse fenômeno, enquanto variável de influência no resultado terapêutico, tem sido objeto antigo de preocupação de pesquisadores. Em 1983, Prochaska e DiClemente2 apresentaram o modelotransteórico de mudança de comportamento (MTT), que aponta a motivação para a mudança como um processo dinâmico e não linear, composto por seis estágios, sendo eles: Pré-contemplação, no qual o indivíduo não se encontra pronto ou não considera a mudança necessária; Contemplação, onde o sujeito está aberto a informações, mas ainda não tem certeza sobre a importância da mudança; Determinação, que ocorre quando o sujeito planeja estratégias para a mudança; Ação, na qual o indivíduo já possui o plano para a mudança e se prepara para executá-lo; Manutenção que ocorre após a mudança e é caracterizada pelo esforço do sujeito em mantê-la; e a Recaída que consiste em um conjunto de sintomas que se manifesta pelo retorno do consumo de drogas na mesma proporção que a precedente ao período de abstinência. Os autores apontaram que apesar de se manifestar em qualquer uma das fases, é na contemplação que ofenômeno denominado de ambivalência se torna mais evidente.
Baseando-se no MTT, Miller desenvolveu e apresentou pela primeira vez o conceito da entrevista motivacional3. A partir da elaboração desse conceito, Miller e Rollnik desenvolveram o primeiro método que tem como um dos seus objetivos a resolução da ambivalência. Desde então, a ambivalência tem sido considerada e estudada como fator de influência no processo de mudança e no resultado psicoterapêutico4.
Muitas vezes a ambivalência e a resistência são confundidas ou consideradas como sinônimos. Entretanto, a ambivalência reflete uma variável do cliente, indicando prontidão para mudança, enquanto a resistência representa um processo interpessoal que envolve tensão ou oposição entre o cliente e o terapeuta. Dessa maneira, clientes com alta ambivalência são mais propensos a se opor às demandas dos terapeutas, particularmente na direção da mudança5. Ou seja, a resistência na terapia pode ser um reflexo da ambivalência e/ou uma expressão comportamental da mesma5,6. Westra e Norouzian citam quatro formas de expressão da ambivalência através da resistência e as relacionam com o insucesso terapêutico, a saber: o descumprimento de deveres por parte do paciente; debates e desentendimentos; altos níveis de emoção expressa em relação ao terapeuta; paciente ignorando o terapeuta e desviando de seus apontamentos; retirada ou uso frequente de "Eu não sei" por parte do paciente, entre outras8.
Dessa forma, altos níveis de ambivalência são associados a um envolvimento limitado por parte do paciente, principalmente em terapias de ação orientada, como a Terapia Cognitivo-Comportamental, por exemplo7,8. Isso porque, frequentemente, na intenção de facilitar o processo de mudança, o terapeuta confronta a ambivalência do paciente, o que pode se apresentar como uma tentativa de convencimento e/ou persuasão. Sendo assim, o terapeuta, ao contrário do que pretende, perpetua e sustenta a dinâmica da resistência, já que ao ouvir do terapeuta os pontos positivos em relação à mudança, o cliente assume o ponto oposto da sua ambivalência e articula repetidamente suas objeções sobre a mudança, instaurando um processo de resistência na psicoterapia que pode influenciar a aliança de trabalho entre eles e resultar no insucesso e até mesmo abandono8.
Da mesma forma que a ambivalência é vivenciada de maneiras diferentes pelos pacientes, ela também é trabalhada de formas diversas pelos terapeutas1. Isso torna a identificação do fenômeno mais complexa, o que pode dificultar a percepção da sua ocorrência por parte dos terapeutas. Como consequência, os profissionais podem atuar sobre esse fenômeno de maneira inadequada, inclusive intensificando a ambivalência do cliente, como elucidado anteriormente. Laakso9 aponta alguns exemplos de estratégias ineficazes para resolver a ambivalência e promover mudanças no comportamento: coerção, persuasão, confronto e argumentação.
Sendo assim, a ambivalência do cliente é central nos resultados em psicoterapia, e apesar da importância e influência desse fenômeno para o desenvolvimento da terapia e principalmente para os resultados da mesma, ainda são escassas as pesquisas que tenham essa temática como objeto de estudo, visando aprofundar e esclarecer o que é a ambivalência, como e porque ela ocorre e quais suas consequências para o processo terapêutico. Por isso, o presente estudo tem como objetivo apresentar uma revisão de literatura englobando artigos que definam a ambivalência, apresentem sua relação com o sucesso terapêutico, avaliem instrumentos e abordem teorias que embasam o fenômeno.
MÉTODO E PROCEDIMENTO
Os dados foram coletados nas bases de dados PubMed, PsychoINFO e Web of Science a partir da utilização dos descritores "Ambivalence" para se referir à ambivalência, "Psychotherapy" para se referir à psicoterapia e "Motivation for change" para se referir à motivação para mudança. Os 2178 artigos encontrados foram encaminhados para o software livre My Endnote Web. Destes, 1161 foram encontrados na PubMed, 1009 na PsychoINFO e 8 na Web of Science. No Endnote foram excluídos 201 artigos duplicados através da ferramenta disponível nesse software. A primeira etapa da seleção dos artigos envolveu a leitura dos títulos e resumos dos 1971 restantes, na qual foram excluídos 1933 artigos. Na segunda etapa foi realizada a leitura integral dos demais (38), dos quais 25 foram excluídos, pois apesar de citarem os temas que compõe os critérios de inclusão, não apresentaram essa temática como questão principal dos estudos. Ao final, foram selecionados 13 que compõe a presente revisão de literatura, como pode ser observado na figura 1.
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