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Revista Brasileira de Psicoteratia

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Rev. bras. psicoter. 2018; 20(3):17-29



Artigo Original

Prevalência de depressao na adolescência: uma consulta a prontuários de uma clínica-escola em Porto Alegre

Depression prevalence in adolescence: a consultation in of medical records in a clinical school in Porto Alegre

Eduarda Ferreira da Silvaa; Rita de Cássia Petrarca Teixeirab; Sílvia Cristina Marceliano Hallbergc

Resumo

INTRODUÇAO: Transtornos mentais representam uma significativa causa de sofrimento, incapacidade e dependência na populaçao, atingindo cerca de 15% de crianças e adolescentes no mundo. Conhecer o perfil sociodemográfico de adolescentes que buscam psicoterapia e a prevalência de psicopatologias contribui para plano de intervençoes precoces aprimoramento de técnicas terapêuticas.
OBJETIVO: Apresentar e discutir a prevalência de psicopatologias em adolescentes atendidos em uma clínica-escola de Psicoterapia de Orientaçao Psicanalítica em Porto Alegre.
MÉTODO: Estudo quantitativo, descritivo e de corte transversal. Realizou-se uma pesquisa documental em 228 prontuários de pacientes, entre 12 a 20 anos de idade, atendidos entre os anos de 2013 a 2016. Buscou-se identificar as psicopatologias mais prevalentes e diferenças entre sexo e grupo etário. Resultados e discussao: transtornos depressivos foram os mais prevalentes na amostra. Nao houve diferença entre sexo e grupo etário.
CONCLUSOES: O presente resultado corrobora a literatura sobre alta incidência de transtornos depressivos na adolescência. Discutiu-se a relaçao entre depressao e adolescência.

Descritores: Adolescente; Prevalência; Psicopatologia; Depressao.

Abstract

INTRODUCTION: Mental disorders represent a significant cause of suffering, incapacity and dependence in the population, reaching about 15% of children and adolescents in the world. To know the sociodemographic profile of adolescents seeking psychotherapy and the prevalence of psychopathologies is to plan early interventions to improve therapeutic techniques.
OBJECTIVE: To present and discuss the prevalence of psychopathologies in adolescents attending a psychoanalytic orientation psychotherapy school clinic in Porto Alegre.
METHOD: Quantitative, descriptive and cross-sectional study. A documentary survey was carried out on 228 patients' charts case histories, between 12 and 20 years of age, between the years of 2013 and 2016. We sought to identify the most prevalent psychopathologies and differences between sex and age group. Results and discussion: depressive disorders were the most prevalent in the sample. There was no difference between sex gender and age group.
CONCLUSIONS: The present result corroborates the literature on the high incidence of depressive disorders in adolescence. The relationship between depression and adolescence was discussed.

Keywords: Adolescent; Prevalence; Psychopathology; Depression.

 

 

INTRODUÇAO

Os transtornos mentais representam uma significativa causa de sofrimento, incapacidade e dependência na populaçao, atingindo cerca de 15% de crianças e adolescentes no mundo1. Em países subdesenvolvidos, como o Brasil, estima-se que a prevalência de psicopatologias em crianças e adolescentes varia entre 7% e 20%1. A maior parte desses transtornos tem início nessa etapa inicial da vida, acompanham o indivíduo ao longo de seu desenvolvimento e sao preditores de problemas na vida adulta1,2,3. É o caso dos transtornos depressivos, que sao prevalentes na adolescência e possuem risco elevado de cronicidade4,5. Conhecer o perfil sociodemográfico de adolescentes que buscam atendimento psicoterápico, bem como levantar a prevalência de psicopatologias, faz-se importante para o desenvolvimento de intervençoes precoces e para o aprimoramento de técnicas terapêuticas destinadas a essa populaçao.

O período da adolescência é definido pela Organizaçao Mundial da Saúde (OMS)6 como aquele que ocorre entre 10 e 19 anos de idade. No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei n. 8.069, de 19907, define a adolescência como a faixa etária entre 12 a 18 anos de idade (artigo 2º), e, em casos excepcionais e quando disposto na lei, o estatuto é aplicável até os 21 anos de idade (artigos 121 e 142).7 A adolescência é caracterizada como uma etapa evolutiva típica da espécie humana, sendo uma fase do ciclo vital de transiçao entre a infância e a vida adulta - na qual ocorrem mudanças biológicas, sociais, psicológicas e culturais8,9,10. Diante de todas as transformaçoes inerentes a esse período e de uma série de novidades com que o jovem precisa lidar, a adolescência é uma fase de muitas turbulências - sendo considerado um período normal de crise11,12.

A noçao de período normal de crise adolescente tem sido utilizada para dar conta das variadas formas de expressao das transformaçoes que acontecem nessa etapa13. Assim, o termo diz respeito a uma série de situaçoes difíceis e de incertezas que sao vivenciadas, o que faz da adolescência uma fase importante e decisiva para o vir a ser do sujeito13. Momentos de crise também sao responsáveis pelo crescimento dos indivíduos durante todo o ciclo vital, oportunizando aquisiçao de habilidades para o enfrentamento de novas realidades12. Apesar disso, momentos de crise tornam o jovem mais vulnerável ao sofrimento psíquico, uma vez que o colocam em situaçoes nas quais deve refletir sobre sua própria trajetória de vida13.

É importante também pensar a sociedade na qual os adolescentes dos tempos atuais estao inseridos e vao se desenvolver. O estilo de vida que levam, suas demandas individuais e sociais, bem como as questoes do mundo contemporâneo podem estar associadas ao sofrimento psíquico e à manifestaçao de transtornos mentais.14 Além das crises e conflitos pertinentes a essa fase, o adolescente de hoje se depara com questoes socioculturais que interferem em um processo mais saudável de subjetivaçao e integraçao de sua personalidade.15 A literatura tem trazido como fenômenos frequentes na adolescência contemporânea as depressoes, ansiedade, abuso de substâncias, transtornos alimentares, transtornos de conduta, psicoses e violências15. Estudos apontam as patologias do agir como cada vez mais prevalentes na clínica de adolescentes12,13,15,16,17. Trata-se de transtornos alimentares, toxicomanias, suicídio e outras condutas autodestrutivas, que podem estar relacionadas à fragilidade do aparelho psíquico e às demandas que o jovem precisa dar conta nessa sociedade14, 15,16.

Logo, faz-se importante pensar com quais psicopatologias o psicoterapeuta de adolescentes se depara na atualidade. Os estudos de prevalência de psicopatologias na adolescência e infância em nosso país e no mundo apresentam índices variados2. Estima-se que entre 10% e 25% das crianças e adolescentes, em algum momento de seu desenvolvimento, manifeste algum comprometimento de caráter clínico ou desviante, precisando, portanto, de tratamento1,3,16. Ao se falar dos prováveis fatores associados à ocorrência de psicopatologias em crianças e adolescentes, deve-se levar em conta os fatores biológicos, genéticos, psicossociais e ambientais, ou seja, um modelo biopsicossocial de saúde17. Existe, portanto, fatores de risco e de proteçao que aumentam ou diminuem a chance dos transtornos mentais se manifestarem. Como exemplos desses fatores destacamse: características individuais do sujeito (gênero, temperamento, personalidade e cogniçao), fatores familiares (estilo parental, capacidade ou nao de estabelecer vínculo, situaçoes familiares adequadas ou estressantes e ausência ou presença de psicopatologias na família), e atributos sociais (condiçoes do ambiente, local da moradia, nutriçao, violência urbana, acesso à saúde e ao saneamento básico)18,19,20. Exposto isso, o presente estudo objetivou levantar o perfil sociodemográfico e prevalência de psicopatologias em adolescentes atendidos numa clínica-escola de Porto Alegre/RS. Foi dada atençao às diferenças em relaçao ao diagnóstico, ao gênero e às fases da adolescência (inicial, intermediária e final). Na discussao dos resultados, foi dado destaque a presença dos transtornos depressivos.


MÉTODO

Trata-se de um estudo quantitativo, descritivo e de corte transversal, realizado a partir de uma pesquisa documental21,22. Foram consultados 228 prontuários de adolescentes que buscaram atendimento psicoterápico, em uma clínica-escola de Porto Alegre/RS, entre os anos de 2013 e 2016. As consultas permitiram levantamento do perfil sociodemográficos dessa clientela e foram verificadas as hipóteses diagnósticas presentes nas fichas de avaliaçao desses adolescentes.

Foram coletadas as seguintes variáveis: sexo, idade e escolaridade do paciente; tipo de ensino que o adolescente frequentava (se público ou rede privada); quem indicou o tratamento; tempo de atendimento; tipo de encerramento de atendimento e hipótese diagnóstica dada ao paciente. As informaçoes coletadas foram transcritas para o software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS - 17º Ediçao) e receberam tratamento estatístico (frequência). Também foram cruzados os dados referentes às hipóteses diagnósticas com o sexo e idade dos pacientes para investigar possíveis diferenças entre psicopatologias, gênero e fases da adolescência. Os achados foram discutidos à luz de referencial teórico, especialmente no que diz respeito à depressao na adolescência.

O uso desses prontuários, para fins do presente estudo, seguiu a Resoluçao n. 510, de 7 de abril de 2016, do Conselho Nacional de Saúde, que discorre sobre a ética em pesquisa na área de Ciências Humanas e Sociais23. Além disso, os responsáveis pelos adolescentes concordaram que os dados relativos aos atendimentos fossem utilizados para fins de ensino e pesquisa, assinando um termo de consentimento livre e esclarecido.


APRESENTAÇAO E DISCUSSAO DOS RESULTADOS

Quanto ao perfil sociodemográfico, os jovens que compuseram a amostra tinham entre 12 e 20 anos (M=14,44; DP=1,94) e metade era do sexo masculino (51,3%). A maioria dos pesquisados (55,3%) estava em etapa inicial da adolescência (com idade variando entre 12 e 14 anos). O Ensino Fundamental era cursado por 61,5% dos pesquisados, especialmente o 6º, 7º e 8º ano. A rede pública de ensino era frequentada por 47,4% da amostra e 46,7% estudava na rede particular de ensino. Em 5,7% dos prontuários nao foi registrado o tipo de escola.

A busca por atendimento foi indicada por profissionais da área da saúde em 52,6% dos casos, sendo divididos em 31,5% por médicos e 21,1% por psicólogos. Entre os médicos, destaca-se o encaminhamento por psiquiatras (19,7%). Apesar disso, 53,1% dos adolescentes da amostra nunca havia consultado um psiquiatra e 57,5% nunca havia feito uso de psicofármacos. A escola encaminhou os adolescentes para acompanhamento psicoterápico em 15,8% dos casos. O grupo familiar é responsável por 7% dos encaminhamentos. Chama a atençao que 6,6% da amostra buscou atendimento por indicaçao de algum amigo. Somente 3,1% dos jovens buscou tratamento por iniciativa própria e 7% foram encaminhados por outros. Em 7,9% dos prontuários nao foi registrada a origem da indicaçao de atendimento.

No momento da coleta dos dados, 41,2% da amostra ainda se encontrava em acompanhamento psicoterápico. Dos jovens que encerraram o atendimento, a maioria (90%) abandonou ou interrompeu o tratamento. Somente 6% recebeu alta clínica e 2,3% da amostra foi encaminhada para outras instituiçoes de atendimento. Em 1,7% dos prontuários nao foi registrado o tipo de término. Ainda quanto aos jovens que encerraram o atendimento, a maioria dos participantes (67%) permaneceu apenas de 1 a 6 meses em tratamento. 25,3% ficou de 7 meses a 1 ano em atendimento, e somente 6% permaneceu mais de 1 ano em psicoterapia. Em 1,8% dos prontuários nao foi registrado o tempo de permanência em acompanhamento psicoterápico.

A literatura aponta o período de 6 meses como crítico aos processo psicoterápicos. É o período mais suscetível a abandonos. O abandono de tratamento em psicoterapia constitui-se em problema com graves consequências para o indivíduo e para a sociedade, tendo em vista que poucas pessoas conseguem de fato obter ajuda especializada para seu sofrimento e resolver seus problemas psicológicos. As altas taxas de abandono estimadas pela literatura nacional e internacional justificam a crescente preocupaçao com esse fenômeno24. Em contrapartida, as altas clínicas tendem a apresentar números menos expressivos25.

Quanto a prevalência de psicopatologias, os principais motivos de consulta relatados pelos adolescentes ou pelos responsáveis foram ansiedade/depressao e sintomas como choro, medos, nao se sentir amado (22,4%); problemas de relacionamento e queixas do tipo nao se dar bem com as pessoas, ser dependente, sentir que as pessoas implicam com ele (14,5%) e retraimento/depressao, envolvendo sintomas do tipo timidez, tristeza, preferir ficar sozinho (14,0%) (Tabela 1). As hipóteses diagnósticas mais encontradas, na presente amostra, foram aquelas relacionados aos transtornos depressivos (29%) de acordo com os critérios diagnósticos do DSM-526 (Tabela 2). Em seguida se destacaram os transtornos de neurodesenvolvimento (15,2%), os transtornos de ansiedade e aqueles relacionados a trauma e a estressores (8,3%) (Tabela 2). Quanto aos transtornos de neurodesenvolvimento, notou-se a presença significativa de transtorno do déficit de atençao/ hiperatividade (TDAH) (76% dos adolescentes classificados com transtornos do neurodesenvolvimento receberam esse diagnóstico). Esses achados também vao ao encontro da literatura, que apontam a depressao, transtornos de ansiedade e TDAH como os transtornos mentais mais prevalentes entre adolescentes4. Nao houve diferença significativa entre os diagnósticos, sexo e idade dos participantes. Igualmente, os transtornos depressivos foram os mais recorrentes independente do sexo ou faixa etária dos pacientes. Esse achado vai de encontro ao apontado na literatura sobre depressao na adolescência, que indica a prevalência maior em meninas do que em meninos5. Em razao da prevalência de queixas e diagnósticos relacionados a quadros depressivos encontrados na amostra, a discussao dos achados do presente estudo irá enfatizar esses transtornos.






Os transtornos depressivos sao caracterizados pela presença de humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alteraçoes somáticas e cognitivas que comprometem o funcionamento do indivíduo26. Fazem parte destes transtornos: o transtorno disruptivo da desregulaçao de humor, transtorno depressivo maior (incluindo episódio depressivo maior), transtorno depressivo persistente (distimia), transtorno disfórico pré-menstrual, transtorno depressivo induzido por substância/medicamento, transtorno depressivo devido à outra condiçao médica, outro transtorno depressivo especificado, e transtorno depressivo nao especificado26.

Diversos estudos destacam os transtornos depressivos como um problema cada vez mais recorrente na adolescência4,5,27,28,29,30. A incidência de quadros depressivos em adolescentes varia de 3,3 a 12,4%, e em grande parte das vezes ocorre com predomínio do sexo feminino sobre o masculino27.

Foi somente a partir da década de 1960 que os transtornos depressivos em adolescentes começaram a ser estudados35. A depressao era considerada uma psicopatologia específica da fase adulta35. Acreditava-se que o superego imaturo de um indivíduo com 12 anos de idade, por exemplo, nao comportaria o aparecimento de transtornos deste tipo36. Nessa época, entendia-se que a depressao era uma resposta emocional a problemas existenciais e que indivíduos tao jovens nao experenciavam esses conflitos vivenciais31. Com o avanço de estudos e pesquisas na área, no entanto, descobriu-se que esse fenômeno atinge todas as faixas etárias31.

Os transtornos depressivos sao aqueles relacionados ao humor e ao afeto, nos quais se percebem alteraçoes do apetite, do sono, da atividade motora, cansaço, baixa autoestima, dificuldade para se concentrar, sentimento de culpa, indecisao5,33. Os sintomas de depressao, como tristeza, desesperança, falta de motivaçao e interesse pela vida fazem com que este transtorno seja um dos principais fatores de ideaçao e risco ao suicídio5. Quando se trata de adolescentes e crianças, observa-se, em grande parte dos casos, a presença de estado de ânimo irritável ou disfórico34. Nessa faixa etária, frequentemente, os transtornos depressivos acabam ocultos - já que os sintomas podem se manifestar de formas variadas5,34. Problemas relacionados à aprendizagem, sintomas psicossomáticos, hiperatividade, comportamentos antissociais, delinquência, promiscuidade, abuso de drogas, irritaçao, ataques de raiva, isolamento e ansiedade, muitas vezes podem mascarar sentimentos de vazio e de tristeza35.

No que diz respeito à etiologia da depressao na adolescência, diversos fatores podem contribuir para o seu surgimento: fatores genéticos, psicológicos, sociais e ambientais31. Além disso, a literatura aponta que, comumente, adolescentes que apresentam transtornos depressivos possuem risco aumentado para desenvolverem psicopatologias quando adultos35. Assim, é fundamental que os sintomas e o diagnóstico sejam detectados o mais cedo possível para que intervençoes sejam feitas.

Diante da grande incidência dos transtornos depressivos no período da adolescência, há discussao científica sobre a relaçao entre adolescência e depressao35,36. Na adolescência, acontecem transformaçoes psicológicas e corporais que levam o indivíduo a ter uma nova relaçao com o mundo e com seus pais36. A criança é obrigada a entrar no mundo adulto: primeiramente, pelas mudanças que ocorrem no corpo e, mais tarde, através de suas capacidades e afetos que geram mudanças na personalidade. Na adolescência, o sujeito necessita passar do mundo da família para o mundo dos adultos, inserindo-se aos poucos no mundo social e cultural37. Algumas das questoes com as quais o jovem tem que lidar é a sexualidade - subordinaçao da pré-genitalidade à genitalidade -; o luto pelos pais infantis e pelo corpo da infância; a revisao do conflito edípico; os processos de identificaçao, as desidentificaçoes e a necessidade de um trabalho de historizaçao.37 A adolescência também exige que o indivíduo se situe ativamente diante das mudanças e conflitos que surgem.9 Uma das tarefas mais complexas da adolescência é a procura por um afastamento dos pais para se diferenciar deles e, ao mesmo tempo, a conservaçao de certa proximidade que possibilite encontrar as semelhanças que sustentem as identificaçoes38. Assim, nesse período, o equilíbrio narcísico do jovem está vinculado à reconstruçao da percepçao do self e dos objetos, ou seja, depende de um enorme reordenamento simbólico39.

Todas essas transformaçoes, inerentes ao período, acarretam grande sofrimento e angústia. Manifestaçoes psicopatológicas podem ser esperadas nessa etapa e sintomas depressivos podem ser vistos como um recurso utilizado para se proteger desta realidade ameaçadora28,30,31,40,41,42. Também é importante ressaltar o papel das perdas e lutos da adolescência nas manifestaçoes dos estados depressivos42. Alguns comportamentos adolescentes nao significam, obrigatoriamente, o estabelecimento de uma morbidade ou de quadros psicopatológicos, mas escancaram uma exigência psíquica vivida na adolescência: a de significar as perdas e se colocar de uma maneira diferente no mundo28,43. Além disso, os sintomas depressivos podem denunciar a necessidade do jovem de se afastar desse mundo ameaçador para conseguir, aos poucos, elaborar as transformaçoes vividas e encontrar as referências simbólicas que permitam que siga seu próprio caminho28,43,44.

Assim, cabe discutir que, apesar da elevada presença de transtornos depressivos nos adolescentes pesquisados, a administraçao de psicofármacos e consultas psiquiátricas nao se mostraram predominantes na amostra. A literatura aponta para tratamento combinado (medicaçao mais psicoterapia) como terapêutica padrao ouro para transtornos depressivos26. Em contrapartida, o excesso de diagnósticos e administraçao de psicofármacos para jovens ainda sao debatidos pela literatura. Alguns autores alertam para o excesso de diagnósticos e medicamentos psiquiátricos usados em jovens, que estao em crescimento e desenvolvimento. Há discussao importante sobre as limitaçoes dos diagnósticos nosológicos e sobre como esse tipo de categorizaçao está a serviço de produçao farmacêutica45. Além disso, deve-se ressaltar a importância de se distinguir sintomas depressivos de transtornos depressivos. Existem também reaçoes depressivas saudáveis, como a do luto. Os transtornos depressivos sao uma condiçao clínica grave e que se distinguem de momentos depressivos necessários para a elaboraçao das perdas que ocorrem durante uma vida e que participam do desenvolvimento e crescimento de um sujeito45.

Também é válida a reflexao acerca da causa do aumento da prevalência de transtornos depressivos trazidos pela literatura. Uma hipótese levantada pela literatura é a de que o aumento do diagnóstico de transtorno depressivo esteja relacionado com aspectos culturais do mundo contemporâneo28,43. Os sentimentos depressivos normais na passagem pela adolescência podem ser intensificados tanto por questoes da personalidade do sujeito, bem como por características da cultura atual28,43.

Alguns componentes da sociedade atual podem interferir no desenvolvimento da relaçao self/objeto, ou valorizar aspectos narcísicos - favorecendo o uso de defesas narcísicas diante do sentimento de vazio e fracasso vivido no processo de busca de identidade e autonomia30. A fragmentaçao das relaçoes temporárias, a velocidade do avanço tecnológico, a tendência ao individualismo e a busca pela satisfaçao imediata e concreta dos desejos, sao exemplos destes componentes da sociedade moderna30. O jovem de hoje experimenta uma série de contradiçoes: mais liberdade e ao mesmo tempo mais dificuldade para saber seus limites e responsabilidades, aumento das pressoes internas e do meio sobre o aparelho psíquico e a diminuiçao dos recursos do ego, aumento da liberdade social e maior dependência dos poderes exercidos pela mídia e de grupos econômicos, entre outros30. Também a família nuclear está enfraquecida e os pais e filhos estao cada vez mais confusos em seus papéis. Todas essas questoes ainda sao agravadas pela violência urbana e social, pela miserabilidade e desemprego crescente30. Nos dias atuais, percebe-se que o ato de "fazer" é menos importante do que o "de ser visto", e consumir é uma das principais formas de mediaçao das relaçoes sociais44. Vive-se na cultura da globalizaçao, na qual tudo acontece e muda com muita rapidez e a informaçao inunda a vida do ser humano44. A cultura contemporânea prioriza o "ter" em detrimento do "ser", a aparência em detrimento da essência44. O modo de existir desta sociedade está marcado por uma subjetividade fragmentada, em que nao existe espaço para as diferenças e singularidades - havendo, portanto, uma padronizaçao e modelos a serem seguidos. E é por meio da análise de todas estas questoes que devemos pensar como se dará o processo de construçao da identidade dos adolescentes de hoje - já que a consolidaçao da personalidade e identidade é a principal tarefa desta fase do ciclo vital44. A depressao, desse modo, pode sinalizar uma tentativa do jovem de impor um limite corporal à vida sem limite que o mundo contemporâneo oferece - buscando, na verdade, uma integraçao das pulsoes e simbolizaçao.


CONCLUSOES

O objetivo deste estudo foi levantar o perfil sociodemográfico e prevalência de psicopatologias em uma amostra com 228 pacientes atendidos numa clínica-escola da cidade de Porto Alegre. O perfil sociodemográfico encontrado foi o de uma clientela de ambos os sexos, que possui em média 14 anos de idade, frequenta o Ensino Fundamental, tanto em rede privada como em escola pública. Esse adolescente busca atendimento por indicaçao de um médico (principalmente psiquiatra) ou psicólogo. O adolescente tende a ficar apenas de 1 a 6 meses em atendimento e frequentemente abandona o tratamento.

Os transtornos depressivos foram os mais recorrentes tanto em meninas quanto em meninos. E em todas as fases da adolescência os transtornos depressivos foram os mais recorrentes. Esses resultados corroboram achados da literatura sobre alta incidência desses transtornos na adolescência. O presente estudo também discutiu os motivos da prevalência dos transtornos depressivos nessa etapa, dando ênfase à relaçao típica entre adolescência e depressao e às características da sociedade contemporânea.

Os achados ressaltam a importância de desenvolver pesquisas e técnicas terapêuticas focadas em sintomas e transtornos depressivos na adolescência. Tendo em vista o tempo curto de permanência em tratamento que a maioria dos participantes apresentou, destaca-se a necessidade de investimentos em técnicas breves para a psicoterapia com adolescentes. Como limitaçao do presente estudo destaca-se o elevado número de informaçoes nao constantes dos prontuários de pacientes que compuseram a amostra. Sugere-se que estudos de prevalência de psicopatologia sejam constantemente desenvolvidos para promoçao de açoes preventivas e aprimoramento de técnicas terapêuticas.


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a Graduanda em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS - (Membro da Comissao de Pesquisa do Centro de Estudo, Atendimento e Pesquisa da Infância e Adolescência - CEAPIA)
b Doutora em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS - (Professora adjunta da Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS)
c Mestre em Psicologia Clínica PUCRS - (Diretora de Pesquisa CEAPIA) - PORTO ALEGRE - RS - Brasil

Correspondência
Sílvia Cristina Marceliano Hallberg
R. Cel. Bordini, 434 - Auxiliadora
90440-002 Porto Alegre, RS, Brasil

Submetido em: 12/12/2017
Aceito em: 30/07/2018

Contribuiçoes: Todos os autores participaram ativamente da elaboraçao do presente artigo.

Instituiçao: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e Centro de Estudo, Atendimento e Pesquisa da Infância e Adolescência (CEAPIA)

 

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