Rev. bras. psicoter. 2018; 20(1):95-103
Tietzmann AC. Sobre as terapias psicanalíticas na infância e adolescência: um ensaio psicoeducativo. Rev. bras. psicoter. 2018;20(1):95-103
Artigo Especial
Sobre as terapias psicanalíticas na infância e adolescência: um ensaio psicoeducativo
On psychoanalytic therapies in childhood and adolescence: a psychoeducational essay
Ana Cristina Tietzmann
Resumo
Abstract
As crianças que nasceram neste século sao diferentes daquelas do início do século passado, quando Freud formulava suas teorias. Crianças e jovens em desenvolvimento podem adoecer mentalmente. Isso nao mudou. Auxiliá-los a tornarem-se adultos felizes, aptos a lidar com a realidade de seu tempo, continua sendo um grande desafio, tanto para pais quanto para os diferentes profissionais envolvidos.
Entre as distintas maneiras de se tratar os problemas de saúde mental nas crianças e jovens, a psicanálise teve um papel importante ao longo da, ainda recente, história da psicologia e psiquiatria da infância e adolescência. A psicanálise e a psicoterapia de orientaçao analítica, chamadas abordagens psicodinâmicas, têm indicaçoes específicas e nao servem para todos os pacientes. Quando bem indicadas, podem ser potentes instrumentos preventivos e terapêuticos.1 Este texto busca, com o auxílio de alguns fragmentos literários ilustrativos, mostrar ao leitor nao especializado um pouco da complexidade e importância desse campo de conhecimento.
UM ENCONTRO DE VALOR
"Quero pôr os tempos, em sua mansa ordem, conforme esperas e sofrências. Mas as lembranças desobedecem, entre a vontade de serem nada e o gosto de me roubarem do presente[...]" (Mia Couto, 1992)²
"[...] No começo pensou-se que Tlön era um mero caos, uma irresponsável licença da imaginaçao; agora se sabe que é um cosmos e as íntimas leis que o regem foram formuladas, ainda que de modo provisório. [...]" ( Borges, J.L. ,1944)7
"Tu te sentarás, primeiro, um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto dos olhos e tu nao dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos [...] Mas a cada dia, te sentarás um pouco mais perto [...] Teria sido melhor se voltasses à mesma hora. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Mas se vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar meu coraçao. É preciso um ritual. [...]" (Saint- Exupéry, A., 1943)10
[...] Mas a poesia nao existia ainda. Plantas. Bichos. Cheiros. Roupas. Olhos. Braços. Seios. Bocas. Vidraça verde, jasmim. Bicicleta no domingo. Papagaios de papel. Retreta na praça. Luto. Homem morto no mercado Sangue humano nos legumes. Mundo sem voz, coisa opaca [...] (Ferreira Gullar, 1975) 14
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