Rev. bras. psicoter. 2017; 19(3):63-76
Santos CEM, Medeiros FA. Relato de um caso clínico de disfunçao sexual feminina sob a ótica da abordagem cognitivo-comportamental breve. Rev. bras. psicoter. 2017;19(3):63-76
Relato de Caso
Relato de um caso clínico de disfunçao sexual feminina sob a ótica da abordagem cognitivo-comportamental breve
Report of a clinical case of female sexual dysfunction from the point of view of brief cognitive-behavioral approach
Camila Elidia Messias dos Santosa; Francisco de Assis Medeirosb
Resumo
Abstract
INTRODUÇAO
As Disfunçoes Sexuais (DS) sao caracterizadas por perturbaçoes ou dores associadas ao coito em uma ou mais fases do ciclo sexual (desejo, excitaçao, orgasmo e resoluçao)1, comprometendo o desenvolvimento da atividade sexual satisfatória2,3. Estao relacionadas a uma série de condiçoes clínicas que podem incluir ejaculaçao retardada, transtorno erétil, transtorno do orgasmo feminino, transtorno do interesse/excitaçao sexual feminino, transtorno da dor gênito-pélvica/penetraçao, transtorno do desejo sexual masculino hipoativo, ejaculaçao prematura (precoce), disfunçao sexual induzida por substância/medicamento e outra disfunçao sexual especificada ou nao especificada3.
Estudos sobre a prevalência estimam que cerca de 43% das mulheres norte-americanas e 40% a 70% das mulheres portuguesas reportam alguma queixa de disfunçao relativo a atividade sexual, sendo para este público denominada de Disfunçao Sexual Feminina (DSF)4,5. No Brasil, nao existe um consenso sobre o número de mulheres que sofrem alguma DS6. No entanto, a partir de uma revisao da literatura realizada pelos mesmos autores, com intuito de lançar alguma luz sobre a questao, constataram que a prevalência pode chegar a 67,7% das mulheres brasileiras, configurando um número alarmante.
É habitual, nesta populaçao, a hipoatividade do desejo sexual, transtorno de aversao sexual, transtorno de excitaçao sexual, transtorno do orgasmo e transtornos dolorosos como dispareunia e vaginismo7,8, associados a uma diminuiçao acentuada na qualidade de vida e relaçoes interpessoais9. Corroborando estes dados, um estudo realizado em 2013 no qual dos 214 questionários devolvidos com respostas válidas, verificou-se que entre as DSFs, as mais frequentes sao: perturbaçao do orgasmo (55,8%), dispareunia (40,9%), vaginismo (16,7%) e as experiências sexuais indesejadas prévias (6,5%)5.
Os sintomas do transtorno da dor Gênito-Pélvica/Penetraçao apresenta quatro dimensoes: 1) dificuldade de ter relaçoes sexuais; 2) dor gênito-pélvica; 3) medo de dor na penetraçao vaginal e 4) tensao dos músculos do assoalho pélvico, onde quaisquer dificuldades em uma das quatro dimensoes dos sintomas tende a provocar sofrimento considerável. A realizaçao do diagnóstico é possível com base em apenas uma incapacidade, no entanto, todas as quatro dimensoes devem ser avaliadas3.
Os fatores etiológicos comuns às DSFs incluem a presença de estados emocionais negativos, como a raiva, depressao, ansiedade e medo, fatores individuais relacionados a baixa autoestima, má imagem corporal, ansiedade de desempenho, experiências prévias traumáticas com dores ou abuso sexual, fatores educacionais e culturais relacionados a contributos na formaçao de crenças errôneas e desinformaçao acerca da sexualidade, mensagens parentais negativas, ortodoxia religiosa e aspectos subjetivos do relacionamento conjugal10.
Sendo assim, o comportamento sexual só pode ser entendido a partir de uma ampla gama de aspectos individuais, que incluem: fatores biológicos, o tipo, a intensidade, a duraçao do estímulo e a história de vida de cada sujeito, visto que todas mulheres se comportam de forma única segundo seus próprios padroes de receptividade e sao condicionados por estas variáveis mantenedoras11.
Soma-se a isso questoes subjetivas em que o sexo "normal" ganha um significado único por se basear nas experiências de cada sujeito, em funçao da satisfaçao pessoal ou da adequaçao sexual destes, a partir da satisfaçao do próprio comportamento sexual e do parceiro, caso contrário, estará em via da "anormalidade" ou inadequaçao12.
Contudo, nao significa necessariamente se enquadrar dentro de uma norma biológica ou sociológica, pois, mesmo estando de acordo com aspectos biológicos e socioculturais, pode haver o julgamento de si como inadequado 1,12.
Do ponto de vista psicológico, as crenças disfuncionais sobre sexualidade tendem a predispor ás disfunçoes sexuais a partir da ativaçao de esquemas cognitivos negativos, gerando emoçoes e pensamentos capazes de comprometer o processamento frente a questoes sexuais de modo a interferir no desejo sexual13, levando a experiências desagradáveis e dolorosas e confirmando os esquemas pré-concebidos14, culminando em um loop (retroalimentaçao).
Portanto, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) por ser considerada uma forma estruturada de psicoterapia voltada para o presente e direcionada para a soluçao de problemas atuais, modificaçao de pensamentos e comportamentos disfuncionais (inadequados e/ou inúteis)15 apresentando características de brevidade, objetividade e possibilidade de validaçao científica, tem se mostrado uma alternativa promissora para o manuseio das DSFs16.
Conforme Nobre; Pinto-Gouveia17, o número de pensamentos disfuncionais durante a atividade sexual é muito maior em pacientes com disfunçao sexual do que em pacientes sem o transtorno. Esses pacientes tendem a apresentar ideias sobre fracasso, negaçao, insatisfaçao e falta de pensamentos eróticos. Esse padrao de comportamento leva a distribuiçao destes pacientes em dois subgrupos: (a) grupo de persistência de tarefa, este mantém as atividades mesmo que estas infrinjam dor e o (b) grupo de prevençao do medo, os quais evitam qualquer atividade que possa causar dor18.
No tratamento das disfunçoes sexuais, a TCC visa uma série de mudanças cognitivas e comportamentais, de modo que "[...] o paciente inserido nesta abordagem terapêutica é constantemente estimulado a segmentar seu sofrimento psíquico para auto exploraçao" (p. 207)19, permitindo a este que comunique seus desejos ao parceiro de forma a gerar planos para desenvolver e manter ganhos após o término do tratamento, conduzindo o paciente a uma sensaçao melhor e mais confortável na assertividade consigo mesmo20, tornando-se capaz de obter melhoras secundárias, correlacionando-se ao sucesso do tratamento da patologia psiquiátrica primária, que é objeto da intervençao21.
No entanto, a terapia Cognitiva-Comportamental Breve (TCCB) apresenta uma série de vantagens quando comparada à terapia cognitivo-comportamental padrao, tais como: diminuiçao dos custos do tratamento, aumento da motivaçao para mudança devido ao estabelecimento de questoes focais e possibilidade de atendimento em situaçoes de urgência/emergência22.
Diante do exposto, o presente artigo tem por objetivo apresentar o caso de uma paciente de 32 anos com DSF atendida em 10 sessoes de psicoterapia breve, a partir do referencial teórico da terapia cognitivo comportamental, utilizando-se das técnicas de reestruturaçao cognitiva, prevençao de recaídas e psicoeducaçao do transtorno, discutindo a validade de tal abordagem, assim como sua modalidade (psicoterapia breve), como uma possibilidade de intervençao em pacientes com DSF.
DESCRIÇAO DO CASO
Felícia* mulher de 32 anos, solteira, mora sozinha e trabalha como pesquisadora. Filha mais velha de sua progênie, obteve poucas informaçoes sobre sexualidade em seu ambiente familiar. Seu primeiro relacionamento amoroso ocorreu quando tinha 17 anos, contudo, por considerar-se muito jovem e ter o desejo de casar-se virgem, obtinha prazeres somente por meio de carícias, masturbaçao e sexo oral. No entanto, a descoberta de relaçoes extraconjugais por parte de seu namorado resultou no término do relacionamento dois meses depois.
As novas experiências sexuais de Felícia voltaram a ocorrer aos 19 anos com um novo namorado, mas, como este nao conseguia ter ereçao, continuava a procura de prazer mediante carícias, masturbaçao e sexo oral, culminando, novamente, no término de seu relacionamento após dez anos de duraçao.
Aos 29 anos e com um novo e atual namorado, teve sua primeira e única relaçao sexual com penetraçao satisfatória. Porém, desde entao, a obtençao do prazer sexual voltou a ocorrer através de preliminares devido a inúmeras queixas de dores a qualquer introduçao vaginal.
CARACTERIZAÇAO DA DEMANDA
Os atendimentos fizeram parte do cronograma do curso teórico-prático de aperfeiçoamento em psicoterapia breve de uma faculdade pública do interior de Sao Paulo, para psicólogos recém-formados. O curso teórico foi realizado junto com supervisoes semanais na própria instituiçao. Os atendimentos eram direcionados a funcionários e alunos da mesma, sendo divulgado a possibilidade de terapia sem custos financeiros através de cartazes e de uma página na internet. Para utilizaçao do serviço, os indivíduos interessados deveriam entrar em contato com a instituiçao e solicitar a adesao de seu nome em uma lista, sendo classificados por ordem de solicitaçao e convocados de acordo com a compatibilidade de horários entre paciente e terapeuta e disponibilidade de salas.
QUEIXA PRINCIPAL
Na entrevista inicial, a paciente relatou a insatisfaçao e infelicidade que perpetuava em sua vida após o retorno ao Brasil (pois residia em outro país, com intuito de concluir seus estudos) por nao conseguir ter nenhuma relaçao sexual satisfatória, devido a dores sexuais, assim como "mal funcionamento" (sic) de alguns âmbitos de sua vida, que estavam abaixo do esperado (e.g. pouca produtividade nas atividades profissionais), resultando em baixa autoestima e preocupaçoes excessivas nos cuidados referentes ao atual namorado, alegando sentir "como se fosse sua mae" (sic).
INSTRUMENTOS E HIPOTESE DIAGNOSTICA
Para a avaliaçao da paciente foram utilizados: (a) entrevista inicial para coleta de dados; (b) mensuraçao através dos inventários Beck de depressao (BDI-II) e inventário Beck de ansiedade (BAI); e (c) verificaçao da presença de sintomatologia descrita no Manual Diagnóstico e Estatístico dos transtornos mentais DSM-5, que preenchessem o critério para transtorno de DSF.
Felícia apresentava sintomas de depressao moderada (20) e ansiedade mínima (07), sendo cogitada a hipótese diagnóstica de transtorno de dor-gênito-pélvica/penetraçao. A mesma nao fazia tratamento combinado com psicofármacos.
Deste modo, o processo terapêutico foi delineado utilizando as seguintes técnicas e estratégias: psicoeducaçao das disfunçoes sexuais, psicoeducaçao do modelo cognitivo, técnicas comportamentais, inventário Beck de depressao (BDI-II), inventário Beck de ansiedade (BAI), conceituaçao cognitiva, cartao de enfrentamento, registro de pensamentos disfuncionais (RPD), tomada de decisoes, exame das evidências, descoberta guiada, questionamento socrático, aumento das atividades prazerosas e prevençao de recaídas.
No presente estudo de caso, foram realizadas 10 sessoes de psicoterapia, de 50 minutos de duraçao cada, a partir do referencial teórico cognitivo-comportamental.
PROCEDIMENTOS/SESSOES
A paciente nao compareceu a primeira sessao. Por isso, o primeiro contato com a psicóloga só veio a ocorrer a partir da segunda semana quando foram apresentados o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e a autorizaçao do uso de dados clínicos para pesquisas desde que fossem respeitados o sigilo e a identidade dos sujeitos, e assegurada de seus direitos e dos deveres do psicólogo (a) constantes no código de ética da classe.
No primeiro encontro, Felícia apresentou-se retraída e triste, declarava estar insatisfeita e infeliz. A entrevista inicial teve como objetivo a busca de informaçoes sobre os dados pessoais e história pessoal e clínica da paciente, dados que foram complementados durante as duas sessoes seguintes. A terapeuta realizou a psicoeducaçao do Modus operandi do transtorno e do modelo cognitivo, esclarecendo a influência exercida pelos pensamentos na forma como as pessoas se sentem e como se comportam e do transtorno em si. Como respalda Holanda, às dificuldades referentes a esse tipo de queixa podem ser minimizadas com orientaçoes adequadas às mulheres e incentivo de seus respectivos parceiros nos momentos de atendimento, para que ambos tenham uma melhor investigaçao e compreensao da dimensao sexual feminina23.
Durante a terceira sessao, Felícia mostrou-se menos tensa, os escores obtidos da aplicaçao do BDI e do BAI apontaram para uma depressao moderada e ansiedade mínima. A partir dos dados trazidos pela paciente, foram investigados aspectos de obtençao de prazer, lubrificaçao e excitaçao, além de apontamentos e discussoes sobre suas crenças referentes ao medo, dor e ansiedade frente ao ato sexual.
Na sessao seguinte, a paciente se emocionou ao entrar em contato com suas reflexoes, foram trabalhados os fatores positivos e negativos de sua vida sexual e afetiva, de modo a instigá-la a medir seus pesos, na identificaçao de qual deveria ser a prioridade do momento. Ao estabelecer os objetivos, a vida sexual foi colocada como ponto central da terapia. Foi estabelecido como tarefa de casa o preenchimento do cartao de enfrentamento, visando identificar estratégias que poderiam melhorar o relacionamento do casal (e.g. a conversa aberta e técnicas de interaçao entre o casal).
Em seguida, foi realizada a psicoeducaçao sobre os pensamentos automáticos e trabalhado as três primeiras colunas do RPD, para que o contato da paciente ocorresse de forma gradual com o instrumento. A situaçao inicial trabalhada "tentativa de relaçao sexual", visou identificar pensamentos disfuncionais "de novo" (sic); "porque ele nao faz o que eu preciso" (sic), sendo proposto a utilizaçao do RPD pela paciente também durante a semana, pois o uso dessa ferramenta em casa destina-se a aumentar e facilitar a recordaçao pelo paciente de eventos, pensamentos e sentimentos ocorridos entre as sessoes24. Ao término da sessao, a paciente foi orientada a procurar por uma ginecologista, com intuito de verificar possíveis alteraçoes fisiológicas que poderiam explicar as dores que sentia durante as tentativas de penetraçao vaginal.
Na quinta sessao, a paciente relatou ter esquecido a tarefa de casa, trouxe em seu relato a tentativa fracassada de sexo, situaçao tomada como ponto de partida para a identificaçao de sentimentos e pensamentos associados a situaçao. Por sua vez, a paciente declarou que "pensa em deixar de tentar, mas, sabe que nao é normal deixar quieto só porque nao consegue, pois, sexo é bom, mas é cansativo ter todo um ritual para alcançar o prazer" (sic), por isso, optou-se em conjunto discutir estratégias e condiçoes favoráveis para uma atividade sexual agradável, próximo ao que desejava e nao como obrigaçao social, realizando estímulos variados, preliminares e relaxamento. A tentativa de sexo relatada, foi trabalhada com o preenchimento do RPD e proposto como tarefa de casa a identificaçao do maior número possível de pensamentos disfuncionais que poderiam vir a ocorrer frente a futuras situaçoes de sexo.
Os escores do BAI e BDI diminuíram significativamente na sexta sessao, tendo ambos apresentados valores mínimos. A paciente relatou sentir boa evoluçao em relaçao a primeira penetraçao ocorrida com o namorado após ele ter chegado ao Brasil. No entanto, novamente sentiu dor, nao obtendo prazer por essa prática, assim, com o objetivo de identificar e modificar sentimentos e pensamentos disfuncionais encontrados (tristeza, frustaçao e revolta) frente às tentativas de sexo utilizou-se a técnica descoberta guiada na sessao. Complementarmente, a paciente treinou em conjunto com a psicóloga a realizaçao da técnica de relaxamento, sendo possível identificar em seus relatos dois pensamentos funcionais "ainda bem que já tive essa experiência antes" (sic), "fiquei calma" (sic), que ocorreram quando seu namorado nao esperava que iria ocorrer a penetraçao e seu pênis veio a ficar flácido (caso ocorrido antes da penetraçao). Ao ser questionada como se sentiu e fez frente a situaçao, a paciente relatou que se lembrou do que havia trabalhado durante as sessoes sobre pensamentos "errados" (sic) e partir disso controlou-se e conseguiu se sentir conectada com o namorado. Como tarefa de casa, retornou com o RPD e uma atividade de interaçao para o casal.
Na sétima sessao, Felícia nao trouxe dados de interaçao entre o casal, mas trouxe o RPD preenchido a partir da situaçao "discussao sobre o futuro e contas" (sic). Em conjunto com a cliente, a psicóloga apresentou e aplicou a situaçao o modelo cognitivo: Pensamento Automático: Emoçao-comportamento-resposta fisiológica, com intençao de buscar informaçoes quanto ao ato sexual ter doído, relatando a paciente ter doído razoavelmente, mas suportável, além de resoluçoes de dúvidas. Um cartao de enfrentamento frente às intervençoes que podiam ser realizadas para melhora da interaçao entre o casal, (sendo que tal atividade já havia sido proposto como tarefa e a paciente nao havia retornado com a mesma) foi desenvolvido e em seguida discutidos as técnicas de obtençao de prazer a partir do próprio corpo, ao invés de práticas conjuntas com o namorado, além de propor que quando estas ocorrer junto ao parceiro, deveriam ser realizadas focando na qualidade nao na quantidade, a partir de condiçoes favoráveis, levando em conta a comunicaçao do casal. Sendo orientado a se permitir a fazer atividades prazerosas de uma a duas vezes por semana, visto que quando há interaçao entre o aspecto emocional e o bem-estar físico o ciclo de resposta sexual é reforçado25. Ao final da sessao, como tarefa de casa, a distorçao cognitiva "O problema é comigo, ele está fazendo o melhor que pode" (sic), foi retomada para ser trabalhada e modificada no RPD.
Na oitava sessao, era nítida a participaçao colaborativa da cliente. Ela havia trazido para a pauta seu problema central da semana e exibiu as dúvidas de seu futuro com o namorado. Se empenhou fluidamente na atividade e utilizou-se da técnica tomando decisoes para a situaçao de seu namorado ficar no Brasil ou voltar para seu país de origem. Felícia apresentou melhora significativas, informou que realizou tarefas que há algum tempo nao fazia, como ir ao cinema e ler um livro que queria. Pode-se notar que Felícia passou a se preocupar mais consigo mesma e mostrava-se mais efetiva, começando a focar em sua metacogniçao e questionando-se. Como feedback da sessao a paciente relatou que a terapia fez com que ela enxergasse outros aspectos de sua vida e nao apenas um lado e agora sabia o quao tendia a ter pensamentos errados, mas compreendia também a possibilidade de os modificar. Desta sessao em diante, notou-se uma melhora considerável da paciente e boa aderência em relaçao ao processo psicoterápico, apresentando-se cada vez mais ativa no processo.
Na penúltima sessao, os escores do BAI e BDI continuaram baixos. A paciente atribuiu essa melhora ao processo psicoterápico, no entanto, foi informada que a baixa nos escores se deu principalmente à sua participaçao e disposiçao a mudança, que sem ela seria impossível perceber melhoras. Sobre às questoes sexuais, relatou ter tido penetraçao durante a semana e que a dor em uma escala de 0 a 10 consistia em 7, conseguiu conversar com o namorado e decidir que no ano seguinte seria melhor ele voltar ao seu país para buscar emprego. Informa ter ficado triste por ele ter que ficar longe, mas ao mesmo tempo contente por ter tomado decisao e nao ficar angustiada em relaçao a isso. A partir do questionamento socrático foram observadas crenças sobre sua vida profissional e afetiva, sendo encontrados os pensamentos automáticos: "impossível chegar a ser professora lá fora" (sic), "nao sou boa o suficiente" (sic), "nao sou um gênio" (sic), e crenças centrais de desamparo e desamor que foram trabalhadas, tanto em sessoes, como em tarefa de casa, por meio do RPD. Ao final da sessao foi realizado a prevençao de recaída e obtençao o feedback da paciente que declarou "cada dia de terapia é como se tivesse várias caixas e essas fossem abrindo uma a uma, de forma a poder enxergar tudo que está ao meu redor, fazendo com que eu percebesse os pensamentos que me impediam de eu ir mais longe" (sic).
No dia do encerramento, pretendeu-se resgatar as vivências da paciente e técnicas apreendidas durante a terapia de modo a instigá-la a ser sua própria terapeuta sempre que precisar. Felícia estava empolgada com os avanços obtidos, mas ao mesmo tempo triste com o término do processo. Em relaçao a sua decisao e do namorado trabalhadas na semana anterior sobre o futuro, declarou estar bem e conformada com esta por ser a melhor para os dois, porém triste por ter que passar por mais esse processo e ficar mais tempo longe do parceiro. No entanto, relatou melhoras em funçao da terapia como: menos cobrança em relaçao a si mesmo e ao seu namorado, menos preocupaçao com o namorado e menos impulsividade, além de ter adquirido mais autoconhecimento, emoçoes e momentos felizes.
Infelizmente a paciente nao passou por atendimento ginecológico, devido a coincidência das férias da médica ao período da terapia e grande demanda, dificultando assim o andamento das sessoes. No entanto, o atendimento ginecológico ficou marcado para o mês seguinte ao termino das sessoes. Frente a isso, ficou tratado que a paciente seria encaminhada para psicoterapia de longo prazo, visando a continuidade do seu tratamento, pois ainda existiam questoes que necessitavam ser acompanhadas como a dor no ato sexual, perspectivas acerca do seu relacionamento e possíveis flutuaçoes em sua melhora. Em seguida é apresentado as descriçoes das técnicas utilizadas por sessao (tabela 1).
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