Rev. bras. psicoter. 2017; 19(3):33-42
Maia RS, Rocha MMO, Araújo TCS, Maia EMC. Comportamento suicida: reflexoes para profissionais de saúde. Rev. bras. psicoter. 2017;19(3):33-42
Artigos de Revisao
Comportamento suicida: reflexoes para profissionais de saúde
Suicidal behavior: reflections for health professionals
Rodrigo da Silva Maiaa; Marília Menezes de Oliveira Rochab; Tereza Cristina Santos de Araújoc; Eulália Maria Chaves Maiad
Resumo
Abstract
INTRODUÇAO
Nos últimos tempos, vimos abrolhar o número de casos e ocorrências de ideaçao, tentativas e de suicídios consumados. Este fenômeno, em partes, se dá pela visibilidade que o tema tem ganhado nos últimos meses, em decorrência da notoriedade da temática por intermédio de séries, filmes e atividades difundidas pelas redes sociais e mídia, ilustrados, por exemplo, pela série "13 Reasons Why" e o "Jogo Baleia Azul". Dessa maneira, ao ganhar espaço público o suicídio passa a ser problematizado.
A publicizaçao do tema faz com que ele ganhe visibilidade, no entanto, também catalisa a ocorrência de novos episódios, se tornando um gatilho a uma pessoa suscetível ou vulnerável, ocorrendo o entao, o fenômeno do Efeito de Werther, que trata-se de um suicídio copiado ou por contágio e em série ou em cluster1. Pessoas que antes nao pensavam sobre a possibilidade de tirar a vida, levantam essa hipótese como possibilidade em seu horizonte existencial. Entretanto, vale salientar que a ideaçao, tentativas e suicídios consumados sao uma problemática de saúde pública, com índices de morbimortalidade que superam algumas doenças crônicas, acidentes, além de homicídios e guerras2.
Estudos apontam existir um grupo populacional suscetível a cometer suicídio proveniente desses efeitos midiáticos, cuja estatística registra como terceiro incentivador de atos suicidas, após o desemprego e situaçoes de violência. Em paralelo a esses efeitos negativos, decorrentes de disseminaçoes de ideias que retroalimentam a consumaçao do ato de matar a si, a Organizaçao Mundial de Saúde (OMS) vem se posicionado à ampliaçao de políticas públicas que corroborem para informaçoes com impacto preventivo a comportamentos suicidas. Esse processo de combate positivo tem sido chamado de Efeito Papageno, em que se destaca a relevância de adoçao de estratégias de enfrentamentos positivas diante dos públicos com acesso a diversos canais da mídia3.
Este ensaio objetiva discorrer sobre a temática do suicídio. Especificamente, pretende-se caracterizar estimativas epidemiológicas e fatores associados, como psicopatologias e comorbidades. Além disso, sao propostos elementos importantes a se investigar diante do paciente que apresenta risco ao suicídio e, por fim, apresentar uma caracterizaçao do "contrato antissuicídio". Para realizaçao do mesmo, utilizou-se o método da revisao narrativa, buscando discutir o estado da arte sobre a temática.
Para a realizaçao desta revisao realizou-se buscas por artigos nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (SCIELO), na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), selecionando a base de dados Literatura Latino Americana em Ciências da Saúde (LILACS), e o Portal de Periódicos CAPES. Durante as buscas foram utilizados os descritores "suicídio", "tentativa de suicídio" e "comportamentos autodestrutivos", sem corte temporal específicos para a seleçao do material informacional. Incluíram-se aqui artigos disponíveis na íntegra, que atendessem ao objetivo do estudo, trazendo dados epidemiológicos, sobre fatores associados, como psicopatologias e comorbidades clínicas, e de intervençao com este público. Foram excluídos por sua vez, estudos que tratavam de intervençoes em crises nao suicidas.
ESTIMATIVAS, PREVALENCIA E FATORES ASSOCIADOS
O suicídio está entre as três causas de morte na populaçao de 15 a 44 anos. Segundo a World Health Organization4, este fenômeno é responsável, anualmente, por cerca de um milhao de óbitos. Tais estimativas nao incluem as tentativas de suicídio, as quais superam o número de suicídios em, pelo menos, dez vezes. De acordo com Botega, as tentativas sao 10 a 20 vezes mais frequentes que o suicídio em si5.
O Brasil figura entre os dez países que registram os maiores números absolutos de suicídios. Sao, em média, 27 mortes por dia, dado este que tomou por base a ocorrência de suicídios efetivados no ano de 2011. Do total de óbitos registrados no Brasil, 1% decorre de suicídios. No entanto, este ainda é um dado subnotificado, uma vez que ocorrem fragilidades no registro da informaçao em alguns serviços de verificaçao de óbito (SVO) ou institutos técnico-científicos, bem como em hospitais5.
A respeito dos meios usados para o suicídio pode-se dizer que os mesmos variam de acordo com a cultura e o acesso que se tem ao recurso. Nos Estados Unidos da América (EUA), por exemplo, o meio predominante é o uso de arma de fogo, por haver um acesso à compra destas e pelas altas taxas de arma de fogo por domicílio. Já em países como a Austrália e Inglaterra predominam o sufocamento por enforcamento ou inalaçao de gás tóxico. Países como China e Sri Lanka, com economia baseada em produçao agrícola, predominam a intoxicaçao por pesticida. No Brasil, o enforcamento é predominante na populaçao, ocorrendo em aproximadamente metade dos casos de óbito por suicídio6. Em nosso país, verifica-se diferenças de gênero no que tange as práticas consumadas, como mostra o Tabela 1.
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