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Revista Brasileira de Psicoteratia

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Rev. bras. psicoter. 2014; 16(3):70-85



Relato de Caso

Resgatando a resiliência de famílias em crise

Rescuing the resilience of families in crisis

Márcia Pettenon

Resumo

É interessante observar como indivíduos e muitas famílias, diante de intempéries da vida, buscam dentro de si recursos outrora desconhecidos para transformar uma crise familiar em oportunidade de crescimento. OBJETIVO: O objetivo deste estudo foi criar um espaço terapêutico que representasse um "espelho"; assim, as três famílias envolvidas no tratamento poderiam visualizar recursos internos para o enfrentamento de suas diferentes crises. MÉTODO: Este estudo de caso clínico foi realizado com três famílias que buscaram atendimento em uma instituiçao especializada no tratamento familiar. Os pacientes foram tratados de acordo com a abordagem familiar sistêmica integrativa. As sessoes familiares foram intercaladas com atendimentos individuais, de acordo com os critérios de avaliaçao da terapeuta, acordados com os integrantes das famílias. Cada família foi atendida separadamente. RESULTADOS: Durante o estudo com as três famílias, foram identificados e fortalecidos novos padroes de funcionamento. Os períodos de crises foram gradualmente transformados em processo de amadurecimento, de modo que cada integrante pudesse reconhecer suas habilidades e reconstruir uma configuraçao familiar resiliente. CONCLUSAO: Os vínculos familiares foram considerados fortes aliados para que as famílias pudessem desenvolver novas habilidades funcionais, transformando os momentos de crises em um processo de fortalecimento das relaçoes.

Descritores: Terapia familiar. Resiliência psicológica. Estresse psicológico. Intervençao na crise.

Abstract

It is interesting to note how many individuals and families, facing the issues of life, seek resources within themselves, that were once unknown, to transform a family crisis into an opportunity for growth. OBJECTIVE: The objective of this study was to create a therapeutic space that represented a "mirror"; thus, the three families involved in treatment could visualize internal resources to cope with their various crises. METHOD: This clinical case study was conducted with three families seeking care in an institution specialized in family therapy. Patients were treated according to the integrative family systemic approach. Family sessions were interleaved interspersed with individual assistance, according to the therapist's evaluation criteria, and agreed upon with the members of the families. Each family was taken care of separately. RESULTS: During the study of the three families, new patterns of functioning were identified and strengthened. Periods of crisis were gradually transformed into the maturing process, so that each member could recognize their skills and rebuild a resilient family configuration. CONCLUSION: Family ties were considered strong allies for families to develop new functional abilities, transforming moments of crises into a process of strengthening of relations process.

Keywords: Family therapy. Psychological resilience. Psychological stress. Crisis Intervention.

 

 

1 INTRODUÇAO

Em nossa cultura, sabemos que os momentos de crises nos acompanham desde os primeiros estágios do desenvolvimento. No que tange à cultura chinesa, por exemplo, o símbolo de crise direciona a dois polos: perigo ou oportunidade. Nao raro, as crises sao marcadas por importantes transiçoes de uma etapa para a seguinte, agregando novas formas de enfrentamentos e podendo transformar um iminente perigo em propósito para evoluçao1,2,3.

Teóricos identificam, amparados no conceito da física4, indivíduos, famílias e, ainda, determinada sociedade como resilientes5,6. Tomando como objetos de análise o indivíduo e a família, estudos apontam diferentes formas de visualizaçao da resiliência diante de crises e, consequentemente, distintos desfechos clínicos7,8. Aqueles indivíduos que, frente às adversidades da vida, reconhecem em si e/ou em sua família possibilidades de superaçao, conseguem se recuperar mais rapidamente do que aqueles que percebem a crise com uma postura de fracasso e que atribuem o acontecido a forças que estao além de seus recursos9,10.

Sujeitos e famílias, após o processo do tratamento de suas feridas dolorosas, apropriam-se de suas vidas e seguem adiante para usufruírem o que lhes é caro; sao, portanto, considerados resilientes3. Esse processo parece também estar intimamente associado ao conceito de autoestima e a uma visao otimista da vida11. Os "sobreviventes", por sua vez, nao sao necessariamente considerados resilientes, pois ficam enclausurados em posiçao de vitimizaçao, fazendo de seus sofrimentos a sua principal fonte de nutriçao e, consequentemente, ficando impedidos de crescer em decorrência de sentimentos acumulados, como raiva ou culpa. Salienta-se que a resiliência somente será percebida diante da adversidade, e nao apesar dela12.

Na literatura, existem poucos estudos sobre o processo de resgate da resiliência familiar utilizando a técnica sistêmica; no entanto, existem diversas demonstraçoes sobre a eficácia do tratamento familiar ou de casal em diferentes contextos clínicos13,14,15. É interessante destacar que o psicoterapeuta de família exerce um papel importante durante esse processo, podendo ajudar a mudar a perspectiva com que a família encara seu contexto e, consequentemente, suas próprias dificuldades. Esse profissional pode mudar a perspectiva com que as famílias enfrentam os problemas a partir da visualizaçao da resiliência intrínseca em seu ambiente familiar. Em vez de rotulá-las de incapazes, impotentes porque estao em crise, ele irá identificá-las como batalhadoras que estao desafiando o perigo, corroborando, assim, para o seu potencial para a reconstruçao e para o amadurecimento. Este estudo teve como objetivo descrever o processo de resgate da resiliência em três famílias, em diferentes crises, para que elas próprias pudessem explorar seus recursos e compartilhar a confiança na superaçao das adversidades.


2 MÉTODO

2.1 Delineamento: relato de caso familiar

2.2 Amostra


A amostra foi constituída por três famílias. A fim de preservar a identidade das famílias, os dados que contemplam nomes, profissoes e as cidades de origem foram alterados. Foram utilizados os seguintes símbolos para identificar as três famílias: a primeira foi identificada de família XX, a segunda como família YY e a terceira como família XY. Essas famílias buscaram tratamento no Instituto da Família de Porto Alegre (INFAPA) no ano de 2012. Todas as famílias vivem no estado do Rio Grande do Sul, Brasil.

2.3 Descriçao da família XX

2.3.1 Dados sociodemográficos dos membros familiares


- Mae: Luana, 47 anos, é divorciada e arquiteta.

- Pai: Rui, 49 anos, é divorciado, possui segundo grau completo e trabalha com vendas.

- Filho: Paulo, 13 anos, sétima série (repetente), estudante em escola particular.

- Filho: Pedro, 14 anos, oitava série (repetente), estudante em escola particular.

- Todos moradores de Canoas/RS e de etnia branca.

2.3.2 Breve histórico contextualizando a busca de tratamento

Em junho de 2012, a mae veio em busca de atendimento familiar no INFAPA, instituiçao indicada pelo Conselho Tutelar. Todas as estratégias do tratamento psicoterápico foram estruturadas dentro de um plano de psicoterapia familiar sistêmico-integrativo, mesmo sem a presença contínua dos demais integrantes. A mae abriu um processo judicial, há cinco anos atrás, contra o pai, pois em uma discussao o marido admitiu ter tido desejos sexuais em relaçao ao filho Paulo. O pai alega inocência. Por sua vez, o pai abriu um processo judicial, há dois anos, contra a mae, acusando-a de agredir fisicamente o filho Pedro em uma discussao familiar. A mae alega legítima defesa.

2.3.3 Focos do tratamento

- Comportamento agressivo dos filhos Paulo e Pedro contra a mae.

- Mae com sérias dificuldades no manejo de regras e limites com os filhos.

- Mae com sentimento de impotência diante de agressoes físicas e psicológicas dos filhos.

- Filhos desqualificando o papel materno apoiados pelas atitudes do pai.

- Filhos furtando dinheiro da mae.

- Evasao de escolar.

- Vandalismo no condomínio, que gera sucessivas multas à mae.

O tratamento foi realizado no período de junho de 2012 a fevereiro de 2013, com sessoes semanais (uma vez por semana).

2.4 Descriçao da família YY

2.4.1 Dados sociodemográficos dos membros familiares


- Mae: Eva, 45 anos, viúva e advogada.

- Filho: Anderson, 18 anos, estudante em conclusao do ensino médio (realizando vestibular para engenharia).

- Filho: Alan, 14 anos, estudante do primeiro ano do ensino médio em escola particular.

-Todos moradores de Novo Hamburgo/RS e de etnia branca.

2.4.2 Breve histórico contextualizando a busca de tratamento

Em março de 2012, a família sofreu um sério acidente automobilístico, culminando com a morte do pai (aos 55 anos), que conduzia o veículo. O pai chegou ao hospital sem vida. A mae, que estava sentada no banco traseiro, atrás do condutor, teve várias fraturas e teve que passar por cirurgias imediatamente. O filho Anderson, que estava sentado ao lado do pai, teve ferimentos graves e também necessitou permanecer no hospital. O filho Alan foi o único que nao ficou hospitalizado. Foi ele o representante de sua família que acompanhou os rituais fúnebres do pai. Alan contou com apoio de outros familiares, como avós maternos e avó paterna e tios(as), além de colegas de trabalho do pai e amigos da família. A mae veio buscar tratamento psicoterápico familiar no início de outubro de 2012, pois considerava que o luto pela morte do marido ainda nao havia sido elaborado e acreditava que seus filhos também tinham muitas dificuldades para lidar com a morte repentina do pai. O tratamento foi realizado no período de outubro de 2012 a fevereiro de 2013, com sessoes semanais (uma vez por semana).

2.4.3 Focos do tratamento

- Elaboraçao do luto.

- Reestruturaçao dos papéis dos membros familiares.

2.5 Descriçao da família XY

2.5.1 Dados sociodemográficos dos membros familiares


- Mae: Bia, 43 anos, casada e trabalha como administradora.

- Pai: Jorge, 50 anos, casado, segundo grau completo, trabalha como técnico em informática.

- Filho: Marcelo, 20 anos, estudante do segundo semestre de arquitetura em faculdade particular.

- Filho: Renato, 14 anos, estudante do primeiro ano do ensino médio, em escola particular.

- Todos moradores de Viamao/RS e de etnia branca.

2.5.2 Breve histórico contextualizando a busca de tratamento

O casal já havia sido atendido no INFAPA, de dezembro de 2011 a abril de 2012, e interromperam tratamento. Em junho do mesmo ano, Jorge buscou novo tratamento. Inicialmente foram realizadas três sessoes individuais com o paciente para avaliaçao e sugestao de terapia de casal. Jorge aceitou e convidou sua esposa para as sessoes seguintes. Bia veio às sessoes relatando muitas dificuldades de convivência entre o casal e na relaçao familiar. Segundo Bia, o marido tratava de forma diferenciada o filho Marcelo por nao ser seu filho biológico. O marido negou essa diferenciaçao e sugeriu a vinda de parentes próximos para confrontarem essa informaçao. Bia faz uso abusivo de maconha, o que, segundo ela, nao lhe faz mal algum. Ela fuma escondida no banheiro alegando que ninguém fica sabendo. Diz que a maconha a leva para um "lugar tranquilo" e dessa forma nao precisa pensar em seus problemas. Jorge sugere que Bia conte ao filho Marcelo sua verdadeira história, pois acredita que a revelaçao fortalecerá tanto a relaçao do casal quanto a da família. Bia nao cogita essa hipótese, pois diz ter muito medo da reaçao do filho. Teme que ele se revolte, saia de casa, nao a perdoe pela omissao e procure o pai biológico, abandonando sua família e sua faculdade. O tratamento foi realizado no período de junho de 2012 a fevereiro de 2013 (em julho de 2012, duas vezes semanais; nos demais meses, uma vez por semana).

2.5.3 Focos do tratamento

- Crises conjugais.

- Segredo familiar: Marcelo nao sabe que nao é filho biológico do pai (marido da mae) e que o pai biológico o rejeitou desde a gravidez da mae.


3. PAPEL DO PESQUISADOR

Por se tratar de um tratamento psicoterápico familiar, além de psicoterapeuta, a pesquisadora também exerceu o papel de investigadora, no sentido de transcrever as sessoes, selecionar as vinhetas mais significativas inseridas nos objetivos do tratamento, analisar seu conteúdo e associar os dados averiguados com a literatura durante o processo terapêutico das famílias.


4 RESULTADOS

As análises das vinhetas selecionadas serao expostas durante a discussao, a fim de correlacionar os conteúdos selecionados com a literatura.

4.1 Resultados pós-tratamento da família XX

A mae, ao sentir-se desautorizada e ameaçada fisicamente pelos filhos, chama a Brigada Militar de madrugada. Procedimento trabalhado anteriormente nas sessoes mediante técnica de role-playing.

4.1.1 Síntese do relato da mae ao manejar a agressividade dos filhos, resgatando sua autoridade parental com apoio da rede social (Brigada Militar)

Mae Luana: Eu me lembrei muito do que conversamos aqui e de nossos ensaios. Entao, na noite passada, novamente tentei pedir aos meninos que saíssem do meu quarto de madrugada e eles riam da minha cara e me chamavam de louca. Entao, eu fiz conforme combinamos aqui: eu me posicionei de uma forma firme e disse que, se eles nao saíssem do meu quarto, eu chamaria a Brigada, mas eles continuaram a me desqualificar. Entao, eu liguei na frente deles e pedi ajuda à Brigada. Vieram dois brigadianos, um fez o papel de bonzinho e outro de mauzinho com os meninos, e sabe que eles se assustaram muito? Na verdade, eu também, com minha força para fazer isso... (sorriso).

4.1.2 Consequências do ato e de sucessivas medidas de manejo visando ao resgate da autoridade da mae durante seu tratamento (com abordagem sistêmico-integrativa)

No que diz respeito aos resultados vistos após a intervençao citada, podem-se observar:

  • repercussoes positivas em outras situaçoes semelhantes;
  • o fortalecimento gradativo da mae, que busca dentro de si recursos e habilidades maternas no processo de reestruturaçao familiar;
  • o reforço da autoridade materna apoiada por figuras sociais que representam a lei;
  • elogios da mae a seus filhos após essa fase e mediante comportamentos positivos na convivência familiar;
  • a busca da mae por recursos internos ressignificados, com o objetivo de reconhecer-se como uma mae "suficientemente boa", que apoia, elogia, é afetiva e que também é forte quando precisa transmitir limites e regras de convivência familiar e social, através do diálogo;
  • a nova participaçao do pai às sessoes, ao ver a mae retomando sua autoridade materna e entendendo que o comportamento agressivo dos filhos estava em um movimento crescente. Luana se posiciona firme com o pai de seus filhos, nao aceitando ser desqualificada como mae e pede que ele colabore no sentido de transmitir a mesma mensagem aos filhos sobre as questoes relativas às normas familiares e sociais. O pai participa de algumas sessoes, mas nao adere de forma sistemática;
  • a percepçao dos filhos em relaçao à mae. Eles a veem mais fortalecida e, ao mesmo tempo, resgata-se o afeto entre eles;
  • a percepçao dos filhos em relaçao ao pai, que desqualificava o comportamento da mae. Nota-se que ele nao cumpre seu dever de contribuiçao financeira nos gastos mensais com escola, alimentaçao e transporte;
  • o respeito dos filhos para com a mae no convívio,
  • ao perceberem que ela se posiciona de modo seguro, reforçada pela autoridade pública (Brigada Militar e Conselho Tutelar), os filhos passam a respeitá-la e iniciam um novo processo de relacionamento familiar;
  • a gratificaçao da mae pelo reconhecimento de seu papel perante os filhos. Assim, ela própria reconhece-se como uma mae com habilidades eficientes, resgatando o vínculo afetivo entre eles e sua autoridade parental.
  • 4.2 Resultados do tratamento da família YY

    Com a família YY, combinou-se criar um espaço terapêutico em família, para que pudéssemos ressignificar a perda do marido e pai, com base em um enfoque familiar sistêmico-integrativo, levando em consideraçao a percepçao e o sofrimento individual. Estipulamos que os atendimentos seriam intercalados da forma a ser apresentada a seguir.

    Primeiro passo: uma sessao somente para o filho Alan para que fosse possível trabalhar o luto pelo seu pai, com a finalidade de ressignificar a figura paterna através da história vivida com ele; além disso, objetivou-se dar continuidade ao seu processo de individualizaçao em sua nova configuraçao familiar. Foi descontruída a postura que Alan se impôs, a de que ele precisava ser forte porque sua mae precisaria de muitos cuidados. De todas as pessoas da família, Alan foi o único que pôde participar dos rituais fúnebres, pois sua mae e seu irmao estavam hospitalizados. Alan também se sentia em falta com o pai, pelos abraços que o pai pedia e ele nao tinha vontade de dar. E ainda: Alan também se culpava por um pensamento que teve segundos antes do acidente.

    4.2.1 Síntese de uma sessao (vinheta)

    Terapeuta: De que tu lembras do dia do acidente?

    Filho Alan: Foi um dia divertido no sítio; meu pai estava superfeliz. Na hora de voltar, eu pensei: nao vou sentar atrás do motorista, pois dizem que é um lugar perigoso se der um acidente. Troquei de lugar com minha mae. Meu irmao sentou-se na frente porque estava começando a dirigir e queria prestar atençao nas dicas do nosso pai. Eu me lembro de ter visto um carro no cruzamento e pensei: esse carro vai bater na gente. Foi muito rápido; quando eu vi, aconteceu. Meu pai era muito cuidadoso. Acho que ele nao viu o carro. Depois, pensei que, se tivesse puxado o freio de mao, nao teria dado o acidente.

    Terapeuta: Tu pensas mesmo que terias tempo de puxar o freio?

    Filho Alan: É... Antes, pensando, parecia que daria, mas foi tudo muito rápido... Nao daria...

    Segundo passo: na semana seguinte, a sessao era do filho Anderson, cuja interpretaçao da última frase que lembrava do pai (eu confio em ti), proferida no dia do acidente, foi: "agora tu és o responsável por tua família". No decorrer de suas sessoes, foram-se descobrindo outros possíveis significados para a fala do pai, como a possibilidade de tratar-se de um simples elogio, pois ele já ouvira algo semelhante outras vezes, e isso representava apenas que o pai tinha orgulho dele. Definiu-se que, a partir daquele momento, além das escolhas pertinentes à família, ele começaria a fazer as próprias escolhas baseadas em seu estilo, desejo, curiosidade, acreditando que o pai interno continuaria vivo e confiando nele.

    Terceiro passo: na semana seguinte, havia a sessao da mae, em que foram trabalhadas as questoes relativas à elaboraçao do luto do marido. Eva, aos poucos, foi se dando conta de que era dela, agora, o papel de gestora da família, funçao atribuída ao marido. Ao apropriar-se desse novo papel, ela passa a transmitir mais confiança aos filhos. A medida que a mae foi experienciando com mais propriedade o seu papel e se preparando para retomar suas atividades individuais, como o seu trabalho e o seu lazer com amigas, os filhos também puderam voltar aos seus papéis.

    Quarto passo: a quarta sessao do mês era com todos os integrantes para fortalecer a nova configuraçao familiar, criar espaços para falar sobre sentimentos, sobre situaçoes que ainda os faziam lembrar com tristeza sobre a falta do marido e do pai. Datas especiais foram trabalhadas nesse período, como o primeiro aniversário de Anderson e Alan sem o pai, o primeiro Natal sem o marido e sem o pai, as primeiras férias que teriam que ser planejadas entre os três. Criou-se um espaço de comunicaçao entre eles sobre esses temas, de modo que um pudesse se apoiar no outro sem o temor de desestruturar o outro, mas com objetivo de compartilhar sentimentos que, embora nao fossem falados, eram sentidos por todos. Durante o mês, cada integrante tinha sua sessao individual com enfoque familiar sistêmico-integrativo, e a última sessao era destinada a todos os integrantes da nova configuraçao familiar. Ao dividirem-se os sentimentos, cada integrante foi se tornando mais leve e, algumas vezes, mesclaram-se lembranças engraçadas sobre o modo de agir do marido e do pai, o que fortaleceu a nova estrutura familiar. Em meio ao sofrimento, à saudade e à tristeza, aos poucos surgiam memórias alegres de um marido e pai que deixou uma bela história de amor e que, lentamente, poderia ser verbalizada e ressignificada.

    4.3 Resultados do tratamento da família XY

    Em funçao das discussoes improdutivas nas primeiras sessoes do casal, combinamos que as próximas seriam assim estruturadas: duas vezes por semana, uma para Bia e outra para Jorge, durante um mês. Abordaram-se:
  • questoes individuais de Jorge, como: sua postura autoritária frente à esposa e aos filhos, exaltando seu poder financeiro e depreciando a profissao da esposa;
  • fortalecimento do papel materno (nas quatro sessoes da Bia) com intuito de trabalhar seus medos de ser abandonada e condenada pelo filho por ter omitido a verdadeira identidade do pai;
  • desconstruçao de um perfil ideal de filho com 20 anos - que more sozinho, trabalhe e se sustente - nas sessoes do casal;
  • os pais sao preparados para contar ao filho Marcelo sua história relacionada à rejeiçao do pai biológico.
  • 4.3.1 Síntese de uma sessao do casal: 08 de novembro (mae relata como revelou o segredo)

    Mae: Contei para Marcelo que o Jorge nao é seu pai biológico. Disse que, tanto ele quanto eu, fomos rejeitados na gravidez pelo pai biológico e que eu conheci o Jorge quando ele tinha 6 meses... Contei tudo... Ele ficou chocado... Mas disse que me entendeu. Eu sei que conversamos aqui, que o melhor seria contar junto com o Jorge, mas eu senti que teria que contar sozinha, e se nao contasse naquele momento, nao contaria mais... E tu tinhas me dito que eu deveria contar quando me sentisse preparada...

    Terapeuta: Tá bem... Tu contastes quando tu te sentistes preparada... Estou orgulhosa de ti!

    Mae: É? (Choro) Todo mundo sempre me acusa de fazer tudo errado... Eu também me sinto melhor por ter contato do meu jeito...

    Terapeuta (para Jorge): Agora, Jorge, é importante que tu também converses com o teu filho... Conte para ele do teu jeito a história de vocês... Sempre pontuando que tu o amas muito e que tudo que vocês fizeram foi por amor.

    4.3.2 Síntese de uma sessao do casal: 15 de novembro (pai contando para o filho)

    Pai: Chamei o Marcelo para conversar, só eu e ele, contei tudo... Eu senti que ficamos mais próximos... Ele disse que me entendeu, e que nao queria saber nada sobre o cara [pai biológico] e, se um dia o conhecer, vai agredi-lo. Sinto que agora nossa família está mais forte... Queria agradecer a ti... Está dando tudo certo, conforme tu nos orientaste...

    Terapeuta: Nao foi trabalho meu, foi de vocês... Eu percebi desde o início que vocês eram fortes o suficiente para contar para o Marcelo. Vocês fizeram um excelente trabalho do jeito de vocês. Vamos continuar atentos e reforçando que o Marcelo inicie sua terapia individual e, a partir de agora, vamos voltar a pensar no casal.

    A partir desse momento, foi possível observar:
  • a compreensao de Marcelo em relaçao ao pai, o que proporcionou um processo de reaproximaçao, ressignificando o vínculo entre pai e filho;
  • respeito à individualidade dos membros e estabelecimento de novas formas de comunicaçao e combinaçoes familiares;
  • a aceitaçao entre irmaos ocorreu naturalmente, em relaçao ao que nao é mais um segredo, permanecendo fortalecido o vínculo fraterno;
  • o pai pondera as palavras ao se expressar com os filhos, especialmente com Marcelo, e começa a valorizar o papel profissional da esposa;
  • Bia também é encaminhada para avaliaçao psiquiátrica;
  • melhora da comunicaçao entre o casal e reforço do vínculo afetivo;
  • volta da conexao entre o casal, visto que Marcelo é retirado da coalizao com a mae, que interpretava que precisava protegê-lo de qualquer sofrimento;
  • Jorge se apropria novamente de seu papel, cuidador de Marcelo com vínculo ressignificado, e Bia consegue interromper o uso de maconha.

  • 5 LIMITAÇOES

    Os dados deste estudo devem ser compreendidos no contexto da seguinte limitaçao:

    em razao do número de famílias estudas ser pequeno (três famílias), os dados nao podem ser generalizados para outras famílias que passam por situaçoes semelhantes, pois apenas elucidam questoes familiares relativas ao processo terapêutico com particularidades das famílias tratadas. Assim, a ampliaçao do N amostral poderia explorar com mais fidedignidade as questoes investigadas neste estudo qualitativo.


    6 DISCUSSAO

    Observou-se, quanto à família XX, um dado importante: o resgate da resiliência individual da mae. A partir desse marco, a paciente consegue explorar suas habilidades emocionais diante de adversidades em sua família nuclear. As ameaças, as agressoes físicas e emocionais (legitimadas pelo pai de seus filhos) a colocavam em um cárcere emocional, beirando uma desfragmentaçao de self. Cabe salientar que a mae vinha sofrendo de violência filioparental (VFP), cometida pelos seus dois filhos, com objetivo de acionar medo, controle e prejuízos através de ameaças, intimidaçao e dominaçao física e emocional16.

    A mae busca na terapia e na rede social (Conselho Tutelar e Brigada Militar) uma representaçao de força e apoio. Essa paciente, no momento em que buscou atendimento, solicitou um psicoterapeuta do gênero masculino. Desde a primeira sessao, ela se dá conta que buscava, na verdade, força e proteçao, antes associadas à figura masculina de seu pai.

    A medida que a mae identifica o modelo que gostaria de exercitar junto aos seus filhos, ela resgata uma mae forte, que tem voz própria, que se posiciona também com linguagem corporal, o que inicialmente foi percebido com surpresa tanto pelos filhos quanto pelo ex-cônjuge e por ela. Os episódios agressivos sofridos pela mae (empurroes, contençoes físicas, destruiçao de seus objetos pessoais [celular, televisao, porta do seu quarto], além de ter sua alimentaçao cuspida pelos filhos), que configuravam claramente a violência filioparental13, foram aos poucos sendo extinguidos. Ao se sentir ameaçada física e emocionalmente em sua casa, Luana ampliou sua rede de apoio, acionando a Brigada Militar, o que representou concretamente a devoluçao de seu território (casa), no qual deveria predominar sua autoridade parental sem violência17.

    Durante o processo de resgate de sua resiliência, a mae, em momentos em que se apropriava de suas forças, questionava a psicoterapeuta: "Eu gostaria de saber de onde tu tiras essa força que tu me passas?" Ao passo que a psicoterapeuta dizia: "Sou teu espelho, lembras?" A resiliência nao é considerada traço de personalidade do sujeito, mas sim um processo dinâmico que pode apresentar distintas variaçoes em diferentes contextos, podendo ser aprendida ao longo da vida, conforme os acontecimentos do passado e do presente8. Luana, ao se apropriar de sua força e capacidade de renascer fortalecida das adversidades, se intitulava, sorrindo, de Fênix.

    No caso da família YY, os resultados mostram que o processo de luto e ressignificaçao do papel paterno foi facilitado em virtude da boa qualidade do vínculo anterior que a família possuía. Em linha com a psicanálise, o processo de elaboraçao do luto pode ser considerado um "sinalizador" de resiliência, ao contrário do que ocorre na melancolia. Pode-se pensar que os integrantes dessa família, ao se depararem com a perda, seguiram no caminho da resiliência, por apresentarem boa interaçao com os fatores ambientais e inatos entre eles. A vivência da perda nao está restrita somente ao significado real do objeto perdido (pai e marido), mas também ao que ele simbolizava e à capacidade da família (de cada integrante) de entrar em contato com esses significados18.

    O impacto causado pela morte violenta de um ente querido colocou a família YY em um momento desolador. A uniao entre os membros serviu de suporte para que os integrantes pudessem dar significado para a morte e ressignificar suas vidas. A literatura também demonstra processo semelhante com pais que perdem filhos e ao se depararem com o apoio da família e amigos se sentem acolhidos e fortalecidos em sua dor19. Os filhos Anderson e Alan puderam associar as últimas falas do pai a contextos passados, deixando mais leve o teor da mensagem e pensando em seus planos futuros. A mae, ao apropriar-se de sua nova funçao, percebe-se mais fortalecida e disposta a seguir trabalhando em sua área.

    A construçao de um espaço terapêutico para que a família pudesse falar abertamente sobre seus sentimentos relacionados à perda e o incentivo para que continuassem a conversar sobre isso em outros momentos possibilitaram aos integrantes dividir entre eles a tristeza e desmistificar a ideia de que, ao falarem sobre a perda, se intensificaria o sofrimento. A adaptaçao à nova configuraçao familiar será fortalecida com as novas experiências de cada integrante. A elaboraçao do luto será um processo solitário, pois cada um precisará acalentar a sua falta, do pai e do marido, ao seu modo e ao seu tempo. A uniao familiar passada e presente servirá de suporte para pensar e planejar os próximos objetivos, tanto de cada componente quanto na reorganizaçao do sistema familiar. De acordo com Walsh12, alguns desafios terapêuticos difíceis, como o trabalho com perdas, exigem que o psicoterapeuta faça uso de sua própria resiliência. É importante ajudar a família no processo de elaboraçao do luto, respeitando o grau de intensidade de sofrimento vivenciado por cada integrante. A unidade familiar e os desafios adaptativos da família nesse processo, ainda em sofrimento, estao associados ao processo de cura e resiliência.

    Em relaçao à família XY, ao revelar o segredo familiar, a mae consegue se libertar de uma prisao em que oscilava entre dois papéis: vítima e algoz. Outrora condenada, contudo agora absolvida por ela mesma, pôde apropriar-se junto com a família de sua verdadeira história, de sua individualidade, de seu papel de mae, das possibilidades profissionais e de sua relaçao com o marido. O processo terapêutico contribuiu para o resgate da resiliência da mae, que, diante de um sofrimento que perseverou por praticamente duas décadas, acreditou na possibilidade de transformar o medo de ser abandonada e odiada pelo filho Marcelo em uma relaçao fortalecida sem segredos.

    O principal desafio dessa família foi construir uma nova narrativa sobre sua história durante a psicoterapia, preparando um novo enredo para contar ao filho Marcelo parte de sua história, que, até entao, lhe era omitida com muito sofrimento. A nova narrativa, compartilhada entre o casal e assistida pela psicoterapeuta, foi repassada ao filho, respeitando o momento da mae e do pai. A teoria familiar sistêmica demonstra que a presença de um segredo pode causar um efeito devastador, afetando a comunicaçao e acionando um nível de ansiedade que paralisa o sistema familiar20. Dar vida a episódios adormecidos fez com que a família XY pudesse se desligar de amarras do passado, transformando as tensoes em princípios organizadores, o que fortaleceu os vínculos afetivos e criou um senso de coerência e integridade. O tratamento contribuiu para que a família encontrasse coerência na complexidade de seu problema12. A partir desse ponto, foi possível resgatar a resiliência familiar e novas possibilidades de relacionamentos sao pensadas e colocadas em exercício. Os resultados iniciais sao vivenciados com entusiasmo, modificando significativamente o clima emocional da família.

    As crises sao inerentes à vida. Nesses casos, o que difere é como elas serao interpretadas por cada um em suas diferentes nuances. A narrativa de cada sujeito e a busca de habilidades para transformar a crise em uma oportunidade de crescimento estao intimamente relacionadas a dois importantes alicerces: a qualidade da resiliência familiar e a resiliência individual21. Durante a psicoterapia, o profissional pode estimular o resgate da resiliência familiar, ativando esses processos em um ambiente colaborativo, no sentido de focalizar o problema, e nao "a família-problema". Assim, a família pode se sentir produtiva e motivada a buscar novas soluçoes para as demandas que surgirem22.

    Uma das estratégias para ajudar as famílias a identificarem sua resiliência é incentivar a aplicaçao de alternativas variadas, diferentes de todas aquelas que resultaram em fracasso no passado, reforçando que, na época, elas assim agiram por pensarem que estariam fazendo o seu melhor23. As famílias nao precisam de mais um rótulo ou de um especialista que lhes diga como e quando fazer, como mudar e o que mudar; elas necessitam apenas de um "especialista em resgatar sua resiliência adormecida". A partir dessa constataçao, toda a reconstruçao é virtude delas, e esse processo - de se apropriar dessas habilidades - lhes proporcionará a capacidade de renascer da adversidade mais fortalecidas e com mais recursos. Isso é ser resiliente.

    Agradecimentos: a José Luiz Muller, Luiz Prado e Adriana, pelas valiosas supervisoes; ao Instituto da Família de Porto Alegre (INFAPA), pela estrutura científica produtora de conhecimento permeada de afeto, representada por excelentes professores (Olga Garcia Falceto, José Ovidio C. Waldemar, Nair Therezinha Gonçalves, Carmen Dora Cardoso e Simone Castiel); e também às famílias (pacientes), aos colegas/amigos de formaçao e a toda equipe da família INFAPA.


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    Psicóloga, Especialista em Terapia Individual, Familiar e de Casal, Abordagem Sistêmico-Integrativo. Mestra em Ciências Médicas: Psiquiatria - UFRGS. Porto Alegre, RS

    Instituiçao: Instituto da Família de Porto Alegre (INFAPA)

    Correspondência
    Márcia Pettenon
    Joao Abbott, 441, conj. 501, Bairro Petrópolis
    90460-150 - Porto Alegre, RS, Brasil
    marciapettenon@yahoo.com

    Submetido em: 24/05/2014
    Solicitaçao de reformulaçoes em: 13/08/2014
    Retorno da autora em: 29/08/2014
    Aceito em: 06/10/2014

     

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