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Revista Brasileira de Psicoteratia

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Rev. bras. psicoter. 2014; 16(3):44-53



Artigo de Revisao

Choro: um complexo fenômeno humano

Crying: a complex human phenomenon

Betina Lejderman1; Sofia Bezerra2

Resumo

O choro é uma autêntica explosao de emoçoes que permeia nossa vida do nascimento à morte. É desencadeado por diversos estados emocionais, desde tristeza até felicidade. Apesar de muito presente na prática clínica, é pouco mencionado na literatura médica. O presente trabalho fez uma revisao da literatura baseada em artigos indexados no PubMed e no ScienceDirect e em livros de psiquiatria e psicanálise. Desenvolvimento: O choro um fenômeno complexo que envolve questoes neurobiológicas, psicológicas e sociais, dependente da interaçao entre as experiências iniciais da vida, das características individuais que predispoem a certas formas de expressao ou inibiçao das emoçoes, do contexto social e do evento que desencadeia certo sentimento. É um reflexo psicogênico resultante da interaçao entre as áreas do sistema límbico do cérebro que regulam a experiência consciente das emoçoes internas e das respostas fisiológicas. Acredita-se que o choro possibilita o retorno da homeostase do organismo através da liberaçao de neurotransmissores e hormônios. Entre suas funçoes estao a comunicaçao das emoçoes e a liberaçao do sofrimento psíquico. Sua regulaçao depende das percepçoes sobre os efeitos do choro em si mesmo e nas pessoas ao redor. O choro pode se manifestar, em um tratamento psíquico, quando as intervençoes focarem no afeto, quando o conteúdo evocado na terapia reativar eventos traumáticos ou quando houver nova compreensao de padroes antigos estabelecidos. Conclusao: Considerado um importante comportamento de apego presente ao longo da vida, o choro é uma habilidade natural, que com o desenvolvimento vai sendo suprimida, gerando controvérsias em relaçao à sua importância para regular o equilíbrio emocional e físico. Mais estudos devem ser realizados para compreender esse processo biopsicossocial e para entender nossos pacientes.

Descritores: Choro. Lágrimas. Emoçoes.

Abstract

Crying is an authentic explosion of emotions that is present in human life from birth to death. It is triggered by different emotional states, from sadness to joy. The present study describes the results of a review of articles indexed in the PubMed and ScienceDirect databases, as well as of relevant books in the field of psychiatry and psychoanalysis. Crying is a complex phenomenon that involves neurobiological, psychological, and social aspects. It depends on the relationship between early life experiences, individual characteristics that predispose to certain forms of expression or inhibition of emotions, social background, and the event triggering a given feeling. Crying is a psychogenic reflex resulting from the interaction between areas of the brain's limbic system that regulate the conscious experience of internal emotions and physiological responses. It is believed that crying re-establishes homeostasis through the release of neurotransmitters and hormones. The main roles of crying are to communicate emotions and to relieve psychic suffering. Its regulation depends on the individual's perceptions of the effects of crying on themselves and on people around them. During psychic treatment, crying may be present when interventions focus on affection, when the contents evoked in therapy reactivate traumatic events or when a new understanding of long-established standards is achieved. Crying is considered an important attachment behavior, present throughout life. It is a natural, inborn ability that is gradually suppressed as the subject develops, which generates controversies about its role in regulating emotional and physical balance. Further studies are necessary before we can achieve a better understanding of this biopsychosocial phenomenon and, thus, of our patients.

Keywords: Crying. Tears. Emotions.

 

 

INTRODUÇAO

O choro é a primeira manifestaçao da vida. É uma autêntica explosao de emoçoes que permeia nossa vida do nascimento à morte, sendo avaliado como sinal de saúde e de energia do recém-nascido.

É desencadeado por diversos estados emocionais, desde tristeza, raiva, ansiedade, frustraçao, rejeiçao, desespero, solidao, cansaço e dor até alegria, felicidade, alívio e gratidao; ou seja, manifesta-se em vários acontecimentos, sejam eles positivos, como nascimentos, casamentos e premiaçoes, sejam negativos, tais como perda de pessoas queridas e fracassos.

Trata-se de um fenômeno humano regulado por variáveis neurobiológicas, que, além do fator causal específico, também é influenciado por fatores sociais e culturais, bem como pelas diferenças individuais. Está presente nas mais diversas circunstâncias e, invariavelmente, o que observamos é que desencadeia uma série de outros sentimentos, reaçoes e emoçoes em quem chora, bem como naqueles que estao assistindo.

Em situaçoes de atendimento médico, mesmo sendo um ambiente onde o choro é "permitido", o que se observa, muitas vezes, é que os pacientes sentem-se envergonhados, chegando frequentemente a se desculparem. Isso mostra como o choro está associado a constrangimentos tanto de quem chora quanto de quem assiste, uma vez que também pode despertar nas pessoas em volta um impulso para fazer algo que auxilie na resoluçao e interrupçao do choro.

É um fenômeno fisiológico pouco mencionado na literatura médica, apesar de ser muito presente na prática clínica; portanto, precisamos aprender a lidar com esse fenômeno desde o início de nossa vida profissional, até mesmo antes, como acadêmicos de medicina. Entao, a partir da experiência no atendimento clínico, os autores decidiram estudar o tema para compreender o fenômeno e poder usar este estudo como uma importante ferramenta de trabalho.

Por que o ser humano chora? Qual a funçao do choro? Quais os fenômenos mentais e físicos envolvidos na precipitaçao e interrupçao do choro? O presente trabalho visa fazer uma revisao da literatura a respeito dessas questoes e abordar os aspectos emocionais despertados pelo choro, que irao influenciar a regulaçao do mesmo.

Essa revisao foi baseada em artigos indexados no PubMed e no ScienceDirect e em livros de psiquiatria e psicanálise. A busca nas bases de dados foi realizada de forma livre, utilizando a palavrachave "crying". Poucos artigos com essa palavra-chave relacionados ao objetivo do trabalho foram encontrados, sendo a maioria deles publicados em revistas de psicologia. A partir da leitura de livrostexto de psiquiatria e de psicanalise, nos quais também pouco se fala sobre o choro, foram escolhidos aqueles mais pertinentes ao tema.


POR QUE O SER HUMANO CHORA?

Existe uma grande diferença individual na propensao e frequência de chorar, dependendo de muitos fatores, tais como grupo étnico, status social, profissao, situaçao hormonal, gênero e limiar individual1.

Um modelo atual do choro do adulto sugere que este ocorre a partir da interaçao entre fatores pessoais biológicos (hormônios e estado físico), fatores psicológicos (características individuais e personalidade) e fatores situacionais (normas sociais e ambiente)2. O fenômeno biológico envolvido na produçao de lágrimas, nas contraçoes faciais e, às vezes, nos ruídos audíveis é um reflexo psicogênico, resultante da interaçao entre as áreas límbicas do cérebro que regulam a experiência consciente das emoçoes internas e das respostas fisiológicas3. Importante ressaltar que a produçao de lágrimas no choro é uma característica exclusivamente humana4.

As lágrimas sao classificadas em basais, que sao as produzidas continuamente para lubrificar o olho; irritativas, resultantes da exposiçao do olho a partículas ou componentes químicos; e emocionais, que sao aquelas produzidas em resposta às emoçoes. Estas contêm hormônios, entre os quais prolactina e serotonina, que também sao secretados por outros órgaos como uma resposta ao estresse. Além disso, eliminam mais quantidade de potássio e de magnésio, elementos que agem como toxinas. Assim, lágrimas emocionais podem ter um impacto positivo na saúde física e psicológica do corpo humano, aliviando os efeitos do estresse5.

A interaçao entre as experiências iniciais da vida, as características individuais que predispoem a certas formas de expressao ou inibiçao das emoçoes, o contexto social e o evento que desencadeia certo sentimento é determinante para a eclosao do choro6.

A dificuldade encontrada por pesquisadores para estabelecer quais sao os fatores que atuam sobre as causas e efeitos do choro é devida à complexidade das interaçoes físicas, neurológicas, psicológicas e sociais que o provocam.


QUAL A FUNÇAO?

Uma das principais funçoes do choro é a comunicaçao. Pode ser entendido como um comportamento de apego, definido como a busca e manutençao da proximidade de outro indivíduo, relacionado com as questoes de separaçao e perda. O choro de bebês nao é facilmente ignorado nem tolerado. É um comportamento inato que funciona para chamar e assegurar a presença, proteçao e carinho dos cuidadores7,8. Expressa vulnerabilidade, sofrimento e pedido de ajuda. Pode ser visto como uma busca de empatia e suporte dos outros, assim como um desejo de suscitar atençao para remover uma determinada fonte de desconforto9. Por outro lado, pode expressar apenas um estado emocional de felicidade, com a funçao de aliviar essa sobrecarga emocional positiva.

Ao longo da história, tem sido muito difundida a ideia de que a expressao das emoçoes ou a inibiçao das mesmas pode ser importante para nosso bem-estar físico e emocional. É de conhecimento popular a convicçao de que o choro, e a expressao emocional de um modo geral, deve ser considerado benéfico para a saúde, enquanto segurar as lágrimas pode ter efeitos danosos. Alguns estudos têm sido realizados para investigar os possíveis mecanismos neurobiológicos e as consequências do choro no funcionamento fisiológico e no bem-estar subjetivo. No entanto, existe uma grande lacuna entre o que a populaçao em geral e os clínicos acreditam e o que realmente tem sido cientificamente demonstrado. O choro pode estar sendo negligenciado nas ciências do comportamento porque tem sido considerado meramente um sintoma de tristeza ou depressao. Na realidade, é um comportamento complexo com aspectos únicos de evoluçao e de desenvolvimento, e com notáveis diferenças intrapessoais e interpessoais10.

O ato de chorar pode aliviar tensoes e facilitar a recuperaçao psicológica e fisiológica após uma afliçao ou angústia, sendo este considerado um efeito intrapessoal. Ao mesmo tempo provoca um efeito interpessoal, ou seja, reaçoes positivas ou negativas no ambiente social, as quais subsequentemente poderao desencadear um efeito sobre o bem-estar de quem chora2,11.

É uma maneira de liberar o sofrimento psíquico, podendo conter um componente agressivo. Essa energia negativa pode ser dissipada de forma inofensiva e ser vista como uma regressao a serviço do ego6.


QUAIS FENOMENOS MENTAIS E FISICOS ESTAO ENVOLVIDOS NA PRECIPITAÇAO E INTERRUPÇAO DO CHORO?

Historicamente, o afeto tem sido visto de maneira quantitativa na teoria psicanalítica e, assim, a catarse é vista como necessária para descarregar o afeto suprimido, o qual de outra forma pode resultar em formaçao de sintomas, como histeria, ansiedade, depressao, entre outros12. Apesar de raramente serem discutidas técnicas psicoterapêuticas para manejar o choro diretamente, este é geralmente visto estritamente como descarga de afeto, uma catarse e uma boa liberaçao de sentimentos ou pesar13.

As pessoas que choram podem ser percebidas ou se sentirem fracas, sensíveis e impotentes, embora o choro seja uma manifestaçao das emoçoes. Assim, algumas pessoas evitam chorar para se sentirem mais competentes ou por acreditarem que os outros irao sofrer ao vê-las chateadas o suficiente para chorar14. Por outro lado, o choro pode ser associado a uma pessoa com característica calorosa, que nao tem medo de demostrar suas emoçoes, e também pode ser observado naquelas que temem serem vistas como frias e por isso forçam o choro. Também existe o choro manipulativo, que é uma arma poderosa para desiquilibrar o outro; a expressao "lágrimas de crocodilo" é usada nesse contexto.

As motivaçoes para regular ou nao regular o choro estao diretamente ligadas às percepçoes sobre os efeitos do choro em si mesmo e nas pessoas ao redor, de imediato e no futuro. O choro é regulado a fim de alcançar certos efeitos pessoais e interpessoais esperados ou para evitar ou atenuar tais efeitos14.

Acredita-se que o choro faz parte de um processo que possibilita o retorno da homeostase do organismo através da liberaçao de neurotransmissores, que levam à reduçao de excitaçao, da liberaçao de certos opioides endógenos, os quais podem ter um efeito sedativo e de reduçao da dor, e da diminuiçao da produçao de cortisol, dessa forma promovendo a recuperaçao do balanço homeostático no corpo e reduzindo a resposta ao estresse15. No entanto, nao há uma resposta definida se as consequências do bem-estar decorrente do choro estao ligadas a mecanismos neurobiológicos ou à presença de indivíduos que podem promover suporte emocional10.

O choro pode ser visto em pacientes que sofrem de uma grande variedade de transtornos mentais, tais como depressao, ansiedade, esquizofrenia, histeria, transtorno bipolar e psicoses, e também pode ser a manifestaçao de uma doença do sistema nervoso central. Porém, nao está ainda claro em que extensao o choro deve ser considerado um sintoma de uma doença específica, um efeito colateral de um tratamento ou se pode ser atribuído a efeitos psicológicos de uma série de doenças clínicas10.

Em relaçao à depressao, na revisao da literatura encontrou-se que, apesar da presença do choro aumentado ser considerado geralmente um sintoma de humor deprimido, faltam evidências empíricas para essa relaçao16. Entre os indivíduos com transtorno de personalidade borderline, o oposto tem sido encontrado, o que pode indicar um estilo mais expansivo de expressar os afetos e uma maior desregulaçao do humor. Além disso, esse transtorno está associado com história de trauma ou abuso sexual na infância17,18.

Uma avaliaçao cuidadosa e um exame sistemático de todas as possíveis causas é um primeiro requisito para lidar com o choro dos pacientes e assim promover uma intervençao terapêutica individualizada e efetiva10. Deve-se ter especial atençao no atendimento clínico, pois frequentemente os pacientes lutam para manter o controle de suas emoçoes, uma vez que reviver experiências perturbadoras desperta os afetos dolorosos que as acompanham19.


ASPECTOS EMOCIONAIS DESPERTADOS PELO CHORO QUE IRAO INFLUENCIAR A REGULAÇAO DO MESMO

O contexto sociocultural é determinante nos efeitos provocados pelo choro. Chorar no trabalho pode resultar em embaraço, vergonha, desamparo e perda de controle, enquanto ele pode ser aceito em um contexto mais íntimo11.

Homens e mulheres, em diferentes culturas, diferem na frequência, tendência e propensao a chorar. A principal razao para essa diferença parece basear-se em regras culturais que influenciam os homens a controlar suas emoçoes, especialmente em público ou na presença de outros5. Por outro lado, como as mulheres sao mais propensas a procurar conforto ao expressar tristeza e têm uma expectativa mais positiva das consequências nas relaçoes interpessoais que este pode causar, elas tendem a inibir menos o seu choro20. Mulheres reagem predominantemente com simpatia e apoio ao choro do outro, enquanto os homens geralmente experimentam irritaçao e confusao. Acredita-se que as mulheres sentem-se mais confortáveis do que os homens em situaçoes de maior intimidade na funçao de cuidadora, portanto experimentam menos constrangimento e desespero na presença de uma pessoa chorando9.

Em um estudo de Simon et al., foi realizada uma pesquisa on-line com 110 participantes para ver como as pessoas regulavam seu choro no dia a dia. Os motivos encontrados para chorar menos (down-regulate) foram principalmente de ordem interpessoal, enquanto que para chorar mais facilmente (up-regulate) foram principalmente motivos intrapessoais. Os motivos intrapessoais para down-regulate foram: 59% porque nao queriam que os outros soubessem como estavam se sentindo, 57% nao queriam aumentar o sentimento negativo que estavam sentindo, 50% porque acreditavam que nao era apropriado chorar e 41% porque iriam se considerar como fracos. Os motivos interpessoais para down-regulate foram: 54% por achar que a reaçao dos outros iria aumentar sua angustia, 48% para nao causar angústia nos outros, 39% por pensar que os outros iriam achar inadequado chorar e 37% por achar que outros iriam considerálo fraco por chorar. Os motivos intrapessoais para up-regulate foram: 72% responderam que seus sentimentos eram tao fortes que nao conseguiram evitar chorar, 62% porque iriam diminuir sua angustia e 59% porque precisavam chorar. Os motivos interpessoais para up-regulate foram: 34% para mostrar para os outros como estavam se sentindo, 24% porque precisavam de ajuda dos outros e 21% porque os outros nao o considerariam emotivo caso nao chorassem14.

Rottenberg et al. conduziram um estudo com 196 mulheres holandesas, a fim de avaliar que fatores individuais eram importantes para determinar o funcionamento do choro: em quem o humor melhorava após chorar, quem chorava com mais facilidade e com mais frequência. As personalidades com características neuróticas, extrovertidas e empáticas foram associadas com uma maior frequência e facilidade do choro, mas nao houve associaçao com mudança no humor. O choro mais frequente foi associado com níveis elevados de sintomas de ansiedade; altos níveis de anedonia e alexitimia foram associados a menor propensao de chorar; e altos níveis de alexitimia, ansiedade, depressao e anedonia foram associados com uma piora do humor após chorar. O resultado dessa pesquisa foi ao encontro da crença popular de que o humor melhora após um episódio de choro, uma vez que, do total da amostra, 88,8% dos participantes falaram que o humor melhorava após o choro, apenas 8,4% referiram que se sentiam pior e 2,8% nao tiveram melhora. Apesar desse achado, nao houve correlaçao significativa entre melhora do humor e características de personalidade específicas, bem como a propensao e a frequência do choro nao se relacionaram com melhora do humor21.

Ao se examinar a relaçao entre os efeitos do humor provocados pelo choro e as características especificas do ambiente, observa-se que a melhora do humor está relacionada a receber apoio social durante o episódio de choro e à resoluçao do evento causador do choro, enquanto a piora do humor após o choro está associada a tentar suprimir o choro ou sentir vergonha de chorar. No entanto, a questao sobre os efeitos imediatos do choro no humor ainda nao está definitivamente estabelecida. As características específicas do ambiente, a presença de um indivíduo próximo, a presença de várias pessoas, características psicológicas, bem como a resoluçao da situaçao que ocasionou o choro, podem influenciar na mudança de humor pós-choro. Mas nao está claro ainda em que extensao o ambiente social ocupa um papel nos efeitos de alívio do choro10,22.


O CHORO NO AMBIENTE PSICOTERAPICO

A expressao emocional dos pacientes através do choro no setting terapêutico, desde uma psicoterapia de orientaçao analítica, psicoterapia de apoio, psicoterapia breve até terapia cognitivo comportamental, é frequente e esperada. O choro pode ser entendido como uma solicitaçao de ajuda e aproximaçao com o terapeuta ou uma maneira de manter distância do terapeuta e evitar falar de assuntos mais difíceis.

Em uma situaçao de tratamento psíquico, cujo ambiente é geralmente percebido como seguro e de apoio, o choro pode se manifestar quando as intervençoes focarem no afeto, quando o conteúdo evocado na terapia reativar eventos traumáticos ou quando houver nova compreensao de padroes antigos estabelecidos. As intervençoes do terapeuta que mais frequentemente precedem o choro sao: encorajar o paciente a explorar, experimentar e expressar sentimentos desconfortáveis (positivos ou negativos) e explorar compreensoes alternativas nao reconhecidas previamente pelo paciente (interpretaçao), bem como desejos e fantasias até entao evitados. Os pacientes geralmente relacionam o choro ao sentimento de uma sessao mais difícil e problemática para eles, podendo haver mudanças emocionais e até mesmo dor; no entanto, a aliança entre paciente e terapeuta permanece alta1. É uma maneira de liberar o sofrimento psíquico, podendo conter um componente agressivo, e essa energia negativa pode ser dissipada de forma inofensiva e ser vista como uma regressao a serviço do ego. As consequências do choro na terapia também vao depender da resposta do terapeuta. Embora muitos psicoterapeutas acreditem que chorar é saudável tanto fisiologicamente como psicologicamente, há poucas evidências para essa crença. Futuros estudos do processo e resultado psicoterapêutico devem ser feitos para determinar o papel do choro na terapia6.


CONCLUSAO

O choro, que tem a comunicaçao como uma de suas principais funçoes, pode ser considerado um importante comportamento de apego presente ao longo da vida, servindo para liberar o sofrimento psíquico, aliviar tensoes e frustraçoes, chamar atençao para receber a ajuda de outros, expressar emoçoes negativas ou simplesmente expressar emoçoes positivas. Está presente nos mais variados contextos e sua regulaçao depende das características individuais que predispoem a certas formas de expressao das emoçoes, bem como da influência do ambiente. Os efeitos interpessoais e intrapessoais variam de acordo com o estado emocional, a atitude das pessoas em relaçao ao choro e a situaçao específica em que ocorre. Muitas vezes o comportamento solidário das pessoas em direçao a quem chora pode refletir sua motivaçao pessoal, tentando acalmar quem está chorando com a finalidade de reduzir a sua própria angústia. Essa angústia pode ser resultado da reativaçao de conflitos pessoais ou de seu sentimento de incapacidade para ajudar o outro.

A capacidade de liberar lágrimas emocionais tem recebido pouca atençao da comunidade científica. Talvez, por envolver as ciências neurobiológicas, psicológicas e sociais e exigir a integraçao entre as mesmas, muitas questoes relacionadas a causas, consequências e fisiopatologia do choro ainda estao em aberto. Dessa forma, existe uma ampla variaçao de opinioes sobre a precisa natureza e funçao do choro, assim como controvérsias de que o choro seja importante para regular o equilíbrio emocional e físico. Mais estudos devem ser realizados para compreender esse comportamento humano que envolve um processo biopsicossocial e assim poderem ser usados para melhor avaliar as queixas, sintomas e entender nossos pacientes.

Uma das limitaçoes deste trabalho é nao ser uma revisao sistemática, de modo que artigos relevantes nao foram examinados. A resposta precisa de como lidar com o choro desde o início do exercício profissional e utilizar como ferramenta de trabalho continua em aberto, surgindo a ideia de dar seguimento ao tema através de uma pesquisa clínica.


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1. Médica. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Porto Alegre, RS, Brasil
2. Médica. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Porto Alegre, RS, Brasil

Instituiçao: Este trabalho nao está vinculado a nenhuma instituiçao.

Correspondência
Betina Lejderman
Rua Engenheiro Olavo Nunes, 99/405
Porto Alegre, RS, Brasil
betinalejderman@gmail.com

Submetido em: 24/06/2014
Solicitaçao de reformulaçoes em: 21/08/2014
Retorno das autoras em: 02/09/2014
Aceito em: 06/10/2014

 

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