Rev. bras. psicoter. 2013; 15(2):75-96
Paez IC, Nunes MLT. Consideraçoes sobre alta de crianças após triagem e a definiçao de alta em psicoterapia psicanalítica de crianças. Rev. bras. psicoter. 2013;15(2):75-96
Artigo de Revisao
Consideraçoes sobre alta de crianças após triagem e a definiçao de alta em psicoterapia psicanalítica de crianças*
Considerations on children discharge after classification and definition of discharge in children psychoanalytic psychotherapy*
Izabel Cristina Paeza; Maria Lucia Tiellet Nunesb
Resumo
Abstract
INTRODUÇAO:
A alta em psicoterapia, com base na opiniao compartilhada entre psicoterapeuta e paciente, é o término esperado para esse tipo de tratamento, consequência da conquista dos objetivos almejados, quando se considera que houve amenizaçao ou extinçao dos motivos que levaram à sua solicitaçao1. No estudo intitulado "Preditores de abandono de psicoterapia psicanalítica de crianças", as autoras definiram que a alta ocorreu "[...] quando os objetivos estabelecidos no contrato foram atingidos" (p. 16)2. Porém, o término da psicoterapia pode se dar na forma de interrupçao por desistência, problemas de saúde, entre outros acontecimentos possíveis1.
Em relaçao à psicoterapia de crianças, esta oferece tratamento a pacientes acometidos por "neurose, perturbaçoes no comportamento lúdico e no desenvolvimento"3 (p. 791). Em relaçao à formaçao dos psicoterapeutas para se tornarem profissionais no atendimento clínico, o estudo teórico precisa se somar a experiências vivenciadas no atendimento aos pacientes, que, via de regra, inicia-se nas clínicas/serviços-escola, cuja dinâmica compreende: o recebimento do provável paciente na instituiçao, preenchimento de formulários, seleçao de clientes de acordo com a disponibilidade de vagas, registros dos dados nos prontuários e demais características peculiares a cada uma das diversas clínicas/serviços-escola existentes4.
A triagem, geralmente, é o primeiro contato dos prováveis pacientes com os serviços de atendimento psicoterápico e é considerada muito importante, porque deve deixar o provável paciente predisposto ao atendimento por intermédio do entendimento das necessidades do tratamento psicoterápico. A triagem pode ser realizada pelo responsável pelo atendimento, se ele for indicado; nesse caso, poderá ser considerada a parte inicial da psicoterapia, ou, entao, ser uma fase anterior ao seu início, quando realizada por uma pessoa habilitada, porém distinta da que realizará o tratamento psicoterapêutico caso ele for indicado4.
O termo "tratamento", algumas vezes, é empregado para designar o manejo da psicoterapia, e outras, como referência às açoes que visam a subsidiar o tratamento, como, por exemplo, o período do dia e a frequência com que ocorrerao as sessoes com base nas possibilidades dos pais/responsáveis e do terapeuta. Contudo, mais especificamente na psicoterapia psicanalítica de crianças, a palavra "tratamento" deveria remeter à interaçao entre psicoterapeuta e pacientes - crianças - que promove mudanças psíquicas ou de comportamento por intermédio de insights ou novos aprendizados da criança acerca de seu ambiente5. A psicoterapia psicanalítica de crianças é composta por três fases: a inicial, a intermediária e a final. O tratamento, descrito dessa maneira, estabelece metas para cada fase e indica que elas ocorrerao de maneira ascendente6.
Na fase inicial, há cinco propostas a serem observadas. A primeira preconiza que a criança se sinta bem durante o período das sessoes e consiga se expressar. A ansiedade da criança nao deve paralisá-la em virtude de seus próprios temores, que podem ser transferidos para o responsável pelo atendimento, e este deve explicar-lhe que tudo o que for dito durante as sessoes será revertido em seu benefício. A segunda pressupoe comunicaçao fluente. Grande parte das crianças em psicoterapia fica retraída nos primeiros momentos, mas o responsável pelo atendimento pode tentar aplacar isso com o auxílio de materiais para desenhar, jogar e brincar, de modo que se tornem veículos de comunicaçao. A terceira, a aliança terapêutica, estabelece-se quando a criança toma consciência de que a psicoterapia trará benefícios para sua vida. A quarta consiste no reconhecimento pela criança de seu mundo interno. O responsável pelo atendimento deve promover na criança a conscientizaçao de que mudanças internas sao necessárias. A quinta implica no estabelecimento do diálogo, e seria o aspecto sob o qual ocorre a construçao de uma linguagem entre o profissional e o paciente (criança); por intermédio dessa linguagem será representado ou revelado o quadro psíquico da criança5.
Na fase intermediária, as sessoes começam a ter continuidade, a aliança terapêutica se torna mais forte, os sintomas da criança começam a revelar sua origem psíquica e o responsável pelo atendimento começa a interpretar o material trazido pela criança durante as sessoes com o propósito de tornar consciente a maneira como o paciente - criança - vivencia suas dificuldades. A tomada de consciência ajuda na posterior elaboraçao dos conflitos, a qual requer determinado período de tempo para tornar-se fato6.
Na fase final, ocorre o término do tratamento na forma de término terapêutico, considerado como alta, cujas indicaçoes podem emanar do responsável pelo atendimento por intermédio da averiguaçao do estado psíquico da criança, da própria criança, ou do ambiente que a cerca (por exemplo, escola pode oferecer informaçoes sobre as melhoras no comportamento). Além disso, alguns critérios indicam o término terapêutico: a relaçao entre o par paciente/terapeuta passa por transformaçoes (por exemplo, o profissional começa a identificar aspectos positivos do comportamento da criança antes imperceptíveis); a criança aumenta o seu campo de exploraçao do mundo, diminuindo o tempo dedicado à evitaçao da ansiedade; os temores e pavores da criança diminuem, e há um aumento de sua confiança e espontaneidade; a criança adquire a capacidade de perceber suas próprias dificuldades e realizar atividades que geralmente sao esperadas para sua idade7.
Vale ressaltar que o processo de formaçao do psicoterapeuta, incluindo o trabalho realizado por ele mesmo como paciente, alicerça aspectos particulares da experiência profissional no atendimento psicoterapêutico de crianças e pode conduzir à consideraçao de outras diretrizes para a concessao de alta de crianças em psicoterapia psicanalítica Castro, 1989 apud Castro et al.8. Aspectos cognitivos e emocionais dos psicoterapeutas influenciam na formaçao desses profissionais, demonstrando a impossibilidade de uma padronizaçao da abordagem9.
OBJETIVO
O objetivo desta revisao sistemática de literatura foi analisar estudos sobre alta de crianças em psicoterapia psicanalítica.
MÉTODO
Na consulta às bases de dados eletrônicas em 10 de maio de 2013, foram investigadas as palavraschave, descritores ou termos do índice de assunto de cada base consultada: Embase, INDEXPSI, LILACS, MEDLINE (PubMed), PsycINFO, PEPSIC e SciELO. Vale ressaltar que "o termo 'alta' em psicoterapia nao foi encontrado na língua inglesa"1 (p. 146). Ainda com base nas argumentaçoes desses autores, foi utilizada a palavra-chave "patient discharge" e "término do tratamento", já que a alta é um dos tipos de término do tratamento. Foi utilizado também o descritor "planejamento da alta", por se relacionar à alta. Todos os termos de consulta foram empregados de acordo com as especificidades de cada base de dados eletrônica, nos seus idiomas de origem, com o objetivo de angariar estudos sobre alta. Na Embase, a palavra-chave constante de seu Thesaurus foi "hospital discharge", que vai de encontro a um dos critérios de inclusao, nao sendo encontrada a expressao "término do tratamento" nas bases Embase, LILACS, MEDLINE (PubMed), PEPSIC e SciELO. Os refinamentos foram feitos com a utilizaçao de palavras-chave de acordo com o objetivo da pesquisa, filtros para tipo de publicaçao e idade dos sujeitos que compuseram as amostras dos estudos identificados nas bases MEDLINE (PubMed) e PsycINFO (Tabela 1).
a constituiçao de um vínculo de confiança onde a criança tivesse sua palavra reconhecida, viabilizando a expressao de fantasias e sentimentos que com o auxílio do terapeuta pudessem ser colocadas em palavras, o que contribui para a elaboraçao da situaçao traumática e reestruturaçao do mundo interno e relaçoes objetais77 (p. 51).Também nesse caso, empregado como exemplo para discutir a definiçao de alta para psicoterapia psicanalítica de crianças utilizada por Gastaud e Nunes2, como já citado na introduçao, a alta ocorre "quando os objetivos estabelecidos no contrato foram atingidos"2 (p. 16).
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