Rev. bras. psicoter. 2013; 15(1):8-9
Schestatsky S. Editorial. Rev. bras. psicoter. 2013;15(1):8-9
Editorial
Editorial
Editorial
Sidnei Schestatsky1
É com satisfaçao que vemos o grau de consolidaçao e excelência alcançado pela Revista Brasileira de Psicoterapia, nos últimos dois anos, liderada pela Dra. Simone Hauck e seus colegas colaboradores. A RBP normalizou a periodicidade de suas publicaçoes (nove ediçoes em dois anos!), adequou-se às melhores normas internacionais, está integralmente online em português e inglês e a caminho de uma provável indexaçao no SCIELO. No presente número, ampliou seu alcance como instrumento de integraçao para autores e colegas interessados na área de psicoterapia no Brasil e passou a incluir também contribuiçoes internacionais oriundas do México, Espanha e Portugal.
O número atual apresenta artigos de natureza variada e de rico interesse nas áreas de ética e psicoterapia, teoria da complexidade e quadros psicóticos, violência familiar e questoes relacionadas ao atendimento de crianças com doenças graves/terminais. Traz, ainda, um estudo do efeito da imigraçao do Chile para a Espanha na dinâmica de um casal em avaliaçao para psicoterapia e o relato intenso do atendimento à comunidade de Santa Maria, abalada pela tragédia da boate Kiss. Descreve-se, além disso, a estratégia de inserir colegas mais jovens no CELG e estimular a educaçao continuada.
De todos os temas abordados, nao há como nao destacar a importância e relevância do artigo de Garcia da Silva e col. sobre o atendimento às pessoas comprometidas pelo trágico incêndio ocorrido em janeiro deste ano, em Santa Maria, e que deixou 241 mortos e 123 feridos. Essa comunicaçao preliminar aborda o atendimento das situaçoes de estresse agudo desencadeadas nos sobreviventes, nas famílias dos atingidos, nas equipes de resgate e na comunidade em geral. A tragédia em si, por mais desafortunada que tenha sido, poderá se constituir num irrepetível (esperamos) fenômeno de observaçao, nao apenas da importância da mobilizaçao e assistência imediatas a todos, mas também do impacto da magnitude dessa situaçao traumática na comunidade afetada ao longo dos anos. Observaçoes similares puderam ser feitas por ocasiao da queda das Torres Gêmeas, em Nova Iorque, em 20012. Excetuando o elemento terrorista, aquela catástrofe apresenta muitas semelhanças com o incêndio de Santa Maria: primeiro, pela extensa e próxima cobertura da mídia e, segundo, em termos relativos, pelo número de mortos e familiares envolvidos, que, em Santa Maria (241 para uma populaçao de 261.000 pessoas) foi até maior do que o de NY (3.000 mortos para 8.000.000 de habitantes). Informaçoes inestimáveis sobre a prevalência de TEPT na comunidade que residia até dois kilômetros do evento em Nova Iorque (que duplicou a da populaçao geral, mesmo decorridos 10 anos do fato) e, sobretudo, fatores de risco e resiliência também puderam ser deduzidas dos resultados encontrados3 .
Gostaríamos de fazer um comentário final sobre a RBP e uma manifestaçao de boas-vindas ao novo grupo de editores que irá assumi-la. Nao sendo ainda a psicoterapia uma profissao (e sim um procedimento técnico disponível a inúmeros profissionais), ela nao dispoe de nenhum incentivo ou regulamentaçao oficial para a educaçao continuada dos psicoterapeutas. As fontes primárias de novos conhecimentos e atualizaçoes psicoterápicas costumam se desenvolver pela experiência clínica e pesquisa de diferentes modelos teóricos e técnicos, exercitados por diferentes grupos profissionais, em diferentes locais e contextos socioculturais, sendo que a comunicaçao desses profissionais entre si nem sempre é eficiente. Os terapeutas podem, ainda assim, entrar em contato com algumas inovaçoes pela mídia, pela troca de experiências com colegas ou pela frequencia a simpósios ou congressos da especialidade. Mas nao há dúvida de que um dos instrumentos mais ágeis e flexíveis para oferecer educaçao continuada aos psicoterapeutas interessados sao os periódicos como a Revista Brasileira de Psicoterapia, Tomamos a liberdade, portanto, de sugerir aos novos editores, que sigam mantendo-se atentos às revisoes e inovaçoes em pelo menos cinco áreas das psicoterapias: teoria, prática clínica, pesquisas controladas, pesquisas naturalísticas de resultados e qualificaçao dos processos de supervisao.
1 MD, PhD; Professor associado do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da UFRGS. Coordenador dos cursos de Especializaçao em Psicoterapia de Orientaçao Analítica, UFRGS.
2 DiGrande, L et all. Long-term Posttraumatic Stress Symptoms Among 3,271 Civilian Survivors of the September 11, 2001, Terrorist Attacks on the World Trade Center. Am. J. Epidemiol. (2011)173(3):271-281.
3 Neria, Y., DiGrande, L., & Adams, B. G. (2011). Posttraumatic stress disorder following the September 11, 2001, terrorist attacks: A review of the literature among highly exposed populations. American Psychologist, 66,429-446.
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