Rev. bras. psicoter. 2012; 14(3):25-39
Goellner A. Enactment: alguns aspectos do conceito e da sua abordagem em Psicoterapia de Orientaçao Analítica. Rev. bras. psicoter. 2012;14(3):25-39
Artigos Originais
Enactment: alguns aspectos do conceito e da sua abordagem em Psicoterapia de Orientaçao Analítica
Enactment: some aspects of the concept and its boarding in psychotherapy of analytical orientation
Alexandre Goellner*
Resumo
Abstract
"Um sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade"
Raul Seixas
P: A M (namorada) nao sai da minha cabeça. Essa história de terminarmos e reatarmos várias vezes é meio estranha. Aquilo que tu me falaste, de eu ficar tentando controlar as coisas, até que me passou pela cabeça. Nao sei, o que tu achas?
T: É algo que tu sentiste como uma possibilidade. O que mais te vem à mente sobre isso? (tom de voz menos afetivo, mais defensivo).
P: (irritado) Nao sei, acho que nada. Aliás, essa é uma sensaçao que eu tenho seguidamente aqui. Eu venho, a gente conversa sobre um monte de coisas que eu nao sei bem o que sao, e eu fico cada vez mais confuso.
T: S, acho que quando eu nao te dei uma resposta como tu esperavas, tu ficaste frustrado (com tom de voz mais afetivo).
P: Pode ser. Mas a gente ficar falando essas coisas, nao consigo enxergar aonde isso vai me ajudar. Eu até percebo essa questao da necessidade de controle, isso de precisar respostas exatas, da necessidade de que me compreendam. Mas, e daí? Parece que eu nao vou conseguir passar por essa barreira.
T: Que barreira?
P: Pois é, aí é que está. Eu nao sei. E essa coisa de eu ter de transpor esta barreira me deixa mais confuso ainda. Porque, quando tu falas essas coisas, eu até entendo. Mas a sensaçao é de que eu vou continuar controlando, vou continuar precisando de respostas exatas, vou continuar necessitando que me compreendam.
T: Pois é. Temos de ver o que é essa barreira, e talvez o "tem de" esteja ligado a isso.
P: Tem de o quê? Nao entendi.
T: Sim. Há pouco tu usaste esta expressao para dizer como tu te sentes a respeito desta barreira. Que tu "tens de" atravessá-la. Uma obrigaçao, uma exigência.
P: Mas isso é real! Existe uma exigência de que eu mude! As coisas nao estao dando certo pra mim.
T: Sim. Claro que existe um pouco de exigência e obrigaçoes, senao ninguém se trataria. Mas o que chamou a atençao foi a ausência do outro lado disso, a tua liberdade de escolha.
P: (Pensa).
T: Talvez, tu estejas te questionando sobre se realmente queres mudar.
P: Ah, bom, aí até pode ser. É uma coisa que eu nao tinha pensado.
T: Por exemplo, às vezes se percebe que tu nao sentes as minhas intervençoes como um auxílio. Acho que isso acontece, porque elas nao entram em ti em prol de uma mudança que tu gostarias, mas sim como uma "obrigaçao de mudar". E aí fica pesado para ti.
P: Pode ser. Mas e daí. Como é que eu mudo isso? (Pensa) Porque até deve ter terapeutas por aí que, se isso acontece, acham que o paciente nao quer mudar e o mandam embora. Tipo "ah, tu nao quer te tratar, entao vai procurar tua turma". Mas eu acho que isso já é algo que tenha de ser tratado.
T: Sim, S, tu tens razao. O tratamento começa por aí.
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