Revista Brasileira de Psicoteratia

Apresenta-se um caso clínico que expõe o resultado do trauma crônico, cuja intensidade e persistência influenciaram o desenvolvimento de crises dissociativas. A paciente é uma mulher com história de pseudocrises convulsivas cuja história inclui relacionamentos abusivos com diversos membros da família. Os agressores eram suas figuras de vinculação e que a paciente descreve como violentas e humilhantes. Foi encaminhada ao nosso Hospital Dia e integrou um programa terapêutico que inclui sessões individuais e em grupo, destacando se um grupo multifamiliar. Foi realizada uma pesquisa na PubMed e Google Scholar utilizando os seguintes termos: convulsão dissociativa, trauma infantil, dissociação, trauma infantil, Winnicott, trauma infantil, Pierre Marty, Pierre Janet, psicossomático. De uma perspetiva psicodinâmica, importam conceitos como o falso self, o ambiente securizante e as relações objetais para compreender o desenvolvimento infantil e a relação do trauma com o mecanismo de defesa de dissociação. Esse mecanismo retira a atenção a experiências dolorosas, permitindo que a pessoa tolere o trauma emocional ao se afastar da situação, de modo consciente. O trauma persiste, e um falso self se desenvolve para proteger a pessoa da agressão. Para tratar esses episódios dissociativos, é necessária uma aliança terapêutica que possibilite o desenvolvimento de mecanismos de defesa mais adaptativos.

Descritores: Convulsões psicogênicas não epilépticas; Experiências adversas da infância; Transtornos dissociativos; Psicanálise; Psicoterapia de grupo