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Revista Brasileira de Psicoteratia

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Rev. bras. psicoter. 2011; 13(1):67-69



Livros

Os quatro vínculos: amor, ódio, conhecimento e reconhecimento - na psicanálise e em nossas vidas

The four links: Love, Hate, Knowledge and Recognition - in psychoanalysis and in our life

Flavia Marisa de Camargo Costa1

 

 

David E. Zimerman. Porto Alegre: Artmed, 2010

Os quatro vínculos: Amor, Odio, Conhecimento e Reconhecimento - na psicanálise e em nossas vidas vem juntar-se aos outros livros que David Zimerman já publicou e que o fazem um dos autores mais fecundos da psicanálise brasileira.

Fiel ao estilo que o consagrou, o autor mais uma vez nos apresenta um texto claro, consistente e, ao mesmo tempo, coloquial e didático, sem prejuízos na profundidade que o tema requer.

Abordando a temática do vínculo e das configuraçoes vinculares, David transcende o campo da psicanálise e busca uma integraçao com outras áreas do conhecimento e da atividade humana - filosofia, história, mitologia, religiao, ciência política. É como ele próprio diz, "um forte desafio" que o leitor acompanha com interesse até as palavras finais.

Quem conhece o autor e sua obra sabe que seu posicionamento pluralista parte de uma base sólida firmada no pensamento de Freud, passando por Melanie Klein e ancorando-se em Wilfred Bion. O que me lembra a afirmativa de Grotstein de que seria impossível ter acesso à profundidade do pensamento de Bion sem ter antes estudado Klein.

A escolha do tema "vínculos" é muito oportuna para a instrumentaçao dos psicanalistas que na atualidade se defrontam com patologias graves que desafiam a compreensao e capacidade de continência. Já ao conceituar vínculo, o autor busca as raízes etimológicas da palavra cativando o leitor com imagens estimulantes para pensar. Assim, tomamos conhecimento que o termo vínculo tem origem em "vinculum", que significa uniao - "uma atadura de características duradouras".

Como estudioso de Bion, David reporta-se à contribuiçao fundamental desse autor para caracterizar a funçao dos vínculos - "elos de ligaçao emocional e relacional que unem duas ou mais pessoas ou duas ou mais partes dentro de uma mesma pessoa".

No capítulo V, David concentra suas ideias e contribuiçao original na proposta do vínculo do reconhecimento (R) - de si próprio, do outro, ao outro - ligado às etapas narcisistas da organizaçao e evoluçao da personalidade. Temos aí um condensado de sua rica experiência clínica, inquietaçao intelectual e amor à verdade.

Enfatizando as configuraçoes vinculares em que os quatro tipos de vínculo provindos de todos os participantes de um relacionamento se entrecruzam e se complementam possibilitando distintas variaçoes, David nos oferece metáforas muito pertinentes como a das notas musicais com seus sons isolados que, quando vinculadas, abrem possibilidades ilimitadas de arranjos sonoros; ou a igualmente estimulante das letras do alfabeto vinculando ideias e promovendo a comunicaçao. A qualidade onírica dessas consideraçoes ressoou em mim como leitora e "sonhei" novas imagens mentais em que as quatro bases que constituem o DNA e cujas combinaçoes propiciam a infinita variedade da vida em nosso universo representariam os quatro vínculos: de amor (L), de ódio (H), de conhecimento (K) e de reconhecimento (R).

Dentre os temas humanos "reconhecidos" pelo autor, quero salientar um que nos inquieta particularmente pela atualidade, globalizaçao e intensidade de suas manifestaçoes - o da violência. David nao se furta de confrontar o tema e questiona: "O que está acontecendo?" "O que é possível fazer?" E aponta caminhos: uniao (vinculaçao) das forças vivas da comunidade e medidas preventivas - investimento de tempo e de energia.

O avanço das neurociências apontado pelo autor que vem confirmando os "insights" de Freud com relaçao à importância fundamental dos vínculos afetivos iniciais e sua persistência ao longo da vida encorajam o investimento maciço em prevençao para os graves problemas sociais que enfrentamos. Sabemos hoje, através de estudos altamente confiáveis de neurocientistas eminentes, que os traumas sofridos durante os três primeiros anos de vida terao efeitos particularmente perniciosos sobre a arquitetura do cérebro nesse período de extrema plasticidade. Numerosos estudos, contudo, sugerem que muitos dos efeitos negativos desses traumas nao sao necessariamente irreversíveis e podem responder favoravelmente à intervençao precoce referendada por David .

Temos, pois, diante de nós mais um livro de David Zimerman que, certamente, terá o mesmo destino dos que o antecederam, prestando-se à leitura em vários níveis - tanto para os neófitos quanto para os estudiosos e para aqueles que tem como tarefa o ensino.










1. Médica Especialista em Psiquiatria (UFRGS). Professora e Supervisora convidada da Residência Médica em Psiquiatria da Infância e Adolescência do HCPA e do Curso de Especializaçao em Psiquiatria da Infância e Adolescência (UFRGS)Professora convidada do Centro de estudos Luís Guedes. Membro Aspirante da SPPA.

Endereço para correspondência:
Flavia Marisa de Camargo Costa
lucius@portoweb.com.br

Recebido em : 18/08/2011.
Aceito em : 20/09/2011.

 

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