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Revista Brasileira de Psicoteratia

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Rev. bras. psicoter. 2018; 20(3):197-215



Artigo Especial

Produçao científica de Elisa Yoshida: contribuiçoes para o campo das psicoterapias (1990/2013)

Elisa Yoshida's Scientific Production: contributions to the psychotherapy field from 1990 to 2013

Producción científica de Elisa Yoshida: contribuciones al campo de las psicoterapias (1990/2013)

Tales Vilela Santeiroa; Glaucia Mitsuko Ataka da Rochab; Giovanna Corte Hondac; Maria Leonor Espinosa Enéasd; Evandro de Morais Peixotoe

Resumo

Considerando que a área de pesquisa em psicoterapia no Brasil e seus expoentes carecem de maior visibilidade, este estudo objetivou apresentar e analisar parcela da produçao científica da pesquisadora brasileira Elisa Medici Pizao Yoshida, por meio de uma revisao narrativa. O material analisado se constituiu de informaçoes declaradas no Currículo Lattes da Pesquisadora e de publicaçoes acadêmicas disponíveis on-linee/ou fisicamente. Entre 1990 e 2013 Elisa Yoshida publicou 65 artigos em periódicos científicos, relatando resultados de pesquisas desenvolvidas desde sua integraçao ao Departamento de Pós-Graduaçao em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. A média de publicaçoes nos 23 anos em que ali esteve foi de 2,8 artigos/ano (DP = 1,52). Ao considerar a publicaçao de artigos com foco específico em relatos de pesquisas sobre psicoterapias, ela correspondeu a 49% (n = 32) da produçao analisada. Feita a leitura das produçoes e da correspondente trajetória científica da Pesquisadora, observou-se o desenvolvimento de uma carreira sólida, coerente e com objetivos claros, iniciada em preocupaçoes nascidas da prática clínica no Brasil. Com o passar dos anos a integraçao da atuaçao clínica à produçao de conhecimento se consolidou, sendo a presidência do capítulo latino-americano da Society for Psychotherapy Research (2007-2008) um reflexo desse processo. Inquietaçoes relativas à criaçao de um corpo de conhecimentos adaptado à realidade brasileira e empiricamente embasado também marcaram a produçao considera da. Elisa Yoshida aposentou-se num momento em que seus estudos se aprofundavam em fatores que possibilitariam a mudança em psicoterapia, a partir de uma perspectiva teórica integrativa.

Descritores: Avaliaçao psicológica; Psicoterapia breve; Psicoterapia psicanalítica.

Abstract

Psychotherapy research field in Brazil and its exponents need visibility. The aim of this study was to present and analyze part of the scientific production of the Brazilian researcher Elisa Medici Pizao Yoshida through a narrative review. Information reported on the researchers curriculum lattes were analyzed, as well as academic publications available online or physically. Elisa Yoshida published 65 articles on scientific journals between 1990 and 2013. These articles reported results from researches conducted in the Post-Graduation Department in Psychology of the Pontifical Catholic University of Campinas (PUC). The average number of publications during the 23 years she worked at PUC was 2.8 (SD = 1.52) articles/year. The publication of articles with specific focus on research reports on psychotherapies corresponded to 49% (n = 32) of the analyzed production. Analyzing the researchers trajectory and academic production, it was observed the development of a consistent and coherent career, with clear objectives, that started with concerns that came from clinical practice in Brazil. Over time, integration of clinical practice and knowledge production consolidated and she was nominated president of the Latin American chapter of the Society for Psychotherapy Research (2007-2008). Concerns with the development of a body of knowledge in line with the Brazilian reality and empirically based characterized Yoshidas academic production. When Elisa Yoshida retired, her studies were deepening in aspects, which would enable change in psychotherapy from an integrative perspective.

Keywords: Psychological assessment; Brief psychotherapy; Psychoanalitic psychotherapy.

Resumen

Considerando que el área de investigación en psicoterapia en Brasil y sus exponentes carecen de mayor visibilidad, este estudio objetivó presentar y analizar parte de la producción científica de la investigadora brasileña Elisa Medici Pizao Yoshida, a través de una revisión narrativa. El material analizado se constituyó de informaciones declaradas en el Currículo Lattes de la Investigadora y de publicaciones académicas disponibles on-line y / o físicamente. Entre 1990 y 2013 Elisa Yoshida publicó 65 artículos en periódicos científicos, relatando resultados de investigaciones desarrolladas desde su integración al Departamento de Postgrado en Psicología de la Pontifícia Universidade Católica de Campinas. La media de publicaciones en los 23 años en que allí estuvo fue de 2,8 artículos / año (DP = 1,52). Al considerar la publicación de artículos con foco específico en relatos de investigaciones sobre psicoterapias, correspondió al 49% (n = 32) de la producción analizada. Después de hecha la lectura de las producciones y de la correspondiente trayectoria científica de la Investigadora, se observó el desarrollo de una carrera sólida, coherente y con objetivos claros, iniciada com preocupaciones nacidas desde la práctica clínica en Brasil. Con el paso de los años la integración de la actuación clínica a la producción de conocimiento se consolidó, siendo la presidencia del capítulo latinoamericano de la Sociedad para la Psicoterapia Research (2007-2008) un reflejo de este proceso. Inquietudes relativas a la creación de un cuerpo de conocimientos adaptado a la realidad brasileña y empíricamente basadas también marcaron la producción considerada. Elisa Yoshida se retiró en un momento en que sus estudios se profundizaban en factores que iban a posibilitar el cambio en psicoterapia, desde una perspectiva teórica integrativa.

Descriptores: Evaluación psicológica; Psicoterapia breve; Psicoterapia psicoanalítica.

 

 

INTRODUÇAO

A análise de produçao científica é um método de pesquisa tradicionalmente praticado no Brasil e no exterior. Embora tenha raízes incertas, os anos 1960 têm sido considerados como marco histórico quando surgiram as primeiras produçoes acadêmicas com esse enfoque metodológico1. E, desde entao, exercícios dessa natureza têm ganhado corpo e visibilidade em diversas áreas do conhecimento, o que inclui a Psicologia e a psicoterapia2,3,4,5,6,7,8, ainda que o seu poder de alcance na conduçao e estudos de processos psicoterapêuticos seja de algum modo desconhecido e/ou subestimado9.

As bases de dados eletrônicas sao recursos que têm sido utilizados como meios pelos quais se escoa e se amplia a divulgaçao da produçao científica de todas as áreas do saber, ao redor do mundo. A despeito de elas serem recursos desenvolvidos há décadas, a ampliaçao do acesso à internet, ocorrida a partir dos anos 2000, acentuou os seus papéis e suas funcionalidades, para a populaçao em geral e, igualmente, para os cientistas.

A democratizaçao das informaçoes oriundas de descobertas científicas passou a desfrutar de potência, ancorada no movimento das bases de dados de acesso aberto, na medida em que elas, como o próprio nome sugere, nao geram custos para o consumidor de Ciência. Nesse cenário, o Brasil ocupa posiçao de destaque, por causa de iniciativas como a criaçao da base de dados SciELO/ScientificElectronic Library Online, surgida em 199810,11.

Assim como ocorrido com a SciELO, iniciativa governamental foi desenvolvida para pesquisadores sediados em instituiçoes brasileiras disponibilizarem informaçoes curriculares por meio da internet. Fundamentada numa série de experiências iniciadas em meados dos anos 1980 e consolidadas na década seguinte, a iniciativa da Plataforma Lattes foi desenvolvida pelo CNPq/Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Plataforma Lattes, "sobre a Plataforma" e "Histórico", http://lattes.cnpq.br/). A Plataforma Lattes passou, assim, a ser considerada como uma fonte documental, por meio da qual pesquisas podem ser realizadas, portanto, acerca de pesquisadores, Grupos e instituiçoes12,13.

A escolha por Elisa Yoshida deve-se ao fato de que, durante toda sua carreira como professora e pesquisadora em Psicologia, ela se manteve atenta às necessidades tanto de acesso da populaçao a serviços de Psicologia Clínica de qualidade, quanto de formaçao adequada de psicólogos iniciantes para esse tipo de atendimento. Sua atuaçao mostra-se coerente com o princípio de que a prática e o ensino sao decorrentes de pesquisas que os embasem empiricamente. Seu interesse precoce pela psicoterapia breve (PB), que ensinou desde o começo da década de 1980, aponta para essa direçao, de uma técnica que proporcione alívio para o sofrimento emocional de grande parte da populaçao - objetivo de inspiraçao preventiva, conforme a influência de seu orientador o Prof. Dr. Ryad Simon - e que também é mais facilmente pesquisada e, uma vez operacionalizada, também mais propriamente ensinada.

Embora a PB já contasse com propostas e estudos no âmbito internacional, especialmente Europa e Estados Unidos da América, no Brasil teve sua prática ligada ao contexto médico. Começando pelas atividades pioneiras de Mathilde Neder no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de Sao Paulo, desde a década de 5014 e depois praticada e ensinada por médicos psiquiatras nas décadas de 70 e 80 na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como Cláudio Eizirik, Sidnei Schestatsky, Aristides Cordioli, Jacó Zaslavsky, que contam com publicaçoes, sejam sobre psicoterapia de forma geral, sejam sobre PB. No Rio de Janeiro, a médica/psicóloga Vera Lemgruber tem as primeiras publicaçoes sobre PB na década de 8015.

Comparativamente às condiçoes europeias e norte-americanas, a pesquisa mais sistemática sobre PB em nosso meio tardou a consolidar-se e ainda é escassa, especialmente em funçao de pouco incentivo financeiro e mesmo de os práticos estarem pouco afeitos à pesquisa. Nesse campo, a contribuiçao de Elisa Yoshida é destacada, na medida em que sua prática e seu ensino sao embasados em pesquisas que auxiliam a aplicaçao de técnicas breves no contexto da nossa realidade. Assim, ela pode ser considerada uma das pioneiras no campo das pesquisas em psicoterapia no Brasil.

Desde o começo de sua carreira como pesquisadora (1977), sob orientaçao de Simon, seus temas de interesse se voltaram para validaçao de instrumentos de avaliaçao psicológica e para condiçoes de aplicaçao da PB à realidade brasileira - incluindo sua dissertaçao de mestrado (1984) e tese de doutorado (1989). A criaçao do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Psicoterapia Breve (NEPPB) em 1987 seguiu essa mesma marca e, nessa conjuntura, as pesquisas ligadas às condiçoes de atendimento à populaçao brasileira se destacaram. Além disso, sua produçao científica sempre esteve atrelada aos mais recentes e relevantes aspectos apontados pela literatura internacional. Sua publicaçao começou no ano de 1990, com o livro resultante de sua tese, discutindo critérios de indicaçao para psicoterapia breve.

No cenário internacional, é possível acompanhar o desenvolvimento das pesquisas por meio de seçoes especiais publicadas nos periódicos da American Psychological Association (APA). O Journal of Consulting and Clinical Psychology (JCCP) é um desses, considerado de ponta no campo das pesquisas em psicoterapias, principalmente por publicar aquelas que usam métodos rigorosos, aplicados a pacientes em ambientes clínicos reais e nao ter nenhuma afiliaçao a alguma orientaçao teórica específica5. As seçoes especiais ali publicadas representam os tópicos mais relevantes num dado momento, resumindo os pontos principais de cada um.

Na época da primeira publicaçao da autora em tela (1990), uma seçao especial do JCCP discutiu "avanços em pesquisa de processo"16. A seçao publicada em 1990 foi a terceira sobre psicoterapia, as quais foram iniciadas em 1981, esta sendo seguida de outra sobre a "busca de novos métodos de pesquisa clínica"17. Esta sugeria o uso de medidas indiretas de constructos psicológicos na pesquisa, como alternativa para buscar respostas mais específicas sobre um tipo peculiar de tratamento, que pudesse ser oferecido a um tipo particular de paciente, sob condiçoes bem definidas para aumentar a sua efetividade18. Outro ponto destacado naquele momento diz respeito à busca da significância clínica e de avanços metodológicos que a facilitam19.

Essas discussoes marcaram a produçao científica internacional, e também a de Elisa Yoshida em anos posteriores. Sua produçao buscou aproximaçoes com a prática, especialmente com o uso de instrumentos que operacionalizam conceitos teóricos, novamente em consonância com sua posiçao de favorecer o ensino e a aplicaçao das PB.

Com o desenvolvimento da metodologia de pesquisa de caso único, uma seçao especial do JCCP de 1993 traz uma definiçao cuidadosa do delineamento de caso único, com uma categorizaçao básica para sua aplicaçao de forma a responder mais adequadamente às questoes sobre o processo de mudança20. De fato, pode-se verificar na produçao de Yoshida a conduçao de pesquisas que também usaram desse delineamento, ressaltando a sintonia de seus estudos com avanços metodológicos observados no contexto de pesquisas internacionais21, 22, 23.

Considerando esse preâmbulo e também que a área de pesquisa em psicoterapia no Brasil e seus expoentes carecem de maior visibilidade, este estudo objetiva analisar a produçao científica da pesquisadora brasileira Elisa Medici Pizao Yoshida. De modo específico, estarao sob atençao contribuiçoes prestadas por ela para o desenvolvimento do campo das pesquisas em psicoterapias no Brasil e na América Latina, no segmento "artigos publicados em periódicos". A rede de colaboraçao estabelecida pela Pesquisadora e a internacionalizaçao em sua carreira também serao consideradas no âmbito geral do texto.


MÉTODO

Tipo de Estudo: revisao narrativa, que se constitui de análise da literatura científica na interpretaçao e análise crítica de autores24.

Material: Currículo Lattes da pesquisadora Elisa Medici Pizao Yoshida, tal como informado e tornado público pela própria pesquisadora na atualizaçao feita em 20 dezembro de 2017, associado a publicaçoes acadêmicas disponíveis on-line e/ou fisicamente.

Procedimentos: o Currículo Lattes estudado foi utilizado como ponto de partida para efetivar a busca de informaçoes acerca da produçao acadêmica da pesquisadora. Esse documento é de acesso público e gratuito e é disponibilizado pela Plataforma Lattes. Nele os pesquisadores declaram elementos de sua atuaçao profissional, incluindo atividades administrativas, de ensino, pesquisa e extensao.

Assim que informaçoes sobre a produçao da pesquisadora foram identificadas a partir do Lattes, buscas de dados complementares foram feitas em outras bases de dados e em acervo físico, para viabilizar as análises e a discussao (por exemplo, SciELO). O Lattes foi priorizado porque elenca informaçoes autodeclaradas pelo pesquisador. Além do mais, assim como vem sendo praticado em estudos semelhantes ao proposto, as informaçoes nele declaradas sao tidas como verídicas25.


RESULTADOS E DISCUSSAO

Elisa Yoshida graduou-se em Psicologia pelo Instituto de Psicologia da Universidade de Sao Paulo (1971-1975). Nessa Instituiçao desenvolveu projetos de mestrado (1977-1984) e doutorado (1985-1989), sob orientaçao de Ryad Simon, filósofo e psicanalista paulista, professor titular da Universidade de Sao Paulo, falecido em dezembro de 2017. A internacionalizaçao de sua carreira teve como marco inicial seus estudos de pós-doutorado, desenvolvidos na Université de Montreal, no Canadá francês (1995-1996).

Ao graduar-se em Psicologia, Yoshida desenvolveu atividades laborais em diversas instituiçoes, havendo destaque para sua atuaçao como professora, funçao iniciada desde 1979 em faculdades privadas e finalizada em 2013, quando se aposentou. Quando da aposentaria ela se vinculava à Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCCAMP), instituiçao de caráter administrativo confessional, na qual permaneceu por 23 anos (1990-2013) como Professora Titular, em regime de trabalho de dedicaçao exclusiva entre 2001 e 2013.

O trabalho de Elisa Yoshida foi desenvolvido a partir de duas linhas de pesquisa que balizariam sua produçao acadêmica: (1) Instrumentos e processos em avaliaçao psicológica e (2) Prevençao e intervençao psicológica. A primeira linha, tangencial ao que se pretende tratar neste momento, teve por foco aspectos teóricos e práticas que visavam à construçao, adaptaçao e uso de estratégias de avaliaçao psicológica.

A segunda linha de pesquisa era a diretamente relacionada aos objetivos deste trabalho. Ela visava o estudo sistemático de processos psicoterápicos psicodinamicamente orientados. Essa frente de estudos foi desenvolvida na PUCCAMP e também no NEPPB, que foi fundado em 1987 por Elisa Medici Pizao Yoshida, Teresa Iochico Hatae Mito e Maria Terezinha Yukimitsu e teve suas atividades encerradas em 200026,27.

Na segunda linha de investigaçoes destaca-se o projeto "Psicoterapia breve: critérios de indicaçao, processo de mudança e follow-up", pelo impacto que ele teve em termos de geraçao de produtos acadêmicos (produçoes escritas e orientaçoes), resultantes de estudos sobre psicoterapias. Além disso, ele foi desenvolvido em maior extensao temporal, perfazendo os últimos 11 anos da carreira da Professora (2003-2013), período no qual contou com 48 colaboradores. A figura 1 detalha os projetos com objetivos voltados às psicoterapias, o período de tempo investido para desenvolvê-los e o número de colaboradores envolvidos nas equipes de pesquisa.


Figura 1. Projetos de pesquisa sobre psicoterapia (ordenaçao cronológica decrescente).
* Parcerias internacionais expressas por meio de integraçao às equipes executoras e de coautorias em artigos
derivados dos projetos, publicados em periódicos.



ARTIGOS PUBLICADOS EM PERIODICOS

Ao longo da sua carreira na PUCCAMP, Elisa Yoshida publicou 65 artigos em periódicos científicos, relatando resultados de pesquisas desenvolvidas desde sua integraçao ao Departamento de Pós-Graduaçao em Psicologia, em 1990. Isto posto, a média de publicaçoes no período de 23 anos em que ali esteve, foi de 2,8 artigos/ano (DP = 1,52).

Ao considerar a publicaçao de artigos com foco específico em relatos de pesquisas sobre psicoterapias, verifica-se que 49% (n = 32) da produçao declarada foi atinente a esse campo. Porém, para contextualizar esse resultado cabe considerar, complementarmente, que nos documentos analisados dois subconjuntos de produçoes foram constatados: (1) os voltados ao estudo em processos de desenvolvimento e/ou validaçao de instrumentos de avaliaçao psicológica (AP) para a realidade brasileira; e (2) os decorrentes de intervençoes e situaçoes nao psicoterapêuticas propriamente ditas.

Quanto ao subconjunto de estudos para desenvolvimento e/ou validaçao de instrumentos de AP, as produçoes respectivas respondem por 32% (n = 21) da produçao de artigos da Pesquisadora. Nesses trabalhos coletam-se dados junto a populaçoes clínicas e nao clínicas, visando às adaptaçoes de estratégias de AP para uso na realidade brasileira28,29. Naturalmente, recursos dessa natureza possuem alto valor para psicoterapeutas desenvolverem trabalhos ancorados em procedimentos padronizados de AP, para verificaçao de mudanças ao longo do processo e para acompanhamento em psicoterapias (follow-up). Eles também oferecem contribuiçoes aos pesquisadores ao possibilitar operacionalizaçao de construtos psicológicos de interesse da comunidade científica, viabilizando estudos empíricos de associaçoes destes construtos com outras variáveis30,31.

Estudos sobre intervençoes e situaçoes nao psicoterapêuticas (subconjunto 2) representam o restante da produçao tangencial ao campo das psicoterapias (n = 13; 20%). Sao casos nos quais sao desenvolvidos estudos de natureza metodológica transversal, com coleta de dados em âmbito de sala de aula31, ou para avaliaçao de intervençoes ocorridas em equipamentos de atençao à saúde32. Novamente, embora os tipos de estudos integrantes desse conjunto nao sejam diretamente relacionados às psicoterapias, eles podem ser úteis para a comunidade de psicoterapeutas, com respectivo impacto na qualidade dos atendimentos ofertados por eles.

Em retomada à apresentaçao do perfil de 32 artigos voltados ao estudo de psicoterapias, nos 23 anos aqui analisados (1990-2013) tem-se que as publicaçoes se iniciaram em 1992 e foram finalizadas em 2017, conforme declarado no Lattes. A média de artigos/ano foi de 1,3 (DP = 0,75). Esse resultado indica que a produçao analisada se distribuiu ao longo do tempo de modo constante, espelhando o desenvolvimento e a consolidaçao da linha de pesquisa "Prevençao e intervençao psicológica".

Em relaçao à autoria na produçao de artigos sobre psicoterapia (n = 32), ela é, em predomínio, múltipla (n = 22; 71%). A autoria coletiva é, no geral, resultado de orientaçoes de estudantes de iniciaçao científica, de mestrado e de doutorado21 e/ou de parcerias com orientados, após estes terem obtido titulaçao acadêmica e iniciarem linhas de pesquisa em outras instituiçoes de ensino superior22,31.

As exceçoes de autorias múltiplas nao vinculadas a orientandos sao atreladas aos produtos de colaboraçoes com colegas do NEPPB33 e de parcerias, em sua maior parte, estrangeiras23,34. Nestes últimos casos a Professora publicou trabalhos em coautoria com pesquisadores canadenses (Daniela Wiethaeuper [brasileira, porém vinculada a instituiçao canadense], Hélène Dymetryzyn, Marc-André Bouchard, Patrice St-Amand, Serge Lecours e Valérie Lepine) e, a partir de 2007, com colegas do Chile (Mariane Krause e Guillermo de la Parra) e da Alemanha (Erhard Mergenthaler). No entanto, cabe observar que há situaçoes peculiares, nas quais a coautoria com estrangeiros se sobrepoe à de orientado35.

Os 32 artigos publicados pela Professora e tocantes às psicoterapias tiveram participaçao de 34 colaboradores. Dentre estes, destaca-se a participaçao das Professoras Maria Leonor Espinosa Enéas (Universidade Presbiteriana Mackenzie, Sao Paulo, desde 1994), e Giovanna Corte Honda (Universidade Nove de Julho, Sao Paulo, desde 2014), com, respectivamente, 7 e 4 produçoes cada.

Os artigos sobre psicoterapia que vêm sendo debatidos (n = 32) foram publicados em 16 periódicos distintos, numa frequência de 1 a 6 artigos/periódico. O Estudos de Psicologia (Campinas), editado pelo programa de Pós-Graduaçao em Psicologia do Centro de Ciências da Vida da PUCCAMP desde 1983, concentrou maior número de publicaçoes (n = 6), seguido do Psico-USF (n = 4). Este último é de responsabilidade editorial do Programa de Pós-Graduaçao em Psicologia da Universidade Sao Francisco e está em circulaçao desde 1996.

De modo geral, entre os 16 periódicos em que os artigos foram divulgados, constata-se que 7 deles pertencem ao estrato A de avaliaçao proposta pela Coordenaçao de Aperfeiçoamento de Ensino Superior (Qualis/CAPES) - Estudos de Psicologia (Campinas), Psico-USF, Paidéia, Estudos de Psicologia (Natal), Psicologia: Teoria e Prática, Psicologia Escolar e Educacional, Temas em Psicologia. Periódicos do estrato A desfrutam de padrao editorial pareado ao de veículos de comunicaçao de nível internacional (apesar de todos eles serem editados por instituiçoes brasileiras). E número idêntico de artigos analisados era pertencente ao estrato B, indicativo de veículos de nível nacional - Boletim de Psicologia, Interaçao em Psicologia, Mudanças, Contextos Clínicos, Psicologia Argumento, Revista Brasileira de Psicoterapia e Revista de Psicologia Hospitalar. Exceto os dois periódicos que saíram de circulaçao nos dias atuais, o Cadernos de Psicologia e o Revista da UNIPE, os demais, por serem avaliados pela Qualis/CAPES como pertencentes aos estratos A e B, cumprem com o requisito de serem indexados em bases de dados eletrônicas.

Na Figura 2 estao apresentados os títulos dos artigos, ordenados por ano crescente de publicaçao. E a seguir, faz-se uma apreciaçao das contribuiçoes da Pesquisadora durante sua trajetória, iniciada dentro de um cenário de preocupaçoes inerentes à prática clínica no Brasil. Ao final de sua carreira, Elisa Yoshida integrava uma comunidade internacional de pesquisadores em psicoterapia, a Society for Psychotherapy Researchf (SPR), e expressava preocupaçoes relacionadas ao estudo aprofundado de fatores que possibilitariam a mudança em psicoterapia, a partir de uma perspectiva mais contemporânea - a integrativa.


Figura 2. Títulos dos artigos ordenados por ano de publicaçao, em ordem cronológica crescente.



As duas primeiras publicaçoes, de 199236 e 199337, refletiam a preocupaçao da pesquisadora com a aplicabilidade da psicoterapia breve psicodinâmica (PBP) na realidade brasileira, fosse ela voltada ao atendimento infantil, populaçao com a qual trabalhou no início de sua vida profissional, fosse discutindo tal aplicabilidade, de modo mais amplo. Seus escritos iniciais demonstram inquietaçoes sobre aspectos teórico-técnicos da prática daquela modalidade de intervençao e sobre a formaçao de profissionais atentos às necessidades específicas relacionadas às demandas e contextos encontrados no Brasil.

Nessa direçao, salienta-se que no NEPPB realizavam-se pesquisas vinculadas a processos de formaçao de futuros profissionais habilitados na prática da PBP38. Essa articulaçao está expressa ainda em 1993, na publicaçao de um artigo que trata de critérios de indicaçao dos pacientes à PBP e de estratégias terapêuticas, indicando um caminho que Elisa Yoshida trilharia em busca de evidências, tanto da eficácia das PBP quanto do estudo aprofundado das diversas variáveis envolvidas nesses resultados e que ensejariam mudança33.

É possível, verificar, portanto, que estudos posteriores39,40,41,42 tiveram foco na identificaçao de fatores que possibilitariam mudanças em pacientes durante processos de psicoterapia. As principais variáveis pesquisadas envolveram os conceitos de eficácia adaptativa, estágios de mudança, motivaçao e transferência, aliados a outros, como a importância de se considerar os aspectos do psicoterapeuta (como estratégias interventivas usadas, capacidade empática e de acolhimento), além da qualidade da relaçao entre psicoterapeuta-paciente (aliança terapêutica).

Por exemplo, Yoshida, St-Amand, Lepine e Bouchard34 investigaram a relaçao entre a eficácia adaptativa de pacientes que buscavam psicoterapia psicanalítica e o nível de maturidade dos mecanismos de defesas que eles empregavam. Os 20 pacientes da amostra foram separados em dois grupos, de acordo com a configuraçao adaptativa apresentada por eles: nao-eficaz moderada e nao-eficaz severa. Os resultados mostraram que apesar de nao haver diferença entre os grupos no que tange ao número de defesas utilizadas, houve diferença quanto ao emprego de defesas maduras em pacientes do grupo nao-eficaz moderado e defesas menos evoluídas no grupo nao-eficaz severo.

Um ponto que preocupava pesquisadores na conjuntura internacional e balizou o trabalho de Yoshida diz respeito aos métodos e técnicas aplicáveis à pesquisa em psicoterapia e que poderiam garantir a validade e a fidedignidade dos resultados obtidos. Nesse sentido, em 2008 publicou estudo em que busca verificar a significância clínica das mudanças em psicoterapia, segundo proposta de Jacobson e Truaux43. Para tanto, estes autores propuseram dois critérios: (1) o paciente deve passar de um funcionamento correspondente a uma populaçao teoricamente disfuncional ao de uma populaçao funcional; e (2) a mudança deve ser suficientemente grande para ser atribuída a uma mudança "real" e nao a erros de medida. Nao bastaria, portanto, uma mudança para melhor nos escores do paciente antes e depois da psicoterapia. No estudo de Yoshida44, embora nao tenha sido possível se falar em recuperaçao, houve melhoras conferidas por instrumentos de autorrelato. O critério de mudança adotado englobou a possibilidade de a paciente evoluir para um funcionamento correspondente ao de populaçao nao-clínica e a melhora ser suficiente para ser referida a uma mudança "real", e nao a erros de aferiçao.

Ainda orientada pela busca de melhores métodos e técnicas, a Pesquisadora desenvolveu pesquisas em que aplicava o Método do Tema Central de Relacionamento Conflituoso - CCRT45 - na formulaçao do foco psicodinâmico e para estudar se haveria mudança no foco trabalhado durante processos de PBP. Os autores do CCRT buscaram, ao elaborarem o método, a operacionalizaçao do conceito de padrao de transferência. Yoshida et al22 analisaram um processo de PBP, com vistas a identificar melhoras no funcionamento geral de uma paciente, além de mudança em seu padrao de CCRT e o tipo de intervençao usado pela psicoterapeuta. Ao final do processo, foi possível constatar mudança parcial no padrao de relacionamento conflituoso e mudanças clinicamente significantes em todas as variáveis em que um progresso era possível. Quanto às intervençoes terapêuticas, as de caráter expressivo foram mais usadas no início da psicoterapia, enquanto as suportivas foram mais recorrentes no meio e fim do processo.

É possível perceber, nesse ponto, que os estudos que aprofundavam o entendimento de como se desenvolvia o processo de psicoterapia e de como a mudança ocorria tornavam-se cada vez mais evidentes. Reconhecida pela comunidade internacional de pesquisadores em psicoterapia, foi eleita presidente do Capítulo Latino Americano da SPR (2007-2008), o que solidificou o intercâmbio com outros pesquisadores dessa comunidade.

Uma dessas parcerias importantes resultou no desenvolvimento de um dicionário em Português brasileiro para análise de narrativas em psicoterapia aplicável ao Modelo de Ciclos Terapêuticos (TCM). O TCM é um método de análise de textos que, quando aplicado a transcriçoes de sessoes de psicoterapia, permite a identificaçao de momentos-chave do processo psicoterapêutico - os ciclos terapêuticos - nos quais é possível observar mudanças no paciente e que se relacionam à noçao de progresso clínico46. Utiliza-se de um software para análise das narrativas em psicoterapia, o que vai ao encontro das preocupaçoes a respeito da credibilidade das análises, feitas por pesquisadores e psicoterapeutas orientados pela teoria subjacente ao processo conduzido e estudado e ao viés que este último tipo de análise pode conter.

No estudo de Yoshida e Mergenthaler23, dois processos de PBP foram analisados a partir do TCM, um considerado bem-sucedido e outro, malsucedido. A hipótese levantada era a de que o caso bem-sucedido apresentaria maior frequência de palavras que envolveriam tom emocional e abstraçao, em comparaçao ao outro. Essa assertiva foi confirmada, no entanto, foi possível observar empenho e atividade de ambas as pacientes e, por isso, os autores concluíram que o desfecho do caso malsucedido pode ter sido prematuro, fato este que pode ter colaborado para ter sido considerado insatisfatório.

Khater, Peixoto, Honda, Enéas e Yoshida21 também analisaram uma PBP com o TCM, com intuito de verificar possível associaçao entre momentos-chave da terapia e intervençoes utilizadas pelo psicoterapeuta, em diferentes fases do processo. Esperava-se que o profissional utilizasse maior número de intervençoes suportivas no início e final do processo e maior quantidade de intervençoes expressivas na fase medial e em momentos clinicamente significantes. Os pesquisadores verificaram, no entanto, que houve equilíbrio de intervençoes nas diferentes etapas da terapia e concluíram que elas foram estruturadas em funçao da verbalizaçao do paciente e dos objetivos do psicoterapeuta no atendimento prestado.

Percebe-se que ao longo do tempo a produçao de Yoshida foi se concentrando, cada vez mais, em uma tendência internacional de conhecer os fatores comuns relacionados à mudança em psicoterapia, como pode ser visto no artigo de Honda e Yoshida47, em que os processos de nove pacientes atendidos em serviço-escola foram avaliados. A análise empreendida sugeriu alguns fatores que poderiam ter influenciado a evoluçao em alguns casos, como por exemplo: motivaçao que levou o paciente a buscar auxílio psicológico, nível de consciência em relaçao às dificuldades, disponibilidade para enfrentar os problemas e relacionamento positivo entre psicoterapeuta-paciente.

Com base nos conceitos de eficácia adaptativa e na lista de Indicadores Genéricos de Mudança (IGM) em psicoterapia, Honda e Yoshida48 realizaram uma revisao para compreender fatores comuns que podem ensejar mudanças em pessoas submetidas à psicoterapia. Desta forma, também ressaltaram a importância da aliança terapêutica, da participaçao ativa no processo e da expectativa e motivaçao do paciente no que respeita ao tratamento. Além disso, o estudo sugeriu a existência de associaçao entre qualidade da eficácia adaptativa e possibilidade de o paciente progredir para níveis mais avançados da hierarquia dos IGM. Esta hierarquia apresenta um modelo ideal de mudanças sucessivas, retratadas na literatura e que podem ser observadas empiricamente durante sessoes de psicoterapia. A presença desses Indicadores sinaliza como o paciente percebe o seu conflito, a sua atitude para encará-lo, além de expectativas em relaçao ao processo que integrará.

De fato, a relaçao entre configuraçao adaptativa e hierarquia dos IGM pode ser observada no estudo de Honda, Yoshida, Krause e de la Parra35, que analisaram um caso de PBP. Os autores observaram que, à medida que a paciente, ao longo da terapia, pôde emitir respostas consideradas mais adequadas às situaçoes de sua vida (que solucionavam problemas e traziam satisfaçao), sem ocasionar conflitos, estas puderam ser captadas pelos IGM. Preconizaram que ambas as medidas, quando usadas em conjunto, podem ser preditoras para os resultados de um tratamento, auxiliando, assim, o psicoterapeuta quanto aos parâmetros que podem suscitar ou limitar o progresso do paciente.

Ainda no que concerne à pesquisa sobre fatores comuns em psicoterapia, no trabalho de Guimaraes e Yoshida49 foi possível verificar que psicoterapeutas de abordagens teóricas diferentes costumam empregar parâmetros semelhantes para o que consideram progresso em psicoterapia com crianças. Os principais critérios envolvem a possibilidade de a criança expressar seus conflitos e de fazer associaçoes com sua própria vida nos jogos estabelecidos com o psicoterapeuta, verbalizar medos e demonstrar confiança e comunicaçao afetiva com o profissional.

Concomitante à pesquisa direta envolvendo os processos de psicoterapia, Elisa Yoshida buscou manter a atualizaçao do estado da arte nessa área. Três artigos tiveram como proposta a análise de produçao científica sobre um tema determinado6,50,51. Ferreira e Yoshida6 examinaram 81 resumos obtidos em diferentes bases de dados, acerca da produçao científica sobre psicoterapias breves no Brasil e na América Latina, entre 1990 e 2000. Verificou-se que apesar da maior prevalência de produçoes brasileiras, houve equilíbrio entre as referências latino-americanas quanto ao maior número de estudos empíricos, de orientaçao psicodinâmica e de autoria única. A pesquisa de Yoshida, Santeiro, Santeiro e Rocha50 teve como objetivo verificar a produçao acerca das PBP entre os anos de 1980 e 2003. Foram encontrados 534 trabalhos, com predomínio de autoria única e foco em terapias individuais de adultos, de abordagens diversas.

Quadros e Yoshida51 analisaram 45 artigos para verificar como as variáveis do psicoterapeuta eram retratadas em periódicos brasileiros, no período de 1998 a 2007. A pesquisa se justificou em virtude de os fatores ligados ao psicoterapeuta terem influência sobre a evoluçao de um processo terapêutico e sobre seus respectivos resultados. Os autores observaram predomínio de trabalhos teóricos, com enfoque psicodinâmico e de autoria única. Quanto aos fatores do psicoterapeuta, os artigos mencionaram tempo de experiência, necessidade de supervisao, importância do próprio bem-estar emocional e a relevância de valores, como honestidade, bondade e justiça.

Verificou-se que a produçao de trabalhos assinada individualmente concentra estudos nos quais a pesquisadora se ocupou, na maioria das vezes, de debates teóricos, como por exemplo, no estudo realizado em 199840. Nele foi possível verificar que pesquisas de resultado - que se centram na eficácia e efetividade das psicoterapias - tinham cedido espaço para as de processo - com foco em demonstrar como ocorrem as mudanças no paciente. Isto ocorre porque os estudos de processos possibilitam coletar e analisar dados a partir de diferentes perspectivas (do paciente, do psicoterapeuta e de juízes externos às sessoes), que podem contribuir para o acúmulo do conhecimento neste âmbito. Neste artigo, Yoshida ainda apresentou três instrumentos que podiam explicar os mecanismos que desencadeiam mudança e que auxiliam na identificaçao destes episódios: Defense Mechanisms Rating Scales, Rutgers Psychotherapy Progress Scale e Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada - Redefinida.


CONSIDERAÇOES FINAIS

Nos últimos anos, especialmente nas duas últimas décadas que ora vêm sendo debatidas como as que favoreceram a democratizaçao de acesso a informaçoes e a informaçoes científicas, o ensino superior do país passou por um franco processo de expansao, tanto na rede privada quanto na pública, o que englobou o crescimento dos programas de pós-graduaçao. Por conseguinte, houve impactos sobre o número de pesquisadores atuantes e sobre a produçao estritamente acadêmica decorrente. Instalou-se, assim, um novo momento histórico nesse contexto.

As pesquisas no âmbito das psicoterapias desenvolvidas por brasileiros passaram a desfrutar de visibilidade inédita, apoiadas pelos novos recursos tecnológicos e pelo novo impulso aos programas de pós-graduaçao. Uma visibilidade que ultrapassava marcadamente o cenário local e atingia o internacional. O trânsito de brasileiros que incrementaram suas parcerias, estabelecendo redes de trabalho multinacionais, fez com que alguns deles passassem a ocupar cargos de destaque no panorama global. Dois exemplos possíveis de serem dados neste momento é o ineditismo da presidência, por brasileiros, da International Psychoanalytical Association (Claudio Laks Eizirik, entre 2005 e 2009) e do capítulo latino-americano da SPR (Elisa Medici Pizao Yoshida e Fernanda Barcellos Serralta, respectivamente entre 2007-2008 e 2016-2018).

Diante dos dados sumarizados sobre a produçao da Professora Elisa Yoshida, cabe ainda lembrar que, no Brasil, pesquisadores afiliados a instituiçoes universitárias também cumprem atividades administrativas, de ensino e orientaçao na graduaçao e na pós-graduaçao. Da mesma forma, nessa análise nao se pretendeu abarcar outras produçoes que extrapolassem o artigo publicado em periódico como suporte de informaçao.

A análise de artigos foi empreendida porque se concebe que essas produçoes sao aquelas pelas quais o conhecimento obtido em pesquisas é consolidado, após ele percorrer um longo trajeto, iniciado quando da concepçao de determinado projeto e continuado pelo processo de submissao do manuscrito ao sistema de avaliaçao anônima por pares. Além de, por essa via, o conhecimento obtido ser disponibilizado à comunidade, incluindo a acadêmica. Nao se procurou, todavia, adentrar no campo de discussoes que tecem críticas aos modos de produzir ciência na contemporaneidade e/ou que questionam se o escoamento de resultados de investigaçoes via periódicos científicos seria a melhor maneira que o psicoterapeuta teria disponível para se comunicar com seu público. Outrossim, por questoes espaciais, neste momento nao se contemplou outros tipos de produçoes da Pesquisadora, como capítulos de livros e orientaçoes acadêmicas.

Cabe dizer, a título de conclusao, que a produçao analisada demonstra um percurso acadêmico pautado por objetivos claros, coerente e em consonância com as expectativas da comunidade acadêmica relativas à produçao científica nos âmbitos nacional e internacional. É importante salientar, ainda, a preocupaçao pautada pela responsabilidade em relaçao às necessidades específicas oriundas da psicoterapia praticada em território brasileiro.

Especificamente no que concerne às contribuiçoes de Elisa Yoshida, pode-se concluir que foi uma das pesquisadoras responsáveis pela difusao, no Brasil, de propostas de PBP elaboradas por autores nacionais e internacionais38, da aplicaçao clínica de instrumentos de avaliaçao psicológica no âmbito das PBP, utilizados nao só para avaliar os pacientes, mas para acompanhar o processo e psicoterápico e avaliar seus resultados.

Ademais, a Professora Elisa Yoshida formou pesquisadores que transitam pelas duas linhas de pesquisa orientadoras de sua produçao e que, atualmente, se encontram afiliados a diversas instituiçoes universitárias, públicas e privadas, situadas nos mais diversos Estados da Federaçao. Seu empenho para formar psicoterapeutas, para ensinar de forma acessível a técnica e a sensibilidade da PBP e para consolidar a produçao de conhecimento empiricamente sustentado no campo das psicoterapias permanecem representativos do que se produz na América Latina, nos dias atuais.


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a Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Psicologia - Uberaba - Minas Gerais - Brasil
b Universidade Federal do Tocantins, Psicologia - Miracema - Tocantins - Brasil
c Universidade Nove de Julho, Psicologia - Sao Paulo - Sao Paulo - Brasil
d Universidade Presbiteriana Mackenzie, Psicologia - Sao Paulo - Sao Paulo - Brasil
e Universidade de Pernambuco, Psicologia - Garanhuns - Pernambuco - Brasil

Correspondência
Tales Vilela Santeiro
e-mail: talesanteiro@hotmail.com / tales.santeiro@uftm.edu.br

Submetido em: 27/06/2018
Aceito em: 09/09/2018

Contribuiçoes: Tales Vilela Santeiro - Análise estatística, Coleta de Dados, Conceitualizaçao, Gerenciamento do Projeto, Investigaçao, Metodologia, Redaçao - Preparaçao do original, Redaçao - Revisao e Ediçao;
Glaucia Mitsuko Ataka da Rocha - Conceitualizaçao, Investigaçao, Metodologia, Redaçao - Preparaçao do original, Redaçao - Revisao e Ediçao;
Giovanna Corte Honda - Coleta de Dados, Conceitualizaçao, Investigaçao, Redaçao - Preparaçao do original, Redaçao - Revisao e Ediçao;
Maria Leonor Espinosa Enéas - Contribuiçao do autor: Conceitualizaçao, Redaçao - Revisao e Ediçao;
Evandro de Moraes Peixoto - Conceitualizaçao, Redaçao - Revisao e Ediçao.

Instituiçao: Universidade Federal do Triângulo Mineiro

 

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