Rev. bras. psicoter. 2025; 26(2):79-95
Araújo DF, Costa EL. Relação entre Languishing e a pandemia da COVID-19: uma revisão intregativa da literatura. Rev. bras. psicoter. 2025;26(2):79-95
Artigos de Revisao
Relação entre Languishing e a pandemia da COVID-19: uma revisão intregativa da literatura
Relationship between Languishing and the COVID-19 pandemic: an integrative review of the literature
Relación entre Languishing y pandemia COVID-19: uma revisión integrativa de la literatura
Danilo de Freitas Araújoa,b; Elenkadja Lopes Costaa,b
Resumo
Abstract
Resumen
Introdução
As discussões da psicologia positiva em torno do tema bem-estar são amplas, e perpassam mais de uma abordagem teórica. Dentre elas, a abordagem hedônica se destaca como uma das visões pioneiras. De acordo com essa perspectiva, o bem-estar está associado à acumulação de experiências afetivas, que incluem sentimentos momentâneos e positivos, como alegria e satisfação. Apesar do reconhecimento alcançado por essa abordagem, o interesse em compreender os mecanismos pelos quais as pessoas vivenciam suas vidas de forma positiva abriu margem a novas teorias. Assim, a abordagem eudaimônica destaca experiências de realização pessoal e de manifestação do potencial individual, dentro de um estado de funcionamento ótimo que engloba sentimentos mais duradouros. Nessa linha de pensamento, o bem-estar psicológico é um construto amplamente discutido1.
A partir das perspectivas apresentadas, Keyes2 (2002) integra diferentes modelos explicativos de bem-estar, a saber, o modelo de bem-estar subjetivo de Diener3 (1994), o modelo de bem-estar psicológico de Ryff4 (1989a) e o modelo de bem-estar social de Keyes5 (1998) para formular sua própria concepção de saúde mental para além de sintomas e modelos psicopatológicos categóricos. Segundo o autor, há dois contínuos: um deles se referindo à doença mental (com os extremos de ausência e presença), e outro específico da saúde mental, também representado por extremos de sua presença e ausência. Por isso, tratar a doença mental não resultaria necessariamente em maiores níveis de saúde mental, e vice-versa.
Keyes2 (2002) discute que a presença de altos níveis de bem-estar remete ao fenômeno "flourishing" (florescer), que significa feliz, satisfeito e mentalmente saudável. Em contrapartida, embora não signifique literalmente doença mental, "languishing" (definhamento) está associado a baixos níveis de bem-estar, e não é adequadamente definido pelos extremos de bem-estar e de depressão, sendo mais próximo de um meiotermo. Além disso, languishing é mais comum do que a depressão grave e pode ser fator de risco para outros transtornos mentais6.
O termo languishing já era conhecido antes da pandemia, porém, com a chegada da COVID-19 houve um estímulo maior para que cada vez mais pessoas começassem a se queixar do processo de deterioração do bem-estar mental7. A pandemia da COVID-19 causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) trouxe consigo o iminente risco social e de saúde, além da abrupta mudança do estilo de vida da população mundial8. O fechamento repentino da maioria dos estabelecimentos incapacitou e transformou atividades rotineiras como um passeio no parque, tocar o rosto e interações sociais básicas, em verdadeiras ameaças9. Aumento de sentimentos de incertezas, ansiedade, depressão e níveis de estresse, foram comuns dada as circunstâncias10.
Keyes5 (1998) explica que os indivíduos se sentem bem quando veem a sociedade como compreensível, quando eles se sentem pertencentes e se veem contribuindo para o bem-estar social. Isso explica o provável enfraquecimento da saúde mental das pessoas devido às incertezas com a chegada da pandemia e os bloqueios necessários para conter o avanço do vírus.
Muitos indivíduos não têm sintomas de transtornos mentais, mas também não estão funcionando com sua total capacidade, afetando sua habilidade de concentração e reduzindo as atividades sociais. Para não negligenciar esses sentimentos de estagnação e vazio, cabe tentar identificar, sistematizar e avaliar os estudos sobre languishing, de modo que seja possível entender seu crescimento preocupante concomitantemente à pandemia da COVID-19, entre os anos de 2020 e 20226.
Por essas razões, pode-se inferir a necessidade de mais estudos que enfoquem os aspectos do languishing associados a pandemia da COVID-19, bem como se o cenário pandêmico contribuiu para esta problemática. Partindo do que é observado no cenário atual e suas repercussões, e considerando o aumento dos níveis de incertezas e preocupações, a presente revisão integrativa da literatura pretendeu caracterizar o languishing e identificar a relação deste fenômeno com a pandemia da COVID-19.
Método
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, cuja definição está associada a sua ampla abordagem metodológica, no qual pode-se incluir estudos experimentais e não-experimentais, dados empíricos e teóricos11 .
Seu processo segue seis etapas: identificar um tema e selecionar uma hipótese ou questão de pesquisa para desenvolver uma revisão integrativa; definição de critérios para inclusão e exclusão de estudos e amostragem ou buscas na literatura; definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados/categorização dos estudos; avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa; interpretação dos resultados; e apresentação de uma visão geral/síntese do conhecimento12.
A revisão integrativa é um método de pesquisa que contribui para o aprofundamento da temática pesquisada, contribuindo com sua ampla análise, identificando possíveis lacunas e oferecendo subsídios para realização de futuras pesquisas13.
A busca por estudos científicos consistiu em consulta às bases de dados: PubMed, LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e Embase, Scopus e PsycInfo via Periódico CAPES, no período de 20 de agosto de 2022 a 28 de agosto de 2022. Foram utilizadas combinações entre os descritores, ligados pelo operador booleano "AND". A estratégia de busca formulada foi a seguinte: o descritor Languishing de forma individual; Languishing AND COVID-19; Languishing AND SARS-CoV-2; Languishing AND Coronavírus.
Os critérios de inclusão dos artigos definidos para a presente revisão integrativa foram: estudos teóricos e empíricos produzidos de janeiro de 2020 a agosto de 2022 que abordassem o contexto pandêmico, publicados nos idiomas português, espanhol e inglês, que o languishing fosse pelo menos um dos aspectos avaliados, e estudos com amostras formadas por profissionais da saúde, indivíduos hospitalizados com a COVID-19, ou indivíduos que estivessem vivenciando sintomas psiquiátricos relacionados à COVID-19, mesmo sem o diagnóstico. Ficou estabelecido como critérios de exclusão estudos que não tivessem o languishing como tema abordado, sendo ele secundário ou não, dissertações, teses e livros, artigos em duplicidade e estudos que não tivessem livre acesso.
Para a análise e posterior síntese dos artigos que atenderam aos critérios de inclusão, foram feitos fichamentos e a produção de uma planilha de extração que contemplou os seguintes aspectos considerados pertinentes: nome do autor e ano de publicação, delineamento da pesquisa, bases de dados, título do estudo, país de origem e resultados da pesquisa.
Resultados
Considerando os critérios de inclusão e exclusão, foram realizadas buscas que identificaram, a princípio, 1.050 estudos. Dentre as pesquisas iniciais, destaca-se que a base de dados SCOPUS retornou o maior número de estudos (764) e a PsycInfo não retornou resultados. Houve predominância de materiais no idioma inglês (87,5%), seguido de 12,5% no idioma espanhol e nenhum retorno no idioma português. Portanto, ao final, dezesseis estudos atenderam aos critérios de elegibilidade e foram selecionados para fazer parte desta revisão integrativa (ver figura 1).
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